¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, agosto 31, 2009
 
NÃO ENTENDI


Semana passada, a Suprema Corte Argentina descriminalizou o uso de maconha em pequena escala, abrindo caminho para uma mudança na política de combate às drogas no país a fim de centrar o foco nos traficantes e não nos usuários. A alta corte julgou inconstitucional abrir processos em casos envolvendo o consumo privado de maconha. Na América Latina, Colômbia e México já descriminalizaram o porte de pequenas quantidades de drogas. Brasil e Equador estudam a possibilidade de legalizar determinados usos de droga. É o que dizem os jornais.

Ou seja, o jornalismo latinoamericano está vivendo de ficções. Há muito as drogas estão permitidas no continente todo. O que se pretende, em um ímpeto de hipocrisia legislativa, é punir o traficante. Ora, se a droga tornou-se lícita, por que punir quem a fornece?

Em minha idade, já consegui entender a vida. Nascemos, crescemos e morremos. Em meio a isto, sábio é o homem que faz o melhor percurso entre começo e fim de caminho. A História, creio que também a entendo. Sonâmbulos zanzando para lá e para cá. Raros homens sensatos apontam para um rumo viável. As massas, isso que chamamos de povão, de modo geral rumam ao rumo contrário.

Difícil mesmo é entender o que pretendem os legisladores. Há uma tendência, no Ocidente, a inocentar quem transgride as leis. Ainda hoje, na Folha de São Paulo, o criminalista italiano Massimo Pavarini, ligado ao pensamento de esquerda, é claro, dizia que a idéia de punir criminosos com mais intensidade teve como origem os EUA de Ronald Reagan, nos anos 80, e difundiu-se pelo mundo como uma doença. Pavarini defende a tese de a prisão não funciona nos EUA, na Europa nem na América Latina. “Nada funciona se você pensa que a prisão pode reabilitar. Não pode. O cárcere tem o papel de neutralizar seletivamente quem comete crimes”.

Ora, prisão é punição. Tem como objetivo afastar definitivamente o criminoso de toda e qualquer vida social. É utópica a idéia de que prisão deve ser escola. Ou alguém pretende que um assassino ou estuprador volte ao convívio dos demais seres humanos? No dia em que prisão for escola, não faltarão pais que queiram enviar seus filhos para o cárcere.

Mas falava de drogas. A tendência hoje, no Ocidente, é ver o consumidor como alguém inocente. De minha parte, que não vejo crime algum em alguém querer suicidar-se com drogas - afinal, cada homem é dono de seu destino – tampouco consigo ver crime em quem fornece a droga. Se não é crime usar drogas, tampouco pode ser crime fornecê-las, ora bolas.

Caminho inverso seguem os legisladores em relação à prostituição. Em vários Estados dos Estados Unidos e mesmo em alguns Estados da Europa, prostituição não é crime. Criminoso é quem a busca. Já li notícias de policiais americanas que giram bolsinha em busca de incautos. Mal o cliente se apresenta, é regalado com um par de algemas. Pelo que entendo de Direito, isto é incitação ao crime. Não numa nação moralista como os Estados Unidos. Lá, é legítimo exercício da lei pela polícia.

Recapitulando: quem consome a droga é inocente. Quem a fornece é criminoso. No caso da prostituição, quem a fornece é inocente. Quem a consome é criminoso.

Não entendi.

domingo, agosto 30, 2009
 
SOBRE A INCOMPATIBILIDADE ENTRE
O SOCIALISMO E PAPEL HIGIÊNICO



Há vários anos venho escrevendo sobre a incompatibilidade entre socialismo e papel higiênico. Nas rápidas incursões que fiz a países soviéticos, era o primeiro problema a resolver no hotel. Jamais havia papel no banheiro, era preciso reivindicá-lo na portaria. O funcionário perguntava então quantos dias você ficaria no hotel, avaliava no olhômetro a metragem que você necessitaria e a destacava de um rolo. Mais papel, só pedindo de novo.

Vários leitores, lembrados de meus artigos, estão me enviando notícias de Cuba, onde teria chegado esta crise peculiar. Segundo The Miami Herald, la escasez de papel higiénico en Cuba ha llevado a sus residentes a recurrir a la creatividad. Actualmente, los cubanos han optado por emplear los ejemplares del diario Granma para cubrir esta necesidad.

Normal. Mas não acredito que a falta de papel higiênico tenha se manifestado apenas agora. Num país onde as pessoas vivem em nível de fome, desde há muito os cubanos devem estar conferindo ao Granma a única utilidade que o jornal tem. Não gosto de trocadilhos, mas vamos lá. Seu endereço eletrônico é granma.cu. Para o leitor lusófono, pelo menos, desde há muito estava predestinado a tão nobre função.

Segundo as autoridades cubanas, la escasez es resultado de la crisis financiera global y los tres ciclones devastadores del verano pasado, que obligaron a reducir las importaciones. La producción nacional de varios productos ha caído debido a las restricciones en la generación de electricidad y la importación de materias primas. Crise e ciclones um cazzo. A escassez de papel higiênico no mundo comunista já está implícita nas primeiras páginas de O Capital, ainda que Marx não aborde o delicado tema.

Homem do campo, esta carência eu a conheci em meus dias de guri. Não tínhamos tais luxos da cidade lá no Ponche Verde. Usava-se guanxuma, alho-bravo e mesmo sabugos. Com a chegada de alguns jornais àqueles pagos, houve um salto qualitativo na higiene anal. Não sei se alguém lembra de uma revista de extrema direita dos anos 60, editada pelo IBAD, chamada Ação Democrática. Sei lá como, ela chegava lá na campanha. Era publicada em papel couché, tudo muito chique mas pouco adequado às escatológicas necessidades humanas. Mas muito melhor que guanxuma.

Em Cuba, gerou-se um curioso fenômeno a ser estudado pelos economistas. O Granma é vendido a 20 centavos de peso, seja o jornal do dia, seja um jornal antigo. Porque a utilidade é uma só. E é comprado aos montes. Os cubanos fazem fila nos pontos de distribuição para comprar dez ou quinze exemplares do jornal do dia – ou de dias anteriores – para usá-los na higiene pessoal, enrolar lixo ou outros usos domésticos. É a glória do jornalismo: os jornais vendem mesmo sem serem lidos. Mais ainda: auxiliam na renda doméstica. Os aposentados pagam 20 centavos de peso por exemplar – equivalente a 0,007 centavos de dólar – e os revendem por 20 pesos, o que equivale a 71 centavos de dólar. Imprensa é um bom investimento na Cuba dos Castro.

Busco na rede informações sobre o uso do papel higiênico e encontro que já era usado na China medieval, no século VI. Em 589, o acadêmico Yan Zhitui escrevia: "Papéis nos quais existem citações ou comentários dos Cinco Clássicos, ou que contenham nomes de sábios, não ouso utilizar no vaso sanitário". Em 851, um viajante árabe muçulmano escreveu: “Os chineses são cuidadosos com a limpeza, e não se lavam com água quando fazem suas necessidades; mas apenas se limpam com papel”.

Durante a dinastia Yuan, no início do século XVI, eram manufaturados anualmente dez milhões de pacotes com cerca de 1.000 a 10.000 folhas de papel higiênico cada um. Em 1393, durante a dinastia Ming, 720.000 folhas de papel higiênico foram produzidas para o uso geral da corte imperial na capital, Nanquim. Sabe-se também que naquele mesmo ano foram feitas 15.000 folhas de um papel especial, feito com tecido mais suave, no qual cada folha foi individualmente perfumada. Ou seja, as sofisticações que hoje os supermercados nos oferecem, os chineses, ou pelo menos a corte imperial, as conhecia há mais de seis séculos. São luxos que suponho devem ter desaparecido nos dias de Mao, quando até canibalismo foi praticado por quem não queria morrer de fome.

Em pleno século XX, na Rússia e no mundo soviético, a função era obviamente delegada ao Pravda. Que, em russo significa, modestamente, A Verdade. O glorioso Homus sovieticus, esta primícia dos regimes comunistas, diariamente enfiava a verdade socialista no bom lugar. O que deve explicar as altíssimas tiragens do Pravda. Não sei qual é a situação hoje, vinte anos depois da queda do Muro. É bastante possível que os ex-soviéticos já estejam sendo abastecidos com papel adequado. Mas não me espantaria que...

Não sejamos injustos. Não só os bravos camaradas socialistas careciam deste conforto hoje tão comum no Ocidente. No mundo muçulmano, pelo menos em alguns países que visitei, o recurso era a água, que os chineses teriam abandonado no século VI. Você senta no vaso e quando puxa a descarga leva um sobressalto: um jato de água fria no traseiro. Os árabes completam a higiene com a mão. E também comem com a mão. Mas atenção: há uma mão para cada coisa. Cuidado para não comer com a mão errada.

Em Valayaté-Faghih, Kachfol-Astar e Towzihol-Masael, os três livros-chave onde o aiatolá Ruhollah Khomeiny, guia e mestre da Revolução Islâmica no Irã, expõe sua interpretação do Sagrado Corão, lemos:

- Não é necessário limpar o ânus com três pedras ou três pedaços de pano, uma só pedra ou um só pedaço de pano bastam. Mas, se se o limpa com um osso ou com coisas sagradas como, por exemplo, um papel contendo o nome de Deus, não se pode fazer orações nesse estado.

- É preferível agachar-se num lugar isolado para urinar ou defecar. É igualmente preferível entrar nesse lugar com o pé esquerdo e dele sair com o pé direito. Recomenda-se cobrir a cabeça durante a evacuação e apoiar o peso do corpo no pé esquerdo.

- Durante a evacuação, a pessoa não deve se agachar de cara para o sol ou para a lua, a não ser que cubra o sexo. Para defecar, deve também evitar se agachar exposto ao vento, nos lugares públicos, na porta da casa ou sob uma árvore frutífera. Deve-se igualmente evitar, durante a evacuação, comer, demorar e lavar o ânus com a mão direita. Finalmente, deve-se evitar falar, a menos que se seja forçado, ou se eleve uma prece a Deus.

Assim, se um dia você se aventurar pela Disneylândia das esquerdas, no Caribe, não esqueça de pôr na mala alguns rolos de papel higiênico. E se você ousar passear pela geografia de Alá – louvado seja seu nome! – não esqueça: não se come com a mão esquerda. Estraga a bóia.

sábado, agosto 29, 2009
 
MARINA MORENA MARINA,
VOCÊ SE PINTOU



Não sei se o leitor notou, mas todos os eventuais candidatos à Presidência da República em 2010 são de extração marxista. José Serra, que hoje posa de tucano liberal, foi um dos fundadores da Ação Popular (AP), um dos braços marxistas da Igreja Católica. Dilma Roussef, hoje petista, foi terrorista dos quadros do COLINA e da VAR-Palmares. Já Ciro Gomes, que declarava em meados de agosto estar pessoalmente decidido – “eu já escolhi. Sou candidato à Presidência” – fez percurso inverso. Iniciou sua carreira na Aliança Renovadora Nacional, a famigerada Arena que deu sustentação à ditadura militar, girou bolsinha no PPS, atual nome de guerra do antigo Partido Comunista Brasileiro e hoje faz ponto no PSB, também de origens marxistas.

Surge agora Marina Silva que, em entrevista à Veja desta semana, evoca seu passado igrejeiro mas parece ter sido acometida de amnésia: nenhuma palavrinha sobre sua militância no Partido Revolucionário Comunista (PRC), ligado ao PT, sob o comando dessa figura impoluta da política nacional, o deputado José Genoíno. Pelo jeito, o tal de pensamento liberal – hoje dito neoliberal – não conseguiu gerar sequer um líder para enfrentar o marxismo ainda vigente neste “continente puñetero”, como dizia Alejo Carpentier (ou talvez Roa Bastos, agora não lembro).

Le fonds de l'air est rouge - diziam os bobalhões de 68 em Paris. Chez nous, mais de quatro décadas depois, o fundo do ar continua vermelho.

Embora não aluda à sua militância no PRC – a palavra comunista virou palavrão – para bom entendedor a morena Marina deixa clara sua filiação ideológica: “Minha geração ajudou a redemocratizar o país porque tínhamos mantenedores de utopia. Gente como Chico Mendes, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, que sustentava nossos sonhos e servia de referência. Agora, aos 51 anos, quero fazer o que eles fizeram por mim. Quero ser mantenedora de utopias e mobilizar as pessoas”.

Com candidata que reivindica a influência desta gente, sai da frente. Ainda bem que não tem chances de eleger-se. Se bem que tanto faz como tanto fez. Os demais candidatos tampouco negariam a excelência daquela "gente".

Após 30 anos de militância no PT migrou para o PV. Mas mantém suas simpatias pelo partido corrupto. Afinal, precisa de votos: “Os erros cometidos pelo PT foram graves, mas estão sendo corrigidos e investigados. Quando da criação do PT, eu idealizava uma agremiação perfeita. Hoje, sei que isso não existe. Minha decisão não foi motivada pelos tropeços morais do partido, mesmo porque eles foram cometidos por uma minoria”.

Estranho conceito de minoria. Os petistas todos estão afogados até o pescoço em suas falcatruas e no apoio a falcatruas alheias – vide a affaire Sarney – e a morena Marina fala em tropeços de uma minoria. Insiste em afirmar que não rompeu com o petismo. “De jeito nenhum. Tenho um sentimento que mistura gratidão e perda em relação ao PT. Sair do partido foi, para mim, um processo muito doloroso. Perdi quase três quilos”. Ora, se romper com a corrupção emagrece, desconfio que todo petista optará pela obesidade.

Quanto às mentiras recorrentes de sua rival à Presidência da República, nenhuma palavrinha. Ou melhor, uma palavrinha. Mas de adesão: “Não vou me colocar numa posição de vítima em relação à ministra Dilma. Quando eu era ministra e tínhamos divergências, era o presidente Lula quem arbitrava a solução. Não é por ter divergências com Dilma que vou transformá-la em vilã”.

Santa Dilma, então! Curiosa lógica: se tenho divergências com alguém, não posso acusá-lo de nada. Adelante! A ex-ministra do Meio Ambiente, que sempre opôs dificuldades à construção de hidrelétricas na Amazônia, particularmente as de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, afirma agora que não era bem assim: “No Brasil, quando a gente levanta algum "porém", já dizem que somos contra. Nunca me opus a nenhuma hidrelétrica. O que aconteceu naquele caso foi que eu disse que, antes de construir uma usina enorme no meio do rio, era preciso resolver o problema do mercúrio, de sedimentos, dos bagres, das populações locais e da malária”. Ou seja, no que depender das marinas morenas da vida, o Brasil precisará encontrar rios sem peixes fluviais se quiser desenvolver-se.

Agora vem o melhor. De católica-marxista fervorosa, Marina morena migrou para a Assembléia de Deus. Interrogada sobre se é partidária do criacionismo, em oposição ao evolucionismo, saiu pela tangente: “Eu creio que Deus criou todas as coisas como elas são, mas isso não significa que descreia da ciência. Não é necessário contrapor a ciência à religião. Há médicos, pesquisadores e cientistas que, apesar de todo o conhecimento científico, crêem em Deus”.

Ora, a Inquisição foi mais coerente. Mandou Giordano Bruno para a fogueira e humilhou Galileu Galilei. Marina quer conciliar o que não é conciliável. Atribui sua conversão da Igreja Católica para a Assembléia de Deus à uma cura. Ou seja, saiu do barro para cair no escatol. “Para quem não tem fé, não há como compreender. Esse meu processo interior aconteceu em 1997, quando já fazia um ano e oito meses que eu não me levantava da cama, com diagnóstico de contaminação por metais pesados. Hoje, estou bem”. É mais uma dessas crentes curada por medicina de ponta que atribui sua cura ao deus bíblico.

É hora de evocar Caymmi: “Marina morena Marina, você se pintou”. Era vermelha e virou verde. Pelo menos por fora. Por dentro, continua vermelha e obscurantista.

sexta-feira, agosto 28, 2009
 
CHEF CATALÃO DENUNCIA
SEQÜESTRO DA COZINHA
ESPANHOLA PELA
EXTREMA DIREITA



Está surgindo no mundo todo uma nova cozinha, mais química que propriamente culinária, que tem feito a fama de chefs pretensamente criativos. O mais conhecido representante dessa linha de restauração é o catalão Ferran Adrià, cujo restaurante El Bulli, em Barcelona, já não aceita mais reservas para 2009. Apesar de ter três estrelas no Guide Michelin e ser considerado um dos melhores do mundo, é o tipo de restaurante que meus pés jamais visitarão, mesmo que tivesse reserva para a semana que vem.

Adrià tornou-se um expoente da chamada gastronomia molecular, que consegue extrair sucedâneos da boa e velha carne a partir de produtos da terra e construir manjares exóticos como caviar de maracujá. As cozinhas mais parecem laboratórios cheios de retortas e os cozinheiros têm formação em física e química. Segundo entrevista publicada ontem no Estadão, um outro chef catalão, Santi Santamaria, dono de um outro três estrelas, o Can Fabes, a gastronomia espanhola foi seqüestrada pela “extrema direita culinária”.

Confesso que não sabia existir culinária de esquerda e culinária de direita. Poderia até entender que feijão com arroz é culinária de esquerda e bife kobe ou caviar constituem culinária de direita. Mas a vida me ensinou que as coisas não são assim tão simples. Em meus dias de Paris, comi em restaurantes caríssimos... convidado por um médico gaúcho ligado ao Partidão. “Mas Valter, não tenho condições de comer nesse restaurante”. “És meu convidado”, me dizia ele. Se você quer conhecer os mais sofisticados restaurantes do mundo – não estou falando dos melhores – pergunte a um comunista. Eles vivem em eterna busca da melhor cozinha, para alimentar os homens da futura sociedade ideal. Mas a definição de Santi Santamaria não tem muito a ver com ideologias.

“A criatividade transbordante nos fez perder a bússola. Por décadas a cozinha se sustentou pela qualidade dos produtos frescos. Produtos que são o que são e por isso causam sensações gustativas. De repente, viramos "magos" que criam efeitos especiais com pós, sem medir as consequências disso. (...) Há um grande debate na Europa – França, Alemanha e Itália, em especial – sobre essa cozinha que as pessoas chamam de molecular, mas eu chamo de nuclear de tantos aditivos químicos que usa".

Santamaría não concorda com a presença de aditivos na alta gastronomia. Julga-a preocupante, pois aditivos que só fazem mal em grande quantidade. “E sempre vai haver alguém dizendo que se eu comer um presunto inteiro também vai me fazer mal, o que é verdade. Mas o presunto eu vejo, o aditivo, não. E o consumidor tem o direito de saber o que come”.

Aconteceu-me há algumas semanas. Fui convidado por uma boa amiga para um almoço num destes restaurantes modernosos cá de São Paulo, tocado por um discípulo de Ferran Adrià. Não vou nominá-lo, porque demonstrou ser pessoa de uma extrema simpatia. Já a tal de cozinha molecular...

A cada prato, um garçom vinha explicar do que se tratava, já que a um neófito desta nova culinária é impossível saber o que tem à sua frente. O primeiro prato parecia um ikebana. Por gozação, disse ao garçom:

- Está muito bonito, pode levar de volta.
- Mas o senhor não vai comer?
- Bom, é que eu não queria desmontar tal obra de arte.

Era uma tábua retangular preta, com três faixas paralelas brancas. O garçom disse que podia comer sem remorsos, eles remontariam o prato. Tinha uma coquille Saint Jacques cortada em seis minúsculos pedacinhos, creio que com alecrim por cima. Comi a coquille e o garçom me alertou que eu não havia provado o palmito pupunha. Que pupunha? - perguntei. Ora, pupunha eram as três faixas brancas grudadas na tábua. Eu pensava que era parte integrante da tábua.

O segundo prato - o recipiente - teria uns 7 cm por 5. Juro! Dentro vinha uma combinação de limão, melancia, sal e castanha-do-pará, que reproduzia o gosto da ostra. Mas por que não a velha e boa ostra, pô? Se bem me lembro, veio até um caviar de sagu. Esse eu não conhecia. Em meio às gororobas exóticas, havia um teco de arraia, creio que com manga. Se os demais pratos, apesar de irreconhecíveis, agradavam ao palato, a tal de arraia estava abominável. Me lembrou o sancocho, um charque de peixe que comi nas Canárias. Há uma canção tinerfenha que dá uma idéia do prato: “De tanto comer sancocho, se murió Rafael”.

Surgiu depois um aligot, uma espécie de purê de batata com queijo, que os garçons serviam fazendo malabarismos com dois garfos. Este, pelo menos, me era familiar, eu o conheci na França. Para finalizar, uma sobremesa à base de cupuaçu, que certamente foi o melhor do repasto.

Santi Santamaria vê nesta espécie de cozinha uma relação incestuosa entre chefs espanhóis, imprensa e indústria alimentícia. “É só entrar na internet que você vai ver determinados cozinheiros espanhóis se reunindo com o chefe de governo. E há mais: cozinheiros que compram saco de aditivos na Dow Chemical em nome da criatividade. Antes os cozinheiros compravam tomate, alface, peixe, frango. Isso é um insulto à cozinha. E o que é mais grave, alguns chefs comercializam esses aditivos com seu nome”.

Segundo o chef catalão, quem está por trás disto tudo é Ferran Adrià, denunciado em seu livro A Cozinha a Nu, que está sendo lançado nestes dias no Brasil. Santamaria define o que entende por extrema direita culinária: “É uma extrema direita de poder. Eles são o establishment, vendem os pós como progresso, quando os pós são uma adulteração da cozinha como fenômeno cultural. Há uma grande ruptura e nós vamos padecer dela. Assim como houve uma bolha econômica que originou a crise, na Espanha temos a bolha gastronômica: abandonamos o ofício, nos dedicamos ao puro marketing e nossos jovens cozinheiros têm a pior formação da Europa”.

Se é uma cozinha de direita, não sei. Acho que Santi Santamaria quis insultar Adrià com um palavrão ideológico. Mas trata-se sem dúvida de mais uma dessas modas pretensamente sofisticadas e caríssimas. E nisto reside seu sucesso. As pessoas que freqüentam tais restaurantes querem não exatamente comer bem, mas exibir status, potencial econômico. Vão lá para serem vistas. É o que chamo de restaurantes para pessoas jurídicas. Como têm verbas de representação, dedutíveis pelas empresas no imposto de renda, quem paga a conta não são elas. Mas nós, contribuintes.

Saí de lá com uma vontade imensa de uma boa e prosaica cantina italiana. Da velha e boa cozinha, de uma singela picanha mal passada, de um spaghetti aos frutos do mar. Ainda bem que minha amiga pagou. Se tivesse de arcar com minha conta, até hoje estaria me arrancando os cabelos.

quinta-feira, agosto 27, 2009
 
RUMO ÀS COCHONILHAS E
COCHINILLOS Y LECHALES



José Luis Rodríguez Zapatero, o premiê espanhol, está convidando hoje, em um vídeo publicitário de 18 segundos, que pode ser visto no jornal El País, "a todo el que pueda" que viaje a Lanzarote. Quando vi o vídeo, acabara de reservar hotel em Lanzarote.

Minha agente de turismo, que me presta serviços há uns bons vinte anos, nem sequer havia ouvido falar da ilha. Os brasileiros, fascinados pelas luzes das grandes capitais, costumam ignorar os pequenos pedaços de paraíso esparramados pelo planetinha. Lanzarote é uma das sete ilhas canárias e uma das mais fascinantes que conheço. Em minha modesta Weltanschauung, a única que compete com ela é Santorini, no mar Egeu. São ilhas vulcânicas, mas de belezas diferentes.

Santorini é praticamente um único vulcão que explodiu há aproximadamente 3.500 anos, erupção foi sentida em todo o mundo, mas com particular intensidade na bacia do Mediterrâneo. Segundo os estudiosos, a erupção estaria ligada ao colapso da civilização minóica, na ilha de Creta, situada 70 km ao sul.

É ilha fascinante, à qual se sobe em lombo de mulas. Estive lá nos anos 70, com a Baixinha mais uma boa amiga. Não havia lido nada sobre a ilha e nada sabia de sua geografia. Chegamos à noite. Do navio, vimos as luzes do porto que, como seria normal, estavam na linha do mar. Erguendo muito a cabeça, víamos as luzes da cidade. As moças, muito otimistas, achavam que teria táxis, um ônibus, quem sabe um elevador, para subir-se até a cidade. Eu, desconfiado. O barco nem tinha atracado e alguns gregos subiram no navio e ofereciam “mules, mules”. Baixinha, muito otimista, pensava em outra alternativa: “táxi, táxi”. Os gregos insistiam: “mules, mules”. Olhei para estibordo e vi turistas mais experientes fretando desesperamente ... mulas. Pedi três. Sem que elas tivessem idéia do que vinha pela frente, os gregos as pegaram pelo traseiro e as jogaram no lombo das bestas.

Para mim, que nasci em lombo de cavalo, nada mais natural. Elas, urbanas, jamais haviam montado qualquer quadrúpede. Um grego deu uma palavra de ordem e as mulas começaram a subir uma escadaria que parecia não ter fim. Minhas companheiras gritavam desesperadas: “pára esse bicho que eu quero descer”. Mas as mulas só entendiam grego. Subimos uma boa meia hora, à direita as rochas da montanha, à esquerda o abismo do Egeu, o navio ficando aos poucos reduzido a um pequeno ponto luminoso. No topo da montanha, o grego que nos conduzia deu uma ordem às mulas. Elas estacaram, as moças caíram ao chão. Permanecerem mudas de espanto, sentadas na borda da montanha, durante quase uma hora, olhando o abismo noturno lá embaixo.

Passado o susto, tudo foi festa. Santorini, como praticamente todas as ilhas gregas, é um porre de branco e azul. O branco do casario e o azul do Egeu. Ouso dizer que é a ilha mais deslumbrante do mundo.

Mas... também existe Lanzarote. Tem mais de 300 vulcões, consta que a metade em atividade. Não tem a altura abrupta de Santorini, nem o azul e branco do Egeu. Mas tem fascínios outros que nada ficam a dever à ilha grega. Sua paisagem é lunar e formou-se recentemente. No dia 1º de setembro de 1730, a terra se abriu e começou a jorrar rios de fogo e lava. As erupções se prolongaram por seis anos e a ilha teve um novo chilique em 1824, que surgiram mais três cones vulcânicos. Segundo um padre do povoado de Yaiza, “se abriu a terra perto de Timanfaya e uma enorme montanha se elevou do seio da terra esculpindo chamas durante 19 dias. Poucos dias depois, se abriu outro abismo esculpindo lava sobre os povoados de Timanfaya, Rodeo e Mancha Blanca”.

É para lá que eu vou, daqui a dois meses. Há filões de lava endurecida que rumam em direção ao mar, ora pela superfície, como se fosse um rio feito de pedra, ora por túneis subterrâneos. Esses túneis formam galerias e em uma delas os canarinos tiveram a genial idéia de montar um anfiteatro, onde são dados concertos, onde tive a ventura de ouvir Atahualpa Yupanqui. Em uma das montanhas de Timanfaya, o arquiteto César Manrique bolou um restaurante sobre um filão de lava viva. A lava corre dois quilômetros abaixo na terra e uma fissura na montanha leva seu calor até a superfície. Onde é assado o churrasco que o restaurante serve.

Tarde piou Zapatero. Já estou com hotel reservado. Vou comer carne assada no calor das lavas e andar em lombo de dromedários. Vou percorrer aquelas paisagens selenitas e degustar um Malvasia, o vinho da ilha. A produção do vinho em Lanzarote é a mais evidente prova de que sem vinho o homem não vive. O solo é vulcânico, por toda a parte, inviável para o cultivo da uva. Para cultivar uma vinha, primeiro é preciso plantar uma espécie de cactus, cuja raiz tem a propriedade de rachar a lava. Ao lado enterra-se a vinha e sua raiz segue a do cactus.

Há mais um problema. Em Lanzarote praticamente não chove. Espalha-se então em torno à vinha uma cinza vulcânica chamada picón, que absorve a umidade da noite. Há ainda um terceiro problema, os ventos da costa africana. Para proteger a vinha dos ventos, constrói-se um semicírculo de pedras, virado para a África. Cada semicírculo contém uma única vinha. E delas surge o Malvásia. O desenho desses vinhedos, visto do alto, é um dos mais belos espetáculos criados pelo homem, em sua sede de beber o sangue das uvas.

Last but not least, no cactus que conduz a raiz da vinha, cria-se uma espécie de pulga, a cochonilha, que produz um colorante de grande intensidade, usado na indústria alimentícia para realçar a cor dos vegetais, como o suco de tomate. É a cor de embutidos e de bebidas como campari, sorvetes e sobremesas. Serve também à produção de rouge e batom.

É para lá que vou, daqui a dois meses. Com a Primeira-Namorada, bem entendido. Nada melhor que uma ilha mágica para esquecer por alguns dias este país gerido por uma elite infame. Ilhas sempre são charmosas. Mas as capitais ainda mais. Antes de visitar as cochonilhas de Lanzarote, degustarei os cochinillos y corderos lechales de Madri, Toledo, Segovia e Barcelona.

Boa lembrança, a de Zapatero. Mas nada original. Pra variar, vou revisitar o país que mais adoro no mundo. Dedicarei também alguns dias a Tenerife, que mais não seja para fazer um aceno ao Teide maravilloso.

Salud, leitor! Mandarei notícias. Se puder.

quarta-feira, agosto 26, 2009
 
MARXISTAS E MILICOS,
UM MESMO COMBATE



Mais uma viúva do Kremlin, contra toda praxe do jornalismo ocidental, manifestou-se pela exigência do diploma para o exercício da profissão. Desta vez foi o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), relator da PEC dos Jornalistas na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania no Senado, que classificou a decisão do Supremo Tribunal Federal como “absolutamente equivocada”.

“Uma decisão absolutamente equivocada do Supremo Tribunal Federal ao decidir que, para produzir a informação, transmitir a informação, não se precisa de um profissional adequadamente formado, preparado para conduzir o processo de transporte das informações para o povo brasileiro”, afirmou. E não houve viva alma que lhe perguntasse como se fazia jornalismo no Brasil desde Hipólito José da Costa até 1969. Tampouco houve quem lhe informasse que em todos os países livres do Ocidente não se exige diploma para exercer o jornalismo.

O comunossauro Arruda ainda parabenizou o também comunosssauro senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), autor do projeto. “Vossa Excelência é o representante do conjunto do povo brasileiro, em defesa de uma categoria muito importante para a nossa nação”, disse. Só faltou dizer que decisão do STF não precisa ser cumprida e muito menos levada a sério.

São coerentes os bravos camaradas. É claro que uma lei estúpida, criada em 1969 para controlar a imprensa e o pensamento pela chamada junta dos Três Patetas, sempre agradará as viúvas do Kremlin. Marxistas e milicos, um mesmo combate.

 
DO KENYO


Janer,

Essa vereadora de Alagoas parece ignorar que as decisões do STF proferidas em ADIn tem efeito vinculante para todas as esferas da Administração. Dessa forma, qualquer lei que traga requisito para ocupar cargo público que contrarie e decisão do STF é inconstitucional e ponto final!

Qualquer candidato que se sinta prejudicado e queira concorrer as vagas de Jornalista conseguirá facilmente uma liminar pra participar desse concurso, podendo ainda entrar com uma reclamação direto no STF.

Cadê a assessoria jurídica dessa Câmara Municipal que não orientou a vereadora? Bem, na prática essas assessorias jurídicas de órgãos públicos não ajudam muito, os assessores só estudam pra passar no concurso isso quando não são comissionados. E quando aparece um assessor que estuda, leva o trabalho a sério e "quer saber mais que todo mundo", geralmente ele tem seus pareceres reformados por ordem do chefe.

Uma vez, um professor de Direito Constitucional comentou em aula que 90% da matéria legislada nas Câmaras Municipais tem algum vício de constitucionalidade.

Esse nosso país é demais!!! Deviam aproveitar a célebre frase da Ministra Marta Suplicy e mudar as palavras da bandeira de "ORDEM E PROGRESSO" para "RELAXE E GOZE".

Abraços

Kenyo

terça-feira, agosto 25, 2009
 
MÚMIA MARXISTA ALAGOANA
RESSUSCITA A EXIGÊNCIA DE
DIPLOMA PARA JORNALISTAS



Mesmo após a queda do Muro de Berlim, após o desmoronamento da União Soviética, após a desmoralização dos regimes comunistas, os comunossauros tupiniquins não desistem de caminhar na contramão História. Contrariando a decisão do Supremo Tribunal Federal, que derrubou a exigência do diploma em Jornalismo para o exercício da profissão, a Câmara Municipal de Maceió, em Alagoas, aprovou, nesta terça-feira (25/08), a obrigatoriedade do ensino superior para profissionais contratados pelos poderes Executivo e Legislativo da cidade.

A lei foi proposta pela vereadora Tereza Neuma, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), um dos últimos bastiões do obsoletismo no país. Segundo declarações da múmia,"estamos corrigindo, pelo menos em parte, o desserviço social provocado pela decisão do Supremo Tribunal Federal de acabar com a exigência de diploma universitário específico para o exercício da profissão de jornalista. A formação superior elevou, e muito, a qualidade do direito constitucional que todos temos a uma informação de qualidade".

Informação de qualidade, para a vereadora, pelo jeito é esse jornalismo eivado de ideologia feito por jovens oriundos de cursos que são laboratórios de marxismo. Em todos os países do Ocidente, o exercício da profissão não exige diploma. Quando se discute a questão, os militantes da guilda não querem sequer ouvir falar disto. É como se a exigência de diploma existisse desde os primórdios da humanidade. Ninguém quer lembrar que foi instituída em 1969 por uma junta de milicos da ditadura militar, mais conhecidos como os Três Patetas.

De repente, os velhos comunistas se apegam com unhas e dentes a uma lei instituída pelos militares que acusam de assassinatos e tortura de comunistas. De acordo com a lei, profissionais contratados para cargos de comissão, assessorias ou prestação temporária de serviço na em jornalismo terão que ser graduados na área. O mesmo procedimento também será observado para os cargos em publicidade e relações públicas.

O que em pouco difere da proibição do fumo em São Paulo, proposta por um governador de extração marxista. A legislação nacional exige a instalação de espaços isolados para fumantes em bares e restaurantes e uma legislação estadual os proíbe. A rigor, nada impede que qualquer unidade da federação – se é que o Brasil pode chamar-se de República Federativa – legalize o uso de maconha, cocaína ou crack. O que aliás seria redundante, já que ninguém mais é punido pelo consumo de drogas no Brasil.

Para os velhos comunossauros, texto legal e papel higiênico têm a mesma utilidade. O que espanta é que tais celerados ainda elaborem leis no país.

 
DA HIPOCRISIA MUÇULMANA


De uma boa amiga, que conhece bem o universo muçulmano, recebo:

O seu artigo falando das regras religiosas dos muçulmanos, eu não aguentei.

Em Ryiadh, sabe quem vende álcool? A família real saudita.

Já presenciei muito muçulmano beber álcool. No Irã então, nas festas que meu marido fazia, detonavam primeiro com as bebidas. Depois a comida. Não tenho nada contra o povo iraniano ou saudita, encontrei pessoas boas, simpáticas. Mas essa falsidade religiosa deles me irrita.

Na Malásia, tem tanta prostituta se embebedando nos bares. Nesse caso aí pegaram uma para Cristo. As regras religiosas deles é p/ inglês ver, eu conferi com meus próprios olhos.


Pois! Sem ter vivido no mundo muçulmano (apenas visitei alguns países), em meus dias de Paris tive alguma idéia da hipocrisia dos machos islâmicos. No final dos anos 70, a polícia francesa prendeu uma certa Madame Claude, famosa por enviar menininhas para os xeiques árabes. Mas menininhas de 12, 13 e 14 anos. Um policial perguntou porque ela não mandava meninas de 18, assim estaria livre de complicações legais.

Respondeu a Madame: mais Monsieur, à cet âge-là elles sont déjà à la retraite. Ou seja: nessa idade elas já estão aposentadas.

segunda-feira, agosto 24, 2009
 
KARTIKA ESPERA
PELA LUA NOVA



“Dentro do Islamismo, álcool, drogas, cigarro e carne de porco são ilícitos e não devem ser consumidos nunca. Se um muçulmano fizer uso de algum desses itens, tem no Ramadã a oportunidade de se redimir e abandonar o uso”, diz o xeique Armando Hussein Saleh, da Mesquita Brasil, em São Paulo, e coordenador do Grupo de Estudo Islâmico Brasileiro. O ramadã começou sábado passado e deve estender-se até a próxima lua nova, em setembro.

Curiosas estas interdições alimentares. Lapidar uma mulher porque teve relações antes de casar-se ou as teve com outro homem que não seu amo e senhor é perfeitamente permissível. Já comer um inocente leitãozinho ou tomar um cerveja constituem ofensas a Alá. O que me lembra episódio curioso que assisti em Lyon, na França. Um gaúcho gaudério que por lá andava, costumava oferecer de vez em quando um churrasco a seus colegas de estudo. Entre eles, havia um marroquino. Certa vez, decidiu assar um leitão. Para não excluir o Ahmed da festa, disse que era cordeiro. O árabe se deliciou com o churrasco. O gaúcho decidiu então contar-lhe a verdade. Ahmed correu para o pátio para vomitar. Ou seja, a carne foi saborosa. Bastou saber que era de porco, tornou-se emética.

“No Ramadã – diz o xeique Saleh –, o muçulmano deve se abster de água, comida, sexo, desavenças, intrigas e tudo que possa desagradar os ensinamentos de Alá. Esse período vai do alvorecer ao crepúsculo, quando se quebra o jejum. O período tem por objetivo ensinar aos muçulmanos a disciplina, boas ações e a caridade, bem mais do que em qualquer outro mês do ano. A abstenção da comida e bebida de nada adianta sem lapidar sua conduta e sua paciência e sem deixar de lado as mentiras e imoralidades”.

Este período, repleto de boas ações e caridade, será pelo jeito a salvação - temporária – de Kartika Seri Dewi Sukarno, cidadã da Malásia, de 32 anos e mãe de dois filhos. Em 11 de dezembro de 2007, Kartika foi detida pela polícia por ter bebido uma cerveja com amigas em um hotel de Pahang. Está condenada a seis chicotadas. Ora, o álcool é proibido a todo crente. Jamais tive notícias de que algum macho muçulmano fosse açoitado por ter bebido álcool. E se uma mulher ousa beber uma cerveja em pleno universo islâmico, é óbvio que os homens deverão beber cerveja e mais um pouco.

Num ímpeto extraordinário de generosidade, as autoridades da Malásia – em nome dos propósitos de caridade durante o ramadã – decidiram postergar a punição da moça. Até a próxima lua nova, Kartika será poupada das seis chicotadas, por ter cometido o abominável crime de beber uma cerveja.

Mal a lua nova ressurgir no horizonte, a pecadora será açoitada com gosto pelas autoridades, para escarmento das demais muçulmanas.

domingo, agosto 23, 2009
 
FHC ENVELHECEU E QUER
PASSAR POR JOVENZINHO



Fernando Henrique Cardoso afirmou na sexta-feira passada que um mundo sem drogas é tão difícil quanto um mundo sem sexo. É o que leio na Folha de São Paulo. Presente à reunião de criação da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, no Rio, ele defendeu a descriminalização do uso da maconha, a adoção de política de redução de danos e o atendimento a usuário de drogas na rede pública de saúde.

Esta atitude não é nova. Em fevereiro passado, o ex-presidente – que um dia disse que fumou mas não tragou, que um dia perdeu uma eleição ao vacilar ante a pergunta de Boris Casoy, se acreditava ou não em Deus, que um dia disse “esqueçam tudo o que eu disse” – anunciou que era favorável à descriminalização da maconha para consumo pessoal, defendendo a sua legalização.

Tarde piou o ex-presidente. Para começar, seria importante que dissesse isto quando era presidente. Ou, melhor ainda, quando era candidato a presidente. Mas, na época, isto era um risco de perder eleição. Continuando, considero absolutamente oportunistas as atuais defesas da descriminalização das drogas. As drogas estão há muito descriminalizadas, não só no Brasil, como em todo Ocidente.

Quando você viu, leitor, pela última vez, alguém ser preso por consumo de drogas? Talvez há uns trinta anos. De lá para cá, o consumo de toda e qualquer droga não implica punição alguma. As raves são regadas a drogas, não há quem não saiba disto, desde a polícia aos pais dos adolescentes que delas participam. As escolas têm distribuidores em seus portões, e ai do professor que ousar denunciar o uso da droga numa escola. Está arriscando sua vida. Todos professores sabem disto e todos permanecem silentes.

Hipocritamente, lá de vez em quando, para mostrar serviço, a polícia prende algum traficante. De preferência, os megatraficantes, que sempre podem render um bom suborno. É a mesma hipocrisia brandida no tratamento da prostituição. Prostituição não é crime. Mas a organização da prostituição é crime. Ora, toda profissional precisa de uma infraestrutura para trabalhar com tranqüilidade. Da mesma forma, se o consumo das drogas é permitido – como de fato o é – como terão os consumidores acesso às drogas se não houver um distribuidor? Se maconha ou cocaína não são vendidas em farmácias, é preciso que alguém as forneça.

São Paulo é emblemática no que diz respeito a esta hipocrisia. Já comentei o assunto. Enquanto José Serra proíbe o fumo – o mesmo José Serra que defendeu a indústria tabageira em Santa Cruz do Sul, quando era candidato à presidência da República – na Cracolândia centenas de farrapos humanos consomem crack à luz do dia e ao lado de viaturas da polícia. Hoje, numa rave, um adolescente entorpecido pelo ecstasy ou pela cocaína, pode ser advertido e expulso da festa se ousar acender um cigarro.

Essa gente que hoje defende a liberação das drogas está chovendo no molhado. As drogas há muito estão liberadas. Só não vê quem não quer. Por outro lado, ao afirmar que um mundo sem drogas é tão difícil quanto um mundo sem sexo, FHC está proferindo uma solene bobagem, indigna de sua carreira universitária. Álcool e tabagismo à parte, as demais drogas são decorrências do mundo contemporâneo. Se a cerveja existia desde o antigo Egito, se o vinho data dos tempos bíblicos, de lá para cá os seres humanos viveram muito bem sem maconha, cocaína ou crack.

Sem sexo não há seres humanos. Drogas são optativas. A humanidade não vai extinguir-se se não consumir drogas. Mas se extingue se não houver sexo.

FHC envelheceu e está querendo passar por jovenzinho. Fosse um analfabeto como Lula, seu gesto seria inteligível. Mas é homem que freqüentou a academia. Triste vê-lo igualado a um demagogo vulgar.

sábado, agosto 22, 2009
 
CÃES DE CEGOS POUCO IMPORTAM,
IMPORTANTE É A MÁFIA DO DENDÊ



Escreve-me Kenio Rossas:

Janer,

Vi hoje na TV Justiça que um projeto, único no Brasil, que treina cães-guia para cegos não recebe um centavo de nenhuma esfera do Governo. Eles vivem de doações. A despesa com o treinamento de um cão chega a 25.000 reais e o projeto corre risco de extinção pela falta de recursos.

Enquanto isso, o SUS gasta com camisinhas, seringas pra viciados, silicone e gel lubrificante para homossexuais... este nosso País é demais. Se cercar é um hospício e se cobrir é um circo.

Abraços, do seu leitor assíduo.


Meu caro Kenyo:

Isso de treinar cães para cegos é supérfluo. Cegos não contam. O que conta são as multidões que rendem votos. Mais importante é financiar shows de baianos. Começou com Caetano Veloso. Agora é Gilberto Gil, que vai receber R$ 445.362,50 (quatrocentos quarenta e cinco mil, trezentos e sessenta e dois reais... e cinqüenta centavos) como patrocínio de seu próximo show e DVD. O show já está pago pelo contribuinte. Mas não pense o contribuinte que só por ter pago o show poderá assisti-lo de graça ou receber o DVD como brinde. Nada disso. Terá de pagar de novo.

Diz Flora Gil, a mulher do baiano e produtora do maridão: "Meu pensamento, pra você entender, é que a lei, se existe, é para todos. E 80% dos artistas que fazem show para gravar um DVD usam recurso incentivado. Tenho dinheiro para bancar, mas, se tem como usar benefício fiscal, por que não vou usar?"

Ou seja, além de financiarmos seringas pra viciados, silicone e gel lubrificante para homossexuais, estamos financiando compulsoriamente os shows da Máfia do Dendê. Mais as mordomias da sobrinha e da neta do Sarney, os passeios de Pedro Simon com sua mulher por Paris, os turismos de Eduardo Suplicy com sua amante pela China, as visitas de Fernando Gabeira à sua filha no Exterior, os estudos de teatro de um efebo do senador Arthur Virgílio na Espanha e passeios outros de nossos representantes no Congresso.

Cegos não têm peso eleitoral. Que se lixem.

sexta-feira, agosto 21, 2009
 
JORNALISTA BOLSA-DITADURA
DEFENDE BISPO VIGARISTA
NA FOLHA DE SÃO PAULO



Escreve hoje Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo: “Durante a campanha eleitoral de 1989, esta Folha recebeu em almoço todos os principais candidatos. Menos, salvo erro de memória, Fernando Collor, no que se revelaria uma profilática premonição do jornal”.

Pelo jeito, as preocupações profiláticas do jornal morreram há vinte anos. Hoje é o dia das colunas dos três canalhas: um senador corrupto, um deputado corrupto e um jornalista bolsa-ditadura. Em sua coluna, José Sarney - que comparado a Collor o torna um homem probo -, acossado pelo Conselho de Ética do Senado, prega olimpicamente... o fim do Conselho de Ética do Senado. Com o aval da Folha.

"Ao Senado - escreve Sarney - compete julgar os membros do Supremo, e a este, os membros do Senado. Nada mais justo, democrático e de respeito à soberania popular que o mandatário do povo, eleito pelo voto, tenha direito a um julgamento isento. Assim, na reforma política, deve ser estabelecida a extensão desta norma, de membros de um Poder julgarem os do outro, que leva a se fazer sempre justiça, e não como hoje um tribunal político, um tribunal de exceção, um tribunal político partidário, como são os conselhos de ética”.

Por outras razões que não as do senador imortal – e como! – dou razão a Sua Excelência. Sempre vi os códigos e conselhos de ética como um acordo entre canalhas. Se há ética, para que conselho? E se não há ética, conselho de nada adianta. Como está se vendo agora, quando senadores de rabo preso defendem suas mútuas maracutaias.

Na mesma página, o deputado corrupto, escrevendo sobre o Senado, diz que “a instituição putrefata vai exalar seu horrível fedor sobre as forças que mantiveram Sarney”. Gabeira, se alguém não lembra, é aquele terrorista que militava no MR-8, que foi um dos responsáveis pelo seqüestro do embaixador Charles Elbrick, que viajou às custas do contribuinte durante a farra das passagens aéreas, que deitou verbo contra as bolsas-ditadura de dois vigaristas do Pasquim, Ziraldo e Jaguar, ao mesmo tempo em que reivindicava uma bolsa-ditadura junto à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, pelos dias em que passou puxando fumo em Estocolmo.

Para Gabeira, instituição putrefata é o Senado, não a múmia putrefata que o preside. A instituição putrefata vai exalar seu horrível fedor sobre as forças que mantiveram Sarney, não sobre Sarney, imune a qualquer fedor.

Na mesma edição do jornal, no caderno “Ilustrada”, o jornalista bolsa-ditadura e também imortal como Sarney – que aliás dia 9 deste fazia uma defesa entusiástica do senador corrupto – faz hoje uma velada defesa ... de Edir Macedo. Compara-o, nada menos, a Paulo, que “foi perseguido não apenas pelos povos pagãos, mas pelos próprios cristãos da nascente igreja de Jerusalém, comandada por Pedro, príncipe dos apóstolos, que não aceitava a pregação universal daquele adventício que chegara a combater com armas os próprios cristãos, dos quais mais tarde se tornaria, depois do fundador, o mais eficiente propagador e intérprete”.

Vai mais longe: compara o bispo vigarista ao próprio Cristo, "acusado de charlatanismo, de enganar o povo, de promiscuidade sexual e, por fim, de subversão: acabou, como sabemos, em cima do Calvário, pregado numa cruz que se tornou sinal de ignomínia durante três séculos, até que o imperador Constantino visse uma no céu: "In hoc signo vinces". Com este sinal vencerás”.

Sem pretender comparar, mas comparando, escreve: “Evidente que não estou fazendo comparações, nem aproximações. Mas todos os movimentos religiosos foram combatidos em suas nascentes pelo poder e pelas classes dominantes”.

Para concluir: “Maomé sofreu o diabo e parece que terminou rico, tão rico como o sr. Edir Macedo, só que não vendia espaço na TV, mas camelos. Não pretendo dar lições a ninguém, muito menos a um cidadão que se diz bispo. Mas basta a leitura de alguns trechos das epístolas de São Paulo para buscar um paralelo impressionante, embora o autor da Carta aos Romanos, um dos pilares da religião que pregava, não vivesse de dízimos nem de aplicações financeiras, mas era tapeceiro, vivia de fazer e vender tapetes, que não deviam ser lá essas coisas”.

Vai mal a Folha de São Paulo. Abriga em suas páginas um senador corrupto cujo filho, graças a um juiz amigo, impôs a censura ao Estadão, que denunciava suas falcatruas. Abriga um deputado corrupto que chama o Senado de putrefato, menos o senador que o putrefaz. E abriga ainda um jornalista bolsa-ditadura que faz a defesa, não só do senador corrupto, mas do bispo vigarista, que em óbvia litigância de má-fé impetrou mais de cem processos contra a jornalista da Folha que denunciou as vigarices de sua Igreja.

A meu ver, só falta à Folha chamar o bispo para assinar coluna em suas páginas. Triste ver um jornal que um dia foi honesto e combativo deixar-se contaminar pelos miasmas que emanam do Planalto.

quinta-feira, agosto 20, 2009
 
AZALÉIAS DE AGOSTO


Era agosto. Elas se abriam em meu jardim com essa obscenidade com que sempre se abrem as flores, cumprindo sua missão natural de flores. Quanto mais floresciam, mais fenecias. Todos as manhãs eu atravessava aquele festival orgíaco de vermelho, rosa, branco e roxo, rumo ao amarelo ictérico que começava a envelopar tua pele, essa pele que por tantas décadas acarinhei. "Onde estiver, vou sentir tua falta" - me disseste, com voz que jamais senti tão grave. Querendo afagar-me, suspeitando que pela última vez, te enganavas. Não estarás em parte alguma. Partiste para o grande nada, onde nada existe e ninguém sente falta de ninguém.

Quem vai sentir tua falta, todos os dias até o último deles, é este que fica e que em algum lugar sempre estará. Pelo menos até o dia em que não mais estiver. Quem parte descansa. Sofre quem fica. O que até me consola um pouco. Quem está sofrendo, pelo menos não és tu.

De novo é agosto e elas retomaram seu ritual exibicionista. Paranóicas, escondem-se nas primaveras e agora torturam meus invernos. Não apenas os meus, mas os de tantos outros cujos seres amados escolheram agosto para partir. Certa noite de setembro, eu conversava com jovens já contaminados pela resfeber, enfermidade nórdica que significa febre de viagens. Sedentos de vida, perguntaram a este ser tantas vezes acometido pela doença: qual é a mulher mais linda do mundo? Em que geografias pode ser encontrada?

Caí em prantos. A mulher mais linda do mundo, eu a conheci. E a tive. E agora não mais a tinha. Não a encontrara em distantes longitudes nem em países exóticos. Encontrei-a a meu lado, neste prosaico país, e nunca mais a abandonei. Quis a vida - ou talvez tenha quisto eu - que tivesse centenas de mulheres, algumas muitas queridas, outras nem tanto mas também desejadas, mais uma multidão de rostos mais ou menos anônimos, corpos sempre lembrados. Mentira da vida, mentira minha. Em verdade, tive só uma. Tu, que partiste no auge das azaléias.

"Eu não tenho medo da morte" - me disseste ainda, um pouco antes da passagem rumo ao nada. Mesmo desbotada pelo palor da vida que foge, estavas linda como nunca estiveste. Em tuas quase seis décadas, conservavas ainda aquele eterno rostinho de criança, que a passagem dos anos jamais conseguiu te roubar.

Sedada, já no torpor da morte, chamaste tuas últimas energias, te ergueste no leito. Levantando o dedinho, didática qual professora falando a seus pupilos, sussurraste com o que te restava de voz: "E se fizéssemos assim: eu assino um documento: eu, TKM, em pleno uso de minhas faculdades mentais, declaro que quero ter meus restos cremados no cemitério da Vila Alpina". Reuni minhas forças e consegui balbuciar: não te preocupa, Baixinha adorada, isto há muito está combinado, verme algum sentirá o gosto de tuas carnes. Tuas cinzas, vou jogá-las de alguma ponte em Paris, uma daquelas pontes que tanto amaste, para que saias navegando mares afora.

Passada a mensagem, te reclinaste em paz. Mas descumpri o trato. Não as joguei em Paris. Ficarias muito longe de mim, navegarias talvez por mares gelados e hostis, encalharias em geleiras e te perderias em fiordes, longe de meu calor. Com carinho, te plantei entre os rododendros e todas as manhãs passo entre ti e murmuro: adorada. É bom te cumprimentar. Mas como dói.

A vida nos foi pródiga, e isso é talvez o que mais machuque. Nestes últimos meses, tenho sentido uma secreta inveja de homens que casam com megeras horrendas. Quando elas partem, começa a felicidade. Se morrer feliz é o almejo de todo homem, esta graça não mais está reservada a quem um dia foi feliz. É duro conjugar certos verbos no passado. Dizia Pessoa:

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...

Bobagens de poeta, que tanto influenciaram meus dias de jovem. Verdade que sem ti correrá tudo sem ti. Mas isto vale para as azaléias - seres insensíveis que sequer perceberam a ausência de quem as adorava tanto - e para o resto da humanidade. Para quem perdeu o ser mais lindo da vida, é mero jogo de palavras.

As azaléias em breve irão perdendo seu sorriso orgíaco, suas cores fenecerão e agosto que vem estarão de novo florescendo, despudoradas. Tuas cores feneceram agosto passado e pelo resto de meus agostos não mais te verei florir.

(in memoriam 20 de agosto de 2003)

quarta-feira, agosto 19, 2009
 
NO CANTA QUIEN TIENE GANAS


Mal o Supremo Tribunal Federal extinguiu uma excrescência jurídica tipicamente nossa, a exigência de diploma para o exercício do jornalismo, um outro diploma surge na república das regulamentações, o de escritor. Mais uma vez, imitamos o que de pior se faz nos Primeiro Mundo. No caso, nos Estados Unidos, onde surgiram os cursos de “creative writing”. Leio na última edição do caderno “Mais!”, da Folha de São Paulo:

“O Brasil vive a emergência de um movimento literário: o dos escritores com diploma de autor. Centros culturais com lotação esgotada e professores particulares com fila de espera caracterizam a vicejante versão brasileira da disciplina "creative writing" das universidades norte-americanas”.

Mais um pouco e teremos os sindicatos de escritores exigindo diploma para o exercício do ofício. Chegamos à paradoxal situação em que você, sem ter escrito livro algum, pode intitular-se escritor, afinal tem diploma para tanto. Um como os tais de ecólogos, que julgam ser suficiente passar por um curso universitário para intitularem-se ecólogos. Ou como os filósofos contemporâneos, que julgam bastar fazer um curso de Filosofia para intitularem-se filósofos. É pretensão desmedida.

Em meus dias de Paris, quando fui matricular-me na Sorbonne Nouvelle (Paris III), a secretária, ao ver meu currículo, logo foi me titulando: “Ah! Vous êtes philosophe!” Mais non, Mademoiselle – respondi – eu apenas fiz um curso de Filosofia. Filósofo, a meu ver, é quem cria uma filosofia. Da mesma forma, concluí curso de Direito. Mas jamais me intitulei advogado, afinal nunca advoguei.

Como os escritores diplomados brotarão como cogumelos após a chuva com o tal de diploma de escritor, é claro que não terão lugar no mercado, já que hoje nem mesmo quem escreve bem consegue ser publicado. Aliás, ocorre o contrário. É publicado aos milhões quem escreve mal, vide Paulo Coelho. Não é de duvidar que surjam movimentos reivindicando cotas para escritores diplomados nos cursos de Letras, redações de jornais, estúdios de televisão, departamentos de editoras.

Escritor é quem escreve. E mais: quem escreve bem, acrescento. Apesar de imortal da Academia de Letras, este antro que abriga ou abrigou Amados, Darcys Ribeiros, Sarneys, Conys et caterva, não confiro a Paulo Coelho a condição de escritor. Venda quanto quiser, seja traduzido em quantas línguas for, para mim não passa de um escrevinhador. Como escrevinhadores são todos esses autores de best-sellers, sempre presentes nas vitrines das livrarias das grandes redes, que só buscam satisfazer os baixos instintos do homem medíocre.

Os grandes escritores que a humanidade nos legou nunca fizeram curso para escritor. Desde Platão ou Luciano de Samosatra a Cervantes, Dostoievski, Swift. Ou, se quisermos ser mais contemporâneos, Karin Boye, Orwell, Kloester, Camilo José Cela ou Ernesto Sábato. Cervantes e Dostoievski escreveram no cárcere. Swift era deão. Sábato era físico nuclear. Orwell e Kloester lutaram na Guerra Civil Espanhola. Orwell recebeu um tiro no pescoço numa trincheira, por ser muito alto e estar sempre com a cabeça exposta. Kloester foi condenado à morte e só foi salvo graças à grita internacional. Cela, por sua vez, foi soldado de Franco. Fernando Pessoa era contador. José Hernández foi fazendeiro, guerrilheiro e senador da República.

Parêntese: quando Camilo José Cela esteve em Porto Alegre para receber um doutorado Honoris Causa pela PUC, na cerimônia oficial foi ladeado por um velho comunista gaúcho, o Carlos Jorge Appel. Na saída, interpelei-o: quem diria? Tu participando de uma homenagem a um falangista? Sem jeito, nem me respondeu. Um prêmio Nobel faz amizades inusitadas.

Cervantes, aliás, era soldado de profissão. Terminou seus dias como coletor de impostos. No prólogo a Novelas Ejemplares, Cervantes lamenta seus dentes, ni menudos ni crecidos, porque no tiene sino seis y esos mal acondicionados y peor puestos, porque no tienen correspondencia los unos con los otros. Também glorifica sua mão perdida em Lepanto, herida que, aunque parece fea, él la tiene por hermosa, por haberla cobrado en la más memorable y alta ocasión que vieron los passados siglos ni esperan ver nos venideros.

Ali está o homem, mutilado pela vida mas inteiro e orgulhoso de seus feitos. Na batalha de Lepanto, lutando contra os turcos, foi ferido e perdeu os movimentos da mão esquerda. Durante cinco anos, foi escravo de um bei em Argel. Na Espanha, foi preso por questões relacionadas à cobrança de impostos. Morreu na miséria. Antes de morrer, ciente da grandeza de sua obra, Cervantes dirá de Cervantes:

Tú, que en la naval dura palestra
perdiste el movimiento de la mano
izquierda, para gloria de la diestra!


A palavra palestra, aqui, tem o sentido original grego: luta, batalha. Imaginemos que poderia produzir este manchego, que foi soldado e viajor, se tivesse se diplomado como escritor nalguma faculdade em Alcalá de Henares.

Enfim, estamos em terras brasilícas. Machado, considerado o pai da literatura nacional, era funcionário público. Seus filhos parecem querer o mesmo conforto. Com uma diferença: se outorgam o título de escritores mesmo sem ter escrito livro algum. Basta o diploma. Não vai demorar muito e teremos mestres escritores e doutores escritores.

Claro que para isso terão de submeter-se a uma banca e a um método. E quem ousar escrever sem passar pelo freio do método, arriscará incorrer em exercício ilegal da profissão. Como ocorreu com os jornalistas, por quatro décadas, por um ato da ditadura militar.

Sou mais Fierro:

No canta quien tiene ganas,
sino quien sabe cantar.

terça-feira, agosto 18, 2009
 
INSTITUTO CHICO MENDES
BRANDE BALEIAS CONTRA
O PORTO DE IMBITUBA



Do Diário Catarinense,
por Moacir Pereira:


PORTO: NOVO DEBOCHE

Depois de incontáveis audiências e reuniões, além de muita negociação, o governo Lula licitou um terminal do Porto de Imbituba (SC), em 2008. Venceu a Santos Brasil, maior operadora portuária de contêineres da América do Sul, que já atua em Santos. Com contrato que prevê investimentos de R$ 300 milhões nos próximos cinco anos. Imbituba movimentava 1 milhão de toneladas de carga. Registra, hoje, 2 milhões, o dobro. A Santos Brasil tem compromisso de movimentar 30 mil contêineres por mês, ou mil por dia, a partir de 2012. Já investiu R$ 30 milhões dos R$ 70 milhões previstos para este ano. Emprega 400 trabalhadores e técnicos. Há estudos para colocar o Porto de Imbituba na rota dos navios gigantescos, da linha pós-panamax.

Mesmo possuindo as licenças ambientais e autorizações da prefeitura de Imbituba para realizar a ampliação do cais, prevista no contrato de concessão, a Santos Brasil teve as obras embargadas pelo Instituto Chico Mendes. Está tendo um prejuízo mensal de R$ 1 milhão com trabalhadores parados.

O Instituto Chico Mendes alega que o porto está na APA da Baleia Franca e que o bate-estaca provoca ruídos, tirando o sono das baleias que circulam pelo litoral catarinense nesta época do ano. O administrador do porto, Jesiel Pamato de Souza, contesta o embargo, exibindo de público todas as licenças da Fatma e da prefeitura de Imbituba. O ICMBio não reconhece estas licenças.

Revoltado com o embargo, o prefeito Beto Martins levantou dados e denunciou:

– O Porto de Imbituba está fora da APA da Baleia Franca. E acusa outra violência: – Há dois anos, o Exército brasileiro realiza as obras de construção do molhe de abrigo. Eles têm todas as licenças em dia. Agora, também está tudo embargado.

A Santos Brasil abriu diálogo para qualquer acordo para proteção da baleia-franca. Não foi ouvido. Até a ministra Dilma Rousseff entrou no circuito. Mas se até sexta-feira o embargo não for levantado, a Santos Brasil desmonta o canteiro e abandona as obras.

Falta bom senso. E está virando deboche!

 
POR UMA TEOLOGIA CANINA


O texto abaixo pode parecer ficção. Mas não é. Eu o li em algum jornal parisiense, já não lembro qual, há mais de trinta anos. Esta idolatria em relação aos cães foi um dos fenômenos que mais me chocou em Paris. Discorri longamente sobre isto em Ponche Verde. Li sobre casais que se separavam e lutavam na justiça... pela guarda do cachorro. Havia também psicanalistas de cães. Uma delas recomendava que também o casal dono dos cães devia fazer psicanálise, já que os cães eram sensíveis aos conflitos conjugais. Se não fizessem psicanálise pela própria saúde, deviam fazê-la em nome da saúde do cão. (Parêntese: uma amiga que acaba de chegar de Paris, me contou que a última moda é psicanálise para papagaios. Gente fina é outra coisa).

Costumo afirmar que o Brasil sempre importa o pior do Primeiro Mundo. Que me conste, ainda não temos psicanalistas de cães no Brasil. Ou talvez existam e ainda não estou sabendo. Mas uma teologia canina já temos. Leio na Folha de São Paulo que a Associação Espírita Amigos dos Animais promove dois encontros semanais voltados aos “melhores amigos dos homens. Temos relatos de curas de pets em estado grave ou em que o veterinário havia dado o animal como desenganado”, afirma Sílvia Nogueira, diretora da Asseama, instituição que se diz pioneira nesse tipo de atendimento. Segundo a crença kardecista, todos os seres são espíritos em evolução que passam por todos os reinos – animal, vegetal e mineral. “Por isso, as sessões também servem para que eles compreendam melhor sua pela Terra e se preparem para desencarnar”, explica Sílvia.

Leio mais ainda no jornal: hoje, algumas denominações religiosas e seitas abrem suas portas para a busca do bem-estar físico e espiritual dos bichinhos. No templo de umbanda Caridade é Amor, há quatro meses acontecem reuniões mensais com o objetivo de dar passes espirituais nos pets. A cerimônia é rápida. Depois das orações iniciais, é feito um círculo com um ponto no centro. Os médiuns, então, incorporam as entidades. Um a um, os animais são levados ao centro da roda, onde recebem o passe.

Claro que os católicos não deixariam de lado o florescente mercado. O padre Alessandro Carvalho de Faria, por exemplo, realiza uma benção para os animais no dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais, em 4 de outubro. “A Bíblia nos diz que os animais foram criados para a convivência com o ser humano”, explica. “Por isso, as orações que fazemos são para que eles cumpram com o papel que lhes foi dado na criação, seja o de ajudar nas tarefas do dia a dia, seja o de fiel amigo.”

Pelo jeito padre Alessandro ainda não leu a Bíblia. Para começar, na Bíblia não há cães nem gatos. A palavra cão sempre aparece em sentido pejorativo. Por outro lado, o Deus de Israel exigia de sua tribo o sacrifício de bovinos, ovinos e pombos. Claro que boa parte das oferendas serviam para alimentar os sacerdotes. Aliás, as melhores partes. Em Crônicas, lemos sobre um sacrifício de ação de graças de 600 bois e 3.000 ovelhas. E um outro sacrifício de holocausto de 70 bois, 100 carneiros e 200 cordeiros. “Os padres eram em pequeno número e não podiam carnear todos os holocaustos. Seus irmãos, os levitas, os assistiam até o final do trabalho”.

Com a destruição do segundo templo pelos romanos, acaba a era de sacrifícios de animais. Pois o templo era o único lugar em que podiam ser sacrificados. O templo de Jerusalém, onde residia Jeová, na verdade era um açougue. A Bíblia diz, isto sim, que os animais existem para louvar o Deus de Israel. E alimentar seus sacerdotes.

segunda-feira, agosto 17, 2009
 
CRISTO MORREU TAMBÉM PELOS CÃES *


Um livro sóbrio e penetrante sobre um tema o mais das vezes tratado com sensibilidade desbragada e superficial. Escreve-se sobre o animal para situá-lo em relação ao homem, mas é bastante raro que os cristãos ultrapassem o estágio da poesia franciscana para chegar a uma espécie de teologia da natureza animada.

Deixemos de lado os esforços conduzidos atualmente por uma liga internacional para chegar à elaboração de uma carta dos direitos animais: a obra de Michel Damien ultrapassa em todos os pontos esta tentativa. Situa-se sobre um plano especificamente religioso e isto é o que a torna original.

A solidariedade do homem com o animal não é somente biológica, natural, ela é ontológica, transcendental, evangélica. O Cristo morreu também pelos cães. A Igreja Católica está infelizmente ausente deste debate. Os animais não receberam status algum de sua parte. No entanto, se o animal não tem a noção de Deus, ele tem em contrapartida a do homem, que foi feito à imagem de Deus. Por outro lado, os animais nos precederam sobre a Terra e deles nós somos, de uma ou de outra maneira, tributários.

“Eles nos esperam sobre o caminho do Cristo”. Eles são nosso próximo. Seu sofrimento misterioso é uma “é uma “participação das Beatitudes. Há um Evangelho do animal, que também morre nos braços de Deus”. O animal tem isto em comum com o Cristo que morre pelo mundo e cujo sacrifício é indispensável ao equilíbrio deste mundo.

O autor não tem a ingenuidade de certos vegetarianos. O destino do animal está ligado a um imenso e necessário holocausto. A Bíblia afirma que os animais serão entregues às mãos do homem, que os matará, como fez com o Cristo. A Arca de Noé é a imagem da nau (Igreja) na qual estamos todos embarcados.

Em suma, o animal está inserido num movimento religioso universal que é uma ascensão rumo a Deus. Um manuscrito bíblico copta – apócrifo – relata que o Cristo tomou a defesa de um animal de tração golpeado até o sangue e que ele amaldiçoou aqueles que o golpeavam.

Michel Damien conclui: “o tempo da excomunhão da natureza é passado. Nós estamos agora em uma era onde o ecumenismo se torna planetário. A unidade dos seres vivos se realiza com o Cristo”.


* L’ANIMAL, L’HOMME ET DIEU, de Michel
Damien. Editions du Cerf, 216p., 45 F.

 
NOVA RELIGIÃO


Como escrevi há pouco, Quaglio, tornou-se ridículo falar em lutas de classes. Fala-se agora em proteção da fauna. É a nova fórmula que as esquerdas encontraram para combater o pérfido capitalismo, sem empunhar bandeiras esfarrapadas pelos ventos do século. Todo comunista, de 89 para cá, virou ecologista. Logo eles que conseguiram o feito de destruir um mar. Feito que não é para qualquer mortal.

Há uns bons dez anos, escrevi que quem viu muito bem o vazio de fé que assolaria o Ocidente foi o cineasta italiano Nanni Moretti, em Palombella Rossa. O filme é de 89, significativamente o ano em que caiu o Muro de Berlim. A história tem como personagem principal um deputado comunista que, do dia para a noite, perdeu a memória.

A cena final é emblemática: em uma auto-estrada, centenas de jovens correm para saudar o sol. Está inaugurada a nova religião, o culto da natureza. Religião mesmo. As reações que tenho observado em relação às minhas últimas crônicas, não são reações de pessoa sensata, mas de fanáticos religiosos.

Quanto aos “indivíduos que vivem apenas para parasitar ou destruir a civilização”, bom, o mundo animal, como também o vegetal, está cheio de parasitas. Alguns espécimes, mais inteligentes, praticam a simbiose. Quando olhamos de longe o mundo animal, tudo parece harmonia. Olhando de perto, a realidade é mais brutal. O leão sobrevive destroçando as carnes das gazelas. As hienas se alimentam de filhotes indefesos de animais. Os rapaces só vivem às custas de outras espécies. Se eu mato um animal, hoje, estou incurso em algum crime. Se um animal mata outro animal, faz parte da vida. O ser humano, pelo menos, chegou a erigir um sistema jurídico, que proíbe matar.

Quando falo do homem que construiu civilizações, cultura, ciência, estou falando da espécie humana. Nenhuma outra espécie fez tanto. As abelhas chegaram no máximo à colméia, as formigas ao formigueiro. O joão-de-barro é muito engenhoso, mas conhece um só tipo de arquitetura. Bem entendido, não faltaram homens que destruíram civilizações, culturas e ciência. Os que mais se empenharam nisto foram precisamente os católicos e os comunistas, os antecessores dos novos crentes, os sedizentes ecologistas.

 
DO QUAGLIO


Olá Janer,

Tenho acompanhado com algum interesse seu “diálogo” com os ecólogos. Muita coisa me vem à mente. Lembrei-me do Gorbachev, que, depois da queda da URSS, deixou de ser vermelho e se tornou verde. De fato, partidos políticos ou ONGs que ostentam em seus nomes e programas palavras e expressões como “ecologia”, “preservação ambiental”, ou “verde”, costumam ser a casa atual para velhos esquerdistas de todo gênero. Mas é curioso pensar que os comunistas, ao longo do século XX, foram responsáveis por desastres ambientais de proporções gigantescas, que prejudicaram indivíduos de diversas espécies animais, incluindo o tal Homo sapiens. Basta mencionar Chernobil ou o Mar de Aral.

Porém, quanto à discussão sobre ser ou não o homem melhor ou pior que outros animais, penso de forma diferente. Eu tenho como princípio pensar sempre em termos de indivíduos, e não de grupos. Procuro dar mais ênfase aos vícios e virtudes dos indivíduos. E posso te dizer que conheço dezenas de seres humanos que são muito piores do que qualquer animal que eu tenha conhecido. O ser humano, como você mencionou, construiu civilizações, cultura, ciência. Mas há indivíduos que merecem crédito por estas obras, por enriquecê-las, ou, pelos menos, por ajudar a preservá-las, e há indivíduos que vivem apenas para parasitar ou destruir a civilização. Falando de cultura, por exemplo, devemos lembrar que para cada bom músico na história humana, deve haver centenas de “funkeiros” ou similares. Confesso que não tenho em alta conta a espécie humana, de modo geral. Não admiro a humanidade, e sim indivíduos cujos méritos, longe de torná-los mais “humanos”, os distanciam do “homem médio”, que é mais representativo da espécie. A espécie dos cães, todavia, desperta minha admiração.

O que me aborrece é a associação imediata que se costuma fazer entre causas justas, como o combate à crueldade contra os animais, ou a preocupação com alterações climáticas, e a leviandade de esquerdistas “verdes”. Se sinto compaixão pelos animais, acho que estou bem acompanhado. É possível encontrar este sentimento lendo o verbete sobre animais do Dicionário Filosófico de Voltaire. Schopenhauer associava esta compaixão pelas bestas à bondade de caráter. E vejo com simpatia o gesto atribuído a Nietzsche, de defender um cavalo que estava sendo espancado por um cocheiro.

Um abraço,

Humberto Quaglio

domingo, agosto 16, 2009
 
NO PANTANAL, O PIRAPUTANGA
E O PAPAGAIO-DO-PEITO-AZUL



Olá Janer,

Resido na roça Campo Grande, MS, e cá o ambientalismo já se alastra nas percepções jurídicas. Avisa-me o piedoso mestre universitário ecológico que as usinas de álcool em pleno Pantanal estariam por eliminar um peixe interessante, o conhecido piraputanga, e o papagaio-do-peito-azul, animalzinho carismático. No mínimo interessante que, seguindo em seu raciocínio apocalíptico, profetiza que as perdas humanas serão maiores se não for interrompido o processo de industrialização da região. Ou seja, propaga que a eliminação humana, agora em número reduzido, é necessária à manutenção da ecologia e do papagaio-do-peito-azul.

Depois, continua sua exposição acerca dos direitos humanos fundamentais e divinamente cita Canotilho, ipsis literis, aos incautos que, tal como o velho comuna, também gostam dos peixes.

Era preciso ser tão transparente? Dei leves risos diante da obviedade, mas indignado.

Abçs,

Filipe Maranhão


Pois, Filipe, as bandeiras dos ecólogos - e agora, pelo jeito, dos ictiólogos - já estão se tornando monótonas. Não bastassem o curiango-do-banhado, o macuquinho-da-várzea, o Acratosaura spinosa, o Gymnodactylus vanzolinii e o papagaio-do-peito-roxo, temos agora o piraputanga e o papagaio-do-peito-azul. Mais um pouco e descobrem o putapiranga e os papagaios de peito vermelho, verde, amarelo, lilás e cor de anil. O espectro é vasto.

Como se tornou ridículo falar em lutas de classes, fala-se agora em proteção da fauna. Abaixo o capital, as usinas e o desenvolvimento. Viva o atraso e a miséria.

 
CORRUPÇÃO NA ACADEMIA


Olá, Janer, tudo bem?

Esses dias, andei lendo um texto seu em que você critica os pavões da Academia Brasileira de Letras e a infantil necessidade de autoafirmação daqueles senhores, de muitos dos quais eu nunca ouvi falar... Pois bem: não é que neste mês de agosto a revista National Geographic Brasil traz um reportagem sobre aquele clube de pavões tupiniquins?

O repórter da National começa a matéria com uma rasgação de seda das mais piegas: "É uma sensação estranha a de estar no meio de uma turma de "imortais". Como se minha existência houvesse de repente se tornado mera, banal, menor". Jornalista deslumbrado, qual crente na Terra Santa, nessas horas é o que não falta!

É bem conhecido o nacionalismo que há em torno da literatura nacional, a tal ponto que os vestibulandos e universitários dos cursos de Humanas são obrigados a engolir obras indigestas porque são "nossas". Mas de acordo com o seguinte parágrafo da reportagem, a vestimenta dos acadêmicos, os sedizentes imortais do "orgulho literário nacional", não reflete a cultura do país cujas letras eles julgam representar: "O modelo do fardão (roupa usada pelos eleitos da ABL para tomar posse da "imortalidade") é inspirado na roupa dos carabinieri, os policiais da região da Calábria, na Itália. É composta de casaca verde-musgo bordada com fios de ouro, camiseta, suspensório e chapéu em estilo Napoleão. O fardão é todo feito à mão, leva de 30 a 40 dias para ficar pronto e envolve cinco profissionais na confecção. Cardoso (o alfaiate-chefe) introduziu uma novidade na vestimenta: "O fardão era de lã; eu faço de cambraia inglesa, que é um tecido mais adequado a nosso clima. Os imortais aprovaram", revela o alfaiate sorrindo".

Mas a cereja desse bolo eu tirei do meio do parágrafo citado supra e destaco aqui: "Normalmente, quem paga a conta da roupa é o governo do Estado onde o escritor nasceu".

Resumo da ópera: esses singelos senhores se intitulam imortais da literatura brasileira, mas na hora da pompa usam um fardão, certamente caríssimo, baseado no requinte da cultura branca européia, que muitos deles costumam menosprezar publicamente. E quem paga a conta? Eu, você, meus vizinhos, seus vizinhos. O que mostra que hipocrisia e corrupção costumam formar um belo par na ABL...

De seu assíduo leitor,

Lourival M. de Souza Jr.



É por aí, Lourival!

Além de pagarmos silicone para travestis, produção de filmes para cineastas, produção de shows para o Caetano Veloso, produção de espetáculos para o Cirque du Soleil, bolsas-literatura para escritores já corruptos desde o berço, bolsas-família para vagabundos que esperam sentados suas bolsas, bolsas-ditadura para vigaristas de esquerda que um dia tentaram fazer do Brasil uma imensa Cuba, pagamos também os parangolés dos Sarneys e Conys e Darcys Ribeiros da vida. O fardão do Carlos Nejar, por exemplo, foi pago pelo governo do Turquinho Simão – como era chamado Pedro Simon, esta jóia sem jaça – quando governador do Rio Grande do Sul. Isto é, foi pago pelo contribuinte gaúcho.

Por muito menos que isto, os Estados Unidos proclamaram sua independência. O contribuinte brasileiro, manso como boi na canga, paga sem tugir nem mugir.

Ama com fé e orgulho,
a terra em que nasceste.
Criança! Não verás
país nenhum como este.

sábado, agosto 15, 2009
 
MACACO NÃO TEM
PONTO DE VISTA



Não sei o que me diverte mais, se cutucar católicos ou ecólogos, ornitólogos et caterva. Comunista já não tem graça xingar. Vinte anos depois da queda do Muro, exceto alguns delirantes, eles enfiaram o rabo entre as pernas e já nem ousam pronunciar a palavrinha que os distinguia dos demais míseros e ignaros mortais. Petista tampouco. Perderam não só ideais como qualquer resquício de vergonha.

Petistas, estes sim, são espécimes em extinção. Ecólogos e ornitólogos deviam, a meu ver, preocupar-se mais com essas aves raras de tão curta existência do que com os curiangos e macuquinhos que, afinal, tiveram maior permanência no tempo. O PT, aquele partido que há vinte anos defendia os direitos humanos, igualdade, socialismo e revolução, virou um grande PMDB, que agora defende Sarney, turismo na Europa às custas do contribuinte, atos secretos e mensalão. Assim, para meu lazer, só me restam os católicos, ecólogos e ornitólogos.

Se pretendem defensores da liberdade, mas são visceralmente totalitários. Os católicos existem há quase vinte séculos e ainda não perderam os tiques da Inquisição. Ecólogos são mais recentes, existirão há três ou quatro décadas, mas não perderam os tiques do stalinismo. Uns e outros querem abafar qualquer opinião contrária. Quando eu escrevia no jornal católico-astrológico Mídiasemmáscara, tanto astrólogos como papistas exigiram minha cabeça. Não levaram, porque abandonei o barco antes. Tive um artigo censurado e não admito censura nestes dias de Internet. Caí fora.

Agora são os ecólogos e passarinhólogos a exigir minha defenestração. Como seria absurdo pretender censurar-me em meu blog, sugerem expulsar-me do Baguete, onde assino crônica semanal há vários anos. Quando escrevi sobre os catadores de macacos que estão ameaçando a revitalização de uma rodovia, recebi dezenas de protestos. Nenhum discutia o mérito da questão. Fui desqualificado como ignorante, preconceituoso, desinformado e insultos do gênero. Em momento algum se discutiu a crucial questão se a existência de um macaco pode ser motivo para vetar uma rodovia que une cidades e seres humanos. Os ecólogos parecem ter aprendido muito com a advocacia dos corruptos. Tudo é discutível, menos o mérito da questão. Escreve um leitor:

Realmente é admirável, ou melhor, lamentável, como ainda há pessoas com esse tipo de pensamentos e falta de capacidade para entender a atual crise ambiental na qual vivemos. E mais admirável ainda que essa pessoa possa publicar um artigo de tanta baixa qualidade aqui.

Ao que faz uníssono um outro:

Seus editores arriscam a credibilidade de seu jornal em deixá-lo escrever o que pensa.

Traduzindo: não permitam mais os editores que o Janer continue escrevendo no jornal. Assim como um juiz bom e barato conseguiu impedir o Estadão de denunciar as falcatruas de um filho do Sarney, os aguerridos e democráticos e humanistas ecólogos pretendem que eu seja proibido de denunciar seus delírios apocalípticos.

Mas o que mais me divertiu não foi este propósito de censura, e sim uma singela pergunta da leitora Andrea Ramos Santos:

Por acaso os seres humanos são melhores e mais especiais do que o restante da natureza?

Para a Andrea, não sei. Para mim a resposta é óbvia. Claro que nós, seres humanos, somos melhores. Fomos nós que construímos cidades e civilizações, cultura e arte, ciência e tecnologia. Os macacos continuam pendurados pelo rabo, saltando de galho em galho, vivendo de caça e coleta. O ser humano construiu casas, prédios, domesticou sementes e animais, desenvolveu agricultura e pecuária. Construiu fortes e muralhas para defender seus territórios. Em suma, utilizou seu engenho para perpetuar sua espécie. Os ecólogos defendem espécies em extinção. Mas que fizeram tais espécies para permanecer no tempo? Nada. Algum macaco construiu uma muralha para defender sua raça? Não construiu. Não é portanto de estranhar que se extingam. Hoje, quando conseguem escapar da extinção, é graças aos esforços destes seres que a leitora acha que não são melhores e mais especiais do que o restante da natureza.

Não faltou uma antropóloga desvairada, creio que nos anos 70, que pretendia conferir personalidade jurídica aos gorilas. A meu ver, os gorilas não foram consultados. Não sei se prefeririam submeter-se aos direitos e deveres que uma personalidade jurídica implica, tais como trabalhar para ter direito a um salário, suar o topete para garantir saúde e habitação, submeter-se às normas do Direito de Família para constituir prole e incomodações outras típicas do Homo sapiens. Sem ser gorila e portanto sem conseguir pensar como pensaria um gorila – se capaz de pensar fosse – intuo que aqueles primatas prefeririam continuar pastando tranqüilamente em suas selvas do que submeter-se à condição de um cidadão cercado por direitos, mas também por deveres.

Milhões de espécies foram para o beleléu, sem interferência alguma do ser humano. Onde estava o ser humano quando os grandes sáurios sumiram da face da terra? Os seres humanos ainda nem estavam.

Eu sou melhor, sim senhora, e bem mais especial que qualquer macaco, curiango-do-banhado ou macuquinho-da-várzea. Se você não se acha melhor, nada posso fazer. Beira o ridículo ter de discutir tal obviedade. Claro que é o meu ponto de vista. Outro seria o ponto de vista dos macacos, suponho.

Ocorre que macaco não tem ponto de vista.

 
COMENTÁRIO DO RAPHAEL PIAIA


CATADORES DE MACACOS

Acabo de voltar do Baguete. Impressionante! A cada pedrada que o Janer joga, uma nova revoada de ecólogos se forma. Forma-se, veja só, exigindo a cabeça dele. Quase posso imaginá-los levantando foices e tochas enquanto comem tofu.

Para quem não acompanhou a contenda, Janer escreveu um artigo denunciando a curiosa predileção que ecólogos, ornitólogos e ambientalistas têm aos pássaros e macacos em detrimento de seres humanos. Comentou inclusive sobre uma ONG estrangeira que conseguiu vetar um projeto indiano destinado a abastecer por volta de 40 milhões de pessoas com energia elétrica e água potável (as salvando do consumo de água podre e esterco de vaca) sob a seguinte justificativa: “Não queremos que aquelas populações (populações indianas) adquiram os hábitos de consumo do Ocidente”. A representante da ONG fez tal declaração, como já é praxe, direto do conforto de seu apartamento no Ocidente. Apartamento onde desfruta de água limpa e aquecida provavelmente sem nem mesmo perceber, tão acostumada que está a essas comodidades. E então o leitor me pergunta: o que o Janer disse sobre essa história? Ora, o Janer, caro leitor, o maléfico Janer, se opôs ao histerismo dos que abraçam árvores enquanto chutam crianças. Pois é, ele é mesmo um sujeito perverso…

Esse ódio ao homo sapiens não é tão novo nem difícil de explicar. Aliás, fácil de explicar mas difícil de entender. Penso que essas pessoas têm aversão por si mesmas, ou talvez estejam apenas muito vazias, tão vazias que buscam alguma causa – qualquer uma - que as preencham. Há pouco, comentei em outro artigo sobre a ex-vice-presidente da organização PETA (aquela entidade que luta contra as pesquisas científicas que utilizam animais). Essa senhora, gigante da coerência, só pode tratar a diabetes que a acomete graças a um tratamento desenvolvido com o uso de animais. Isso constrange os heróis da PETA? Nope! A presidente do grupo, Ingrid Newkirk, já afirmou que mesmo se das pesquisas com animais resultasse a cura para a AIDS, eles permaneceriam contrários a elas.

Dias atrás, em algum canal a cabo, eu assistia à propaganda de um documentário sobre o tratamento bárbaro dispensado aos animais em abatedouros. Até aí, a coisa ia bem. Crueldade desnecessária é sempre estúpida. Ocorre que então um rapaz apareceu relatando repleto de orgulho o momento de sua maior epifania. Disse algo mais ou menos assim: “Um belo dia me perguntei: por que as vidas das pessoas seriam mais importantes que a do meu cachorro?” Foi essa minha deixa para mudar o canal.

O Janer chegou a comentar que ecólogo é uma daquelas profissões não regulamentadas, ou seja, assim como astrólogos e psicanalistas, qualquer um pode se declarar profissional dessa área. Um dos tree huggers se escandalizou: “Respeite também quem escolheu as profissões que o sr. destratou. PRECONCEITO é crime!!!!“

Inseguros, histéricos e buscando uma ideologia para viver, eis alguns dos garotos que cresceram assistindo demais aos desenhos do Capitão Planeta. Apesar disso, uma serventia, admito, eles têm. São realmente divertidos.

(http://zefirosblog.wordpress.com)

sexta-feira, agosto 14, 2009
 
PhDEUS USPIANO
BRANDE LAGARTOS
CONTRA EUCALIPTOS



As esquerdas odeiam eucaliptos, escrevi há alguns anos. Em 2006, para comemorar o Dia Internacional da Mulher, duas mil mulheres do movimento Via Campesina, destruíram um laboratório e um viveiro de mudas de eucaliptos da Aracruz Celulose em Barra do Ribeiro (RS). Vinte anos de pesquisa e alguns milhões de dólares foram jogados ao lixo. Eram lideradas por ativistas da Noruega, Canadá e Indonésia, mais um representante do País Basco, que atendia pelo basquíssimo nome de Paul Nicholson.

Em outubro de 2005, cerca de 300 índios tupiniquins e guaranis, reivindicando terras indígenas, ocuparam três fábricas da Aracruz Celulose S/A, em Aracruz, ES. Para dar apoio à justa causa índigena, um ônibus com estudantes saiu da Universidade Federal do Espírito Santo, entre eles - atenção! - dez noruegueses.

A luta contra os eucaliptos continua. O curiango-do-banhado e o macuquinho-da-várzea já conseguiram atrasar as obras da Barragem do Iraí, no Paraná. O papagaio-do-peito-roxo até hoje está impedindo a completa duplicação do trecho paulista da Régis Bittencourt (Curitiba-São Paulo). Um macaquinho batizado como mura está ameaçando o traçado da rodovia BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM). Para enfrentar os eucaliptos, foram agora contratadas duas novas espécies de lagartos, o Acratosaura spinosa e o Gymnodactylus vanzolinii, já devidamente registrados na revista científica Zootaxa. Este é o primeiro passo usado por macacólogos, passarólogos e lagartólogos para poder brandir com eficácia a fauna animal contra o desenvolvimento do país.

As duas novas armas contra os pérfidos eucaliptos foram descobertas pelo biólogo José Cassimiro, doutorando do Departamento de Zoologia da USP. Os dois novos lagartos-expiatórios já são tidos com “uma fauna tão única - e ameaçada. Em campo, a gente constata que esse tipo de ambiente vai pelo mesmo caminho que os nossos outros biomas", lamenta o pesquisador. E atenção ao cerne da questão, o inimigo mortal dos lagartos: "Plantações de eucalipto já são comuns em algumas áreas", afirma. E tem mais. Cassimiro ameaça descobrir mais três potenciais novas espécies. Abaixo os eucaliptos!

Sem ser biólogo, ecólogo nem ólogo de espécie alguma, nasci cercado por eucaliptos. E lagartos. Nunca vi eucaliptos ameaçando a existência dos lagartos. Quem a ameaçava era eu, que tinha um prazer especial em caçá-los, chegando a disputar com meus cães pelo menos uma parte do troféu, o rabo. Era iguaria muito apreciada em meus pagos e tem uma característica curiosa: você pode cozer por duas ou três horas o rabo. Na hora de espetar o garfo, ele ainda se mexe.

Senhores biólogos, zoólogos, entomólogos, ornitólogos, ecólogos e ólogos afins: já está ficando por demais batido esse recurso aos bichos para impedir estradas, anéis rodoviários, barragens e eucaliptais. Vem sendo usado no mundo todo, em defesa de interesses econômicos do Primeiro Mundo. O caso do eucalipto é emblemático. Não por acaso, as depredações dos laboratórios da Aracruz foram lideradas por países que são grandes exportadores de celulose, Noruega, Canadá e Indonésia. Que têm a ver estes senhores com nossas plantações de eucaliptos?

Têm muito a ver, como já escrevi há três anos. Entre as espécies utilizadas para a produção de celulose, o eucalipto é hoje a mais rentável. Seu ciclo de crescimento é de sete anos, em contraposição às coníferas do litoral americano, que levam quase um século para amadurecer. O choupo, outra matéria-prima da celulose americana e canadense, só atinge sua altura plena após 15 anos. Se as florestas dos Estados Unidos rendem entre dois e três metros cúbicos madeira por ano, as cultivadas pela Aracruz rendem, no mesmo período, 45 metros cúbicos. Ou seja, a indústria da celulose a partir do eucalipto é extremamente competitiva.

Segundo a FAO, a produção mundial de celulose atingiu 162 milhões de toneladas em 1999. Estados Unidos e Canadá responderam com 52% do total produzido. A Noruega hoje exporta cerca de 90% de sua produção de celulose e papel. A Indonésia, principal exportador de celulose de fibra curta da Ásia, tem 70% de seu território coberto por florestas, num total de 143,9 milhões de hectares. Não me parece necessário ter a intuição de um Sherlock para perceber porque um "basco" chamado Paul Nicholson, mais representantes do Canadá, Noruega e Indonésia, coordenaram a depredação do laboratório gaúcho. Desde há muito instituições católicas européias - Misereor e Caritas, entre outras - vêm financiando o MST para destruir a estrutura agrária do País. São os cartéis do papel que injetam recursos na guerrilha católico-marxista brasileira para destruir uma indústria que representa cerca de 5% de nosso PIB e dá emprego a dois milhões de pessoas.

Coube agora a um PhDeus uspiano erguer uma nova bandeira, dois lagartos. Nada de espantar. A USP, além de ter sido a universidade que introduziu e difundiu o marxismo no país todo, continua sendo o mais aguerrido bastião acadêmico do obscurantismo comunista no Brasil.

Longa vida a Marx, ao Acratosaura spinosa e ao Gymnodactylus vanzolinii! Morte à produção competitiva de celulose!

quinta-feira, agosto 13, 2009
 
CANALHAS UNIDOS
JAMAIS SERÃO
VENCIDOS



Enquanto isso, a Folha de São Paulo continua dando guarida em suas páginas a um senador corrupto, a um deputado corrupto e a um jornalista contemplado com uma bolsa-ditadura. Não por acaso, Carlos Heitor Cony, no domingo passado, fez uma defesa entusiasta de seu colega de imortalidade, José Sarney:

“O caso que está agitando a política nacional e a mídia está seguindo o trânsito legal e democrático. O Supremo Tribunal, em outra ocasião, determinou que recortes de jornal não fazem prova de atos ilícitos. A Comissão de Ética e mais tarde o plenário do Senado têm todos os elementos para punir culpados ou o culpado. Atender o pedido de emprego de uma neta não é crime previsto no Código Penal de nenhum país regulado por leis e não por ressentimentos”.

Como se fosse só de pedir emprego à netinha que Sarney é acusado. Canalhas unidos, jamais serão vencidos. Não bastasse defender o senador corrupto, hoje Cony faz a apologia de outro canalha, Darcy Ribeiro. Não por acaso, também colega de fardão. Ao que tudo indica, não só a Folha de São Paulo e o Senado são valhacoutos de canalhas. A Academia Brasileira de Letras também. Escreve o cronista contemplado com a bolsa-ditadura:

Psicólogos de diversos tamanhos e feitios garantem que cada um tende a admirar pessoas e coisas diferentes de nós e das nossas. Acho que não é verdade, mas sempre admirei o finado senador e acadêmico Darcy Ribeiro na sua capacidade de perceber o cheiro das mulheres da Namíbia, lá do outro lado do Atlântico, que o meu amigo Alberto da Costa e Silva chama de rio a separar dois continentes.

Explica-se: Darcy morava em Copacabana, ali pela altura do Posto 5. Acordava e sorvia o ar que vinha do oceano. E jurava que sentia o cheiro das mulheres de lá, o bodum das negras queimadas e suadas pelo rigor do sol africano.


Imagine o leitor se alguém escreve, por exemplo, que negros fedem. Será imediatamente incurso em crime de racismo. Já o imortal e senador Darcy Ribeiro pode. Está acima do bem e do mal. Pode falar em bodum das negras à vontade. Mas vai mais longe o cronista bolsa-ditadura:

Não sei se ele se excitava com tal sorvo, tratava-se de um ilustre antropólogo, que sabia das coisas. (...) Bem, além de antropólogo, Darcy era poeta, via e sentia coisas que me são vedadas.

Isso é verdade. Ao ilustre antropólogo, qualquer sandice era permitida. Hoje os jornais condenam as duas aposentadorias no Maranhão do também imortal e senador José Sarney, que totalizavam em 2007 o valor de R$ 35.560,98. Darcy Ribeiro tinha três, e jornal algum o denunciou por isso. Darcy podia se dar ao luxo de chamar os judeus de filhos da puta, e judeu algum o processou por anti-semitismo. Podia dar-se ao luxo de espancar mulheres - e não só de espancá-las, como também gabar-se de tal feito -, e feminista alguma o acusou de machão. Abusava sexualmente de "índias decadentes" - como ele próprio as chamava - e nunca ouvi protesto algum de antropólogos ou indigenistas. Este é o perfil do antropólogo e poeta louvado pelo bolsa-ditadura Carlos Heitor Cony.

Y a las pruebas me remito. Reproduzo artigo que publiquei há doze anos, na revista Brazzil, nos Estados Unidos, já que jornal algum no Brasil ousaria publicar tal irreverência em relação ao ilustre antropólogo. Observe o leitor as flores que entrevistam o senador: Antonio Callado, Antonio Houaiss, Eric Nepomuceno, Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer, Zelito Viana e Zuenir Ventura.

 
COMO UM VIGARISTA
CONSTRÓI SEU PEDESTAL



O ano de 1997 viu desmoronar no Brasil um dos mitos mais frágeis criado pela intelligentsia brasileira. Ou talvez fosse melhor falarmos de burritzia. O mito em questão é o senador monoglota Darcy Ribeiro, que construiu toda sua vida e carreira sobre mentiras. Morreu em fevereiro deste ano e deixou um lixo póstumo, Mestiço é que é bom (Editora Revan, Rio, 97). Antes de entrarmos nas falcatruas do senador, leiamos algumas pérolas de seu pensamento. Neste livro, Darcy é entrevistado pelos mais ilustres comunossauros tupiniquins, como Antonio Callado, Antonio Houaiss, Eric Nepomuceno, Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer, Zelito Viana e Zuenir Ventura. A relação destes nomes é importante. Não fosse o testemunho destes seus amigos, seria difícil de acreditar nos parágrafos seguintes.


O terror das virgens

Uma das revelações surpreendentes de sua obra póstuma, é o prazer cultivado pelo ilustre humanista de Minas Gerais em espancar mulheres. Oscar Niemeyer, um dos mais sólidos bastiões do stalinismo no Brasil, levanta a bola e Darcy chuta em gol:

OSCAR NIEMEYER - Teve uma história que você me contou uma vez que era mais complicada, que jogaram você numa estrada de ferro.

DARCY - Foi em Paris, na primeira vez que eu fui a Paris, em 54. Lá, encontrei uma coisa incrível, uma menina, de família turca, libanesa, de Rio Claro, em São Paulo. Ela tinha ganho, aos dezoito anos, o prêmio de língua francesa, era estudante. Eu cheguei lá, vindo da Suíça, tinha passado um mês na Suíça, trabalhando. Quando cheguei em Paris, por acaso encontrei com a menina, gostei da companhia, fiquei andando com ela.

Ela estava com uma vergonha enorme de ser virgem - a francesa é muito mais cuidadosa da virgindade que a brasileira, a francesa de família burguesa - mas ela, vivendo na Rive Gauche, lá ela estava com vergonha de ser virgem, porque os meninos namoravam e queriam trepar. Eu também quis trepar e ela não trepou. Eu já estava enjoado dela e ela me procurando como um carrapato, agarrada em mim, mas não me dava. Ia na minha pensão e não me dava. Pensão daquele tempo, em Paris! Essa menina estava com muita vergonha de ser virgem, mas com muito medo.
Então, fiquei passeando com ela em Paris. Num certo momento, nós fomos pegar o último metrô, tínhamos que pegar ou andaríamos quarteirões. Fomos para o metrô, estávamos na beira do metrô, esperando, e ela sabia que, quando chegássemos, ela ia ser comida, porque senão eu quebrava a cara dela. Logo depois eu iria embora, então era o dia dela ser comida, ela estava muito nervosa. Então, a filha da puta, num certo momento, me jogou na linha do metrô, lá embaixo. Aquele negócio é eletrificado, eu podia ter morrido! Eu fiquei querendo levantar, apoiado com a mão na beirada da plataforma, e ela pisando na minha mão. Eu fiquei com uma raiva danada e dei uma surra nela.

HOUAISS - Você conseguiu se levantar e sair de lá?

DARCY - Consegui levantar - hoje, não conseguiria -, ela pisando na minha mão. Dei uma surra nela, rapaz! Ela ficou quietinha, chorou muito e depois me deu.
Por isso é que eu estava, agora, faz pouco, andando com minha chefe de gabinete, que é uma mulher muito bonita, e com o marido dela na feira de Montes Claros e eu cheguei e disse para uma daquelas feirantes - muitas delas me conhecem:
- Como vai?
Ela perguntou:
- Quem é essa, é sua mulher?
- Não, trabalha comigo e não me dá.
- Bate nela que ela dá.


O Don Juan da aldeia

Não satisfeito em proclamar seus dotes de espancador emérito, o senador passa a gabar-se de suas aventuras sexuais como etnólogo, quando faturava algumas “índias decadentes”. Quem levanta a bola, desta vez, é o também finado Antônio Callado:

CALLADO - Darcy, a primeira vez que eu fui ver os índios, em 50 ou 51, já estava muito estabelecido que índia não se comia, para não bagunçar muito o coreto, era mais ou menos tradicional, para não começarem a comer as índias todas. Tanto é assim que, quando eu estive lá, o Leonardo Villas-Boas já estava na Fundação Brasil Central, sendo forçado a deixar o Serviço de Proteção ao Índio porque ele tinha comido uma índia, com quem se casou. Quando é que você chegou lá pela primeira vez? Nessa época já tinha essa lei?

DARCY - É verdade. Eu comecei com os índios em 46. Essa lei existe até hoje, por causa do Rondon e da antropologia clássica. Eu fui educado para não trepar com índia porque, para o antropólogo, no meu caso específico, pesquisas longas eram difíceis. Hoje em dia é que as moças começaram a dar para os índios, as antropólogas dão para os índios, gostam de transar com eles, para fazer intimidades. Tão dando mesmo, dão para eles também. Coitado, índio também é gente. Então, dão. E como elas dão, os homens também começaram a comer as índias, antropólogos de primeira geração. (...) Eu passei meses com os índios, arranjava um jeito de ter uma. Por exemplo, eu não comia as índias Urubus-Kaapor porque eu estava trabalhando com os Kaapor, mas comia índia Tembé, que eram umas índias decadentes que havia lá.


Teologia barata e anti-semitismo

Vejamos esta brilhante interpretação do Gênesis proposta pelo senador:

DARCY - Aliás, eu preciso contar para vocês uma coisa muito interessante que eu desenvolvi ultimamente, meio literária mas muito bonita. E uma história sobre Eva, eu estive meditando sobre Eva e descobri que Eva é trotskista. É a primeira revolucionária da história. Nós devemos coisas fundamentais a Eva.
Primeiro, Eva fundou a foda. Adão era um bestão, estava lá, com aquele penduricalho dele e não sabia o que fazer. Eva disse:
- Vem cá Adãozinho.
Ele pôs dentro dela e foi aquele gozo, ele teve o orgasmo e, quando deu aquele gozo, o anjão desceu e disse:
- Deus não gosta, Deus está puto com vocês, fora!
E os pôs para fora do Paraíso. O Paraíso era uma merda, não era de matéria plástica porque não existia matéria plástica, era de papel crepom. Porque a flor é o órgão genital das plantas, fode, não poderia ter no paraíso flor fodendo. Era de papel crepom. Quando o anjão pôs eles para fora, obrigou o seguinte:
- Vamos fazer o comunismo, vamos fazer o Paraíso lá fora.
Eva também foi fazer o comunismo.


E já que falamos de temas bíblicos, cabe dar uma olhadela na concepção que tem Darcy Ribeiro dos judeus:

DARCY - Os judeus são tão filhos da puta que, de vez em quando, colocam na menina o nome de Lilith. Lilith é a Eva pecaminosa, a que dá a bocetinha ambulante, fogosa.


Racismo anti-branco

Admitamos que estas confissões sejam produto de muito álcool na cuca. O que aliás as torna mais graves: in vino, veritas. Mas é de supor-se que o senador monoglota não estaria bêbado quando escreveu na Folha de São Paulo: "A expansão do homem branco foi a maior catástrofe da história humana”.

Fosse esta afirmação feita por um analfabeto qualquer, sem maiores noções de história ou geografia, a frase passaria como mais uma das tantas bobagens reproduzidas diariamente pela mídia. Ocorre que ela foi proferida por um senador da República, cujo pensamento, profissão, vida e carreira - apesar de seu monoglotismo e carência de cultura universitária - foram nutridos pela Europa. Partindo de quem parte, tal bobagem merece algumas considerações.

Que os brancos europeus mataram, tanto em seu continente como nos que conquistaram, ninguém em sã consciência vai negar. Mas também mataram os chineses, os mongóis, os turcos, os árabes, os japoneses. Também negros e índios mataram e continuam matando. Em se tratando de seres humanos, a única afirmação abrangente que podemos fazer, sem incorrer em falácia, é que os homens verdes, como também os azuis, jamais mataram seus semelhantes. Pelo singelo fato de que não existem homens verdes nem azuis.

O primeiro homem a criar embriões de universidade mundo a fora - e isso 300 anos antes de Cristo - saiu matando e conquistando, a patas de cavalo, desde a Macedônia até a Ásia. Não fosse Alexandre, o diálogo entre Oriente e Ocidente se atrasaria por séculos. Houve tempos em que a cultura seguia a espada e estes tempos não estão muito distantes de nós. O conquistador europeu abafou o neolítico de Pindorama? Que bom! Não fosse isso, Darcy Ribeiro não teria acesso à bomba de cobalto que, nos anos 70, lhe deu longa sobrevida.

Virando o cocho

O branco europeu matou e destruiu, como matam e destróem todos os homens, exceto os homens verdes e azuis. Mas também descobriu a penicilina e a fissão nuclear, foi à Lua, já está pensando em Marte e seus olhos eletrônicos já se aproximam de Plutão. Nos deu Mozart e Vivaldi, a ópera e o cinema, as comunicações e o computador. O próprio cristianismo, apesar de sua fúria assassina medieval, nos legou uma estética que não pode ser jogada na famosa lata de lixo da história. Não há termos de comparação entre a Notre Dame e um terreiro de umbanda. Nem se pode confundir uma oca de bugres com a torre Eiffel. Muito menos o cacique caiapó Paiakan com Casanova.

Rechaçar a expansão do branco, ou seja, a cultura européia, é negar Sócrates e Platão, Cervantes e Shakespeare, Dante e da Vinci, Schliemann e Champolion, Fernão de Magalhães e Armstrong, Pasteur e Einstein. Sem falar em Hegel e Marx, que no fundo embasam a "Weltanschaaung" de Darcy Ribeiro. Se aceitamos sua ótica fundamentalista, que as telas de Van Gogh ou Bosch sejam largadas aos papeleiros, para reciclagem industrial. Os grandes acervos dos museus poderiam servir para construir diques na Holanda. Que sejam fechados o Louvre e o Hermitage, queimadas as bibliotecas, hemerotecas e filmotecas, e proibidos os computadores e as antenas parabólicas, como aliás já está ocorrendo no mundo islâmico. A primeira providência dos fanáticos taleban, ao entrar em Cabul, no Afeganistão, foi destruir os aparelhos de televisão.

A tecnologia branca transportou Darcy Ribeiro com seus jatos aos países onde degustou “o amargo caviar do exílio”. Na hora de escolher refúgio, optou por países de cultura branca, a cultura que, ao expandir-se, segundo sua acusação, foi a maior catástrofe da história. Já perto da morte, Darcy decidiu virar o cocho em que se nutriu.

Hierático, gozando da absolvição que a morte confere, morreu em aura de santidade. Nem por isso podem ser perdoadas as infâmias que proferiu postumamente, graças ao esforço editorial de seus “compagnons de route”. Tantas besteiras proferidas por um intelectual de renome internacional têm uma explicação: Darcy foi toda sua vida um embuste.

O escroc acadêmico

Além de gabar-se de ser monoglota, exibia como titulação universitária um diploma da Escola de Sociologia e Política, de São Paulo, curso que jamais foi reconhecido pelo Ministério de Educação e Cultura. Em seu currículo enviado ao Senado, espertamente se intitulou etnólogo, ofício que, como o de antropólogo, prostituta ou psicanalista, ainda não foi regulamentado no Brasil. Gozou de três aposentadorias federais, uma delas pela Universidade de Brasília, com a qual jamais teve vínculo de emprego. Sua carreira é a de um escroc acadêmico.

Não bastasse isto, dizia ter fundado a Universidade de Brasília. Não fundou. Nem nela lecionou, embora tenha por ela se aposentado. Segundo o Dr. José Carlos de Almeida Azevedo, ex-reitor da UnB, Darcy nela jamais teve um só aluno e foi “reintegrado” para “aposentar-se”, sem jamais ter vínculo de emprego com a universidade, já que era “requisitado”. A propósito, cito artigo do ex-reitor, publicado em 24/06/96 na Folha de São Paulo:

“Servidor do antigo SPI, hoje Funai, e da UFRJ, Darcy apareceu na comissão convocada pelo então ministro da Educação, Clovis Salgado, para cumprir determinação de JK, no sentido de “...fundar Universidade Brasília... em moldes rigorosamente modernos...”. Na comissão, presidida por Pedro Calmon, Darcy era o único que jamais havia concluído, ou iniciado, um curso superior, mas foi Reitor da UnB e ministro da Educação, poucos meses em cada lugar, sem deixar qualquer vestígio do que fez”.

A citação será longa, mas pertinente. Continua Azevedo:

“No final de 1968, cinco anos depois que Darcy deixou a reitoria, os esgotos da UnB eram a céu aberto; não havia galeria de águas pluviais, e tudo inundava; porque só havia uns mil metros de asfalto, era um lamaçal; havia uns cinco telefones, um computador de 6k nunca usado; uma só quadra de esportes, simples chão cimentado e dita “polivalente”; nenhum curso reconhecido havia, além de Direito e Economia. Toda a administração era na “munheca”, nada mecanizado. Em uns seis barracos de madeira, amontoavam-se o restaurante, o alojamento estudantil, algumas unidades de ensino e os serviços gerais. À beira do lago, outros três barracos, malocas de índios e sebastianistas. Era ver para crer. Os alunos, uns 2.000, amontoavam-se em três prédios de dois andares, com uns 2.000 m² cada um, com a pequena biblioteca e laboratórios. (...) Nem as escrituras do imóveis tinha e, por isso, perdeu uma centena de terrenos comerciais e um enorme prédio”.

Concluí o ex-reitor:

“Ao autoproclamar-se fundador e criador da UnB, beneficiando-se disso ad perpetuam, o Darcy usurpa méritos exclusivos de Juscelino Kubitschek, de seu ministro Clovis Salgado e de Anísio Teixeira, comprovados em relatório oficial do MEC e em depoimento do ministro. O primeiro mandou criar a universidade, compreendendo sua importância; o segundo criou todas as condições, e Anísio a organizou. (...) A construção, institucionalização e consolidação da UnB devem-se aos reitores Caio Benjamin Dias, Amadeu Cury e, em escala menor, a este modesto escriba, que a ela serviram, a convite exclusivo do Conselho da Fundação UnB”.

O senador monoglota dizia ainda ter fundado a Universidade Nacional de Costa Rica. Tampouco a fundou. Aliás, nem existe tal universidade. Conforme nos informa o professor Augostinus Staub, “existe, sim, a Universidade Nacional, na cidade de Herédia, criada em 1970, pelo presbítero Benjamin Nuñez Gutierrez, e não por Darcy Ribeiro”.

Gabava-se de ter um diploma de Dr. Honoris Causa pela Sorbonne. Pura fraude intelectual. O Honoris Causa, Darcy o recebeu em 1978, quando não mais existia a Sorbonne. O diploma foi conferido pela Universidade de Paris VII e entregue em uma sala do prédio da antiga Sorbonne, o que é muito diferente. Sem falar que diploma Honoris Causa só serve para enfeitar cartão de visita e não confere nenhuma capacitação acadêmica a seu portador.


Rumo à lata de lixo

Darcy sabia muito bem que, neste país sem maiores critérios de avaliação da inteligência, enganar é o recurso mais ao alcance do homem inculto para subir na vida. Mentindo sempre, foi guindado a um ministério e ao Senado. Uma vez no poder, do alto de seu cursinho secundário, o senador monoglota condenou, em uma só frase, a cultura na qual nasceu e mamou.

Ao tentar fugir da morte espiritual, Ribeiro não optou pelo tantã ou pelo relato oral sob a sombra de um baobá, mas por gráficas modernas montadas pelo branco que tanto abomina. Tentando fugir da morte física, reação instintiva de todo ser humano, o antropólogo não recorreu a pajelanças, mas a hospitais de primeira linha. Quando Jesus estava chamando, não buscou salvação junto a xamãs. Preferiu pedir água a representantes da cultura que o gerou e, depois, virando o cocho, passou a abominar.

A maior catástrofe da história humana, "a expansão do homem branco", gerou este país que gerou Darcy Ribeiro, temperou este caldo cultural no qual o senador, com suas manhas de mineiro, fez sua carreira e prestígio. Antes de morrer, organizou uma fundação, para que seu “pensamento” não morresse. Grafômano contumaz, tem obra tão vasta que já nem sabe quantos livros escreveu nem em quantos idiomas está traduzido. Graças a quem? A um europeu chamado Gutenberg.

É moda entre antropólogos, sociólogos, psicólogos e outros ólogos, negar sistematicamente os valores da cultura ocidental, ou seja, da cultura branca, cujas bases estão na Grécia e em Roma, em favor de culturas primitivas, que muitas vezes nem chegaram a um alfabeto e, se lá chegaram, hoje vivem encharcadas no sangue de guerras tribais. Mais que moda, esta tendência é uma verdadeira conspiração dos derrotados da História, que assestam seu ressentimento surdo contra o que de melhor a humanidade produziu.

Em vida, o senador Darcy Ribeiro chutou neste imenso time de ressentidos. Morto, virou estátua. Por mais monumentos e salas com seu nome que lhe outorguem seus amigos e compagnons de route, sua trajetória é a de um escroc acadêmico. Quando a burritzia tupiniquim receber notícias de que o Muro de Berlim já caiu, Darcy assumirá seu merecido espaço, a famosa lata de lixo da história.

(Revista Brazzil, Los Angeles, outubro 1997)