¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, dezembro 31, 2007
 
DISSERAM POIS OS ÍMPIOS...



Disseram pois os ímpios no desvario de seus pensamentos: o tempo de nossa vida é curto e cheio de tédio, e não há nenhum bem a esperar depois da morte, e também não se conhece ninguém que tenha voltado dos infernos.

Pois do nada somos nascidos e depois desta vida seremos como se nunca tivéssemos sido. Pois a respiração de nossos narizes não passa de fumaça; e a razão é como faísca para mover o nosso coração.

Apagada ela será e nosso corpo reduzido a cinza e o espírito se dissipará como um ar sutil.

E a nossa vida se desvanecerá como uma nuvem que passa e se dissipará como um nevoeiro que é afugentado pelos raios de sol e oprimido pelo seu calor.

E o nosso nome com o tempo ficará sepultado no esquecimento, e ninguém se lembrará de nossas obras.

Pois nossa vida é a passagem de uma sombra, e não há regresso depois da morte. Pois, lacrada, dela ninguém retorna.

Vinde portanto, e gozemos dos bens presentes, e apressemo-nos a usar das criaturas como na mocidade.

Enchamo-nos de vinho precioso e de perfume e não deixemos passar a flor da primavera.

Coroemo-nos de rosas antes que murchem; não haja prado algum em que a nossa intemperança não se manifeste.

Nenhum de nós falte às nossas orgias. Deixemos em toda parte sinais de alegria, porque esta é a parte que nos toca e esta é a nossa sorte.

(Livro da Sabedoria, II:1,7)


Bom 2008 a todos leitores!

domingo, dezembro 30, 2007
 
SENADOR-PENETRA



É espantoso como determinadas pessoas se atribuem - ou a elas são atribuídos - episódios curiosos. Renato Lessa escreve hoje no Estadão:

“Não sei se lenda ou peça de folclore político. Conta-se que décadas atrás o atual senador Marco Maciel se viu envolvido, em visita oficial à China, em um diálogo trepidante com Deng Xiaoping. Nosso senador - exemplo raro de gentileza na vida pública - teria perguntado ao líder chinês: “O que pensam vocês da Revolução Francesa?” A reposta, nessa improvável conversa, é reveladora da relatividade das distâncias temporais. O camarada Deng teria dito não haver ainda, na altura, opinião formada entre seus súditos sobre o evento, dado o caráter recente do mesmo. O que, afinal, significa um par de séculos, diante de uma história contada pela métrica dos milênios?”

Improvável conversa mesmo. Nada a ver com Marco Maciel, que entra na história de penetra. Essa anedota, eu a ouvi nos anos 70, em Estocolmo. O interlocutor de Deng Xiaoping teria sido um diplomata sueco. E a resposta do chim teria sido mais breve, como convém a uma história bem contada:

- Estamos observando.

 
PAPA FAZ APOLOGIA
DO ADULTÉRIO DE MARIA




Disse Sua Santidade hoje pela manhã, em sua alocução na praça São Pedro:

"Ao contemplar o mistério do Filho de Deus que veio ao mundo cercado do afeto de Maria e de José, convido as famílias cristãs a experimentar a presença amorosa do Senhor em suas vidas. Além disso, os estimulo a que, inspirando-se no amor de Cristo pelos homens, dêem testemunho ao mundo da beleza do amor humano, do matrimônio e da família".

"Esta, fundada na união indissolúvel entre um homem e uma mulher, constitui o âmbito privilegiado no qual a vida humana é acolhida e protegida, desde seu início até seu fim natural. Por isto, os pais têm o direito e a obrigação fundamental de educar seus filhos na fé e nos valores que dignificam a existência humana".

Ao evocar Jesus, Maria e José como paradigmas do matrimônio, Bento XVI está no fundo fazendo a apologia do adultério. Segundo a Igreja, Maria casou com José. Mas teve seu filho com o Espírito Santo. Adultério divino, mas adultério. Sem falar que este místico conúbio acaba com a pretensão da Igreja de que Cristo pertença à casa de Davi.

Como poderia pertencer, se a linhagem humana foi interrompida pelo Paráclito?

sábado, dezembro 29, 2007
 
EUROPA FINANCIA TERROR NA EUROPA



A Europa foi escolhida como um gigantesco lar seguro pelos terroristas porque, diferentemente de todas as demais partes do mundo (incluindo-se o norte da África, o Oriente Médio e outros países muçulmanos), ela oferecia não apenas segurança, mas também assistência financeira porque, conforme as regras vigentes e enquanto solicitantes de exílio político, os “ativistas” podiam se habilitar a apoio financeiro.

Desse modo uma situação bizarra se desenvolveu: Abu Qatadah, que se acreditava ser o representante de Osama bin Laden na Europa, obteve exílio na Grã-Bretanha; Abu-Hmaza al-Mizri fez da mesquita de Finsbury o centro de “atividades militantes” na Europa Ocidental; o mulá Krekar, líder da Al Ansar, foi para a Noruega; Abu Talal al-Qasimi, um dos cabeças do Gama’a egípcio, fez da Dinamarca sua base de operações (1993); Abdel Ghani Mzoudi e Mounir el-Mouttazadek, da célula de Hamburgo que realizou os ataques do 11 de setembro, continuam operando livremente. Eles ficaram detidos durante algum tempo, mas o sistema legal alemão mostrou-se impotente para lidar com eles. Células terroristas surgiram e operaram por muitos anos em Madri, Turim, Milão, Frankfurt, Roterdã, Eindoven (a mesquita Al Furgan) e em diversas localidades.

Em algumas ocasiões, os “militantes” foram levados a julgamento, mas com freqüência acabaram absolvidos. A maioria vivera durante anos à custa da assistência social e recebera apartamentos, pagamentos à vista de autoridades locais ou estaduais que chegavam a dezenas (muitas vezes centenas) de milhares de dólares, seguros-desemprego para ele e suas numerosas famílias; em certos casos, receberam apoio para suas atividades religiosas. O mulá Krekar foi preso pelas autoridades dinamarquesas durante um breve período; ele entrou com um processo e recebeu cinco mil euros por prisão injustificada, quantia posteriormente aumentada para 45 mil euros. Enquanto isso, esses ativistas não faziam segredo de suas intenções – chegaram a ameaçar os governos anfitriões com retaliações medonhas caso suas exigências não fossem atendidas.


(In Os últimos dias da Europa - Epitáfio para um velho continente, de Walter Laqueur, Rio de Janeiro, Odisséia Editorial, 2007)

 
COISAS DELES & COISAS NOSSAS



Leio no El País que um dos trens de alta velocidade (AVE) entre Málaga e Madri teve hoje um atraso de 40 minutos, que afetou 140 passageiros. O trem, que saiu de Málaga às 7h10, deveria chegar em Madri às 10h20. Devido a este atraso, que foi de mais de meia hora, a RENFE devolverá a todos os passageiros o valor total dos bilhetes.

Cá em Pindorama, as empresas aéreas atrasam até vinte ou mais horas e você não recebe um vintém. Recente projeto do governo, de ressarcir por atrasos de mais de quatro horas, continua no limbo das boas intenções.

Já contei episódio semelhante. Quando vinha de Bruxelas para Paris, o Thalys atrasou vinte minutos. Na gare du Nord, em Paris, na chegada do trem vários funcionários distribuíam papéis aos passageiros. Perguntei de que se tratava. “É para sua indenização. O trem atrasou vinte minutos”.

Ao voltar ao Brasil, voei pela famigerada Varig. O vôo atrasou duas horas. Já a bordo, uma senhora cujo destino era a Argentina manifestava a um comissário sua preocupação com a conexão para Buenos Aires. O comissário, com a serenidade dos justos, respondeu: "Se a senhora perder o vôo, pode entrar na Justiça".

sexta-feira, dezembro 28, 2007
 
CATÓLICOS DE ARAQUE



Outro dia tomei um táxi e o taxista, além de se persignar frente a toda igreja, tinha um terço pendurado no carro. Perguntei se era católico. Disse que era. Olhei melhor o terço. Era fajuto. "Tá faltando o pai-nosso", disse. Como? É, não tem os cinco pai-nossos, só tem ave-marias. Ele não entendeu nada. Perguntei onde ele situava o salve-rainha. Parecia que eu estava falando grego. Recitei o salve-rainha. Nunca havia ouvido falar. Esses são os católicos com os quais lidamos.

Já que falei em persignar-se... Já vi, por duas vezes, pessoas fazendo o sinal da cruz ao entrar em um shopping. Não entendi. Será um breve contra o consumo compulsivo? Ou quem sabe proteção contra o eventual desmoronamento do shopping? Mistério profundo. Tive vontade de interpelar as pessoas, perguntar porque se persignavam. Mas estava longe delas. Permanece o mistério. Se algum leitor souber a razão disto, favor informar-me.

 
NÃO SE FAZEM MAIS ATEUS COMO ANTIGAMENTE



Em reportagem sobre religiões, na Veja desta semana, André Petry se revelou um ateu conciliador. Quando escreve que “ninguém pode afirmar que os deuses, os livros sagrados e as preces são uma criação do homem, sem nenhuma intervenção divina”, está entregando o ouro aos bandidos.

É óbvio que deuses, livros sagrados e preces são criações humanas. A outra hipótese é que os deuses existem e os livros sagrados e as preces são criações suas. Faltou coragem ao articulista. É o que dá escrever em jornalões.

Daí decorre outra pergunta: se existem deuses, em qual deus crer? Ou todos têm o mesmo certificado de validade?

 
AINDA A REVOADA DE ORNITÓLOGOS



Prezado Sr. Janer,

quanto ao seu artigo "sobre a periculosidade dos ornitólogos" acho que o senhor deveria se informar melhor sobre alguns aspectos biólogicos antes de criticar a atuação de conservacionistas e ONGs. Eu, como bióloga, sinto-me na obrigação de defender o outro lado.

Atividades conservacionistas são complicadas por si só, como o senhor bem relata "se o que importa é o tamanho do fragmento ou a sua conectividade". E é ainda mais difícil colocá-las dentro do contexto sociológico e humano. Sabemos o quão difícil são estas decisões de deixar milhares de pessoas sem tratamento de água para a preservação do ambiente!

Entretanto, quero ressaltar dois principais pontos. O primeiro é que, quando utilizamos os passarinhos, tigres ou mico-leão para tentar impedir uma catástrofe ambiental, sabemos que temos que usar como símbolo uma espécie bonitinha, que nos ajude a conseguir atenção e fundos para os projetos de conservação. Entretanto, a preservação de algumas espécies é essencial para a preservação do ecossitema como um todo (ou da referida área). Chamamos estas espécies de espécies-chave, como é o caso dos tigres, por exemplo. Por serem predadores de topo de cadeia, o equilíbrio da comunidade (conjunto local de espécies) é completamente dependente da presença deste predador. Mais ou menos assim: se o tigre é extinto, a quantidade de herbívoros aumenta descontroladamente e estes, por sua vez, acabam com as plantas, entende? Ou seja, se mantivermos vivo o tigre, aranhas, morcegos e lagartixas também são preservados. Aqui cabe ainda dizer que sim, existem de projetos voltados para a preservação de morcegos; sobre estes eu posso afirmar, mas acredito que também exista para a preservação de espécies mais "nojentas".

Quanto as outras espécies, como pássaros, muitos são indicativos de se uma área está bem preservada ou não. TODAS as espécies são diferentes e possuem diferentes papéis ecológicos. É óbvio que uma pomba conseguiu se adaptar ao ambiente urbano. Se adaptou tão bem que inclusive representa uma ameaça a ambientes pristinos, e pode introduzir inúmeras doenças. Entretanto, outras espécies de aves, como os tapaculos, são extremamente sensíveis a deterioração ambiental. E nem todas as aves migram, isto é um informação incorreta. Alguns pássaros são incapazes de sair de um fragmento de floresta passando por uma área aberta e destruída para chegar a outra floresta! Eles simplesmente ficam e morrem se faltarem recursos!

O segundo ponto é que, sempre haverá um rio ou outro local para se fazer uma represa que não afete tanto o equilibrio ambiental. Ou seja, de várias opções de projetos de saneamento, deve ser escolhida a que menos afeta o ambiente. Mas da mesma forma que o senhor alega que a ave pode migrar e se readaptar, lhe afirmo que o ser humano tem uma capacidade de migração e readaptação muito maior. Somos a única espécie que está em todos os ambientes!

Sim, o equilíbrio humanidade/natureza é muito complexo. O fato é que não podemos simplesmente asfaltar tudo e fazer hidroelétricas em todos os rios! O efeito da destruição ambiental já tem sido bastante óbvio com o aquecimento global. Temos que preservar o pouco de ecossistema nativo que nos resta na tentativa que vivermos num mundo que acreditamos ser o melhor pra nós humanos também!

Eloisa Sari

quinta-feira, dezembro 27, 2007
 
SARKOZY E A VIAGEM A LUXOR



Escreve-me um leitor:

Senhor Janer,

Em primeiro lugar, gostaria de externar minha admiração por seus pensamentos a respeito da necessária secularização das sociedades, da valorização do iluminismo e da demonstração clara da irracionalidade de todas as religiões e crendices humanas, MAS não posso deixar de registrar a incoerência de Vossa Senhoria, quando o assunto é política, esquerdas e afins. Vejamos a seguinte notícia:

Férias de Sarkozy provocam nova polêmica na França

PARIS, 26 dez 2007 (AFP) - A viagem presenteada por um importante empresário ao presidente da França Nicolas Sarkozy, que partiu para o Egito com a ex-modelo e atual namorada Carla Bruni, reavivou a polêmica sobre o gosto que demonstra por este tipo de situação.

Sarkozy voou na véspera para Luxor, no sul do Egito, a bordo de um jato particular do empresário e "amigo" Vincent Bolloré. O empresário Bolloré já havia presenteado Sarkozy com uma viagem de iate a Malta, após a vitória nas eleições presidenciais de maio passado, o que provocou uma série de denúncias da oposição. (...)


Senhor JANER, onde está sua análise política ? Vai escrever uma crônica sobre a mentira que é a direita e que o senhor já anunciava há tempos? Ou isso só se aplica à esquerda?

E PRINCIPALMENTE A PERGUNTA QUE O SENHOR PRECISA RESPONDER: E se fosse a Ségolène Royal? o que o senhor diria? Não precisa responder eu já sei que escreveria que as "esquerdas são sempre as mesmas; "que são corruptas"; "que quando chegam ao poder desiludem os incautos" , PORÉM como foi o aplaudido por todos de direita, como foi o senhor Nicolas Sarkozy, vejo Vossa Senhoria se cala.

Quer dizer que a direita que Sarkozy representa é "honesta" e a viagem de "férias" no jatinho do amigo não é ato de improbidade e moralmente legítimo? Onde estão seus comentários políticos sobre isso?


Respondo:

Sarkozy viajou às custas do contribuinte francês?
Não.

Viajou em um avião de luxo comprado às custas do contribuinte?
Não.

É moralmente condenável ter um amigo rico?
Não.

Sarkozy, como chefe de Estado, tem regalado seu amigo rico com benesses do Estado?
Que saibamos, não.

Então que viaje e bom proveito. Quanto à Ségolène: se tiver amigos ricos que lhe financiem viagens de luxo, se não viajar às custas do contribuinte, se não viajar em avião de luxo comprado com dinheiro do contribuinte, tampouco vejo algo de moralmente condenável nisto.

Bon voyage à tous les deux!

 
AS FARC JOGAM E GANHAM



Que a Colômbia seja parte no resgate dos reféns das Farc é normal, os reféns são colombianos. Que a Venezuela esteja envolvida no resgate é a parte suja da história. A guerrilha escolheu Hugo Chávez como interlocutor para conferir-lhe as honras de estadista humanitário. Chávez, em verdade, é cúmplice da guerrilha do narcotráfico.

O espantoso é que mais seis países tenham caído na armadilha do tiranete de Caracas. Leio no Estadão que, para corroborar sua “Operação Transparência”, como qualificou o processo, Chávez convidou representantes de seis países, além da Colômbia, para integrar a ação: França, Argentina, Brasil, Bolívia, Cuba e Equador. “Alguns enviados já estão em Caracas, e outros, a caminho.” Lula apressou-se a colaborar com o fanfarrão Chávez, enviando seu chanceler interino, o velho comunista Marco Aurélio Garcia.

A máfia de narcotraficantes conseguiu o que talvez jamais imaginasse conseguir: é interlocutora de oito Estados constituídos. Mais um pouco e envia representações diplomáticas à América Latina e Europa.

Ainda há pouco, a guerrilha narcocomunista apresentou uma singela exigência para a libertação de todos seus réfens. Que Álvaro Uribe, o presidente colombiano, renunciasse. A exigência é de uma arrogância insólita. Um país elege um presidente e um grupo de bandoleiros faz um monte de reféns para destituí-lo. A pretensão das FARC me lembrou muito a de Dom Cappio: parem com a transposição das águas ou me suicido.

Lula - este crédito lhe seja dado - não caiu na armadilha do bispo. Sete países - Venezuela não conta, é cúmplice - caíram na armadilha montada por Chávez e pela guerrilha comunista. As FARC jogam e ganham.

 
AS BASES TEÓRICAS DA JUÍZA



Escreve-me um leitor, a respeito da sentença da juíza Rosana Navega Chagas sobre um seqüestrador de ônibus:

As teses defendidas nos seminários do tribunal desta juíza (TJRJ) são do nível da decisão comentada. São os adeptos do "garantismo penal", do italiano Luigi Ferrajoli (garantismo do criminoso, é bom que se entenda; jamais da vítima), e do "direito penal mínimo", do alemão Claus Roxin. Teorias elaboradas na academia européia e aplicadas em sua plenitude no Terceiro Mundo. Não poderia sair outra coisa, não é?

Um grande abraço e sucesso para o blog.

Carlos Vinicius Rosenburg

quarta-feira, dezembro 26, 2007
 
PARABÉNS, DOM ALOÍSIO!



Foi celebrada nesta quarta-feira a missa que marca o fim do velório de d. Aloísio Lorscheider na Catedral Metropolitana de Porto Alegre (RS). Nos últimos dias, chegaram mensagens de pêsames e dor de todos os rincões do Brasil e de mais alguns cantos do mundo.

Por que pêsames? O cardeal não vai encontrar-se com o Criador? Em A Peste, de Albert Camus, o padre Panelou demonstra uma extraordinária aceitação da morte:

- Há muito tempo, os cristãos da Abissínia viam na peste um meio eficaz, de origem divina, de se obter a eternidade. Aqueles que não haviam sido atingidos se enrolavam nos lençóis dos pestíferos para terem a certeza da morte. Sem dúvida, este desejo furioso de saúde não é recomendável, pois denota uma deplorável precipitação, bem próxima do orgulho. Não se deve ser mais apressado do que Deus. Tudo o que pretende acelerar a ordem imutável, estabelecida de uma vez por todas, conduz à heresia. Mas este exemplo, pelo menos, traz sua lição. Para nossos espíritos mais clarividentes, faz luzir este brilho delicado de eternidade que jaz no fundo de todo sofrimento. Esta luz ilumina os caminhos crepusculares que conduzem à libertação. Ela manifesta a vontade divina que, sem falhar, transforma o mal em bem.

Confesso não entender os cristãos que demonstram tristeza quando outro cristão morre. O momento é de alegria, gente. É o almejado encontro com o Pai. Parabéns, Dom Aloísio!

 
NATAL MATA E NÃO COMOVE



O acidente da TAM em Congonhas, em julho passado, deixou 199 mortos. Comoção nacional. O feriado deste Natal, no período entre zero hora de sexta-feira (21) e meia-noite de ontem (25), deixou 196 mortos nas estradas federais. Comoção nenhuma.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as 196 mortes provocam um prejuízo de cerca de 111,1 milhões de reais ao país. O estudo leva em consideração os custos com óbitos, cuidados com feridos e também a perda de geração de riquezas devido às mortes e ao afastamento de pessoas acidentadas. Isso sem falar em 1.870 feridos.

Os números superam os registrados no Carnaval, tradicionalmente o feriado mais violento por causa dos excessos, quando foram computadas 145 mortes e 1.587 feridos. Comoção nenhuma.

A morte a conta-gotas parece não comover ninguém.

 
SEQÜESTRO EM LEGÍTIMA DEFESA



Leio na revista jurídica Última Instância que a juíza Rosana Navega Chagas, do 1º Juizado Especial Criminal e da Violência Doméstica de Nova Iguaçu (RJ), absolveu André Luiz Ribeiro da Silva da acusação do seqüestro de sua ex-companheira, Cristina Ribeiro, e dos 39 passageiros do ônibus da linha 499 em novembro de 2006 no Rio de janeiro. Ele também foi absolvido do crime de constrangimento ilegal contra o motorista do veiculo.

Quem vê televisão deve lembrar do caso. André Luiz ameaçou com um revólver Cristina Ribeiro, forçando-a a descer do ônibus no qual se encontrava e a entrar, contra a sua vontade, no ônibus linha 499, Cabuçu - Central do Brasil. O seqüestrador ordenou que o motorista prosseguisse com a viagem, para fugir dos policiais militares que o perseguiam.

Na sentença, a juíza entendeu que "o réu estava apenas exteriorizando o seu instinto de sobrevivência, ao avistar na mira da sua cabeça um fuzil, que o policial que o conduzia já o mirava, conforme a prova oral produzida". Ou seja, cometer um seqüestro e fugir da polícia chama-se agora exteriorizar seu instinto de sobrevivência. Com a sentença da juíza, todo seqüestrador está agora autorizado a resistir a uma ordem de prisão, mesmo quando conduz uma refém com uma arma apontada para sua cabeça. Está apenas exteriorizando seu instinto de sobrevivência.

Ainda de acordo com a magistrada – diz a revista - ficou comprovado nos autos que a violência física cometida contra Cristina foi episódica, ocasional, havendo indícios veementes no sentido de que o réu não se encontrava no seu estado normal no episódio do 499, "por força das circunstâncias cinematográficas e apavorantes do caso - a presença de 100 policiais fortemente armados, helicópteros sobrevoando o local, o ´Caveirão´ etc".

Traduzindo a sentença: daqui para a frente, é bom que a polícia faça uma perseguição discreta a bandidos armados que ameaçam uma refém indefesa, de preferência com poucos agentes e sem helicópteros, para não deixar o criminoso fora de estado normal. A perseguição deverá ser feita - supõe-se - delicadamente, de modo a não assustar o bandido.

Para a juíza, "o longo período de privação da liberdade de Cristina somente ocorreu porque houve o ingresso do casal no ônibus 499, em razão da situação inusitada de a polícia ter confundido o réu com um assaltante, e pelo fato de ele ter se valido dela para não ser morto ou atingido por uma bala do fuzil, que já apontavam para a sua cabeça, de acordo com o depoimento dos próprios policiais".

Quer dizer, é perfeitamente legítimo tomar uma pessoa como refém para livrar-se da perseguição policial. A magistrada talvez não tenha se dado conta, mas inovou em Direito. Criou a figura do seqüestro em legítima defesa. Assaltantes de bancos e condomínios, penhorados, agradecem.

 
ANTROPÓLOGO PROFERE BÍBLICAS BOBAGENS



O antropólogo Roberto da Matta rides again. No Estadão de hoje escreve:

No Natal, no entanto, uma ética de realeza, inaugurada com os Reis Magos, revela a grande estrela que conduz a um menino que veio nos salvar de nós mesmos. O panorama marcado pela reversão tudo diz: os reis magos visitam o menino nascido num estábulo; a aristocracia visível, presenteia uma divindade escondida.

Ora, não existem reis magos na Bíblia. Você pode vasculhá-la do Gênesis ao Apocalipse e não se vê rei mago algum. Há inclusive quem fale em três reis magos. Ora, em momento algum a Bíblia diz que são três os magos. Este mesmo erudito acadêmico, que leciona em uma prestigiosa universidade americana, em outubro passado escrevia outra bobagem em sua coluna:

O amor é ponte porque, num sentido preciso, ele liga virtudes longínquas, como a esperança; com as próximas, como a caridade. Foi por isso que São Paulo apóstolo falou que de nada vale o sino do melhor metal, se no seu som não há amor.

Ora, tampouco há sinos na Bíblia. Os sinos só surgem com os grandes edifícios para o culto, a partir do século V. A primeira referência que temos a sinos ocorre em torno do ano 515, em carta de um diácono de Cartago. Três séculos mais tarde, o papa Estevão II fez edificar, na basílica de São Pedro, um campanário. O ínclito antropólogo deve ter lido alguma tradução espúria da Bíblia – o que pouco o recomenda como intelectual – ou deve ter confundido címbalos com sinos, o que tampouco o recomenda como leitor atento.

Enfim, até Sua Santidade proferiu bobagens, ao falar em reis magos em janeiro passado. Se nem um acadêmico americano, se nem o papa conhecem a Bíblia a fundo, que pode-se esperar desses pobres diabos que vão a missas e cultos com o Livro debaixo do sovaco?

terça-feira, dezembro 25, 2007
 
PAPA PAGA MICO
NA MISSA DO GALO




A cada Natal, tão certo como o sol se põe, se repete o erro: desde há séculos, Vaticano, livros e jornais afirmam que Cristo nasceu em Belém. Não nasceu em Belém. Todos os jornais do mundo, nestes dias, afirmam que Cristo nasceu em Belém. Os natais se repetirão ad aeternum e a imprensa continuará afirmando ad aeternum esta inverdade.

Este ano, temos uma novidade. Enquanto dezenas de milhares de peregrinos rumaram a Belém, para visitar a Igreja da Natividade, onde o Cristo teria nascido, o monumental presépio que é montado todo ano na praça São Pedro foi ambientado pela primeira vez, desde que existe, em Nazaré. A decisão foi tomada pelo Governo do Estado da Cidade do Vaticano, encarregado da montagem do presépio, inspirado desta vez no Evangelho de Mateus, que situa o nascimento de Jesus na casa de José, em Nazaré. Nos Evangelhos de Lucas, Marcos e João o local indicado é uma gruta em Belém. O Vaticano informou que o presépio deste ano terá três ambientes: a sala da Natividade, a carpintaria de São José e uma hospedaria, símbolo da vida coletiva da época.

Sempre defendi a tese de que Jesus nasceu em Nazaré. Ou melhor, não que eu a defenda. Quem a defende, em verdade, é Ernest Renan, como veremos adiante. Por ter situado o nascimento do Cristo em Nazaré, tive uma crônica censurada no jornal católico conservador Mídia Sem Máscara, o que fez com eu me afastasse daquele site papista. Hoje, é o Vaticano que afirma o nascimento de Jesus em Nazaré. O que desautoriza as pretensões da Igreja da Natividade, em Belém, pretensões estas que, curiosamente, sempre foram apoiadas pelo próprio Vaticano. Dentro da igreja, ficaria a gruta onde, segundo a tradição, nasceu Jesus. Há inclusive uma estrela marcando o ponto exato onde o nascimento ocorreu.

Escrevia-me, no ano passado, um leitor:

“Senão vejamos: “E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. (Miquéias 5:2). Este poderoso trecho bíblico não somente profetiza o nascimento do Senhor Jesus Cristo em Belém, como também atesta Sua divindade: “e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. E aqui vemos o cumprimento literal da profecia de Miquéias: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo. Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém; então, convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer. Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel.” (Mateus 2:1-6)”.

Vários outros leitores, daqueles que só encontram na Bíblia o que o padre diz para encontrar, alegam a mesma coisa. Que segundo os Evangelhos de Mateus e Lucas, Jesus nasceu em Belém. Que “não há motivos para duvidar do relato de um contemporâneo de Jesus (Mateus) e de alguém que viveu pouco tempo depois, conhecendo diversas pessoas que haviam convivido com ele (Lucas)".

Não é bem assim. Vou repetir mais uma vez, e talvez tenha de repeti-lo a cada fim de ano: os Evangelhos não podem ser lidos ao pé da letra. Profecia é uma coisa, fato histórico é outra. O fato inconteste, aceito pelos historiadores, é que Jesus nasceu na obscura Nazaré, pequena e desconhecida cidade da Galiléia. Nos Evangelhos, é chamado o tempo todo de nazareno. Em sua cruz, Pilatos manda inscrever: "Jesus nazareno, rei dos judeus".

Verdade que Mateus escreve: "Tendo, pois, nascido Jesus em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes ...." E acrescenta: "Ouvindo, porém, que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; mas avisado em sonho por divina revelação, retirou-se para as regiões da Galiléia, e foi habitar numa cidade chamada Nazaré; para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado nazareno". Pois dissera Miquéias: "Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel". No fundo, Mateus trazia no sangue esta tendência do jornalismo contemporâneo, de adaptar os fatos à visão que se tem do mundo. Quis adaptar o nascimento a antigas profecias. A realidade que se lixasse.

Escreve Renan, em A Vida de Jesus: "Cristo nasceu em Nazaré, pequena cidade da Galiléia, desconhecida até então. Toda sua vida foi designado pelo nome de Nazareno e só por um esforço que não se compreende é que se poderia, segundo a lenda, dá-lo como nascido em Belém. Veremos adiante o motivo dessa suposição, e como ela era conseqüência necessária do papel messiânico que se deu a Jesus".

Segundo Renan, Nazaré não é citada nem no Antigo Testamento, nem por Josefo, nem no Talmude. Enquanto Nazaré da Galiléia era um vilarejo anônimo, Belém da Judéia portava o prestígio de antigas profecias. Nazaré era aldeia era desprovida de qualquer prestígio. Tanto que, em João 1:46, Natanael pergunta: “Pode haver coisa bem vinda de Nazaré?” Que nascesse em Belém, portanto. A estrela de prata pregada na igreja da Natividade em Belém, não passa de um wishful thinking. Nazarenos nascem em Nazaré.

Lucas também adere à lenda do nascimento em Belém: "Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado. Este primeiro recenseamento foi feito quando Cirino era governador da Síria. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. Subiu também José, da Galiléia, da cidade de Nazaré, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz, e teve a seu filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem".

Os evangelistas, ao situarem o nascimento de Cristo no reinado de Herodes e evocarem o recenseamento de Cirino, desmontam a própria tese. Diz Renan:

"O recenseamento feito por Cirino, do qual se fez depender a lenda que ajunta a jornada a Belém, é posterior, pelo menos dez anos, ao ano em que, segundo Lucas e Mateus, nascera Jesus. Com efeito, os dois Evangelhos põem o nascimento de Jesus no reinado de Herodes (Mateus,II, 1,19,22; Lucas, I, 5). Ora, o recenseamento de Cirino foi feito só depois da deposição de Arquelau, isto é, dez anos depois da morte de Herodes, no ano 37 da era de Ácio. A inscrição pela qual se pretendia outrora estabelecer que Cirino fizera dois recenseamentos é reconhecida como falsa. O recenseamento em todo caso não teria sido aplicado senão às partes reduzidas à província romana, e não às tetrarquias. Os textos pelos quais se pretende provar que algumas das operações de estatística e registro público, ordenadas por Augusto, chegaram até o reinado de Herodes, ou não têm o alcance que se lhes quer dar, ou são de autores cristãos que colheram esse dado no Evangelho de Lucas".

Se o Vaticano hoje se rende à evidência histórica, o desastrado bispo de Roma desautorizou o presépio instalado sob seu papado. Nesta madrugada, na homilia da Missa do Galo, Bento XVI lembrou o nascimento de Jesus, como Maria lhe envolveu em um pano e lhe deitou em um presépio, "porque não havia lugar na pousada onde pretendiam alojar-se".

Sua Santidade precisa decidir-se. Afinal, nasceu na casa de Maria e de José, como indica o presépio montado na praça São Pedro, e neste caso não teria precisado buscar pousada alguma? Ou nalguma gruta em Belém, onde a rejeitada parturiente teve de abrigar-se? O Vaticano está precisando contratar urgentemente um bom roteirista.

Seja como for, seria bom que a Santa Sé avisasse o Sumo Pontífice de suas decisões, para não deixar o papa pagando mico nas frias madrugadas de Roma.

segunda-feira, dezembro 24, 2007
 
O CAUSO DAS ESCRITURA

(Conto de Sérgio Jockymann)



Pois não sei se já les contei os causo das Escritura Sagrada. Se não les contei, les conto agora. A história essa é meio comprida, mas vale a pena contá por causa dos revertério. De Adão e Eva acho que não é perciso contá os causo, porque todo mundo sabe que os dois foram corrido do Paraíso por tomá banho pelado numa sanga.

Naqueles tempo, esse mundaréu todo era um pasto só sem dono, onde não tinha nem dele nem meu. O primeiro índio a botá cerca de arame foi um tal de Abel. Mas nem chegou a estendê o primeiro fio porque levou um pontaço no peito do irmão dele, um tal de Caim, que tava meio desconforme com a divisão. O Caim, entonces, ameaçado de processo feio, se bandeou pro Uruguay. Deixou o filho dele, um tal de Noé, tomando conta da estância.

A estância essa ficava nas barranca de uma corredera e o Noé, uns ano despois, pegou uma enchente muito feia pela frente. Cosa munto séria. Caiu uma barbaridade de água. Caiu tanta água que tinha até índio pescando jundiá em cima de cerro. O Noé entonces botou as criação em cima de uma balsa e se largou nas correnteza, o índio velho. A enchente era tão braba que quando o Noé se deu conta a balsa tava atolado num banhado chamado Dilúlvio.

Foi aí que um tal de Moisés varou aquela água toda com vinte junta de boi e tirou a balsa do atoleiro. Bueno, aí com aquele desporpósito, as família ficaram amiga. A filha mais velha do Noé se casou-se com o filho mais novo do Moisés e os dois foram morá numa estância muito linda, chamada estância da Babilônica. Bueno, tavam as família ali, tomando mate no galpão, quando se chegou um correntino chamado Golias, com mais uns trinta castelhano do lado dele. Abriram a cordeona e quiseram obrigá as prenda a dançá uma milonga.

Foi quando os velho, que eram de muito respeito, se queimaram e deu-se o entrevero. Peleia braba, seu. O correntino Golias, na voz de vamos, já se foi e degolou de um talho só o Noé e o velho Moisés. E já tava largando planchaço em cima do mulherio quando um piazito carretero, de seus dez ano e pico, chamado Davi, largou um bodocaço no meio da testa do infeliz que não teve nem graça. Foi me acudam e tou morto. Aí a indiada toda se animou e degolaram os castelhano. Dois que tinham desrespeitado as prenda foram degolado com o lado cego do facão. Foi uma sanguera danada. Tanto que até hoje aquele capão do Mar Vermelho.

Mas entonces foi nomeado delegado um tal de major Salomão. Homem de cabelo nas venta, o major Salomão. Nem les conto! Um dia o índio tava sesteando quando duas velha se bateram em cima dum guri de seus seis ano que tava vendendo pastel. O major Salomão, muito chegado ao piazito, passou a mão no facão e de um talho só cortou as velha em dois. Esse é o muito falado causo do Perjuízo de Salomão que contam por aí.

Mas, por essas estimativas, o major Salomão, o que tinha de brabo tinha de mulherengo.

Eta índio bueno, seu. Onde boleava a perna, já deixava filho feito. E como vivia boleando a perna, teve filho que Deus nos livre. E tudo com a cara dele, que era pra não havê discordância. Só que quando Deus nosso Senhor quer, até égua véia nega estribo. Logo a filha das predileção do major Salomão, a tal de Maria Madalena, fugiu da estância e foi sê china de bolicho. Uma vergonhera pra família. Mas ela puxou a mãe, que era uma paraguaia meio gaudéria que nunca tomo jeito na vida. O pobre do major Salomão se matou-se de sentimento, com uma pistola Eclesiaste de dois cano.

Mas, vejam como é a vida. Pois essa mesma Maria Madalena se casou-se três ano despois com um tal de coronel Ponciano Pilatos. Foi ele que tirou ela da vida. Eu conheço uns três caso do mesmo feitio e nem um deles deu certo. Como dizia muito bem o finado meu pai, mulher quando toma mate em muita bomba, nunca mais se acostuma com uma só. Mas nesses contraproducente, até que houve uma contrapartida. O coronel Ponciano Pilatos e a Maria Madalena tiveram doze filho, os tal de aposto, que são muito conhecido pelas caridade que fizeram. Foi até na casa deles que Jesus Cristo churrasqueou com a cunhada de Maria Madalena, que despois foi santa muito afamada. A tal de Santa Ceia.

Pois era uns tempo muito mal definido. Andava uma seca braba pelos campo. São José e a Virge Maria tinham perdido todo o gado e só tavam com uma mula branca no potrero, chamada Samaritana. Um rico animal, criado em casa, que só faltava falá. Pois tiveram que se desfazê do pobre. E como as desgraça quando vem, já vem de braço dado, foi bem aí que estouraram as revolução.

Os maragato, chefiado por uma tal de coronel Jordão, acamparam na entrada da Vila. Só não entraram porque tava lá um destacamento comandado pelo tenente Lazo aquele mesmo que por duas vez foi dado por morto. Mas aí um cabo dos provisório, um tal de cabo Judas, se passou-se pros maragato e já se veio uns tal de Romano, que tavam numas várzeas, e ocuparam a Vila.

Nosso Senhor foi preso pra ser degolado por um preto muito forte e muito feio chamado Calvário. Pois vejam como é a vida. Esse mesmo preto Calvário, degolador muito mal afamado, era filho da velha Palestina, que tinha sido cozinheira da Virge Maria. Degolador é como cobra, desde pequeno já nasce ingrato. Mas entonces botaram Nosso Senhor na cadeia, junto com dois abigeatário, um tal de João Batista e o primo dele, Heródio dos Reis. Os dois tinham peleado por causo de uma baiana chamada Salomé e no entrevero balearam dois padre, monsenhor Caifás e o cônego Atanásio.

Mas aí veio uma força da Brigada, comandada pelo coronel Jesus Além, que era meio parente do homem por parte de mãe e com ele veio mais três corpo de provisório e se pegaram com os maragatos. Foi a peleia mais feia que se tem conhecimento. Foi quarenta dia e quarenta noite de bala e bala.

Morreu três santo na luta: São Lucas, São João e São Marco. São Mateus ficou três mês morre não morre, mas teve umas atenuante a favor e salvou-se o índio. Nosso Senhor pegou três balaço, um em cada mão e um que varou os pé de lado a lado. Ainda levou mais um pontaço do mais velho dos Romanos, o César Romano, na altura das costela. Ferimento muito feio que Nosso Senhor curou tomando vinagre na sexta-feira da paixão. Mas aí, Nosso Senhor se desiludiu-se dos home, subiu na Cruz, disse adeus pros amigo e se mandou-se de volta pro céu. Mas deixou os dez mandamentos, que são cinco e que se pode muito bem acolherá em dois: não se mata home pelas costa, nem se cobiça mulher dos outros pela frente.


(In Assim Escrevem os Gaúchos, antologia compilada por Janer Cristaldo, São Paulo, Editora Alfa-Ômega, 1976)

domingo, dezembro 23, 2007
 
AS ANGULAS E O ESPÍRITO NATALINO



Entre outras, sou devoto da culinária espanhola. Mas há duas iguarias nas quais não vejo graça alguma, os percebes e as angulas. Estamos no Natal, o auge da procura pelas angulas. Deixo então os percebes para outro dia.

Angulas são filhotinhos de enguias. São bichinhos com pouco mais de cinco centímetros, que lembram um espermatozóide. Em suma, uma enguia minúscula. Em si, não têm gosto de nada. Apenas do tempero com que se as tempera. Caríssimas. Neste Natal, estão custando cerca de 1.200 euros o quilo. Em março passado, quando a procura é baixa, as angulas eram o prato mais caro do Sobrino de Botín: 115 euros. Para se ter uma idéia do preço, o segundo prato mais caro do restaurante mais antigo da Europa era o cochinillo, uma das glórias culinárias da Espanha: 20 euros. O cordero lechal – outra excelência espanhola – custava o mesmo. Pelas angulas, prato sem sabor algum, pagava-se praticamente seis vezes mais.

Em meus dias de Madri, meu guru foi Enrique Sordo, autor de España, entre trago y bocado, jornalista que faz um excelente apanhado das cozinhas regionais espanholas. Recorro a Sordo para definir as angulas.

“Durante muito tempo, estes peixinhos foram um grande mistério, até que as investigações de Schimch conseguiram esclarecer que se tratavam de filhotes das enguias. Estas desovam no mar de Sargaços. Põem quantidades imensas de ovos, dos que saem as larvas ou leptocéfalos. Estas larvas emigram em massa até a desembocadura dos rios europeus: sua emigração dura dois anos e, quando chegam, se convertem em angulas. Ao chegar medem 7 ou 8 centímetros. Depois, no final de inverno ou começo de primavera, bancos de milhares de angulas atravessam os estuários e remontam os rios.

“Ao que parece, há angulas em todas as águas marinhas européias, exceto no mar Negro. Mas, em verdade, o primeiro povo da Europa que as consumiu com deleite foi o basco, contagiando o resto da península com este são costume. (...) Se são compradas vivas, são postas em um recipiente com água e nesta se introduz um pacote que contenha tabaco negro picado e se pressiona constantemente para extrair a nicotina e outras substâncias que produzem a morte dos peixinhos. As angulas podem ser preparadas em tortilla, prato delicioso, mas o mais freqüente é fazê-las ao pil-pil, em uma panela de barro, com azeite, alho e malagueta. Este procedimento, segundo Busca Isusi, encobre totalmente o fino mas escasso sabor das angulas escaldadas”.

Isto é, até Busca Isusi concorda com o escasso sabor da angulas. Eu as degustei uma vez, paguei caríssimo e me senti roubado. Assim, é com certo conforto que leio na edição de hoje de El País, que “o desorbitado preço das angulas é a primeira razão pela qual este produto deixou de fazer parte dos menus na Espanha, embora se possa esgrimir outra para desejá-las com menos pesar: seu perigo real de desaparição. Existiria um terceiro argumento, esse sim, controvertido, como é o duvidoso valor gastronômico que os mais ousados atribuem aos filhotes da enguia, cuja crescente demanda por parte do mercado asiático elevou de maneira notável o percentual das exportações e, por sua vez, a pesca e o preço destes alevinos cada vez mais escassos”.

Sempre me julguei o único soldado de passo certo, ao achar que as tais de angulas não têm sabor algum. Parece, no entanto, que alguns espanhóis concordam comigo. Xabier Gutiérrez, pesquisador do laboratório do restaurante Arzak de San Sebástian, julga que o valor culinário da angula é “um mito que é preciso quebrar”. E um auxiliar do cozinheiro Juan Maria Arzak, em um momento de extraordinária coragem intelectual no País Basco, considera que “a angula não tem gosto de nada. É preciso deixá-la crescer, que desenvolva gorduras e aromas até converter-se em uma enguia de quilo, que é superior”. Este homem de confiança de Arzak está ciente de que vão chamá-lo “de tudo” por esta heresia.

Nestes dias natalinos, há uma obsessão pelas angulas na Espanha. Como pode um prato caríssimo – certamente o mais caro da culinária espanhola – ser o objeto de desejo das gentes, se não tem sabor algum? Só pode ser desejo de status. Se é caro, deve ser bom.

sábado, dezembro 22, 2007
 
EU, EMÉRITO ORNICIDA



Foi divertido ouvir o rufar de asas de dezenas de ornitólogos, em função da crônica que escrevi há cerca de um ano. Segundo um dos missivistas, são necessários oito anos para a formação de um ornitólogo. Discrepo. Ornitólogos somos todos nós. Não sendo profissão regulamentada pelo Ministério do Trabalho, é profissão que não existe. Ornitólogos são equiparáveis a psicanalistas ou antropólogos. Do ponto de vista legal, não existem. Ornitólogo ou psicanalista é quem se diz ornitólogo ou psicanalista e estamos conversados.

Vou mais longe. Ornitólogos são como deuses. Não existem. Em meio a isso, muito me divertiu saber que estou a serviço de empresas multinacionais. Não imagino qual o interesse de uma multinacional em exterminar pássaros no Brasil.

Last but not least, devo confessar que fui emérito ornicida. Se a palavra ainda não existe, eu a crio. Sim, matei pássaros a granel em meus dias de guri. Era o esporte predileto de toda criança que nasceu no campo. Não éramos sádicos exterminadores de vida, nada disso. Era uma espécie de tiro ao alvo. Mais ainda, tiro a um alvo móvel. Minha glória era matar um pássaro em pleno vôo.

Meu dia começava com uma ida à sanga, que é como se chamam os rios no Rio Grande do Sul. Para juntar pedras. Levava comigo uma espécie de cartucheira e mais dois fios de barbante. A cartucheira, eu as enchia de pedras, munição para matar a bicharada. Com um bodoque, ia aniquilando a fauna do pedaço. Ao voltar de minhas incursões diárias, os fios de barbante eram fieiras de pássaros mortos.

Havia uma certa ética naquela matança. João-de-barro e quero-quero eram aves que não se podia matar. Eram honestos e trabalhadores. O quero-quero, além disso, era um atalaia dos pampas. Durante as revoluções que sacudiram aqueles pagos, sempre alertou para a chegada do inimigo. Chupim podia matar, era bicho parasita que vivia em ninho alheio. Caranchos, chimangos, quiriquiris, caturritas, era dever matar. Os rapaces atacavam pintos nos galinheiros, as caturritas destruíam pomares e milharais. A prefeitura inclusive pagava por cada bico de caturrita morta. Suponho que os ilustres ornitólogos que me xingam não tenham nada contra matar caturritas. O dilema é simples: ou a caturrita, ou a lavoura.

A humanidade perdeu algo com meus ornicídios? Diria que nada. Por um lado, não consegui exterminar espécie alguma. Por outro, se exterminasse alguma espécie, ela continuaria viva em outros rincões. A humanidade perdeu algo com as milhares de espécies que se extinguiram desde que existe vida na Terra? Ao que tudo indica, não. Diria mais: a extinção dos megapredadores em muito terá facilitado a sobrevivência do homem no planetinha.

Se me arrependo destes pecados? Nada disso. Caçar pássaros fazia parte de minha infância. Como fez parte da infância de todo piá de campanha. Hoje, sou incapaz de matar uma formiga. Na janela ao lado do computador, tenho um recipiente com sucos para atrair pássaros. E trabalho ao lado de beija-flores, pardais, sabiás e canarinhos.

O que não se pode admitir, senhores ornitólogos, é impedir a construção de barragens em função de um passarinho. Privar de luz, energia, calor, refrigério e boa água - isto é, de saúde - centenas de milhares de pessoas só porque em determinada região vive o curiango-do-banhado. Homem sendo, sou antropocêntrico. Fosse pássaro e tivesse consciência disto, seria certamente ornicêntrico.

Não sou pássaro. Primeiro o bem-estar de minha espécie. Depois, o das outras. Este culto aos pássaros está tomando ares de religião. Como toda religião, só atrai fanáticos e ignorantes. O que explica, a meu ver, o mal tratar do vernáculo por boa parte de meus missivistas. Gente que sequer domina a própria língua e pretende salvar a humanidade.

 
O BLEFE DO MINISTRO



Leio no noticiário online de hoje que a quantidade de vôos atrasados nos principais aeroportos do país aumentou nas últimas horas e atingiu 31,9% das partidas programadas entre a 0h e 20h, segundo a Infraero. O número equivale a 459, dos 1.437 vôos programados. O balanço da Infraero aponta ainda que 97 vôos, o equivalente a 6,8% dos vôos, foram cancelados.

Ontem ainda, Nelson Jobim, o ministro da Defesa - aquele falastrão que no dia de sua posse disse: "Faça ou saia" - negava que o Brasil teria um novo caos aéreo como o do final do ano passado. “A crise como tivemos no ano passado não vai se repetir. Podem viajar tranqüilos, tomando chimarrão se quiserem”.

O Brasil deve ser o único país no mundo que há mais de ano perdeu o controle de seu tráfego aéreo. Nunca é demais repetir Bilac:

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! Não verás nenhum país como este!

sexta-feira, dezembro 21, 2007
 
AINDA A REVOADA DE ORNITÓLOGOS



Mais furiosos que ornitólogos, só vi caradriídeos, quando a gente se aproxima do ninho deles. Caradriídeos é como os ornitólogos chamam os prosaicos quero-queros da pampa gaúcha. Reproduzo mais duas mensagens. O uso do português continua por conta dos senhores ornitólogos.


Seu texto sobre a periculosidade dos ornitólogos chega ser rídicula. Sou ornitólogo e sou contra a construção da UHE de Mauá (PR) e sou a favor do Rio Tibagi! O local da construção da UHE de Mauá é planejada para uma das últimas áreas de alta biodiversidade do PR, segundo o próprio Ministério do Meio Ambiente! Você não acha incoerente um governo que afirma que uma área deve ser conservada e mesmo assim pretende construir uma UHE e alagar essa área? EIA-RIMAs fraudados, informações omitidas e distorcidas são algumas das táticas das empresas do setor de infra-estrutura para conseguir seus objetivos, tudo isso com o papinho medíocre de que é pelo "desenvolvimento nacional", tudo isso é papo-furado!

Você deveria ler mais sobre o impacto causado pela construção de uma UHE para quem sabe mudar um pouco a sua opnião, mas acho isso pouco provável. Seu texto cheio de palavras pretenciosas e sua atitude condenscendente para com os ornitólogos me passam a idéia de ser frustrado sexualmente e de que gosta de "pagar" de intelectual para impressionar menininhas com esse seu vocabulário parnasianista.

Sinceramente,

Gabriel



SOBRE A PERICULOSIDADE DOS ORNITÓLOGOS E DE AGUNS JORNALISTAS.

Caro amigo Janer,

confesso que quando acabei de ler seu texto “sobre a periculosidade dos ornitólogos”, me levantei rápido da frente do computador rindo da tamanha falta de informação ali contida. Contudo, por estudar área correlacionada à ornitologia sinto-me na obrigação de dar-lhe algumas informações sobre o assunto, já que seu tempo deve ser escasso para pesquisar antes de escrever.

Primeiramente, quando um ornitólogo evidencia uma espécie em declínio populacional ocorre um monitoramento dessa população para que seja inferido se ela corre perigo de extinção. Essa extinção pode ser natural, como ocorreu com milhões de espécies em nosso planeta, mas também pode estar sendo acelerada por processos antrópicos. O importante é sabermos que uma espécie de ave que está sendo extinta não é apenas uma ave, ela representa milhões de anos de evolução e até de co-evolução. A natureza é regida por processos ecológicos e a ave é apenas uma parte desses processos, proteger essa ave é proteger a fruta da qual ela se alimenta, é proteger a árvore que fornece esse fruto, é proteger a sombra que essa árvore gera para os gados é proteger a umidade necessária para o sucesso da sua defendida agricultura.

O Sr. Citou um exemplo de uma ONG que vetou a construção de uma hidrelétrica na índia mas por falta de referencia não consegui ler sobre o assunto...realmente se isso ocorreu é lamentável, mas no Brasil, por exemplo, a maioria dos movimentos anti-barragens levam em consideração o bem estar da comunidade local e a conservação da biodiversidade, passou-se o tempo em que ambientalistas inconseqüentes se manifestavam a favor do verde, hoje isso é feito também por muitos doutores e estudiosos por uma questão de necessidade, a vida não se mantém sobre concretos...

O Sr. cita que “De qualquer forma, desde quando passarinho é prioritário ante um projeto de agricultura ou pecuária? Por outro lado, pássaros voam. Se um território tornou-se hostil, eles buscam outro. Pássaros migram. Não é preciso ser ornitólogo para saber disto. Quando migram, não migram a pé. Asas vão longe e a Amazônia é vasta.” Ora meu amigo, para algumas espécies de aves 100m é como o oceano atlântico para um homem! Se o Brasil fosse atacado nesse momento por uma forte força bélica, o Sr. sairia nadando pelo oceano atlântico até chegar à África sem nenhum problema? Sugiro que leia mais sobre o assunto.

Para finalizar gostaria de dizer que o Sr. assim como eu e todos os leitores desse veículo informativo somos dependentes do meio natural, é como uma teia; de alguma forma as aves estão relacionadas a nossas atividades diárias. Quando um ornitólogo briga pela preservação de uma ave, ele briga também pela preservação de recursos naturais, pelo respeito à vida, pelo nosso bem estar, ou seja, por um desenvolvimento realizado com estudos que contemplem todos os itens necessários a uma sociedade. Concordo que alguns ornitólogos são reducionistas e inconseqüentes, assim como alguns jornalistas que influenciam milhares de pessoas com textos sem fundamentação, por isso o Senhor deveria mudar o título do seu texto para “Sobre a periculosidade de alguns ornitólogos”.

João Vitor Campos e Silva

 
MENSAGEM DO ODILON



Minha çolidariedade ao esforsso preservativo dos ornitólogos. Suas mençagens são um alerta para noz. Não podemos continuarmos indiferentes em quanto ex-pécies importantes como Grammathica Ellementaris, Minnima Orthographia, Regentia Verballis Pueri e Syntaxis Preginasyana são esterminadas diante de noços olhos. Precizamos fazermos alguma coiza!

Odilon Toledo

quinta-feira, dezembro 20, 2007
 
EFEITO CAPPIO



A greve de fome do bispo Dom Luiz Flávio Cappio teve um efeito insólito: constrangeu pessoas que sempre abominaram Lula e seu governo a apoiar o Supremo Analfabeto.

 
MAIS ORNITÓLOGOS EM FÚRIA



Pelo jeito, mexi em um aguerrido ninho de ornitólogos em crônica de janeiro passado. Os protestos continuam chegando. Deixo de lado uma boa dezena destes, com insultos e baixo calão. Reproduzo outros, com os devidos erros de português. Os ornitólogos e/ou simpatizantes, sempre preocupados com pássaros, parecem não ter maiores preocupações com o vernáculo. "Cinseramente..."


Tirem esse cara daí e o coloquem no humorista, ele não sabe o que está dizendo!!To rindo muito de sua ignorância tadinho!!!! E percebe-se que é arrogante!! Conselho para essa criatura, estude sobre o tema para depois escrever, se não fica com um ar de palhaço, de comédia de tantos absurdos!!Sem noção!!!
Desculpe a cinseridade!!
SEM NOÇÃO!!!!!

André Marques


Para qualquer biólogo ou pessoa de qualquer profissão que conheça e estude sobre biodiversidade ler este texto é realmente lamentável.
O autor demonstra sua ignorância no assunto e faz questão de exibi-la em argumentações que fogem completamente da lógica, discorrendo parágrafos e prágrafos sem se dar conta do erro cabal que comete.
Desculpe falar assim, mas dói ler esse texto tão banal e estúpido.
Sugiro que o autor, Janer Cristaldo, leia uma dúzia de artigos científicos das melhores revistas da área, ou até que volte à sua terra natal, converse com alguém da terra, que observe a natureza, para que não precise pagar mais micos como esse.
Sinto muito por você Janer Cristaldo, e acredito que possa ter boas idéias e fazer críticas construtivas, mas dessa vez, que vexame!

Ana Carvalho



Quanta ignorância!

Fernanda


De imensa irresponsabilidade e falta de conhecimento biológico este texto.
Deveria se informar sobre conservação e a importância da preservação dos biomas remanescentes, quanto a economia do país. Não estamos falando de conseqüências apenas econômicas quando se inviabiliza uma obra para preservarmos aves, répteis ou fragmentos de mata. Estamos falando de conseqüências ambientais irreversíveis que podem em pouco tempo inviabilizar a existência de várias espécies no nosso planeta. Dentre elas, a nossa!!

Pedro Nunes


Sou estudante de Ciências Biológicas, e nunca na minha vida de pesquisador, lí uma matéria tão infeliz! Espero que vcs selecionem melhor o que é passado nesta mídia, porque até então, a edução das nossas crianças e adolescetes, no ponto de vista ecológico, tem funcionado muito bem, e a mídia até certo tempo, era um veículo de informação/educação!
Os animais que são descritos como nojentos ou independentes, na verdade, tem tanto direito a vida como qualquer animal(homens tb são animais) e que são pesquisados dia e noite, por pesquisadores brasileiros, que por falta de investimentos nacionais, buscam financiamentos do exterior, para inclusive, ajudarem em matérias feitas por leigos, sem embasamento científico como este infeliz! Os aquedutos da antiguidade, em nada se pareciam com as obras de hoje, que antes de ser uma usina, roubam o subsolo, fazem carvão com a madeira e vendem as espécies da fauna, para os leigos que pensam que nas matas existem apenas passarinhos! Todos os pássaros são aves, mas nem todas as aves voam como pássaros! Estes animais já estão adaptados à vida neste planeta a milhares de anos, mas um bicho metido a besta como o homem, que não se adapta sem um ar condicionado ou uma lareira, insiste em se achar superior a uma mosca! Quanta inocência! Amigo, leia mais e para de escrever tanto mesmice! Pra mim vc é um charlatão e não vai mudar a minha opinião quanto a imprensa marrom! Você deve estar sendo bancado por alguma empresa multinacional, seja patriota e não um idiota!

Douglas Rocha


Por um acaso você, autor, é burro?
Pois, ao terminar de ler o seu (péssimo) texto, foi a conclusão a que cheguei.
Mas, deixando a sua óbvia ignorância sobre o assunto de lado (você tem idéias atrasadas em pelo menos 200 anos), você poderia ao menos aprender a escrever, já que se diz jornalista e escritor...
Quem é o imbecil que usa a maldita palavra "tipo" em um texto jornalístico? Aliás, em qualquer texto escrito?
Enfim, espero que você sofra em um desastre ecológico qualquer que tenha sido causado pela ignorância de pessoas como você.

Killer of Fools

quarta-feira, dezembro 19, 2007
 
MEUS PÊSAMES!



Leio no Estadão online que a greve de fome de Dom Luiz Flávio Cappio foi encerrada na tarde de hoje por decisão do médico Klaus Finkan, em consonância com os familiares do religioso e com autorização do próprio d. Cappio. "Ele está semiconsciente, com o estado geral comprometido e será internado por determinação minha para evitar possíveis danos permanentes", afirmou o médico.

Se a notícia procede, meus pêsames a Dom Cappio. Perdeu aquela inefável chance de encontrar-se com o Criador. Em vez de gozar da visão beatífica do Senhor, terá de permanecer contemplando o ar de vitória do Supremo Apedeuta. Como eu supunha, venceu o humano e vil temor à Esperada das Gentes. Não se fazem mais bispos como antigamente. Seu protesto não passou de um blefe.

 
BOA MORTE E PARABÉNS, DOM CAPPIO!



Estes são os meus votos nestes dias natalinos. Creio que não se realizarão, mas é o que mais almejo no fundo de meu meigo coração. Confesso não ter idéia formada a respeito da transposição das águas do rio São Francisco. Intervenções humanas de grande porte na natureza têm riscos imprevisíveis. O exemplo por excelência disto é o desastre do mar de Aral, entre o Usbequistão e o Casaquistão. Na década de 60, o governo soviético achou mais lucrativo desviar dois rios que alimentavam o mar de Aral, o Amu Daria e o Sir Daria, para irrigar plantações de algodão. Bastou que decorressem quatro décadas para que esse mar perdesse três quartos do seu volume, baixasse seu nível em 19 metros e a área ocupada por suas águas fosse reduzida a 40% da original. Esta tragédia, conhecida a “Chernobil calada”, só começou a ser conhecida em meados dos 80, devido à relativa abertura da glasnost soviética.

O desastre foi total. Degradação ambiental, desertificação, destruição dos peixes do mar de Aral – e conseqüente extinção da indústria da pesca – extinção de portos, linhas férreas, ferrys, estações balneárias. Isso sem falar no desastre sanitária e no aumento de doenças e mortalidade infantil. Segundo relatório de Lucy Jones, Shrinking of Aral Sea Causes Regional Health Crisis (1999), “em áreas de elevada utilização de pesticidas as doenças infantis (proporção de doenças) até à idade de 6 anos é 4,6 vezes superior à das regiões de baixa proporção de pesticidas”. Segundo a Academia de Ciências Soviética, a taxa de mortalidade infantil na região da Ásia central aumentou entre 1970 e 1985. Em Bozataus, uma região do Karakalpaquistão, 110 em cada 1.000 crianças morrem antes de completar um ano. Ainda no Karakalpaquistão, a taxa do câncer do esôfago é sete vezes superior àquela do resto do país. Segundo E. Paronina, uma investigadora soviética, “tudo isto (crise sanitária) é o preço excessivo pago com a saúde da população para se ter auto-suficiência em algodão”.

A documentação sobre a tragédia do mar de Aral é abundante na Internet. Por enquanto, remeto o leitor ao site de onde retirei estes dados:
http://resistir.info/asia/mar_de_aral.html

Ou seja, se você quer matar um mar – e um monte de gente junto – fale com os comunistas. Eles sabem como se faz.

Assim sendo, em princípio não saberia que dizer da questão do São Francisco. Mas as forças que se opõem à transposição das águas me dão um indicativo. Se a Igreja Católica, o PSOL e o MST – os setores mais obsoletos do país – são contra a transposição, há boas chances de que a transposição seja boa para o país. O que é bom para a Igreja sempre é ruim para o país e vice-versa. Estas entidades satanizam palavras como agronegócio ou hidronegócio, como se fossem representações do mal. Ora, agro ou hidronegócios são negócios tão bons como quaisquer outros. E se estes senhores acham que lucro é pecado, seria bom alertá-los que ainda chegamos à condição da Cuba de Fidel.

Dom Luiz Flávio Cappio, o bispo testarudo, entra hoje no 23º dia de greve de fome contra o projeto. Opõe-se como uma mula a um projeto do governo, só porque este projeto não lhe agrada. E faz chantagem, ameaçando acabar com a própria vida. Ora, há poucas horas, o Supremo Tribunal Federal (STF) cassou uma tutela antecipada que havia suspendido as obras projeto de transposição do rio São Francisco com a Bacia do Nordeste Setentrional. A decisão do TRF, dessa forma, perde a validade e as obras podem voltar a ser realizadas. O bispo acaba de perder mais um ponto em sua campanha insana.

Mas o STF pode, ainda hoje, tomar uma decisão salomônica, suspendendo temporariamente a transposição, e assim salvando a cara do bispo e a do governo.
Se o governo perder esta parada, pode-se imaginar o que teremos pela frente nos próximos anos. A cada projeto de usina, estrada ou barragem, nunca faltará um bispo ou uma besta para ameaçar suicidar-se caso o governo não faça antes uma consulta popular. Cairemos então em uma república plebiscitária, que a cada projeto precisa conclamar a nação toda para desviar um rio ou construir uma barragem.

Pelo que entendo dos bois com que lavro, o valente prelado vai encontrar um pretexto qualquer para salvar sua pele. Se o pretexto não existe, o governo acabará por fornecê-lo. É nestes momentos que sou tomado de um espírito cristão e natalino. Acho que o bom bispo não deve recuar. Não deve deixar-se encantar pelos cantos de sereia do governo. Deve levar sua greve de fome até o fim. O desfecho será o melhor possível. Poderá finalmente encontrar-se com o Criador.

O bispo irá até o fim? Pessoalmente, creio que não. Se for, só posso parabenizá-lo. Encontrar-se com Deus é o anseio supremo de todo cristão.

terça-feira, dezembro 18, 2007
 
A RENDIÇÃO DA HOLANDA



Terminei de ler Infiel, de Ayaan Hirsi Ali. Suas revelações sobre a opressão da mulher no universo islâmico para mim não constituíram novidade. A venda de mulheres a seus futuros maridos, a ablação do clitóris, a infibulação da vagina são instituições por nós todos conhecidas. O que me espantou em seu depoimento foi a rendição de um avançado país europeu, a Holanda, à invasão islâmica. Também causa espécie constatar que a mais apaixonada defesa dos valores ocidentais, na Holanda, tenha sido feita ... por uma ex-muçulmana somali.

Quando Hirsi tenta pesquisar os assassinatos em defesa da honra – mulheres mortas na Holanda por irmãos e pais em nome da sagrada honra da família – o Ministério da Justiça não lhe fornece dados: “Não registramos homicídios com base nessa categoria de motivação. Isso pode levar a estigmatizar um grupo na sociedade”. Para não estigmatizar os muçulmanos, o Estado esconde da população as verdadeiras razões de um crime.

“Nenhum funcionário público queria reconhecer que aquele tipo de homicídio ocorria regularmente. Nem mesmo a Anistia Internacional contava com estatísticas a respeito do número de mulheres vítimas de assassinato em nome da honra no mundo. Sabia quantos homens eram presos e torturados, mas não tinha idéia do número de mulheres açoitadas em público por fornicação ou executadas por adultério. Não era da alçada dela”.

A verdade é que, nos últimos anos, todo e qualquer crime cometido por muçulmanos, em países como França, Alemanha, Holanda e escandinavos, até que é noticiado pelos jornais. Mas sem nenhuma referência aos autores, nem à etnia, origem ou nacionalidade. É como se uma imprensa, que sempre se pretendeu livre, tivesse se tornado cúmplice desta hipocrisia de Estado.

Pior ainda: “Na Holanda, milhares de mulheres e crianças muçulmanas eram vítimas de uma violência sistemática, e não havia como escapar disso. Crianças pequenas sobriam excisão na mesa da cozinha – eu soube disso pelas somalis para as quais servia de intérprete. As moças que se atrevessem a escolher namorado ou amante eram espancadas quase até a morte ou mesmo assassinadas; grande parte delas apanhava regularmente. O sofrimento dessas mulheres era horrível. E, embora os holandeses contribuíssem generosamente para as organizações internacionais de amparo, continuavam ignorando o silencioso padecimento das mulheres e crianças maometanas no seu próprio quintal”.

Ou seja, em um Estado de direito europeu, moderno e liberal, onde homens e mulheres gozam de igualdade perante a lei, os brutos maometanos sentem-se em casa para cometer suas barbáries. Barbáries que, se no mundo islâmico constituem tradição, no Ocidente constituem crimes.

Espanta também ver uma deputada do Parlamento holandês ter de viver escondida e cercada de forte segurança, trocando de residência a toda hora, só porque ousou afirmar o óbvio. Ao comentar que Maomé, segundo os critérios do Ocidente, teria praticado pedofilia ao casar-se com uma menina de seis anos, atraiu o ódio de todos os machos muçulmanos acolhidos pela Holanda. A propósito, a imprensa nacional e internacional nos trouxe hoje uma foto da americana Stephanie Sinclair, premiada pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), que mostra uma menina de 11 anos ao lado de seu marido, um barbado de 42 anos. A criança foi vendida para o marido, no Afeganistão. Vi a foto em vários jornais. Nenhum deles fala em pedofilia. Esta palavrinha parece estar reservada, no Ocidente, para adultos que ousem ter relações consensuais com adolescentes.

O primeiro gesto de rendição do Ocidente ao Islã, ocorreu, a meu ver, em setembro de 1988, quando Shalman Rushdie publicou no Ocidente seus Versículos Satânicos. Em 14 de fevereiro de 1989, o aiatolá Khomeiney proferiu uma fatwa (decreto religioso), oferecendo uma recompensa de 2,5 milhões de dólares a quem matasse o escritor, não importa em que país estivesse. Naquele momento, Khomeiny afrontava a soberania de todo e qualquer país. Do alto de sua prepotência, o aiatolá ordenou:

Eu informo o orgulhoso povo muçulmano do mundo inteiro que o autor do livro Os Versículos Satânicos, que é contrário ao Islã, ao Profeta e ao Corão, assim como todos os implicados em sua publicação e que conhecem seu conteúdo são condenados à morte. (...) Apelo a todo muçulmano zeloso a executá-los rapidamente, onde quer que eles estejam. (...) Todo aquele que for morto nessa empreitada será considerado mártir”.

Observe o leitor a sutileza do decreto, que abrange inclusive os “que conhecem seu conteúdo”. O aiatolá condenou à morte até os leitores de Rushdie. A Europa não reagiu, afinal era um hindu. Verdade que tinha cidadania britânica, mas tratava-se de apenas um homem, e não vai se fazer guerra por um homem só. Ainda mais quando toda a Europa está atada por fortes laços econômicos com o Irã. Seria o bom momento de todas as democracias do Ocidente cortarem relações diplomáticas e econômicas com Teerã e deixar bem claro que não será um sacerdote persa insano quem irá impor sua vontade doentia a todos os países do globo. Nem Hitler ousou tanto.

O livro de Ayaan termina com o assassinato do cineasta Theo van Gogh, em Amsterdã, em novembro de 2004. Ayaan foi roteirista de seu curta-metragem Submissão – Parte I, que denunciava a opressão das mulheres do mundo muçulmano. Antes de morrer, o cineasta perguntou ao assassino: “Será que não podemos conversar?” Como resposta, teve a jugular cortada por uma faca de açougueiro. Com outra faca, o árabe espetou-lhe no peito uma carta de cinco páginas, com um recado para a deputada: “a próxima será você”.

E assim marcha a Respublica Christiana – como um dia chamou-se a Europa – rumo à entropia. Oferece abrigo, saúde, educação, direito sociais e até mesmo mesquitas ao inimigo que quer destruí-la.

Minha próxima leitura, Os Últimos Dias da Europa, de Walter Laqueur, historiador norte-americano de origem alemã. Segundo resenha que leio do livro, para o autor as imigrações, as políticas sociais e o fracasso da unificação continental desenham um quadro assustador da Europa. Laqueur é mais um profeta do óbvio: "as levas de imigrantes vindas da África, Oriente Médio e Ásia não buscam a assimilação nas sociedades européias, mas apenas beneficiar-se dos serviços sociais oferecidos por elas".

Siga meu conselho. Visite logo a Europa. Antes que acabe.

 
POLITICAMENTE CORRETO ASSOLA ITÁLIA



Uma ridícula polêmica está assolando a Itália. Os proprietários de uma cafeteria em Gênova decidiram que o filho não engrossaria a lista dos milhares de Francescos, Giovannis, Robertos, Massimos, ou Giuseppes - nomes comuns na Itália. E decidiram dar-lhe o nome de Venerdi, isto é, sexta-feira. Os funcionários municipais avisaram que teriam de cancelar o registro, alegando que o nome poderia causar constrangimentos futuros ao menino. "É um nome ridículo", afirmaram na ocasião.

Ora, em um país onde milhares de pessoas se chamam Domenica (domingo) ou Sabato (sábado), por que seria ridículo chamar-se sexta-feira? Alegam o Tribunal de Justiça e a Prefeitura de Gênova que o nome Venerdì comportava ligação imediata com o romance Robinson Crusoé, de Daniel Defoe. "Uma figura caracterizada por um papel de submissão e de inferioridade que, além de seu estado de criatura selvagem, não chegou nunca a ser igualado à imagem do homem civilizado".

Essa agora! Não se pode chamar alguém de Sexta-feira porque em um romance do século XVIII o autor deu esse nome a um selvagem de uma ilha tropical. Além de dobrarem-se ao politicamente correto, as autoridades judiciais superestimam a cultura literária dos italianos. Como se fosse óbvio que, nestes dias que correm, todos os italianos tivessem conhecimento da obra de Defoe.

segunda-feira, dezembro 17, 2007
 
ORNITÓLOGOS EM FÚRIA



Internet é ótima. Nossos artigos não ficam mofando em arquivos nem em pastas de recortes. Estou recebendo, nestes dias, uma revoada de mails, em função de um artigo publicado em janeiro passado, isto é, há onze meses. São protestos de ornitólogos em fúria, inconformados com as considerações que fiz sobre a periculosidade dos ditos. Reproduzo aqui as primeiras mensagens, preservando a linguagem deselegante, os erros de digitação e de vernáculo. (Os árdegos defensores dos pássaros parecem gostar de depenar a língua-mãe). Considerada a relevância que a crônica assumiu, quase um ano depois de publicada, eu a reproduzo na postagem anterior.


Prezado Senhor,

Sua matéria "Sobre a periculosidade dos ornitólogos" demonstra que conhece pouco ou não se preocupou em conhecer mais acerca de um tema complexo sobre o qual decidiu escrever. Basicamente cito duas questões de máxima importância:

Países como o Brasil já destruiram a maior parte de seu ambiente e nem assim conseguiram atingir o desenvolvimento que trouxesse dignidade a sua população, logo destruir o puco que sobrou não Trará o muito de desenvolvimento que necessitamos. Por que não utilizar as áreas já degradadas para fazer barragens, minas, plantações de eucalípto e etc?

Ao contrário do que o senhor afirma, o fato de ter asas não dá as aves liberdade para buscar novos habitats. Leia mais sobre aves antes de fazer afirmações absurdas. Diversas espécie são endêmicas de uma região limitada ou ecossistema restrito e caso este seja destruido elas não tem como simplesmente sair voando para outra parte pois são dependentes daquele ecossistema em particular. Na Amazônia os rios são limites de distribuição de vária espécies. Isto demonstra que elas não podem sequer cruzar os rios voanda. Em Cabo Frio - RJ existe um tipo de Thamnophilidae que só ocorre na vegetação de restinga entre Saquarema e Búzios. A maior parte de seu habitat já foi destruído. Um de seus últimos refúgios é a praia do Peró. O senhor acha justo extinguir uma espécie que evoluiu nequele ambiente e depende dele há milhares de anos para se construir um resort ou seja lá o que queira fazer lá para o bem de seres humanos que tem opção? O pássaro infelizmente não tem opção. Mas isto o senhor ignora.

É justíssimo se preocupar com as condições de miséria e subdesenvolvimento dos seres humanos mais carentes. O que não é justo é culpar os poucos seres humanos que tiveram acesso a uma educação de melhor nível de querer impedir o desenvolvimento daqueles porque estão mais preocupados com "passarinhos" e "miquinhos". A questão não é esta. A questão é que todos nós, ambientalista ou não, devemos juntar esforços para encontrar meios sustentáveis de desenvolvimento que não destruam o pouco dos ambientes preservados que restaram depois de séculos de prevalência da sua lógica. A lógica é justamente o inverso: Quanto mais poreservarmos o meio ambiente, melhor será a qualidade de vida dos seres humanos, carentes ou não. O ser humano, diferentemente das outras espécies pode buscar alternativas de energia, consumo e ocupação do território que não agridam o meio ambiente.

Não se esqueça que nós somos apenas uma das várias espécies que habitam o planeta e as outras tem tanto direito quanto nós de continuar a habitá-lo. Segundo sua lógica, quando destruirmos tudo não haverá mais como nos desenvolver. O que faremos então?

Ricardo Gagliardi

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Assim como seu texto, acredito que sua vida de jornalista é desnecessária. Para que abrirmos um jornal ou página de notícias na internet para ver um perfeito mal-letrado falar mal da vida alheia? Seria muito mais cômodo ir para as praças públicas e escutar as senhoras columbófilas falando da vida alheia que seria muito mais fácil e poético. Agora um BUNDA MOLE que deve ficar sentado atrás de um computador dentro de uma sala de ar condicionado pouco se importando qual será a qualidade de ar que seu filho vai respirar, quais "passarinhos" ele verá LIVRE EM SEU HABITAT NATURAL, se todos, como o senhor disse "voaram para a vasta Amazônia". Sou totalmente contra ao seu capitalismo idiota. Sou Presidente de uma ONG que visa sim, conservar (que preservar é quase impossível aqui no Brasil, pois existem pessoas como o senhor) o pouco que resta e combater falsos moralistas como o senhor. O "progresso" tem que vir sim, mas de modo sustentável. Quando o senhor for viajar para NY, que deve ser seu país de origem (pelo que dizes, seria bom que continuasse por lá, até mesmo se não for de lá), abra um pequeno atlas de segundo grau e veja a extensão da Amazônia de 30 anos atrás e veja agora. Outra coisa de gente que não sabe o que está falando: em falar sobre Amazônia, seu solo é um dos piores para monocultura. Seu solo depende das árvores para serem enriquecidos rapidamente, antes que a matéria orgânica seja carreada pela água da chuva (que só cai nessa região por causa das benditas árvores que o senhor quer que não existam mais naquele e em qualquer outro local). Veja bem ao falar mal de uma profissão, seja ela qual for. Sua profissão tem um histórico horrível! A décadas atrás qualquer um poderia ter uma carteira de jornalista. Era só fazer uma mísera prova e voalá, sou jornalista. Para ser ornotólogo, tem que, no mínimo, estudar 8 anos.

Pense muito antes de falar na importância de cada profissão e pense também na vida de seus filhos, se é que o senhor tem e se sua preferência sexual o permite.

Igor Camacho

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Olá meu querido senhor,

resolvi escrever esse e-mail diante de tão grande absurdo que li e uma de suas reportagens. Tenho trabalhado com inúmeras empresas que agridem o meio ambiente, de dois anos pra cá venho tendo surpresas interessantes. Iniciativas conservacionistas por parte destas empresas a fim de entrar nas especificações que a união européia, a fim de apresentar produtos sócio-ambiental mente corretos e limpos de qualquer escrotisse de países sub-desenvolvidos (como colocar fogo em áreas de matas para produzir gado entende?) e escravizadores de classes humildes.

Fico surpreso pelo conteúdo de sua reportagem, porque se os grandes empresários que antes estavão pouco se fudendo para o meio-ambiente estão querendo limpar seus nomes perante seus consumidores, pergunto eu:
-em nome de que o senhor defende o interesse dessas construções que o senhor cita?
- qual a viabilidade técnica da obra perante o custo sócio-ambiental da obra?

Ornitólogos (Biólogos) não decidem sozinhos a viabilidade de um projeto mas sim um grupo multidisciplinar.

Concluo eu: a culpa não é dos Ornitólogos, mas sim da equipe incopetente que não soube resolver essa problemática, ou seja, políticos e profissionais filhinhos de papai que compraram seus diplomas e não sabem administrar em situações adversas.

Atenciosamente,

Jose Roberto Silveira Mello Junior
Biólogo - Ornitólogo
Consultor Ambiental

 
SOBRE A PERICULOSIDADE DOS ORNITÓLOGOS



Ano passado, comentei o perigo que os ornitólogos representam para a economia de um país. A idéia que temos destes senhores é a de pacatos cidadãos que adoram observar essas maravilhas da natureza, os passarinhos. Até pode ser. Mas sempre é bom desconfiar quando ornitólogos apresentam um pássaro na televisão. Normalmente, há grossa sacanagem de ONGs e ambientalistas atrás disto.

Nos dias em que vivi no Paraná, durante semanas foi vedete dos noticiários televisivos um pequeno pássaro, uma espécie de pardal, que estaria ameaçado de extinção. Chamava-se curiango-do-banhado e habitava nos arredores de Curitiba. Durante longos minutos, o bichinho era exibido em seus ângulos mais simpáticos, sempre com a mensagem: corre perigo de extinção. Ano seguinte, foi a vez de uma nova espécie de tapaculo, da família Rhinocryptidae, batizada com o nome popular de macuquinho-da-várzea. Também vivia nos arredores de Curitiba. Algumas semanas mais tarde se soube ao que vinham o curiango-do-banhado e o macuquinho-da-várzea. Para preservá-los, era preciso preservar seu habitat natural. E para preservar seu habitat natural, as tais de ONGs fizeram uma ferrenha campanha para impedir a construção de uma barragem que abasteceria a capital paranaense. Me consta que o projeto de barragem morreu na casca.

Há alguns anos, vi uma reportagem no 60 Minutes sobre uma região da Índia que abrigava quarenta milhões de habitantes. O programa começava mostrando mulheres e crianças carregando em baldes, para próprio consumo, uma água preta e lamacenta. Outras juntavam esterco de vaca, usado como combustível. Havia um projeto de uma represa para abastecer de energia elétrica e água potável a região toda. Uma ONG vetou o projeto junto ao Banco Mundial, com a argumentação de que a represa ameaçava uma espécie qualquer de tigre. A represa gorou e quarenta milhões de pessoas continuaram a beber água podre e cozinhar com esterco de vaca.

A reportagem entrevistava em Nova York, em um elegante apartamento, a porta-voz da ONG que conseguiu sepultar a represa. Não sei se a moça percebeu a ironia, mas o repórter a filma enchendo um copo de límpida água de torneira. O repórter quer saber porque privar milhões de pessoas de água limpa. A moça dizia mais ou menos o seguinte (cito de memória): não queremos que aquelas populações adquiram os hábitos de consumo do Ocidente. É como se dissesse: esses hábitos do Ocidente são privilégios de ocidentais. Vocês aí, continuem catando esterco de vaca.

Claro que a moça jamais viveu naquelas condições. Eu, água preta à parte, vivi. Em meus dias de guri, esterco de vaca era um dos combustíveis que usávamos. Outro era gravetos de chirca, um arbusto daninho que invade os campos. E também madeira de árvores, particularmente de eucaliptos. Mas hoje o Ibama proíbe derrubar qualquer árvore. Quanto à água, tinha-se água limpa. O problema é que tinha de ser buscada, operação que tomava uma boa hora de cada dia. Primeiro era preciso encilhar um cavalo, atrelar uma rasta com uma barrica, levar a barrica até a cacimba - a mais de quilômetro de distância - , enchê-la pacientemente balde a balde, usando um pano qualquer para coar a água. A fauna macroscópica ficava se contorcendo sobre o pano. Quanto à microscópica ninguém ligava e jamais vi morrer alguém por beber daquela água. A água gelada daquela cacimba até hoje me dá saudades. Quando migrei para a cidade, vi a água correndo da torneira como se estivesse diante de um milagre. Todas as casas de Roma tinham água encanada antes de Cristo. No Brasil, até hoje, milhões de pessoas não dispõem deste conforto.

Mais de trezentos projetos de barragens já foram engavetados no mundo, especialmente na África, Ásia e América Latina, por obra de ONGs. Estas organizações estão cometendo crimes contra a humanidade, ao condenar milhões de pessoas a viver longe da água potável e energia elétrica. Seus militantes são sempre oriundos de países desenvolvidos, todos pontilhados de represas. Sua ação sempre incide sobre países do Terceiro Mundo, que precisam de energia para abandonar esta condição. É preciso olhar com cautela para os defensores aguerridos da fauna. Tigres ou passarinhos, bichinhos comoventes tipo o mico-leão-dourado, constituem uma ameaça ao desenvolvimento de países pobres quando manipulados por ongueiros.

Semana passada, dois simpáticos passarinhos ameaçados de extinção ilustraram uma reportagem na Folha de São Paulo, o papa-formigas-de-topete-branco e o rapazinho-carijó. Segundo recente estudo feito por cientistas brasileiros - e americanos, como não poderia deixar de ser - as unidades de conservação pequenas têm potencial limitado na conservação da biodiversidade na Amazônia quando se trata de espécies de pássaros. A conclusão é de um novo estudo de cientistas do Brasil e dos Estados Unidos, a partir de levantamentos feitos desde 1979 numa área desmatada perto de Manaus. Os cientistas tentam entender qual é fator mais crucial para a sobrevivência de espécies em um determinado fragmento de mata que tenha restado numa região desmatada. É mais importante que esse fragmento seja grande ou é mais importante que ele não esteja muito isolado de outros trechos de mata?

Seja qual for a conclusão, é óbvio que se oporá a qualquer iniciativa para desenvolver a região. "Fragmentos de cem hectares perdem a metade do número de espécies de ave em cerca de 15 anos", diz o pesquisador, que alerta para um problema: "Para diminuir dez vezes a velocidade de perda, é preciso aumentar cem vezes a área". Confesso que não sei o que está sendo projetado para a região. De qualquer forma, desde quando passarinho é prioritário ante um projeto de agricultura ou pecuária? Por outro lado, pássaros voam. Se um território tornou-se hostil, eles buscam outro. Pássaros migram. Não é preciso ser ornitólogo para saber disto. Quando migram, não migram a pé. Asas vão longe e a Amazônia é vasta.

Isto pode ser observado no Sul do país. Afugentadas pelos agrotóxicos, muitas aves do campo estão buscando as cidades. O quero-quero, ave campestre que jamais pousou em árvores, já aprendeu até mesmo a pousar em cumeeiras de casas. Necessidade obriga. Mais algumas décadas e talvez estejam pousando em fios de telefone. Se é que até lá existirão fios de telefone.

Nos anos 70, uma foto feita por um fotógrafo do Estadão ganhou prêmios internacionais, a foto de um ninho de pomba. Isolada na urbe, sem a matéria-prima usual para a construção de seu ninho - folhas e gravetos - a pomba inovou: fez um ninho de clips. Man tager vad man haver, dizia uma profunda escritora sueca, Kajsa Varg. Em bom português: a gente pega o que a gente tem. (Em tempo: Kajsa Varg é autora de livros de culinária). Os pássaros se adaptam. Quem não se adapta são os ambientalistas, aferrados a seus dogmas ecológicos.

Esses estudos que surgem de tempos em tempos nos jornais, visando criar santuários para pássaros, não passam de pretextos de ecochatos para impedir projetos agrários, usinas, estradas. Num país que não consegue sequer dar segurança a seus cidadãos, ainda há quem queira preservar o bem-estar dos pássaros. Os pássaros-vítimas-do-desenvolvimento - ou animais - têm de ser simpáticos para comover a opinião pública. Ninguém se comoveria com a preservação dos morcegos. Que nojo! Muito menos de aranhas, escorpiões ou lacraias. Já o mico-leão-dourado é podre de charme.

Assim, quando você vir ornitólogos passeando pela floresta, de binóculos em punho, como quem inocentemente observa pássaros, cuidado: algo devem estar tramando contra a humanidade.


(15/01/2007)

domingo, dezembro 16, 2007
 
MINHAS CIDADES DILETAS - VIENA



Uma lista de cidades diletas será sempre algo muito subjetivo. Leitores me perguntem porque nunca escrevo sobre Londres. É simples: não consigo gostar de Londres, nem do universo anglo-saxão. Mais ainda, não consigo me entender com o mundo anglófono. De minhas experiências, deduzi que quem é apaixonado pelos países latinos, em geral não tem muito apreço pelo Reino Unido e Estados Unidos. E vice-versa. Minha primeira restrição a Londres é gastronômica. Alguém já ouviu falar de cozinha inglesa? Eu não. Nas duas únicas vezes que estive em Londres, me refugiava nos restaurantes italianos ou chineses. Mas isto já faz mais de vinte anos. Minha filha andou por lá este ano e achou que hoje eu já não teria problemas com culinária.

Pode ser. Mas resta um outro, os pubs. Detesto a ambiência de pubs. Isso de servir-se no balcão, de pagar cada consumação no momento de recebê-la, me afasta definitivamente de qualquer cidade. Já devo ter contado de meu súbito desejo de Espanha quando andava por Nova York. Eu pedia uma cerveja e lá vinha a garçonete de nota em punho: só isso? Ora, como posso saber se vou tomar só uma cerveja? Depende da qualidade da cerveja, da dimensão de minha de sede, do clima do bar, do interesse de minhas leituras, das conversas com minha parceira de mesa. Me acometeu então uma imensa saudade de meus garçons de Madri. Quando pedia a conta, após duas ou mais horas de bar, ouvia como resposta: ya?

Sendo homem que viaja para curtir bares, Londres está excluída das minhas diletas. Claro que é preferível ao Cairo, Argel, Tunis ou Nápoles. (Esta é a cidade mais feia e desagradável que conheço na Europa). Posso até voltar lá para ver como é hoje. Mas nesta lista me proponho a falar de cidades agradáveis para morar e Londres – pelo menos segundo meus critérios – não é uma delas.

Em quinto lugar, eu elegeria Viena. Cidade também horizontal, como gosto, arquitetura soberba, imperial, muita ópera e, fundamentalmente, muitos cafés. Eu imaginava que os cafés mais lindos do mundo estavam em Paris e Madri. É que não conhecia Viena. Encrave avançado no Leste europeu, a cidade fica um pouco fora de mão quando se viaja de sul a norte pelo velho continente. Até que um dia resolvi visitá-la.

Dos castelos e palácios, teatros e óperas, já nem falo. Falarei dos cafés, o plat de résistance de Viena. Nos dois sentidos, a bebida e os cafés propriamente ditos. Em 1983, Viena celebrou os três séculos de sua descoberta da bebida. Hoje, a cidade tem cerca de 560 cafés e mais de 680 cafés-restaurantes, pelo menos 1.200 expresso-bares e cerca de 250 cafés-confeitarias. Os cafés, conforme dito secular, constituem a segunda sala dos vienenses. Segundo Alfred Polgar, reúnem pessoas que querem estar sós, mas precisam de companhia para isso. Neles se pode tomar desde o espresso forte até o franziskaner, mais suave, passando pelo einspänner, o kleiner brauner, le kapuziner e mesmo o dito café turco. Os cafés assumem versões com álcool e sorvetes e custam até mais que uma taça e vinho.

Ou mais que uma entrada de ópera. Certa vez, eu degustava um destes cafés em frente à Staatsoper. “E se fôssemos à ópera?” – sugeriu minha Baixinha. Agora? Nem sonhar – objetei – supondo que precisasse reservar vaga semanas antes. “Tentar não custa nada” – voltou a insistir a Baixinha. De fato, não custava nada. Tentamos. Havia lugares na última galeria, em pé, reservados a estudantes. Em cartaz, O Rapto do Serralho, de Mozart. Preço, dois euros. O café custava cinco.

Café Central, Landtmann, Sacher, Hawelka, Demel, Karlsplatz, Frauenhuber, Prückel, Imperial, Sperl, Griensteidl. Muito mármore, muita madeira, muito pó dos séculos. Neste café vivia o Freud, neste outro conspirava Trotski, aqui estiveram Wagner e Hitler, ali tocou Mozart. Aqui bebia o Stefan Zweig, neste escrevia o Kloester, Klimmt preferia este outro, naquele ali discutia Karl Kraus. Este era do Elias Canetti, este outro do Arthur Schnitzler. Passei dias encantados vagando entre um café e outro, desesperado pela consciência de saber que não conseguiria fazer todos aqueles cafés divinos de Viena. Em todos, jornais do mundo todo. (Exceto do Brasil, é claro. Mas quando viajo não quero nem ouvir falar de Brasil). Um deles, até há poucos anos, oferecia a seus habitués nada menos que trezentos jornais.

De chegada, uma instituição local me desagradou. Em cada café, deixa-se o casaco na chapelaria, pelo que se paga um euro. Ora, minha parka é meu escritório, nela estão minha agenda, meus postais e canetas, meus livros. Além disso, não é simpática a idéia de pagar para entrar em um boteco. Com o tempo, relaxei. Em Viena, como os vienenses. Sem falar que, por um euro, tenho uma hemeroteca ao alcance das mãos.

Viena é uma das cidades nas quais gostaria de ter morado. Mas nem sempre se come pão quente. A quem um dia quiser visitá-la, eu diria: deixe de lado castelos e museus. Entregue-se aos cafés. Com a ciência de que, mesmo ficando lá um mês, você não conseguirá curtir sequer um décimo dos cafés que a cidade oferece.

Last but not least, mesmo sendo o mais empedernido dos ateus, assistir a uma missa em Viena é sempre um grande momento de arte.

 
LOUCURAS DE NATAL



Está circulando por email um texto a mim atribuído, intitulado Loucuras de Natal - Mulher fica nua em frente ao Muro das Lamentações. Refere-se ao caso de uma jovem que causou choque e indignação ao entrar num setor reservado para os homens, próximo ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, tirar as roupas e depois se deitar no chão do local completamente nua. O fato ocorreu há poucos dias, durante a celebração do Chanucá, a festa judaica das luzes.

Ora, o texto é e não é meu. Trata-se de uma montagem. A primeira metade do texto é mera reprodução do noticiário internacional. A segunda metade é uma crônica que escrevi, creio que em 2005, sobre a Síndrome de Jerusalém.

sábado, dezembro 15, 2007
 
JEJUAR COMO UM BISPO



"Comeu como um bispo", dizia-se antigamente, quando alguém havia comido muito. Dom Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra, Bahia, que faz greve de fome em protesto pela transposição do rio São Francisco, ainda vai criar uma expressão nova, jejuar como um bispo. O prelado, que há quase vinte dias diz nada ingerir senão soro caseiro, exibe excelente estado físico. Se Lula se mantém firme em sua disposição de não ceder à chantagem episcopal, arrisca de enfrentar Dom Cappio jejuando em seu terceiro mandato.

 
ELE É BRILHANTE!



"As pessoas que votaram contra a CPMF não usam o SUS" - disse ontem o Supremo Apedeuta. Como se os 45 senadores que votaram a favor o usassem.

 
TEMPLO É DINHEIRO



Nesta terra nossa, onde em se plantando tudo dá, o que mais dá é sem dúvida alguma o imenso mercadão das angústias humanas. Recomendo a leitura, na Folha de São Paulo de hoje, de uma série de reportagens sobre as igrejas evangélicas neopentecostais, que já têm 24 milhões de seguidores no Brasil. Considerando-se que todas têm em comum o culto do Cristo – antes ícone mais ou menos privilegiado da Igreja Católica – vê-se que o desfalque foi considerável nas hostes romanas.

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) foi fundada em 1977 por Edir Macedo, então funcionário da Lotérica do Rio. Nos últimos trinta anos, criador da nova igreja montou um império de 23 emissoras de TV – o maior conglomerado de imprensa televisiva do país – mais 40 emissoras de rádio, sem falar em outras 36 arrendadas. A rede Record é avaliada hoje em dois bilhões de dólares. Cristo rende altos dividendos.

Segundo o bispo Macedo, a Iurd é apenas cliente da Record. Ocorre que a igreja repassa à emissora, como aluguel de espaço na madrugada e a preços superfaturados, o que lucra com o dízimo de seus seguidores. Segundo dados da própria Iurd, só no Brasil eles já são dez milhões. Dados mais recentes sugerem 15 milhões. A Igreja, com apenas três décadas de existência, já está instalada em 115 países. Com tal aparato, Edir Macedo foi até mesmo “canonizado” pela Folha de São Paulo, que de alguns anos para cá mais não grafa a palavra bispo entre aspas, como antes fazia quando a ele se referia.

Para uma igreja que tem como prato de resistência as possessões pelo demônio, os exorcismos e os encostos – ou seja, as mais baixas crendices das massas incultas – é um feito e tanto. Cristo dá infinitamente mais lucros que a Bovespa em seus melhores dias.

Um outro fenômeno do mundo das finanças é a Igreja Apostólica Renascer em Cristo, fundada em 1986 por um ex-gerente de marketing da Xerox, Estevão Hernandes, e por sua mulher, Sônia, proprietária de uma boutique em São Paulo, hoje presos nos Estados Unidos. Tudo começou com um grupo de orações organizado na casa de Hernandes, que foi transferido para uma pizzaria, onde foi criada a igreja. Vinte anos depois, o apóstolo Hernandes e a bispa Sonia, mesmo vendo o sol quadrado, já têm mais de mil templos no Brasil e uma clientela de cerca de dois milhões de fiéis.

Mas o esforço missionário do apóstolo e da bispa não se resumiu à criação da Renascer. Além desta, fundaram também a Igreja Internacional Renovação Evangélica, uma espécie de igreja-laranja, criada para assumir as dívidas e protestos judiciais movidos contra a Renascer. O patrimônio acumulado pelo casal nestes últimos vinte anos é avaliado em 130 milhões de reais. Foram presos nos EUA quando tentavam entrar no país US$ 56 mil não-declarados. Condenados pela Justiça norte-americana a 140 dias de reclusão em uma penitenciária, cinco meses de prisão domiciliar e dois anos de liberdade condicional por contrabando de dinheiro, mesmo atrás das grades continuam pregando para seus fiéis, via televisão, e posando de mártires.

Fé é sem dúvida o melhor investimento. Muito melhor que ações da Petrobrás.

sexta-feira, dezembro 14, 2007
 
UM POUCO DE PESSOA



A grande poesia não faz mal a ninguém. Como a relação entre escritor e leitor é sempre uma teia de cumplicidades, suponho que não seja estranha a meus leitores a obra de Fernando Pessoa. Mas sempre há os leitores emergentes, a turma mais jovem que começa a iniciar-se no território das letras. Em atenção a estes, vou alegrar o blog com alguns bons momentos de poesia, que podem significar a descoberta de um autor. Hoje, o Pessoa, um de meus dois poetas prediletos. O outro é José Hernández.


Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

 
VATICANO ESQUECE BÍBLIA



Leio que o Vaticano defendeu hoje o "direito e o dever" da Igreja Católica de evangelizar os não-crentes e acolher os convertidos, especialmente de outras religiões cristãs. A defesa foi feita em um documento do departamento doutrinário e também ensina como os católicos devem lidar com conversões de fiéis vindos de diferentes denominações cristãs.

O documento me parece ocioso. Pelo menos no Ocidente, nunca vi quem negasse o direito de a Igreja Católica evangelizar não-crentes e acolher convertidos. Se isso ocorre no mundo árabe, bom... lá é território do Alá, não do Jeová. O problema é que a Igreja não se contenta em evangelizar não-crentes e acolher convertidos. A Igreja quer mesmo é exterminar outras crenças. Que não venha o papa dizer – como disse em maio passado – que o Evangelho enriqueceu, não destruiu as culturas nativas.

Claro que destruiu. Sempre foi política da Igreja Católica impor seu deus em detrimento de outros deuses de outras culturas. Isso, desde o Gênesis. É a tentativa lógica de expansão de um grupo de poder.

“Mas os seus altares derrubareis, e as suas colunas quebrareis, e os seus aserins cortareis (porque não adorarás a nenhum outro deus; pois o Senhor, cujo nome é Zeloso, é Deus zeloso), para que não faças pacto com os habitantes da terra, a fim de que quando se prostituirem após os seus deuses, e sacrificarem aos seus deuses, tu não sejas convidado por eles, e não comas do seu sacrifício; e não tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, para que quando suas filhas se prostituírem após os seus deuses, não façam que também teus filhos se prostituam após os seus deuses”.

Até aí, nada além da tradição de uma crença fanática e intolerante. Se hoje não se admite que a Igreja derrube altares de outras crenças, nada impede que pregue suas crendices. O que a Igreja não pode é tentar impô-las a Estados laicos, através de legislação. Ora, o Vaticano é useiro e vezeiro nestas tentativas, quando encontra clima para impor-se aos Estados. O divórcio só foi instituído no Brasil porque um dia tivemos um presidente protestante. E o aborto até hoje não é legalizado por influência da Igreja Católica.

Para o Vaticano, "a incorporação de novos membros à Igreja não é a expansão de um grupo de poder, e sim a entrada na rede de amizade com Cristo, que conecta céus e terras, diferentes continentes e eras". Terras, continentes e eras, até que se entende!

Mas que céus, cara-pálida? O Vaticano, quando fala, parte do pressuposto de que toda a humanidade participa de suas fabulações. Ora, não é bem assim.