¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV
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Janer Cristaldo escreve no Ebooks Brasil Arquivos outubro 2003 dezembro 2003 janeiro 2004 fevereiro 2004 março 2004 abril 2004 maio 2004 junho 2004 julho 2004 agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009 abril 2009 maio 2009 junho 2009 julho 2009 agosto 2009 setembro 2009 outubro 2009 novembro 2009 dezembro 2009 janeiro 2010 fevereiro 2010 março 2010 abril 2010 maio 2010 junho 2010 julho 2010 agosto 2010 setembro 2010 outubro 2010 novembro 2010 dezembro 2010 janeiro 2011 fevereiro 2011 março 2011 abril 2011 maio 2011 junho 2011 julho 2011 agosto 2011 setembro 2011 outubro 2011 novembro 2011 dezembro 2011 janeiro 2012 fevereiro 2012 março 2012 abril 2012 maio 2012 junho 2012 julho 2012 agosto 2012 setembro 2012 outubro 2012 novembro 2012 dezembro 2012 janeiro 2013 fevereiro 2013 março 2013 abril 2013 maio 2013 junho 2013 julho 2013 agosto 2013 setembro 2013 outubro 2013 novembro 2013 dezembro 2013 janeiro 2014 fevereiro 2014 março 2014 abril 2014 maio 2014 junho 2014 julho 2014 agosto 2014 setembro 2014 novembro 2014 |
quarta-feira, janeiro 31, 2007
MES FORTS BRAS Jamais pretendi defender tese de doutorado, aliás sequer sabia em que consistia este gênero literário em geral masturbatório com pretensões de ciência exata. No fundo, queria viajar, conhecer outras gentes. Os suecos têm um nome para isto: resfeber, febre de viagens. Contraí o vírus em Estocolmo. Consta que a doença não tem cura. Tinha quatro anos para redigir trezentas ou quatrocentas páginas, o que não exige nenhum esforço maior de um jornalista treinado na crônica diária. O mesmo vale para um professor de Letras que, teoricamente, deveria saber escrever. Em um curso de metodologia, tive como professor um certo M. Decaudin, cujo nome me causava calafrios: temia, em um ato falho, tratá-lo por M. Decadent. O ato, aliás, não mais seria falho, já havia passado a habitar meu consciente. Em suas aulas, enfrentei meu primeiro inimigo teórico, o tal de método. M. Decadent (pardon!) exigia de mim um método, instrumento do qual jamais ouvira falar. Fui consultar um professor gaúcho, Dionísio Toledo. Professor na Sorbonne, conheceria suas manhas. Toledo me recebeu amistosamente e me sugeriu diversas linhas de análise. Eu poderia usar um enfoque psicanalítico, a partir de Lacan ou Kristeva, se não me engano, ou quem sabe analisar os autores sociologicamente, a partir das obras de Goldman e sei lá mais quem, ou então, se não quisesse pensar muito, adotar um método estruturalista. Era uma noite de inverno, Paris estava coberta de neve. Caminhei vários quarteirões sem encontrar uma lata de lixo onde jogar a bibliografia que, por uma questão de cortesia, anotei em alguns papéis. Ça va, jeune-homme de la pampa? A voz rouca o fez voltar 15 anos atrás. Jeune-homme de la pampa? Não acreditava no que ouvia. Só podia ser ela, Martine et sa belle poitrine. E só podia ser com ele. Fora ali mesmo, na terrasse do Select, que se haviam despedido, após acompanhar o enterro de Sartre. Ela, a militante do PC, dera estilo a seus ensaios e alegria a seus dias de Paris. Fora sua professora de francês na Sorbonne, depois chez elle, e depois... seu dicionário de travesseiro, a salvação de sua tese. Não foi fácil explicar-lhe que não era exatamente brasileiro, mas gaúcho. Falou da pampa, de seus habitantes e hábitos peculiares, cevou-lhe um chimarrão. Profilática, ela insistia em uma cuia e bomba individuais. Só aceitou chupar na mesma bomba ao saber que aquela era a bebida predileta de Che Guevara e assim devia ser tomada, coletivamente. Lembrou de um dito gaucho: mulher que toma mate em muitas bombas, nunca mais se acostuma com uma só. Mas aquelas tardes esdrúxulas de chimarrão e camembert estavam mortas e bem mortas, como morto estava o jovem cheio de ilusões que um dia chegara a Paris para conquistar o mundo. Morta estava sua tese, seu entusiasmo pela literatura, suas esperanças no magistério. Visitava agora Paris como quem faz turismo pelo próprio passado e uma voz rouca ressuscitava dias que julgava também mortos. Abraçou-a com efusão. Sentaram-se na terrasse, como se tivessem se despedido em Montparnasse na noite anterior. Como dizíamos ontem... Ambos com alguns quilos a mais, sua barba já poivre-et-sel, alguns fios brancos invadindo a crina loura da ex-professora. Ele, que abominava o stalinismo de Sartre, fora cair nos braços da militante. Quem te viu, quem te vê. Desejo não tinha ideologia. Resumiram, em traços rápidos, os quinze anos passados. Ele migrara de cidade, profissão e mulher. Brasil era eterno devir. França, águas paradas. Ela mudara apenas de endereço. Passado volta? Tinha medo de um fiasco. Evocou seus seios, seus pelos, que um dia vira emergir do Mediterrâneo, gotejantes, numa praia em Cannes. Ela despediu-se com um olhar quente, passou-lhe o endereço. Esperava-o no sábado pela manhã. J ai besoin de tes forts bras. Dormiu o sono dos anjos. Passado voltava, sim senhor! Pragmática, a francesinha. Queria-o em plena forma, de manhã cedo. Braços fortes? Pois não teme quem te adora a própria morte. O hino pátrio adquiria novo sentido às margens do Sena. Na sexta, moderou no vinho. Sentia-se um Jacques Brel revisitando uma antiga paixão. Ela ainda vira força em seus braços? Gentil Martine. Já se via auscultando sua generosa poitrine! Chegou atrasado, os homens da transportadora já esperavam na porta do prédio. Operário francês, tu sais, reclamava Martine, eles não movem um dedo numa mudança, a gente tem de carregar tudo. Um fio de pentelho puxa mais que vinte juntas de boi, tinha de convir. O Muro havia caído, a URSS se esfacelado e lá estava ele, carregando das profundezas de uma cave os arquivos da célula do PC de Montparnasse. Dependesse a marcha da História dos seios de Martine, nem tudo estava perdido. terça-feira, janeiro 30, 2007
A MORTE DO MITO Navegar é preciso, viver não é preciso, diziam os nautas lusitanos. O leitor apressado pode cair na trampa da interpretação mais imediata, a de que navegar é necessário. Não é este o sentido do refrão. Assim falando, pretendiam os marujos alertar para o fato de que navegar é ofício que pode ser exercido com precisão, o mesmo não se podendo afirmar da vida. Ernesto Sábato afirma continuamente em suas obras que jamais viajamos em busca de países ou paisagens, mas sempre em busca de nós mesmos. Destes viajantes, que na viagem se descobrem escritores, tradutores ou comparatistas, tem dependido o diálogo entre Europa e América Latina. Guimarães Rosa foi um destes viajores e suas navegações foram profícuas. Em Diálogo com a América Latina, diz a Günter Lorenz: Olhe, o futuro da Europa e de toda a humanidade é como uma equação com várias incógnitas. A Europa é pequena, mas seus habitantes são ativos e, além disso, têm a seu favor uma grande tradição. Entretanto, os europeus não têm qualquer influência sobre essas incógnitas que determinam o futuro de um continente. O x e o y desta equação decidirão o amanhã, tanto é assim que quase já se pode dizer hoje. A América Latina talvez não seja a incógnita principal, o x, mas provavelmente será o y, uma incógnita secundária muito importante. Pela matemática, sabe-se que uma equação não se resolve se uma segunda incógnita não for eliminada. Suponhamos agora que a América Latina seja a tal incógnita y. Homem a cavalo sobre dois continentes, Guimarães Rosa não padecia do deslumbramento de marinheiros de primeira viagem e confiava robustamente no futuro das letras latino-americanas: A Europa é um pedaço de nós; somos sua neta adulta e pensamos com preocupação no destino, na enfermidade de nossa avó. Se a Europa morresse, com ela morreria um pedaço de nós. Seria triste, se em vez de vivermos juntos, tivéssemos de dizer uma oração fúnebre. Estou firmemente convencido, e por isso aqui estou falando com você, de que no ano 2000 a literatura mundial estará orientada para a América Latina. O papel que um dia desempenharam Berlim, Paris, Madri ou Roma, também Petersburgo ou Viena, será desempenhado pelo Rio, Bahia, Buenos Aires e México. O século do colonialismo terminou definitivamente. A América Latina inicia agora seu futuro. Acredito que será um futuro muito interessante, e espero que seja um futuro humano. Rosa exagerava em seu otimismo. De qualquer forma, na era dos computadores e Internet, a aldeia global se descentraliza. Viver au bord'elle, daqui para a frente, já não é mais paragem obrigatória de toda viagem iniciática. Embora meu Eldorado estivesse um pouco mais ao norte, os anos de Paris serviram para conhecer-me a mim mesmo e a meu continente. Chesterton dizia ser impossível conhecer uma catedral permanecendo dentro dela. Se não consegui com Paris aquela intimidade inatingível da qual fala Edwards Bello, lá muito conheci da América Latina, como muito conhecerá de Paris o francês que passe algum tempo em nosso continente. Não por acaso, poucas relações tive com o parisiense sedentário, que só se desloca da Rive Gauche para alguma praia do Mediterrâneo. Meus interlocutores eram em geral jornalistas, cooperantes ou bolsistas estrangeiros, seres que por contingências do ofício muito bem sabem que Paris não é o centro do mundo. Em Paris, morreu para mim o mito Paris, e penso que esta é a mais vital descoberta para um latino-americano. Descoberto isto, podemos pensar em criar, sem ligar para modelos nem sentir-se Terceiro Mundo. Antes porém, navegar foi preciso. segunda-feira, janeiro 29, 2007
ALICE NO PAIS DAS MARAVILHAS Chega Alice no País das maravilhas e bem outra é a realidade. Para matricular-se numa universidade precisa da carte de séjour. Para obter a carte de séjour, precisa estar matriculada em uma universidade. Para conseguir a famosa carta, terá de fazer fila de madrugada e na neve, que bolsistas jamais chegam no verão. Na fila, será equiparada a famintos de todos os quadrantes, paquistaneses, árabes, haitianos, que buscam na França uma chance de trabalhar como escravo. Mesmo pertencendo à classe média brasileira, tem boas chances de habitar um cubículo, dando graças a Deus se nele houver vaso sanitário e uma ducha, em um quinto ou sexto andar sem elevador. A queda de status, já ao chegar, abala Alice. O confronto posterior com o ruidoso mundo intelectual parisiense irá achatá-la, se não for forte. Suicídios e perturbações mentais não são moeda rara no currículo dos buscadores de paraísos. Não foi por acaso, nem criação minha, que pendurei em uma árvore um de meus personagens em Ponche Verde, calcado em Evaldo Dalmácio Tibursky, companheiro de quarto e universidade em Porto Alegre. A propósito, Norma Takeuti, quando compilava dados para sua tese, foi procurada por um sociólogo mexicano encarregado de fazer um trabalho semelhante ao seu. O governo mexicano estava alarmado com as estatísticas sobre internações psiquiátricas e suicídios de estudantes que voltavam ao país. O fato não passou despercebido a Rubén Dario, que assim escreve em "Augusto de Armas", em Los Raros: No sabía que semejante a la reina ardiente y cruel de la historia, París da a gozar de su belleza a sus amantes y en seguida los hace arrojar en la sombra y la muerte. Enfrentei Paris com tranqüilidade. No início dos 70, a Suécia caminhava uma boa década adiante da França. Não chegava virgem ao Quartier Latin. Meu fascínio com a social-democracia morrera em Estocolmo. Ante um sueco, Monsieur Dupont, o francês médio, era um ser subdesenvolvido. Ou talvez nem tanto. Na época, os suecos viviam em padrões de conforto e sofisticação de fazer inveja a Monsieur Dupont. Minha vantagem é que não estava atracando meu barco no Sena com a visão primária de um tupiniquim. O metrô parisiense, por exemplo, um deslumbramento para um brasileiro ou ugandense de primeira viagem, depois da experiência nórdica me pareceu algo caótico, sem horários definidos, coisa de país desorganizado. Em Criollos en París, o chileno Joaquín Edwards Bello faz seu personagem confessar: París no sirve al americano del Sur: después de algún tiempo, simples espectadores de la vida francesa, dejamos de ser americanos sin alcanzar a ser europeos. La vida parisiense es siempre un misterio para nosotros; todo nos está clausurado, aparte los sítios públicos plenamente abiertos mediante pago. Y conste: alcanzamos a conocer apenas el contorno de esa vida sin penetrar jamás en su cordial intimidad. Nuestra cursilería ha puesto de moda el eterno de "quién estuviera en París!" Conozco señoritas de la mejor sociedad cuya vida en París consistía en pasarse las horas bostezando de añoranzas, cuando no leyendo diários sudamericanos en el Consulado, y, sin embargo, aqui las verás refunfuñando: "este es un país demodé y absurdo". Edwards Bello falava, evidentemente, dos apaniguados latinos que vicejam à sombra de ditaduras e consulados, sem nada entender do universo que os envolve. Em seu personagem há um ressentimento de exilado e plebeu. No fundo, é o que somos em Paris. Trocar de pátria dói e custa caro. Quando Carlos Fuentes afirmava que a capital da América Latina era Paris, foi imediatamente contestado por Alejo Carpentier: que Paris fora a capital dos latino-americanos, mas que hoje existiam outras capitais como Londres, Berlim ou Madri. As distintas e sempre mesmas ditaduras militares no continente americano produziram diásporas que Paris não mais conseguiu albergar, a ponto de me parecer pertinente pesquisar a influência do Milicus latinoamericanensis no diálogo entre Velho e Novo Mundo. A "parisite", febre que corroeu a alma de tantas gerações, adquire hoje nova sintomatologia. Os novos Colombos, ao fazer a viagem inversa, não mais assestam a proa exclusivamente rumo à torre Eiffel. Seja quais forem seus pontos de chegada, este tipo de viagem marca dolorosa e definitivamente o navegador, isto quando não acaba em naufrágio. De qualquer forma, mesmo ultrapassado o período do poder militar, a América Latina não conseguiu ainda estabelecer uma capital intelectual em seu próprio continente. domingo, janeiro 28, 2007
AU BORD'ELLE La Seine... Sena é palavra feminina. "Au bord'elle, la Seine" é o mais longo capítulo de Ponche Verde. Au bord'elle morreram os últimos mitos que nutri em relação à Europa. Não por acaso, comecei o relato no dia do enterro de Sartre, sentei meus personagens no café Select, de Montparnasse, e deixei-os falar. À medida que falavam, em suas palavras constatei esta sensação ambígua de todo latino-americano em Paris, a mesma sensação de gaúcho residindo em Florianópolis: "a cidade é linda, mas..." Claro que adoramos Paris, descobri isto quando insistia junto a um amigo de Porto Alegre: "não gosto desta cidade". Afinal, se Baudelaire se permitia dizer "j'ai horreur de Paris", eu não me sentia exatamente um herético ao manifestar um certo desagrado. "Podes não gostar dela", atalhou o gaúcho, "mas é a cidade à qual mais voltas, se possível todos os anos". Sem querer, eu me traíra. Como se trai todo criador latino-americano às margens do Sena. Em Piedra negra sobre una piedra blanca, César Vallejo anuncia sua morte: Me moriré en París con aguacero, un día del cual tengo ya el recuerdo. Me moriré en París - y no me corro - tal vez un jueves, como hoy, en otoño. Em Identidad Cultural de Iberoamérica, o uruguaio Fernando Ainsa contrapõe a este poema a maldição de Andrés Bello em Carta escrita en Londres a Paris por un anciano a otro: Mal haya ese París tan divertido y todas sus famosas fruslerias que a soledad me tienen reducido! Mal rayo abrase, amén, sus Tullerias y mala peste en sus teatros haga sonar en vez de amores, letanias! Esta ambigüidade encontradiça tanto em latino-americanos como em estrangeiros das demais latitudes forneceria material para uma enciclopédia. Rómulo Gallegos, em Reinaldo Solar, tenta uma explicação do movimento que impele os buscadores de Eldorados: Y por qué se ván? Por qué preferimos la lucha en el país extranjero y no la podemos resistir en el propio? Sencillamente, porque aquello es lo fantástico y esto es lo real. Al cabo de cuatrocientos años hacemos lo que hacían los conquistadores que desdeñaban poblar y colonizar, preocupados solamente con la eterna expedición de El Dorado. El Dorado fué la ficción inventada por el índio para internar y perder al español, y la gota de sangre del índio que tenemos en las venas es lo que hace pensar hoy en la fuga a Europa que es otro El Dorado. Em tese inexplicavelmente não divulgada no Brasil, Os Conflitos de Identificação Cultural dos Estudantes Brasileiros na França, defendida na Université de Paris IX-Dauphine, a paranaense Norma Takeuti arrolou as imagens usualmente alimentadas pelos bolsistas brasileiros em Paris. Les voilà: berço da cultura ocidental eldorado da intelectualidade pólo irradiante da cultura no mundo: lá, tudo acontece antes porta-bandeira da democracia país dos direitos do homem terra da pluralidade e do pensamento aberto terra do livre pensamento e do laissez faire terra para onde você vai e se libera de tudo Takeuti também arrola depoimentos dos mais significativos, como a da estudante que ao chegar a Paris foi imediatamente à Sorbonne "tomar um banho de cultura respirando o ar que emanava daquelas paredes". Melhor ainda, o de outra estudante, interrogada sobre a imagem que fazia da França: A França é, para mim, o país do sonho. Penso na França do passado. Eu não posso imaginar a França de hoje. Quando penso nela, o que me vem ao espírito são os pintores nos cantos bucólicos, os apaixonados à beira do Sena, os bares acolhedores com sua decoração pitoresca, os restaurantes iluminados à luz de velas, as pequenas ruas medievais... O país das maravilhas! ... e eu, Alice, extasiada! sábado, janeiro 27, 2007
PRIMEIRAS DESCOBERTAS Vim morar aqui em 77. Já vacinado pela experiência escandinava, não alimentava maiores mitos em relação à Europa. Este desencanto, tentei equacioná-lo em Ponche Verde, romance de exílio e viagens, de descoberta do velho continente e redescoberta da América Latina. O final, evidentemente, não é feliz. (O romance, você pode baixá-lo de http://www.ebooksbrasil.com). Cheguei no outono. Mas ao amarelo outonal ajuntava-se um amarelo excrementício que jamais esperamos encontrar em uma sociedade civilizada. Nos idos de 70, este foi meu primeiro choque ao flanar pelas ruas parisienses. O espetáculo nauseabundo das crottes nas calçadas era apenas a parte emersa do iceberg. Nesta estada au bord'elle, la Seine, mantive contato com colegas de todas as latitudes. Este é um dos encantos insuspeitos de Paris e tanto latino-americanos como africanos, negros ou árabes, refugiados do Leste Europeu ou asiáticos, eram todos unânimes ao manifestar seu espanto ante aquela emética ornamentação de uma cidade tão linda. A bem da verdade, as ruas de Paris hoje estão muito mais limpas que nos 70. Para nós, latino-americanos, a imagem da França sempre estará associada aos ideais de liberté, egalité, fraternité. Revoltados ante a miséria e os desníveis sociais tremendos de nossos países, parecia-nos tácito que nas nações desenvolvidas européias tais problemas há muito tenham sido resolvidos. Basta alguns meses em Paris para constatarmos que a cidade em que estamos não é a que buscávamos. Pequenos incidentes do dia-a-dia: um negro preterido na fila do correio ou da padaria. Um árabe que não pode alugar um studio pelo fato de ser árabe. Um prédio ou mesmo um bairro que se desvaloriza por ser habitado por africanos. Negros e árabes interpelados pela polícia porque têm a pele negra ou cara de árabe. Latino-americanos que, por serem negros ou terem traços levantinos, são alvo contínuo de perquirições policiais, como aconteceu com Gabriel Garcia Márquez. Como bom stalinista, usou o fato para condenar o Ocidente que o entope de dólares. Sem falar nos faits divers da imprensa cotidiana: as brimades em bares envolvendo imigrantes; o vizinho que atira em uma criança árabe porque fazia ruído excessivo no pátio; o singular esporte tantas vezes praticados em fins-de-festa, tipo vamos-ver-quem-abate-primeiro-um-bougnoulle. Et j'en passe. Descobrimos então o óbvio: a sociedade ideal não existe. Deveríamos saber antes de partir, mas o bicho-homem é antes de tudo esperançoso. Só há uma maneira de chegarmos a esta revelação: viver no país que julgamos ideal. O príncipe cambojano Norodom Sihanouk captou bem esta síndrome. Se tivesse de mandar estudantes para o exterior, os mandaria para Moscou. De Paris, todos voltavam comunistas. O que mais me surpreendeu em meus dias de estudante no país da liberdade, igualdade, fraternidade, não foi a condição de cidadão de segunda classe do imigrante, nem o racismo palpável de Monsieur Dupont, mas algo que talvez cause pasmo a um francês: a inexistência do habeas corpus. No final dos anos 70, Giscard d`Estaing propôs aux citoyennes et citoyens a instituição desta garantia fundamental da liberdade de cada indivíduo. Pasmo meu e pasmo dos franceses. De minha parte, não conseguia acreditar no que ouvia. Se Giscard propunha a instituição do habeas, evidentemente este não existia na estrutura jurídica do país. Quanto aos franceses, até os jornalistas tiveram de debruçar-se sobre enciclopédias para bem informar seus leitores. Como a proposta partia do poder, obviamente foi rejeitada. A França, como nação, perdeu uma oportunidade de proteger eficazmente seus cidadãos de abusos de autoridade. Je n'ai jamais vu ça, reagiam meus interlocutores franceses, quando eu falava do habeas. Quem viveu em Paris, sabe que quando um parisiense assim fala é porque a coisa ou fato em questão não deve existir dentro dos limites do universo conhecido. Não me foi fácil convencer meus colegas de universidade que o instituto proposto por Giscard era, no Brasil, do conhecimento de qualquer prostituta de rua e muito mais usado que preservativos. A mais dura tarefa me esperava ao voltar ao Brasil, a de convencer amigos e leitores de que na França não existia o habeas corpus. Viajando e aprendendo... De qualquer forma, hah vantagens nesta lacuna. Sem habeas, nao hah a industria do habeas. Estas impressoes sao de anos passados. Ao final destas reflexoes, falarei da Paris presente. MENSAGEM DO MARCO AURELIO A estupidez de Olavo de Carvalho Amigos: Em seu último programa de rádio (http://www.blogtalkradio.com/olavo), do dia 23 de janeiro, Olavo de Carvalho, sem citar o meu nome, mas falando sobre mim e outros participantes da comunidade Janer Cristaldo, fez alguns comentários grosseiros, sobre os quais escrevi. Publiquei a mensagem abaixo na comunidade Janer Cristaldo. Abraços. Olavo considerou idiotas aqueles que opinaram sobre Mário Ferreira dos Santos neste tópico e disse que não entrou neste debate para não humilhar os debatedores. Se entrasse, disse que reduziria os debatedores a bosta. E mais: disse que se fôssemos ricos e famosos, ele poderia responder, mas não faria isso com fracassados como nós. Num debate, o que pessoas inteligentes fazem é argumentar, discutir idéias, não "reduzir a bosta" os outros debatedores. As pessoas sensatas mudam de idéia quando percebem que estão erradas. Ninguém aqui está defendendo idéias com unhas e dentes. Eu apenas citei uma opinião de Miguel Reale sobre Mário Ferreira dos Santos. Se isso é sinal de idiotice, por que Miguel Reale não seria idiota também? Ademais, por que Reale, que teria sido amigo de Olavo, não levou em conta as idéias dele sobre Mário Ferreira dos Santos? O mais ridículo foi dizer que não debateria com fracassados. Ora, por que Olavo diz que são fracassadas pessoas que ele não conhece? Sucesso para ele é ser rico e famoso? Seriam a riqueza e a fama condições necessárias para que alguém seja levado em consideração num debate? Olavo está cada vez mais alucinado. Marco Aurelio Antunes sexta-feira, janeiro 26, 2007
PARIS, PENTIMENTO Estou de volta a Paris. A Paris e Madri. Olho meu passaporte e noto que nos últimos cinco anos tenho voltado sistematicamente a estas duas cidades. O mais das vezes, com uma esticada a Roma. São cidades que me encantam. E me impedem de conhecer outras terras. Quando estou pensando em fazer as malas rumo ao anecúmeno, a antiga tentação me acomete: e por que não Paris, onde perdi minha alma? Por que não Madri, que adoro tanto? O anecúmeno que me espere. Quando me perguntam qual é minha cidade, a resposta é um pouco complicada. Se for aquela em que vivi a maior parte de minha vida, então sou paulistano. Estou em São Paulo há doze anos. Jamais estive parado tanto tempo em uma mesma geografia. Se minha cidade for aquela em que nasci, então não tenho nenhuma. Nasci no campo. Se for aquela em que vivi minha adolescência, então é Dom Pedrito, onde estudei cinco anos. Mas poderia ser Porto Alegre, onde fiz Filosofia e elegi profissão, escolhi a amada e amores outros. No Portinho fiquei dez anos. Em Florianópolis, oito. Mas de Florianópolis posso dizer tranqüilamente: não é minha cidade. Se nossa cidade é aquela da qual se chora ao partir, a minha então é Madri, onde fiquei menos de ano. Mas poderia também ser Paris. Quatro anos de Paris marcam muito mais que dez de Porto Alegre ou dezesseis de São Paulo. Neste janeiro hibernal, estou de volta a esta cidade que nos rouba parte da alma e jamais devolve. Paris, pentimento. A pátina dos séculos parece ter escondido esta cidade sob centenas de pentimentos superpostos, de modo a fazê-la entregar-se indistintamente a todos que a buscam, mas exibindo a cada um uma face diferente. Se todos os caminhos levam a Roma, não menos verdadeiro é que todos passam por Paris. Em uma emissão da Antenne 2, disse certa vez Carlos Fuentes: América Latina, capital Paris. Não deixa de ter razão. Como tampouco podemos negar razão ao argelino ou tunisiano que diz: Maghreb, capital Paris. Há qualquer coisa de misterioso nesta cidade que investigador algum consegue explicar: a ela acorrem intelectuais do mundo todo, que deixam em seus países uma situação geralmente confortável, para viver em Paris em condições inferiores às de uma favela. Não estou exagerando. Quem um dia lá viveu como estudante ou exilado, com dinheiro escasso, sabe muito bem que um quarto de vinte metros quadrados é luxo para poucos. Paris é certamente a capital onde um maior número de pessoas vive nas piores condições possíveis na Europa. O problema decorre de sua própria geografia. A cidade é muito pequena, em vinte minutos de metrô a atravessamos de ponta a ponta. E atrai gente demais. Nela não existe sequer um metro quadrado a construir, a menos que se derrube o já construído. Que Paris buscam os que buscam Paris? Confesso não ser o viajante mais adequado para responder a esta pergunta, embora aqui tenha vivido quatro anos e sempre a visite quando perambulo pela Europa. Meu mito era outro e situava-se mais ao norte. A França pouco me dizia, o paraíso me parecia estar no Reino dos Sveas. Em verdade, o mito era algo bastante genérico, poderia ser tanto Paris como Estocolmo, Roma ou Berlim. Víamos a Europa como una e homogênea, continente onde todos os cidadãos tinham seus direitos respeitados, onde polícia não espancava estudantes nem operários, terra de asilo onde todo imigrante ou perseguido político era recebido como ser humano. Viajantes, jornalistas e escritores nos transmitiam as delícias do bem-estar europeu, professores nos embriagavam com cultura européia. Das paisagens e monumentos se encarregavam as agências de turismo e institutos de línguas. Juro que ouvi falar, em aulas da Alliance Française de Porto Alegre, das eaux bleues de la Seine. Viajei. E voltei. Segundo Aristóteles, o homem é um animal político. Mas antes de ser político talvez seja um animal cabeça-dura. Foram necessários vários meses após a volta para aceitar intimamente que havia visto o que de fato havia visto. Viajantes, não voltamos no dia da chegada ao país de partida, mas alguns meses ou anos depois, quando nossas convicções anteriores começam a desmoronar. Jornalistas e escritores não nos haviam dito que o bem-estar europeu repousava na exploração da mão-de-obra deste escravo do século XX, o imigrante. Que o desenvolvimento econômico e tecnológico deles depende em boa parte da venda de armas para as regiões quentes do globo. Nem que, nas avançadas sociedades européias, um cão tem mais status que um negro ou árabe. MENSAGEM DO ALCEU Janer, Lamento não ter podido acompanhar mais de perto essa questão da censura no MSM. A decisão do MSM é por demais lamentável, mas não é exatamente uma surpresa pelo que já se via dos rumos que seguia. Teu artigo Ecce homo, através do qual me atualizo, espelha em grande parte o que eu mesmo já pensava desse episódio. Foste informado sobre a censura do MSM: "Adianto apenas que é uma decisão temporária". Pois bem, a censura temporária visou claramente a te fazer sair. Era o tipo de pressão a que não te submeterias e disso sabiam perfeitamente. A causa subjacente, além de provável uma antipatia por não seres cristão, talvez também envolva a pouco importância dada ao Foro de São Paulo, como o Anselmo aponta. O que me IMPRESSIONA é que tu és um crítico com claríssimo respeito e, talvez eu pudesse dizer, afeição pelo cristianismo. Até acreditas mesmo que JC tenha existido, o que considero improvável se não impossível. Falas com respeito da tua educação, discorres com conhecimento largo e vasto (constrangedor para alguns, pois quereriam saber mais que tu) da Bíblia, conhecimento que só poderia ter aquele que tivesse nesse livro e no cristianismo uma forte referência e, como entendo ser claro no teu caso, uma memória afetiva marcante. Enfim, é crítico dos erros historicamente comprovados e dos erros do fanatismo, mas nunca me pareceu que fosses menos que respeitoso em relação a Cristo e ao cristianismo. Sob certo sentido, falas muitas vezes como se estivesses contrariado pelo que fizeram em nome do cristianismo, mais do que contra a religião em si. Um crítico afável e afinado com a religião, só surgindo daí o herege na visão do intolerante e do ignorante que te insulta contrariado. Escreveste: "Foi bom enquanto durou. É pena que o namoro tenha chegado ao fim." Mas o namoro chegou ao fim com o MSM ainda virgem? Penso que não. Caiu algo, algo falta, algo se perdeu e o MSM não é mais o mesmo (ou o que aparentava ser) quando demonstra tanto medo de idéias divergentes. A boa moça católica acabou o namoro deixando em seus leitores a desagradável sensação de terem apenas colaborado com um muito bem articulado projeto católico conservador. Não que me incomode com católicos e conservadores. Ao contrário, divergências à parte, até mesmo aprendi a compreender melhor sua visão de mundo. Mas lamento profundamente que não tenham visto que havia uma lacuna e uma necessidade para um projeto como o MSM parecia querer ser, que necessariamente deveria englobar mais que apenas uma estreita e particular visão. Em vista da hegemonia de discursos de esquerda nos meios de comunicação em geral, que me parece inegável e com que condordas, se lembro bem, caberia, em vista do que o MSM parecia se propor a ser, um mínimo de tolerância com outros que se opõe a esse estado de coisas. Mas cristianismo e tolerância nunca tiveram convivência fácil, se é que algum dia foram sequer remotamente compatíveis. E fui por ti informado desta pérola inesquecível: (...) escrevi: "Eu sou um só. Quem quiser uma parte, tem de levar o todo." Comentário de Olavo de Carvalho nos scraps de sua página no Orkut: "Foi o pretexto mais filosófico que já vi alguém inventar para dar o cu". Diante de tal refinamento, imagino que seja difícil encontrar resposta que não envolva palavrões, mães e ameaças. Mas o que chama atenção é o fato de que o caminho escolhido pelo MSM implica queimar pontes, criar desafetos e não poupar palavras para insultar quem discorde. Isso soa-me como o resultado de rígidas certezas pessoais, de um sentimento de absoluta certeza de se estar certo sempre contra tudo e contra todos. Aquele tipo de certeza que vejo em muitos esquerdistas e militantes de toda espécie, políticos, religiosos e ambientalistas inclusive. Aquele tipo de certeza férrea que se costuma chamar de fanatismo. O MSM tem ou teve seu valor e tenho para mim que estaria agindo da mesma forma estreita ao considerar todo o trabalho feito como inválido. Mas admito que não tenho mais me sentido atraído pelo tom monocórdio de boa parte dos artigos. Um grande abraço, Alceu Dias de Oliveira quinta-feira, janeiro 25, 2007
CHEZ MOI Quando o leitor estiver lendo esta, estarei refestelado em alguma terrasse em Paris, talvez numa manhã ensolarada, sob uma temperatura de uns dez graus, com uma Leffe em punho e livros e jornais do dia sobre a mesa. Esta é minha concepção de paraíso. Se a vida lá nas altas esferas for assim, até posso repensar minhas posturas atéias. Desde que a imprensa celestial seja livre, é claro. Porque a ler o Osservatore Romano todo santo dia prefiro as chamas do inferno. Leffe, se alguém não sabe, é uma cerveja belga, minha predileta. Tem três versões: blonde, brune, triple e radieuse. A meu lado estarão duas amigas, por coincidência uma blonde e a outra brune, para melhor combinar com as Leffe. Viajar sozinho não tem graça. Há quem goste. Não é meu caso. Me sinto mal quando estou cercado de coisas que me encantam e não tenho com quem dividi-las. O leitor que ainda não viajou deve estar me invejando. Mas quem o inveja, no fundo, sou eu. Paris é meu segundo lar. Vivi quatro anos nesta cidade, apenas um ano a menos que em Dom Pedrito, onde fiz meu ginásio. Nos últimos 35 anos, devo ter estado aqui pelo menos em 30. Me sinto em casa. Já nem vejo a Notre Dame ou Tour Eiffel quando passo por elas. Certa vez, numa dessas idas e vindas, minha Baixinha adorada me observou: "Notaste que estás passando frente à Notre Dame?" Não, eu nem havia notado. Era como se sempre tivesse passado por ali. Paris tem para mim uma sensação de déjà-vu. O deslumbramento daquela tarde, em 1971, quando fui entrando de trem, pouco a pouco, na cidade, morreu e morreu para sempre. A arquitetura antiga, os telhados e chaminés, conferiam com as lembranças de meu imaginário, nutrido pelos Mistérios de Paris, de Eugène Sue. A Paris dos romances de capa e espada, dos três mosqueteiros, desfilava com vagar ante meus olhos. Em verdade, não seria exagerado afirmar que Paris, mesmo para o viajor iniciante, terá sempre um ar de déjà-vu. As imagens de Paris são universais e estão no inconsciente de praticamente todos os mortais. Sob os telhados e chaminés havia, é claro, uma outra Paris, moderna e agitada, que já não era a dos romances de capa e espada. Mas a primeira impressão batia com os antigos relatos. Invejo quem ainda não conhece Paris, dizia. Chegar lá pela primeira vez é sensação que se tem uma só vez na vida, eu já a tive e nunca mais a terei. É algo que se deve fazer preferentemente quando jovem. Por uma razão muito simples. Se você já chegar velho em Paris, será tomado por um arrependimento doloroso: "meu Deus, por que não vim antes?" As melhores refeições de meus dias parisienses, eu as tive graças ... a um quadro comunista gaúcho. Era médico, dono de um hospital e a cada ano viajava à Europa, ora com a própria mulher, ora com uma scort a tiracolo. Me convidava para restaurantes que meu magro orçamento de bolsista não permitia. E assumia a conta com prazer. No fundo, acho que gostava de minhas críticas ao comunismo. Perguntei-lhe, certa vez: por que os homens viajam? Respondeu-me: - Os homens viajam para comer. Matutei durante muitos anos sobre esta resposta, dita com a segurança de autoridade no assunto. Na época, eu imaginava que os homens viajavam atrás de mulheres fascinantes, pois foram elas que me levaram à Suécia. Com a passagem dos anos, quem sabe aprender aprende. (Ou não aprende nunca mais). Certa vez, me perguntava um jovem como eram as mulheres em Paris. Bom, respondi, têm dois braços, duas pernas, um par de seios e outro de nádegas, uma cabeça e tronco, um rosto, dois olhos nos quais às vezes temos vontade de naufragar, conversam como araras quando gostam de com quem estão conversando, riem quando acham graça, gemem quando sofrem ou amam. Viaje por onde quiser e o fenômeno será sempre o mesmo. Já um Pata Negra, um cochinillo, um cordero lechal ou pascual, na Espanha, uma cataplana de frutos do mar em Lisboa, um boudin aux pommes ou umas andouilletes em Paris, um cotechino ou um culatello di Zibello na Itália, comer salmão ou arenque no café da manhã nos países do Norte, degustar um surströmming na Suécia (desaconselho a quem não é chegado a emoções fortes) - para isto é preciso viajar. Os franceses têm um conceito que me agrada muito, é o de cuisine du terroir. São as cozinhas regionais. Quando ouço falar em cozinha internacional, só posso entender aquela cozinha abominável que as empresas aéreas oferecem aos clientes, quando voam a dez mil metros de altura entre um continente e outro. Cozinha internacional é como deus: não existe. E se alguém me fala com entusiasmo de cozinha internacional, eu o deploro. Passou pela vida e não comeu. Não que eu seja um glutão. Nada disso. Como muito pouco. Mas gosto de experimentar o que não conheço. Ainda não tive a chance de degustar os famigerados ovos de mil anos dos chineses. Suponho que, pelo menos por curiosidade, os enfrentaria. Tampouco imagine o leitor que entre mulher e comer, prefiro a comida, nada disso. Se tivesse de optar entre uma coisa e outra, morreria feliz de fome. Mas o turismo gastronômico sempre foi mais intenso que o sexual. Turismo sexual é coisa de bobalhões que ainda não entenderam que a mulher mais interessante é a que está a nosso lado. Em meus primeiros anos na Europa, sentei o traseiro em universidades e bibliotecas, freqüentei cinematecas e museus, ouvi palestras e fui a exposições. Estes tempos são findos. Nos últimos quinze ou vinte anos, tenho me dedicado à flânerie, este prazer que há muito perdemos nas cidades brasileiras. Flanar por ruas e vielas, curtir a arquitetura e as cores locais, sair de um café e rumar a outro, e ler ? sobretudo ler ? cardápios. O cardápio, esse singelo papelucho que recebemos nos restaurantes, é uma revolução na história da restauração. Se antes os comensais tinham de comer indistintamente o que havia nas tables d?hôte, com a introdução do cardápio operou-se o milagre: em uma mesa de quatro pessoas, cada uma delas pode comer uma cozinha distinta. Considero os restaurantes uma das mais gratas invenções da humanidade. Você chega em um país estranho, onde não conhece ninguém, e lá encontra uma equipe de funcionários prontos a recebê-lo com fidalguia e com a melhor cozinha e bebida do país. A humanidade precisou de séculos para chegar lá. Nestes dias, revisitarei com gosto estas grandes invenções da humanidade. Penso até mesmo revisitar em Madri alguns museus que adoro, los Museos del Jamón. Jamón, em espanhol, é presunto. É uma cadeia de restaurantes, cujos tetos e paredes estão forrados de presuntos. Sob os presuntos, comemos, bebemos, conversamos e namoramos. Certa vez, li num jornal a notícia de que um homem morrera soterrado por presuntos. Só pode ser na Espanha, pensei. Era. Não deve ser morte desagradável, morrer sob o odor dos Pata Negra. Bom, não pretendo ser soterrado por presuntos. Apenas curtir esta vida da forma que me parece a mais requintada. Viajando. Salud, leitor! terça-feira, janeiro 23, 2007
PRAZER ANÁTEMA SEJA! Leio que a Conferência Nacional dos Bispos no Brasil posicionou-se contra o uso da chamada "pílula do dia seguinte" por considerar que o método pode ser um abortivo. Para o secretário geral da CNBB, Dom Odilo Scherer, a pílula é um método contraceptivo emergencial, ou seja, é uma substância ingerida para impedir a ocorrência de uma gravidez, mesmo tendo havido uma concepção. Deixem de papas na língua, senhores bispos. Digam logo: "Nós, segundo milenar tradição da Igreja, somos contra todos os prazeres que o corpo possa usufruir. Se houver prazer, que haja punição. Sexo, só para procriar. Se alguém quiser ter onze filhos, só tem direito a onze relações durante toda sua vida". E todo demais prazer anátema seja! segunda-feira, janeiro 22, 2007
FÉ E CÂNCER Mas será que a tentativa de tirar Deus das pessoas não pode causar mais intolerância e confusão do que realmente um bem? Isso é difícil de julgar. Eu admito que há um risco de que as minhas investigações possam tornar os problemas sociais atuais piores. Mas há inúmeros sinais que sugerem que os dogmas religiosos estão isentos de um criticismo racional, e isso é tão perigoso que temos de correr os riscos. Todos parecem concordar que devemos tentar eliminar os excessos tóxicos encontrados em todas as religiões. Mas, para isso, precisamos estudar todo o âmbito do assunto, assim como médicos precisam entender como corpos saudáveis funcionam antes que possam atacar doenças efetivamente. Crentes que se recusam a examinar suas crenças (e as explicações para elas) são como pessoas que se recusam a ver um médico quando suspeitam ter câncer por medo do que podem ouvir. Em ambos os casos a pessoa estará melhor buscando a descoberta, já que há três possibilidades: não há nada errado com ela (ou suas crenças), e ela pode parar de se preocupar; há alguma coisa errada, mas pode ser resolvida com uma intervenção oportuna. Ou realmente há alguma coisa fatalmente errada, e não há nada que se possa fazer. No terceiro caso, talvez a ignorância seja uma bênção, mas acho que o medo do conhecimento é, em si, a causa principal de sofrimento. (Entrevista de Daniel Dennet, da Universidade Tufts ao Estado de São Paulo, 21/01/07. Dennet é autor de Quebrando o Encanto, Editora Globo, recentemente lançado no Brasil) domingo, janeiro 21, 2007
ECCE HOMO Leitores querem saber porque razões meu artigo "Aos leitores ádvenas da Bíblia" foi vetado no Mídia sem Máscara. Bom, eu também gostaria de saber. Na crônica, eu não atacava crença alguma, apenas afirmava que Cristo nasceu em Nazaré e não em Belém. Este era o cerne do artigo. Se por isto foi censurado, o editor está sendo mais ortodoxo que o Vaticano. Pois o nascimento de Cristo em Belém não é dogma. Logo, afirmar que nasceu em Nazaré não é heresia alguma. E mesmo que fosse: por que não poderia eu cometer uma heresia? Afinal não vivemos mais nos tempos da Idade Média, quando os hereges não escapavam da fogueira. Em correspondência datada do dia 05 passado, o editor me assegurou que viria explicar-me pessoalmente porque o artigo não tinha sido publicado. Continuo sentado, esperando. "Artigos com o perfil deste que vc enviou não serão publicados no MSM durante algum tempo" - escreveu-me o editor. "Assim que possível, informarei o motivo. Adianto apenas que é uma decisão temporária". Ora, adoro escrever artigos com aquele perfil. Se aceitasse a censura daquele, teria de aceitar a dos demais. Por outro lado, alegar decisão temporária também é ridículo. Por que o artigo não poderia sair hoje, mas amanhã quem sabe? Além do mais, o artigo era resposta a uma carta de um leitor, que se protegia sob pseudônimo. Pelo que li de sua carta, é mais um desses crentes analfabetos que da Bíblia nada entendem. Em verdade, além de censurar-me, o editor me negou direito a resposta. Se um articulista não pode responder a um crente analfabeto que o insulta sob pseudônimo, é porque está na hora de cair fora. No início desta semana, o leitor Eduardo Alex quis saber junto ao MSM porque não mais faço parte do jornal. "Foi com surpresa que acessei o blog do Janer e descobri que ele não faz mais parte da equipe de articulistas desse site. E conforme foi por ele explicado, o motivo seria censura. O que aconteceu? O MSM resolveu deixar aflorar o seu lado fundamentalista cristão e decidiu alijar de seu meio aquele que talvez seria o mais livre articulista? Ora, resolveram agir como aqueles que o sr. Olavo sempre tachou de censores por se negarem publicar certos artigos seus? É necessária uma boa explicação aos leitores desse sítio". Resposta da editoria: "Primeiro, que o MSM é livre para publicar o que bem entender. Isso não é censura, apenas opção editorial, como pode ser feito em qualquer órgão de mídia. Se a cada vez que deixarmos de publicar artigos de um colunista estivermos exercendo 'censura', então devemos abrir mão do site e entregá-lo aos colunistas, pois estaríamos abrindo mão da administração". Curioso que esse argumento não foi aceito quando Olavo de Carvalho teve artigos seus vetados no Globo, Zero Hora, Época e Istoé. Estes jornais foram acusados de censura. Pelo jeito, deveriam abrir mão da administração e entregar suas páginas ao Olavo. Continua ainda o editor: "Lamentamos que o sr. acredite piamente na versão do colunista, que está simplesmente procurando autopromoção. Por fim, o Sr. Janer Cristaldo preferiu sair do MSM por opção pessoal. Ninguém o obrigou a isso". De fato, saí por opção pessoal. Tive uma crônica censurada e não tenho mais idade para ter crônicas censuradas. Ainda mais em dias de Internet. Se censurar aqui, eu publico acolá. Mas ao afirmar que estou procurando autopromoção, o editor já partiu para o ataque pessoal. É muito vil, da parte de quem foi beneficiado durante anos com minhas colaborações, agredir-me às escondidas junto a leitores. Sim, às escondidas, porque se o leitor não me enviasse a resposta da editoria, dela eu não ficaria sabendo. Vileza do editor. É muito difícil entender porque uma afirmação como a de que Cristo nasceu em Nazaré possa ser passível de censura. Outros leitores acreditam que há outros motivos. Um deles afirma que teria sido a denúncia em meu blog do plágio atroz cometido pelo articulista Carlos Illich Azambuja, em seu artigo "A historiografia comunista: a era dos extremos". Mas a denúncia não foi minha, e sim de Marco Aurélio Antunes. Leitor atento, por ocasião do artigo Marco acabara de ler o autor plagiado, Stéphane Courtois. Azambuja, que se diz historiador, nem ao menos pediu desculpas aos leitores. O MSM recebeu a denúncia do plágio. Não a publicou. Protegeu o plagiário. Da mesma forma, sei que o jornal tem recebido várias cartas de apoio a meu nome. Não publicou nenhuma. Além de censurar-me, está censurando leitores. Anselmo Heidrich, outro ex-colaborador do MSM, que também foi censurado, tem outra hipótese: "Por isto, aposto, este foi o maior 'pecado do Janer', desdenhar do tal Foro, que para Carvalho foi um chute no seu principal dogma". Heidrich se refere ao Foro de São Paulo, essa boceta de Pandora da qual sairiam todos os males que destruirão a América Latina. É uma hipótese a ser considerada. A influência decisiva do Foro de São Paulo - bem como a de Gramsci - na luta pela comunização do continente se tornaram dogmas para Olavo de Carvalho e seus discípulos. Ora, eu não acredito nem em Deus, nem no Espírito Santo, nem na Santíssima Trindade, nem na importância conferida a Gramsci ou ao Foro de São Paulo. Pelo jeito, sou cinco vezes ateu. Estas hipóteses merecem alguma consideração. Pelo menos enquanto Paulo Zamboni não esclarecer o porquê da censura à minha crônica. Sempre me senti um estranho no ninho no MSM. Mas esta estranheza me agradava. Gosto de ser estranho no ninho. Por outro lado, eu conferia diversidade ao jornal. Em meio ao pensamento uniforme da direita religiosa, o leitor encontrava um oásis de livre pensar. Com minha ausência, o MSM assume aquele tom monocórdio típico dos jornais de esquerda: basta ler um artigo e todos estão lidos. Porque todo mundo pensa igual. A máscara caiu. Os pretensos liberais não passavam de católicos dogmáticos. Já pelo próprio nome, eu entendia o MSM como um jornal que denunciava as mentiras da imprensa. Como passei boa parte de minha vida denunciando essas mentiras, nosso amor foi à primeira vista. Enquanto denunciei as mentiras do comunismo e das esquerdas em geral, leitores e editores do jornal vibraram. Quando passei a denunciar as mentiras do cristianismo, ouvi regougos de mal-estar. Denunciar as mazelas do marxismo é bom, digno e justo. Denunciar as mazelas do cristianismo, anátema seja. Foi bom enquanto durou. É pena que o namoro tenha chegado ao fim. Se o MSM protege plagiários e censura articulistas honestos, nada posso fazer. De minha parte, sentirei falta do MSM. Particularmente daquelas cartas cheias de ódio de leitores fanáticos. Confesso que adoro quando me insultam. Não que seja masoquista. É que o leitor que insulta, insulta porque não tem argumentos. Adoro ouvir leitores irados, impotentes ante a lógica, esbravejando quais mocinhas histéricas. Sem dúvida alguma, vou sentir falta deles. Last but not least, em resposta a leitores que acham que tenho um lado divino e outro demoníaco, escrevi: "Eu sou um só. Quem quiser uma parte, tem de levar o todo." Comentário de Olavo de Carvalho nos scraps de sua página no Orkut: "Foi o pretexto mais filosófico que já vi alguém inventar para dar o cu". Eis o homem! sábado, janeiro 20, 2007
TEMPLO É DINHEIRO Leio na Folha de São Paulo: A casa em que o casal Estevam e Sonia Hernandes está mantido sob liberdade condicional e vigiada vale cerca de US$ 1 milhão no mercado imobiliário da Flórida. Construída em 1997 ao custo de US$ 492 mil (R$ 1,05 milhão), a casa tem 400 m2 de área construída, piscina, cinco quartos, uma suíte no primeiro andar, sala de ginástica, jardim na frente e atrás e fica à beira de um lago particular. Ao ler, me pergunto: e esta pobre gente, que contribui com seus magros tostões para custear o fausto de um casal de vigaristas, será que esta gente não lê jornais? Nem assiste televisão? Ou lê jornais e assiste televisão e continua dando seu dízimo aos vigaristas? Se assim é, merecem. MAIS ELEGÂNCIA AINDA Resposta de Olavo de Carvalho ao editor de O Pequeno Burguês: "Leo: O Janer acha que filósofos são pessoas educadinhas que não mandam ninguém a merda. A única resposta que isso merece é: Vá à merda. Quanto à choradeira que ele faz, é patética. Ele nunca sofreu censura no MSM, apenas adiamento. Pedimos para que ele e outros colunistas suspendessem temporariamente as polêmicas religiosas até a poeira baixar. Ele aproveitou a ocasião para se fazer de vítima e encenar uma paródia do que sucedera comigo na Zero Hora. O problema dele é excesso de dó de si mesmo e falta de vergonha na cara." A SUMA ELEGÂNCIA DO SEDIZENTE FILÓSOFO Em uma discussão no Orkut, escrevi: "Eu sou um só. Quem quiser uma parte, tem de levar o todo." Comentário de Olavo de Carvalho nos scraps de sua página no Orkut: "Foi o pretexto mais filosófico que já vi alguém inventar para dar o cu". http://www.orkut.com/Scrapbook.aspx?uid=3236581587037529995&na=3&nst=-2&nid=3236581587037529995-1168935018-16432408252528519089 sexta-feira, janeiro 19, 2007
ENTREVISTA A LEO MELGAÇO (http://www.opequenoburgues.org) Janer Cristaldo é aquele que pode ser caracterizado como polêmico. Até pouco tempo, ele mantinha um composto curioso que se desfacelou recentemente: Ateu, crítico do cristianismo e, ao mesmo tempo, colunista do Mídia Sem Máscara. Não, não. Janer não deixou de ser ateu e, tampouco, crítico do cristianismo. Apenas chutou o pau da barraca e bateu retirada do MSM, por não suportar, de maneira alguma, qualquer tipo de censura aos seus artigos. Nessa polêmica entrevista, Janer diz o que pensa a respeito da censura que sofreu, crítica o Olavo de Carvalho, caracterizando-o como não-filósofo, e, ainda, afirma que virou ateu lendo a Bíblia, por não acreditar que possa existir "aquele Deus cruel e genocida" lá retratado. A entrevista foi divída em 5 Partes: 1- Censura 2- Brasil 3- Religião e Cultura Ocidental 4- Mundo 5- Literatura Segue abaixo: Censura Leo Melgaço - A pergunta que todos os seus leitores gostariam de te fazer, por mais que já tenha sido batida e rebatida, é a respeito da sua retirada do Mídia Sem Máscara. Você alegou ter sido vítima de censura. Embora não seja lá uma das atitudes mais democráticas vetar um artigo, até que ponto você acha que um jornal tem o direito de censurar em nome da sua linha editorial? Janer - O MSM vive de colaborações não pagas. Quando se convida um autor para escrever, não se pergunta pelo que ele escreve. Só o que faltava escrever de graça e ser censurado. Quando sou pago para escrever por um jornal convencional, até entendo. O jornal tem seus interesses comerciais e quer preservá-los. Deixa então de pagar-me, porque o que escrevo prejudica o jornal comercialmente. Nunca entendi o MSM como um jornal convencional. Se eles quiserem se transformar nisso, estou fora. Nestes dias de Internet, posso escrever sem censura alguma. Penso que o MSM não entendeu bem o que significa mídia eletrônica. Leo Melgaço - O professor Olavo de Carvalho, editor do Mídia Sem Máscara, depois da sua saída, vem sendo acusado de praticar os mesmo gestos autocráticos dos quais foi vítima no decorrer dos últimos anos. Como você enxerga uma atitude dessa advinda de um filósofo que se auto-declara como defensor dos princípios democráticos e da liberdade Ocidental? Janer - É de supor-se que tenha sido o Olavo o responsável pela censura a meu artigo. Eu não sei. É bastante possível, mas não posso afirmar isso. Paulo Zamboni, o editor de fato, me escreveu, dia 05 de janeiro passado, que viria até minha casa explicar-me as razões da censura. Até agora estou esperando. Disse que não mandaria as razões por email porque eu poderia reproduzi-las. Ora, é exatamente para isso que quero saber porque fui censurado. Para repassar a informação a meus leitores. Mas, já que falaste no assunto, o Olavo foi marxista em sua juventude. O que me parece vergonhoso para um homem da idade dele. Temos a mesma idade e nessa armadilha não caí. É bem possível que não tenha ainda se libertado deste viés ditatorial dos marxistas. (Ou teve uma recaída). Por outro lado, não é filósofo coisa alguma. É apenas um estudioso de filosofia. Precisamos acabar com essa mania, de que quem estuda ou ensina filosofia é filósofo. De qualquer forma, basta ver a forma como Olavo responde às pessoas que dele discordam. Começa insultando, desqualificando o adversário, empunhando os argumentos ad hominem que tanto diz abominar. Quando a Zero Hora recusou um de seus artigos, mandou o jornal que o acolhera à merda. Isso é atitude extremamente vulgar, especialmente quando tomada por alguém que se pretende filósofo. Democracia, para o Olavo, pelo que se depreende de seus artigos, é pensar como ele pensa. Brasil Leo Melgaço - A atual imprensa brasileira vem se edificando em pilares duvidosos. Na sua opinião, ela está muito longe de exercer o papel ao qual toda imprensa digna deveria se propor? Janer - Tenho criticado, ao longo de minha vida, não só a imprensa brasileira, como a imprensa toda. Seqüela do século passado, até hoje a imprensa conserva um viés esquerdizante, que malha tanto Hitler como Franco, mas procura sempre preservar Lênin, Stalin, Mao. Seja como for - e especialmente no Brasil - a imprensa é o último recurso do cidadão. Os grandes jornais brasileiros foram bastante ativos nas denúncias dos crimes do PT. Foi em vão, o país reelegeu o capo mafioso. Que se vai fazer? Apesar desta tendência esquerdizante da imprensa, o jornalismo brasileiro não foi omisso ao denunciar a roubalheira. Leo Melgaço - Recentemente, li um artigo antigo do senhor no qual afirmaste que na Suécia "não havia oposição, pois era o país do consenso. Os deputados debatiam no plenário e se acertavam nos corredores". Recentemente, o PSDB, o maior partido oposicionista, se engajou em apoiar o candidato do PT - Arlindo Chinaglia - para a presidência da Câmara. Ou seja, tanto o Brasil quanto a Suécia são países de consenso. Mas qual a diferença entre o "consenso" deles e o nosso? Janer - Quando falei disso pela primeira vez, lá por 73 ou 74, o jornalista que me entrevistou, ao transcrever minha resposta, pôs em minha boca que a Suécia funcionava porque não tinha oposição, já que era o país do bom senso. Era o que ele tinha na cabeça, quando há bom senso não há oposição. Mas não se pode comparar a atitude de políticos de um país protestante, onde a vige a honestidade, com a atitude de políticos vagabundos e venais deste país católico. Leo Melgaço - A respeito da cultura brasileira, qual o seu posicionamento? Existem produções que mereçam respeito? Alguém se salva? Janer - Alguma coisa existe. Mas confesso que nenhuma delas ocupa um lugar de destaque em minhas preferências. Não temos cientista algum que mereça renome universal. Não temos nenhum Cervantes, Dante ou Swift. Não temos nenhum Fellini ou Kurosawa. Nenhum Beethoven ou Mozart. Nenhum Renan ou Toynbee. Se um dia a cultura brasileira desaparecer da face do planeta, ninguém sentirá falta alguma. Religião e Cultura Ocidental Leo Melgaço - Você é bastante conhecido por criticar o conservadorismo cristão, que é o principal alicerce do presidente americano George Bush. Qual o papel que você atribui aos valores judaicos-cristãos para formação da cultura Ocidental? Janer - Não é que eu critique o conservadorismo cristão. Eu critico o cristianismo, seja revolucionário ou conservador. É doutrina mais perversa que o marxismo. O marxismo depende da força para ser incutido às mentes. O cristianismo é insidioso: se infiltra nas mentes. É uma espécie de maquininha de tortura que o crente instala em seu cérebro e ele mesmo aciona. O marxismo, como filosofia de Estado, mal emplacou sete décadas. O cristianismo vige há dois mil anos e não dá sinal algum de cansaço. É praga que a humanidade terá de carregar nas costas por mais alguns milênios. Bush é um idiota que tem em mãos o mais formidável arsenal do planeta. Até Bush já reconheceu estar errado na questão do Iraque. Só alguns católicos fundamentalistas discordam de Bush, não admitem o que ele já admitiu. Falar em valores judaicos-cristãos para a formação da cultura ocidental é um sofisma safado. Deixa-se de lado todo o legado greco-romano, justamente o mais valioso. Democracia, liberdade de expressão, noção de indivíduo, são os grandes legados de Roma e da Grécia. Da cultura judaico-cristã herdamos as teocracias, os dogmas, a ausência de liberdade individual. O marxismo, inclusive. Marxismo só vinga em países católicos. A Rússia de 17 era um país católico. Os partidos comunistas mais fortes da Europa eram os das católicas Itália, França e Espanha. Leo Melgaço - De qual maneira o teísmo foi influente na sua formação pessoal e intelectual? Janer - Foi influente no sentido em que me deu uma idéia bastante precisa da cultura vigente no Ocidente. Ninguém conhece a fundo a história do Ocidente se não tiver uma boa noção da Bíblia e do cristianismo. Esta noção, eu a tive. Conheço suficientemente o teísmo para negá-lo com autoridade. Leo Melgaço - O que te levou ao ateísmo? Janer - A leitura da Bíblia. Aquele deus cruel e genocida, cambiante conforme a época, não pode existir. É invenção humana. Mundo Leo Melgaço - A Guerra no Iraque foi o principal sustentáculo da reeleição do presidente George Bush. Você acredita que os americanos invadiram o Iraque em busca de armas biológicas? Acredita que invadiram, também, pela suposta ligação de Saddam com a Al Qaeda? Ou acha, simplesmente, que eles foram cinicamente à busca de petróleo? Janer - Porque invadiram, não sei. As razões serão muitas. Certamente o petróleo é uma delas. As armas biológicas foram um pretexto estúpido do Bush, já que antes da guerra estava comprovado que o Iraque não as tinha. O pretexto da ligação com a Al Qaeda é estúpido. Bin Laden era saudita, a maioria dos terroristas era saudita, e Bush bombardeia o Iraque. Não tem sentido. Leo Melgaço - Com a ascensão totalitária de Hugo Chávez ao poder da Venezuela; com a chegada de Morales à Bolivia; com o domínio de presidentes de cunho socialista se alastrando pela América Latina - e a presença do Foro de São Paulo -, como o senhor pensa que estará a AL daqui a uns 20 anos? Já comprou sua passagem de avião? Janer - A passagem de avião já está comprada. Para a próxima terça-feira. Para um giro entre Paris e Madri. Mas esta não é aquela passagem definitiva, a de abandono do Brasil. Considero que, apesar dos pesares, o Brasil é país onde se pode viver. Prova disto são as centenas de milhares de migrantes que o buscam. Imigrante não se engana. Se paisecos como Venezuela e Bolívia têm a desgraça de ter governantes como Chávez e Morales, não me parece ser este o caso do Brasil. Ora, direis, temos Lula. Mas Lula foi suficientemente malandro para trair a carta original do PT. Seguidamente vemos declarações suas de que nada tem a ver com as esquerdas. O que ele não conta é que usou as esquerdas para chegar ao poder. Mas já admite nada ter a ver com as esquerdas. Isto não o exime da condição de bronco e analfabeto, mas já é algo. Pior seria se, além de bronco e analfabeto, seguisse as proposições originais do PT. O Foro de São Paulo não apita nada. É mais um jamboree das esquerdas, tipo o Fórum Social. Nada de espantar que as esquerdas se reúnam e conspirem. Elas se reúnem e conspiram desde que começaram a existir. Essa importância desmesurada dada ao Foro de São Paulo é ficção alimentada pelo Olavo de Carvalho e seus discípulos. Só o MSM vê esta ameaça. Nenhum outro jornal do mundo a leva em consideração. Serão todos os jornais do mundo cúmplices desta conspiração? Honestamente, não acredito. Daqui a vinte anos, pelo ritmo em que anda, a América Latina certamente estará mais pobre. Leo Melgaço - Como você analisa o papel de potência desempenhado pelos Estado Unidos no decorrer das últimas décadas? Ao longo desses tempos, eles têm mais coisas boas ou ruins para contar? Janer - Eu não gosto do modus vivendi americano, da cultura americana, desta história de winner ou loser, do consumismo americano. Mas tenho profundo respeito por algumas conquistas dos Estados Unidos. Em duzentos anos, eles chegaram à Lua e mandaram naves além de Plutão. Em quinhentos anos, o Brasil sequer conseguiu reproduzir uma caravela como aquelas em que os portugueses chegaram aqui. Eu vibro quando uma nave volta a Cabo Canaveral, vejo isto como uma conquista da raça humana. Penso que um Bush não consegue empanar todas as conquistas dos Estados Unidos, particularmente no campo da ciência, tecnologia, engenharia, medicina, etc. Apesar de mancadas como esta do Iraque, considero que o saldo é positivo. Literatura Leo Melgaço - Em literatura, o que você considera como clássico? Janer - Clássicos são os que ficaram. Platão, Cervantes, Dante, Swift, Dostoievski e por aí vai. Leo Melgaço - Existem obras literárias brasileiras que são indispensáveis para qualquer leitor do mundo? Janer - Nenhuma. Leo Melgaço - Quais são seus autores e livros preferidos? Janer - Sempre que me perguntam por autores preferidos, tenho de repetir-me. É normal, pois minhas preferências não mudam. Então vamos lá. Todo homem necessita de alguma poesia. Há dois poetas que me satisfazem plenamente, posso viver minha toda nutrido por eles: José Hernández e Fernando Pessoa. Hernández escreveu o poema maior da América Latina, Martín Fierro. É poema que leio e releio e não canso de reler. Poucas pessoas o conhecem no Brasil. Pessoa, sabemos quem é. Entre meus livros de cabeceira, tenho a História das Origens do Cristianismo, de Ernest Renan (sete volumes). Através destes volumes, tenho uma boa idéia das crenças que embasam o Ocidente. Outro de cabeceira é A Cidade Antiga, de Fustel de Coulanges, que me dá uma boa idéia dos fundamentos da cidade contemporânea. Fui um leitor apaixonado de Nietzsche e até hoje gosto de reler Ecce Homo, o último livro que publicou antes de enlouquecer. Este livro resume o homem todo. A propósito de loucos, gostei também de ler Escuta, Zé Ninguém, do Wilhelm Reich. Sou fascinado pelas Viagens de Gulliver, a meu ver o livro mais importante do século XVIII. Atualíssimo. Já fui processado por citá-lo. E considero 1984, do Orwell, a obra mais emblemática do século XX. Desmonta toda a semântica do comunismo. Não posso deixar de lado o Quixote, que traduz todo um país que adoro, a Espanha. Além disso, é uma viagem no tempo, me transporta a uma Espanha de 400 anos atrás. Leo Melgaço - O que te levou ao início do trabalho de tradutor? E quantas obras você já traduziu? Janer - De novo, tenho de repetir-me. Ao voltar da Suécia, trouxe um livro belíssimo, um romance de antecipação, Kalocain, de Karin Boye. Traduzi-o um pouco pelo prazer de fazer uma leitura em profundidade, outro tanto para não perder meu sueco. O livro foi aceito por uma editora do Rio, a Cia. Editora Americana. Depois disso, um editora paulista, a Alfa-Ômega, convidou-me para traduzir Crônicas de Bustos Domecq, de Borges e Bioy Casares. Mais tarde, Ernesto Sábato me escolheu como tradutor de suas obras. Traduzi cerca de vinte títulos e cansei. O pagamento é vil. Em verdade, rende algumas viagens, mas isso não é generosidade da editora. A gente tem de se virar. Em virtude de minhas traduções do sueco, ganhei uma viagem à Suécia. Ganhei também uma bolsa na Espanha, que atribuo às minhas traduções do prêmio Nobel espanhol Camilo José Cela. Bem entendido, eu o traduzi antes de ser Nobel. Extra Leo Melgaço - Em política, a qual lado você se alinha? Direita, esquerda, liberalismo... Janer - Não me sinto nem à direita nem à esquerda. Isso de enquadrar alguém obrigatoriamente em esquerda ou direita é armadilha das esquerdas. Quem é de direita? É alguém que não aceita a esquerda. Ora, nessa eu não caio. Liberal muito menos. Ainda mais nestes dias em que setores católicos passaram a gostar da palavrinha e a adotaram. Ora, um liberal não pode ser católico. Católico é aquele que aceita teocracia, teologia e dogmas. Por mais que se espiche o sentido da palavra liberal, não me parece que rime com teocracia, teologia, ou dogmas. quinta-feira, janeiro 18, 2007
MENTIRAS QUE A IMPRENSA ENDOSSA Leio no noticiário on-line: Detentos do Centro de Detenção Provisória de São José dos Campos (SP), na região do Vale do Paraíba, iniciaram ao final da tarde desta quinta-feira uma rebelião. Eles mantém dois agentes penitenciários e cerca de 105 parentes reféns. Outros dois agentes e 120 pessoas foram libertadas por volta das 20h em troca da promessa de que o local não será invadido. É uma mentira óbvia. Nenhum presidiário faria de seus parentes reféns. Os parentes são em verdade cúmplices. Difícil entender porque a imprensa endossa tal patranha. Ingenuidade? Ora, jornalista algum é ingênuo. A hipótese que resta é que os jornalistas, no fundo, são também cúmplices da bandidagem. ABUTRES RONDAM CRATERA O desmoronamento que abriu uma cratera numa linha de metrô em construção em São Paulo já está mais para A Montanha dos Sete Abutres que outra coisa. Para quem não lembra, este filme de 1951, de Billy Wilder, é a história de um repórter (Kirk Douglas) de um pequeno jornal do Novo México. Ao encontrar um homem preso numa mina, ele tenta prolongar a permanência do mineiro dentro dos escombros, para se tornar famoso com a cobertura do desastre. Não que tenha restado alguém com vida no episódio de São Paulo. Mas a imprensa já começa a exagerar. Cadernos como "Metrópole", do Estado de São Paulo, e "Cotidiano", da Folha, bem que podiam trocar o título para "Cratera", tantas são as páginas que dedicam ao acidente. A edição de hoje do Estadão, em falta de notícias, chega a dar a biografia das cadelas que procuram as vítimas. Com direito a uma arte, com prêmios, treinamento, peso e altura dos animais. Tragédia sempre rende público. E jornalista sempre tem algo de abutre. Faz parte da profissão: onde houver cadáveres, lá está a imprensa. Cadáveres rendem a tal ponto que uma empresa de produtos energéticos, a Red Bull, enviou ao local uma equipe de garotas-propagandas para vender suas beberagens. A iniciativa está provocando a ira de leitores, que protestam contra a empresa "que se aproveita do sofrimento alheio para divulgar e vender seus produtos a qualquer preço". Curioso que outros profissionais estão também vendendo suas mercadorias e ninguém protesta. Leio no Estadão que "o bispo d. Pedro Luiz Stringhini, representante da Arquidiocese de São Paulo e responsável pelas pastorais sociais da cidade, realizou uma oração ecumênica na tenda onde parentes de vítimas esperam por notícias. Horas depois, um pastor da Assembléia de Deus conduziu preces. Ainda apareceram para prestar solidariedade três irmãs Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo e uma integrante do Seicho-no-Ie". Quem chamou estes senhores para venderem seus peixes podres? Como as autoridades permitem que estes abutres místicos explorem o sofrimento alheio? Pela reação dos leitores, Red Bull não pode. Padre pode. quarta-feira, janeiro 17, 2007
SÓ O QUE FALTAVA O período gasto na condição de aspirante à vida religiosa para custeio de sua formação deve ser computado como tempo de serviço para fins de aposentadoria. Foi o que entendeu a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, pronunciando-se em instância final sobre o pedido de Leoni Jacob Becker, para que o tempo em que foi noviça e juvenista pudesse ser contado para a sua aposentaria. Só o que faltava... E agora não falta mais. Por analogia, deverá contar também para a aposentadoria o tempo de formação para pastores evangélicos, médiuns, pais e mães-de-santo, etc. Todos os demais gigolôs das angústias humanas, que desenvolvem uma extraordinária habilidade verbal para tirar dinheiro dos pobres e incultos, terão de ser contemplados com a medida. Mais audácia, senhores juízes. É preciso contar também o tempo de catequese, aquele que antecede a primeira comunhão. Assim sendo, dentro de pouco um largo contingente do país não precisará chegar aos 40 para aposentar-se. O exemplo do presidente da Nação, que aposentou-se aos 42 anos, sem nem mesmo completar 25 anos de trabalho, faz escola. terça-feira, janeiro 16, 2007
ISLÃ É MAIS ÁGIL Casais que não tenham filhos menores ou incapazes e cuja separação não for litigiosa já podem divorciar-se no Brasil sem a intervenção de um juiz, bastará registrar este divórcio em cartório. Mas não se alegrem os que pensam que driblaram os advogados. Nem se entristeçam os advogados que acham que perderão clientela. Os interessados, ainda que adultos e responsáveis, em pleno uso de suas faculdades mentais, precisarão estar assistidos por advogados durante a realização do ato. Há inclusive quem diga que os custos do divórcio agora serão mais caros. O Islã é mais dinâmico. Já chegou ao divórcio por telefone. Leio no Corriere de la Sera que uma certa Lia, professora de Literatura em Genova, casada em segundo matrimônio com o marroquino Hamza Piccardo, descobriu-se divorciada por celular. Recebeu um singelo SMS com a mensagem: EU TE REPUDIO, EU TE REPUDIO, EU REPUDIO. É a chamada lei dos três talaks. Pronunciado três vezes o repúdio, a mulher está divorciada. Os muçulmanos estão dando, ao Brasil e ao mundo, um fórmula das mais eficazes para eliminar a burocracia inerente às separações. segunda-feira, janeiro 15, 2007
UMA RESPOSTA ESFARRAPADA Carta de Eduardo Alex ao MSM: Saudações Foi com surpresa que acessei o blog do Janer e descobri que ele não faz mais parte da equipe de articulistas desse site. E conforme foi por ele explicado, o motivo seria censura. O que aconteceu? O MSM resolveu deixar aflorar o seu lado fundamentalista cristão e decidiu alijar de seu meio aquele que talvez seria o mais livre articulista? Ora, resolveram agir como aqueles que o sr. Olavo sempre tachou de censores por se negarem publicar certos artigos seus? É necessário uma boa explicação aos leitores desse sítio. Resposta do MSM: Subject: Resposta à carta enviada em 13/01/2007 Date: 15 Jan 2007 13:44:35 -0000 Prezado Sr. Eduardo: Gratos pelo seu contato. Primeiro, que o MSM é livre para publicar o que bem entender. Isso não é censura, apenas opção editorial, como pode ser feito em qualquer orgão de mídia. Se a cada vez que deixarmos de publicar artigos de um colunista estivermos exercendo "censura", então devemos abrir mão do site e entregá-lo aos colunistas, pois estariamos abrindo mão da administração. Segundo, como é que podemos censurar o colunista Janer Cristaldo, se ele mesmo reconhece que pode publicar seus artigos onde desejar, neste tempos de internet, coisa que aliás fez? Sobre "fundamentalismo cristão" no MSM, lamentamos este tipo de afirmação, evidentemente descabida, o que talvez demonstre que vc não leia o site, e sim apenas o colunista Janer Cristaldo. Lamentamos que o sr. acredite piamente na versão do colunista, que está simplesmente procurando autopromoção. Por fim, o Sr. Janer Cristaldo preferiu sair do MSM por opção pessoal. Ninguém o obrigou a isso. Esperamos ter esclarecido o sr. sobre o assunto. Atenciosamente,Editoria MÍDIA SEM MÁSCARA domingo, janeiro 14, 2007
SOBRE A PERICULOSIDADE DOS ORNITÓLOGOS Ano passado, comentei o perigo que os ornitólogos representam para a economia de um país. A idéia que temos destes senhores é a de pacatos cidadãos que adoram observar essas maravilhas da natureza, os passarinhos. Até pode ser. Mas sempre é bom desconfiar quando ornitólogos apresentam um pássaro na televisão. Normalmente, há grossa sacanagem de ONGs e ambientalistas atrás disto. Nos dias em que vivi no Paraná, durante semanas foi vedete dos noticiários televisivos um pequeno pássaro, uma espécie de pardal, que estaria ameaçado de extinção. Chamava-se curiango-do-banhado e habitava nos arredores de Curitiba. Durante longos minutos, o bichinho era exibido em seus ângulos mais simpáticos, sempre com a mensagem: corre perigo de extinção. Ano seguinte, foi a vez de uma nova espécie de tapaculo, da família Rhinocryptidae, batizada com o nome popular de macuquinho-da-várzea. Também vivia nos arredores de Curitiba. Algumas semanas mais tarde se soube ao que vinham o curiango-do-banhado e o macuquinho-da-várzea. Para preservá-los, era preciso preservar seu habitat natural. E para preservar seu habitat natural, as tais de ONGs fizeram uma ferrenha campanha para impedir a construção de uma barragem que abasteceria a capital paranaense. Me consta que o projeto de barragem morreu na casca. Há alguns anos, vi uma reportagem no 60 Minutes sobre uma região da Índia que abrigava quarenta milhões de habitantes. O programa começava mostrando mulheres e crianças carregando em baldes, para próprio consumo, uma água preta e lamacenta. Outras juntavam esterco de vaca, usado como combustível. Havia um projeto de uma represa para abastecer de energia elétrica e água potável a região toda. Uma ONG vetou o projeto junto ao Banco Mundial, com a argumentação de que a represa ameaçava uma espécie qualquer de tigre. A represa gorou e quarenta milhões de pessoas continuaram a beber água podre e cozinhar com esterco de vaca. A reportagem entrevistava em Nova York, em um elegante apartamento, a porta-voz da ONG que conseguiu sepultar a represa. Não sei se a moça percebeu a ironia, mas o repórter a filma enchendo um copo de límpida água de torneira. O repórter quer saber porque privar milhões de pessoas de água limpa. A moça dizia mais ou menos o seguinte (cito de memória): não queremos que aquelas populações adquiram os hábitos de consumo do Ocidente. É como se dissesse: esses hábitos do Ocidente são privilégios de ocidentais. Vocês aí, continuem catando esterco de vaca. Claro que a moça jamais viveu naquelas condições. Eu, água preta à parte, vivi. Em meus dias de guri, esterco de vaca era um dos combustíveis que usávamos. Outro era gravetos de chirca, um arbusto daninho que invade os campos. E também madeira de árvores, particularmente de eucaliptos. Mas hoje o Ibama proíbe derrubar qualquer árvore. Quanto à água, tinha-se água limpa. O problema é que tinha de ser buscada, operação que tomava uma boa hora de cada dia. Primeiro era preciso encilhar um cavalo, atrelar uma rasta com uma barrica, levar a barrica até a cacimba - a mais de quilômetro de distância - , enchê-la pacientemente balde a balde, usando um pano qualquer para coar a água. A fauna macroscópica ficava se contorcendo sobre o pano. Quanto à microscópica ninguém ligava e jamais vi morrer alguém por beber daquela água. A água gelada daquela cacimba até hoje me dá saudades. Quando migrei para a cidade, vi a água correndo da torneira como se estivesse diante de um milagre. Todas as casas de Roma tinham água encanada antes de Cristo. No Brasil, até hoje, milhões de pessoas não dispõem deste conforto. Mais de trezentos projetos de barragens já foram engavetados no mundo, especialmente na África, Ásia e América Latina, por obra de ONGs. Estas organizações estão cometendo crimes contra a humanidade, ao condenar milhões de pessoas a viver longe da água potável e energia elétrica. Seus militantes são sempre oriundos de países desenvolvidos, todos pontilhados de represas. Sua ação sempre incide sobre países do Terceiro Mundo, que precisam de energia para abandonar esta condição. É preciso olhar com cautela para os defensores aguerridos da fauna. Tigres ou passarinhos, bichinhos comoventes tipo o mico-leão-dourado, constituem uma ameaça ao desenvolvimento de países pobres quando manipulados por ongueiros. Semana passada, dois simpáticos passarinhos ameaçados de extinção ilustraram uma reportagem na Folha de São Paulo, o papa-formigas-de-topete-branco e o rapazinho-carijó. Segundo recente estudo feito por cientistas brasileiros - e americanos, como não poderia deixar de ser - as unidades de conservação pequenas têm potencial limitado na conservação da biodiversidade na Amazônia quando se trata de espécies de pássaros. A conclusão é de um novo estudo de cientistas do Brasil e dos Estados Unidos, a partir de levantamentos feitos desde 1979 numa área desmatada perto de Manaus. Os cientistas tentam entender qual é fator mais crucial para a sobrevivência de espécies em um determinado fragmento de mata que tenha restado numa região desmatada. É mais importante que esse fragmento seja grande ou é mais importante que ele não esteja muito isolado de outros trechos de mata? Seja qual for a conclusão, é óbvio que se oporá a qualquer iniciativa para desenvolver a região. "Fragmentos de cem hectares perdem a metade do número de espécies de ave em cerca de 15 anos", diz o pesquisador, que alerta para um problema: "Para diminuir dez vezes a velocidade de perda, é preciso aumentar cem vezes a área". Confesso que não sei o que está sendo projetado para a região. De qualquer forma, desde quando passarinho é prioritário ante um projeto de agricultura ou pecuária? Por outro lado, pássaros voam. Se um território tornou-se hostil, eles buscam outro. Pássaros migram. Não é preciso ser ornitólogo para saber disto. Quando migram, não migram a pé. Asas vão longe e a Amazônia é vasta. Isto pode ser observado no Sul do país. Afugentadas pelos agrotóxicos, muitas aves do campo estão buscando as cidades. O quero-quero, ave campestre que jamais pousou em árvores, já aprendeu até mesmo a pousar em cumeeiras de casas. Necessidade obriga. Mais algumas décadas e talvez estejam pousando em fios de telefone. Se é que até lá existirão fios de telefone. Nos anos 70, uma foto feita por um fotógrafo do Estadão ganhou prêmios internacionais, a foto de um ninho de pomba. Isolada na urbe, sem a matéria-prima usual para a construção de seu ninho - folhas e gravetos - a pomba inovou: fez um ninho de clips. Man tager vad man haver, dizia uma profunda escritora sueca, Kajsa Varg. Em bom português: a gente pega o que a gente tem. (Em tempo: Kajsa Varg é autora de livros de culinária). Os pássaros se adaptam. Quem não se adapta são os ambientalistas, aferrados a seus dogmas ecológicos. Esses estudos que surgem de tempos em tempos nos jornais, visando criar santuários para pássaros, não passam de pretextos de ecochatos para impedir projetos agrários, usinas, estradas. Num país que não consegue sequer dar segurança a seus cidadãos, ainda há quem queira preservar o bem-estar dos pássaros. Os pássaros-vítimas-do-desenvolvimento - ou animais - têm de ser simpáticos para comover a opinião pública. Ninguém se comoveria com a preservação dos morcegos. Que nojo! Muito menos de aranhas, escorpiões ou lacraias. Já o mico-leão-dourado é podre de charme. Assim, quando você vir ornitólogos passeando pela floresta, de binóculos em punho, como quem inocentemente observa pássaros, cuidado: algo devem estar tramando contra a humanidade. sábado, janeiro 13, 2007
SOBRE VOZES E CINTURAS Faz tempo. Mais precisamente, foi em 1977. Eu e a Baixinha viajávamos pela Alemanha a convite da Internationes. Visitei várias cidades e em cada uma delas um guia me esperava na estação de trens. Em Munique, por ter apanhado um outro trem que não o previsto, me desencontrei do guia. Fui então para o hotel. Estava abrindo as malas, quando fui chamado da portaria. Era minha guia ao telefone. Ouvi a voz da moça e fiquei extasiado. Disse para a Baixinha: - Tem uma mulher linda me esperando lá embaixo. - Como é que sabes disso? - Pela voz. E tem mais: ela tem um rosto lindo e um corpo escultural. Não deu outra. Desci e lá me esperava uma bávara divina, excepcionalmente bem diagramada, olhos verdes e com um sorriso imenso, a cujos cuidados me entreguei embevecido. Mulher bonita se conhece pela voz. É uma voz tranqüila, serena, sem medos nem inibições. Voz segura de si, de quem se garante. Trinta anos depois, a ciência parece ter chegado à minha descoberta. Leio no noticiário on-line que segundo Gordon Gallup, da Universidade de Nova York, "o som da voz de uma pessoa revela informações sobre seu status biológico". A pesquisa foi realizada com 149 homens e mulheres que ouviram uma série de vozes gravadas. Constatou-se, entre outras coisas, que as vozes que mais agradaram pertenciam a pessoas que tiveram relações sexuais quando eram mais jovens e tinham maior inclinação a serem infiéis. E descobriu-se também - e aqui é onde quero chegar - que nas mulheres a voz tem relação com a cintura fina e os quadris mais largos. "Nossa pesquisa mostra que a voz pode ser um meio de saber mais sobre a conduta sexual de uma pessoa e sobre suas formas físicas". Outra intuição que tive há décadas é que pouco importa se os glúteos de uma mulher são grandes ou pequenos. O que importa é a cintura. Uma mulher pode ter um bumbum dos mais pequenos. Mas se ele for se afinando à medida que nosso olhar sobe pelo corpo, está feito o milagre: ela excita mais que qualquer mulher bem fornida e com cintura grossa. Os antigos já sabiam disto. Cantava Luiz Gonzaga: Vem cá, cintura fina, cintura de pilão Cintura de menina, vem cá meu coração Quando eu abraço essa cintura de pilão Fico frio, arrepiado, quase morro de paixão Bem entendido, a cintura fina é o prenúncio do que vem logo abaixo. Os estudos confirmam. Ainda no noticiário on-line, leio que uma pesquisa publicada ainda esta semana na revista Proceedings B afirma que mulheres de cintura fina e seios fartos possuem níveis hormonais mais altos, o que aumenta sua fertilidade. Esse seria o motivo da atração dos homens, que inconscientemente escolheriam as mulheres mais propensas a engravidar. Verdade que jamais me ocorreu procriar, embora a coisa tenha acontecido. O homem contemporâneo já não precisa procriar para a perpetuação. Aliás, é até melhor que não procrie. O homem da caverna precisava. Seja como for, as cinturas finas sempre mexeram com o homem das cavernas que ainda deve existir em cada um de nós. A ciência avança e confirma minhas intuições. sexta-feira, janeiro 12, 2007
DE UMA LEITORA Oi Janer! Que barbaridade isso do MSM, foi na onda da Cicarelli? Já desfavoritei eles, (eu sei que desfavoritar não existe :) ) mas que nojo isso, que atitude horrorosa da parte dele, bem coisa de carola. E de dar nó em cérebro de boba como o meu, fui para o MSM buscar alento na direita, apesar de detestar religião, agora essa notícia. CARTA ABERTA DE SOLIDARIEDADE Caro Janer, Eu fiquei muito feliz com a transcrição e a citação de minhas notas em seu blog. Obrigado,portanto. Também te ofereço solidariedade, agora que sua saída do MSM está confirmada. Perde o site e seus leitores. Mas, como você disse, na era da internet a censura é inútil. Pois, se fiquei feliz com a menção a mim em seu blog, mais feliz fico em saber que poderei continuar a lê-lo em outros sites. E certamente lerei. A linha editorial do MSM, pelo jeito, é a mais chata possível. Muitos conservadores acham que combater a esquerda significa ser tão aborrecido, repetitivo e intolerante quanto a mesma. É claro, há exceções no site, principalmente os artigos de Thomas Sowell. Mas essas exceções estão cada vez mais raras. Mais incompreensível é a atitude do MSM quando sabemos que o artigo censurado, "Aos Leitores Ádvenas da Bíblia", é uma replica a ataques de leitores por causa de seu artigo "Marta, Marta", ataques que foram publicados pelo site, na seção de cartas. E assim, o MSM é um site que publica ataques a um colaborador, mas não publica sua defesa... Bem, eles têm direito de escolher os artigos que quiserem publicar. Eu tenho o direito de não ler mais o site. E quanto ao Olavo de Carvalho, eu repito o que Bertrand Russel disse de Bernard Shaw: "Como iconoclasta, ele é admirável. Como ícone, nem tanto". Cordialmente, Jorge Nobre MENSAGEM DO MARCELO Prezado Janer. A oclocracia mais uma vez demonstrou, nefastamente,a que chegamos em Pindorama! Delito de opinião! Censura! E o "centurião', que ontem se confessava ex-comunista, e, há poucos dias, mandava (com razão) à m... o editor de um diário gaveteiro do RGS, por tê-lo censurado, se arvora a mentor e fiscal de opiniões, sobre o que considera (agora) verdade, iniludível, em terreno tão caótico, como os artigos de fé. Perdeu credibilidade o editor de MSM! Não posso mais ler, sem reservas, um "site" que censura inteligências como a tua! O consolo é que um dia, todas estas burrices estarão no lixo da história! Teu nome, assim como tua inteligência, estarão sempre presentes entre nós. Continua! Com a alegria de teus amigos, um abraço do Marcelo e da Neli Marcelo Moreira Tostes MENSAGEM DO VINICIUS Olá Janer, Sou leitor assíduo do MSM e de seus artigos lá publicados. Já manifestei minha decepção ao MSM e agora venho lhe prestar solidariedade. Todo esse episódio abalou um pouco minha confiança no MSM, mas sei de suas qualidades. Seria muito significativo para mim saber sua opinião sobre o site, sobre Olavo e os últimos acontecimentos. Espero sinceramente que essa situação seja resolvida e esclarecida, gostaria muito que você voltasse a escrever para o MSM pois seria uma maneira também de eles recupararem a credibilidade deles, visto que foi abalada justamente em um ponto que eles defendiam e pregavam. Grande abraço! att. Vinícius P. Trevisan MENSAGEM DO GUILHERME Janer, com muito desgosto leio o seu artigo a respeito da censura feita a voce no MSM. Infelizmente, assim como os comunistas que eles pretensamente dizem combater, o MSM se revela cada vez mais autoritário. Stalin, Hitler e outros degenerados devem estar agradecidos com esta atitude patética do jornal. Democracia? Liberalismo? Liberdade de expressão? Independencia editorial? O MSM está cada vez mais distante daquilo que tem meta de divulgar e esclarecer. Com sua demissão mataram um pouco mais daquilo que mais "prezam" na sociedade ocidental: a democracia e liberdade de poder divergir das ideias alheias. O fato de censurarem seu artigo revela com clareza a "nova" linha editorial do jornal eletronico está assumindo. Discordar da linha editorial de um jornal eletronico chega a ser ridiculo. Imagine se fosse impresso? Tenha certeza de que lá voce não estaria. De novo, a censura em tempos modernos é inaceitável. Esta nova politica editorial que o MSM assume está cada vez mais perto da visão estreita que a esquerda tem deles. De pensadores independentes que o site tenta abrigar, com esta censura estão se transformando em caricaturas daquilo que mais desprezam. Abraços, Guilherme Roesler A MENSAGEM DE SARAMAR Janer, sou sua leitora há muito tempo. Acabei de ler o artigo censurado cujo link está no blog do Jorge Nobre (http://www.ublog.com/jorgenobre). Censurar algo que eles sabem que é verdade é o cúmulo da hipocrisia editorial, mas como a bobagem impera neste triste país, cada vez mais negro, fazer o quê? Porém, quem perdeu? O MSM, claro. Não volto mais lá. Tenho horror de censuradores. E creio que muitos terão essa atitude. Entre eles e você, fico com a segunda e mais perfeita opção. beijos de sua admiradora. Saramar -- Visite meus blogs: http://abrindojanelas.blogspot.com http://flanarfalares.blogspot.com http://lidosevividos.blogspot.com SOME CRYSTALLINE TRUTHS Do blog de Jorge Nobre (http://www.ublog.com/jorgenobre), transcrevo: Some Crystalline Truths A provável (tenho ainda uma pequena esperança que alguém ponha panos quentes - mas essa não é bem a especialidade do Olavo, all know this) saída de Cristaldo do Mídia sem Máscara tem algo a ver com o Tovarich Azambuja? Se tem, Azambuja arrumou um bom inimigo. Eu gostaria de ter um inimigo assim, sabem? Um que me fizesse pensar. Os outros, my usual enemies, poor litle ones... Dois ou três são bons para criticar. O resto, nem isso. Pelo jeito, o Tovarich Azambuja terá que começar por melhor elaborar seus artigos. Se forem me xingar por isso, um argumento entre os xingamentos will be wellcome. O Olavo tem todo direito, of course, de chutar quem ele quiser do site dele. Como eu tenho de deletar cretinos (neste ano ainda não tive que "me valer desse direito", como dizem nos filmes americanos, quando o tira lê os direitos do preso, seja porque minha ausência espantou certo chato (sem blog, que eu saiba), seja por um defeito do u-blog.net, que colocou uma sopa de números no lugar dos comentários e daí muita gente deve pensar que eles não estão funcionando - mas estão, comentem! Educadamente, senão deleto). Como os donos do Globo, da Época, do Jornal da Tarde, do Zero Hora e Tutti Quanti têm de achar os artigos do Olavo "inconvenientes". Se Cristaldo sair mesmo do MSM, bem, achem bom, achem ruim, isso é outra coisa (eu acho ruim), mas não neguem o direito dos outros de não publicarem o Olavo, por favor. Coerência. Enquanto as prima-donas da direita brigam, a esquerda espalha sua merda por todo Brasil. Cristaldo censurado? (Nota do Jornaleco: este artigo foi censurado pelo jornal eletrônico Mídia sem Máscara, sob a alegação de que "artigos com este perfil não serão publicados no MSM durante algum tempo". Cristaldo não mais assinará crônicas no MSM enquanto não passe esse "algum tempo" e seu artigo seja publicado) Well, well, well... O Olavo de Carvalho fez com Cristaldo o mesmo que o Globo, o Zero Hora, o Jornal da Tarde e a Época fizeram com o Olavo. É o "censurado" usando a "censura" contra seus adversários, ou o dono de um site usando seu direito de não publicar o que não for conveniente? Bem, qualquer que seja o caso, o Mídia sem Alça ficará ainda mais chato, com a saída do Cristaldo, e muitos com caráter do tamanho do miolo e ambos do tamanho de uma ameba festejarão a incoerência do Olavo e as briguinhas da direita. I'd like to be wrong. E o Cristaldo não mandou o Olavo à merda. Pelo menos, não "oficialmente". Sem falar que o "perfil" do artigo está longe de ser particularmente ofensivo, muito menos falso. Há um autor, Paul Johnson, que pode ser chamado de tudo, menos de comunista ateu inimigo do cristianismo. Pois o Paul Johnson, em seu Uma História do Cristianismo, nota que os primeiros textos bíblicos tinham muitos erros e inverdades, e que quando foram escritos muitos trechos foram acrescentados. O Paul Johnson tem uma explicação "engenhosa" (que pode até ser verdadeira): os escritores achavam que estavam dizendo a verdade ao acrescentar dados às narrativas que recolhiam da tradição oral. Eles "sabiam" o que tinha acontecido, e achavam que desonestidade seria não acrescentar o que "sabiam". Mais ou menos como fazem certos cretinos que escrevem na Wikipedia. Eu não acho que a hipotese de Paul Johnson seja mais ofensiva ao cristianismo que o texto do Cristaldo. É claro, há este trecho: "No fundo, Mateus trazia no sangue esta tendência do jornalismo contemporâneo, de adaptar os fatos à visão que se tem do mundo. Quis adaptar o nascimento a antigas profecias. A realidade que se lixasse." Novamente, well, well, well. O tom é mais gaiato, sim, mas mesmo isso não faz o artigo de Cristaldo uma "ofensa" maior que as explicações de Paul Johnson. Combater a esquerda é mais importante que salvar a alma, afinal. CENSURA Comunico aos leitores que deixei de escrever no MSM. Após vários anos de colaboração, nos quais não tive queixa alguma dos editores, tive uma crônica censurada. Ora, não tenho mais idade para admitir censura. Nem porquê, afinal vivo em dias de Internet. Censura é coisa dos tempos do jornal em papel, que o diga o juizeco que tentou proibir um vídeo no You Tube. É óbvio que todo jornal tem o direito de publicar o que bem entende. O MSM, ao censurar uma voz divergente, está definindo com mais precisão sua linha editorial. Meus afetos e desafetos podem encontrar-me agora neste blog, onde respiro a meu talante e também nos jornais abaixo, onde não tenho censura alguma. http://www.rplib.com.br http://www.jornaleco.com http://www.baguete.com.br http://www.oexpressionista.com.br quinta-feira, janeiro 11, 2007
CASTRO MORTO, CASTRO POSTO O presidente venezuelano, Hugo Chávez, que será homenageado pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, no próximo dia 19 deste mês, com a medalha Tiradentes, anunciou que vai trocar mais uma vez o nome de seu país, que já trocara para República Bolivariana. Agora será República Socialista, e os municípios deixarão de ser unidades federativas. As prefeituras serão substituídas por conselhos de cidadãos, eliminando o risco de derrota nas eleições municipais. Chávez é tímido. Por que não dizer logo sovietes? Chávez, que anunciou ontem a nacionalização dos setores de eletricidade, telefonia e água, pretende pedir ao Congresso a aprovação de uma lei que lhe conferirá maiores poderes e permitirá sua reeleição de forma indefinida. Pensa também em nacionalizar quatro plantas de extração de petróleo pesado extraído na bacia do Rio Orinoco se as negociações com as petrolíferas estrangeiras falharem. Isto é, se as empresas estrangeiras não entregarem a preço de banana seus investimentos. Chávez tem hoje 52 anos. Pelo jeito, não tem memória alguma de seus vinte anos, quando Carlos Andrés Perez iniciou um processo de nacionalizações na Venezuela e foram estatizadas a produção de petróleo e ferro. O bolívar foi desvalorizado, os capitais estrangeiros sumiram, as reservas encolheram e o desemprego aumentou consideravelmente. Se o tiranete de Caracas não consegue lembrar do que ocorreu há trinta anos, certamente jamais lembrará o que aconteceu na primeira metade do século, quando o socialismo que ora prega empobreceu mais de um terço da humanidade. Morto Castro, Castro posto. Em seus delírios de grandeza, o clown venezuelano transformará em poucos anos seu país em uma Cuba miserável. Os cariocas, que já elegeram palhaços como Brizola, Juruna e o casal Garotinho, vão homenagear Chávez. Se bem que, neste Brasil que reelegeu o Supremo Apedeuta, não podemos nos queixar dos cariocas. |
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