¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, agosto 31, 2010
 
KADHAFI AMEAÇA
VELHO CONTINENTE
COM BOMBA NEGRA



Comentei ontem o desplante do terrorista líbio, recebido por Berlusconi na Itália, que contratou 500 prostitutas para aplaudi-lo. Homenageado com honras de chefe de Estado, o terrorista foi mais longe. Em sua última noite em Roma, Kadhafi ameaçou a União Européia com não bloquear os desembarques de emigrantes africanos nas costas líbias se Bruxelas não lhe pagar cinco bilhões de euros... anuais.

"A Líbia, com o apoio da Itália - disse – exige da Europa cinco bilhões de euros anuais. É do interesse da Europa, porque se não, amanhã, o avanço dos imigrantes poderia convertê-la em África, em um novo continente negro".

Há horas venho afirmando que a imigração é a nova arma que as esquerdas descobriram para destruir a Europa e seus valores. Kadhafi não teve papas na língua. Se bem que a bomba é maior. Não é só negra, mas também muçulmana. Mas onde estamos? Como conceber um país europeu recebendo com honras de chefe de Estado um terrorista árabe que se sente à vontade para extorquir da Comunidade Européia cinco bilhões de euros, sob pena de transformá-la em África? Claro que o fanfarrão não vai levar. Mas é triste ver um país europeu dobrar-se a um celerado.

Enquanto o Ocidente se preocupa com Ahmadinejad, que planeja uma hipótetica bomba atômica, Kadhafi empunha uma bomba já existente, concreta e que conta com quintas-coluna na Europa. O Irã até pode um dia chegar à bomba. Outro problema é transportá-la até o alvo. Quanto à bomba negra, ou muçulmana, como quisermos, já está na Europa e seu poder explosivo só se expande. Se algum dirigente europeu cogita em mandar de volta a seus países os imigrantes ilegais – nem estamos falando dos legais, que também constituem um problema –, não faltam ONGs nem igrejeiros nem esquerdistas que o denunciem como racista.

Desde que me conheço por gente, isto é, há mais de quatro décadas, venho escrevendo contra o Islã. Não por intolerância. Aceito todas as crenças. Que cada um cultue seu deus e boa sorte a todos. Ocorre que o Islã tem uma incontrolável vocação teocrática. Mescla-se com o Estado e o que seria preceito religioso ou, no máximo, preceito ético, vira lei e passa a regular a vida de todo cidadão, crente ou não crente. Creia ou não creia em Alá e seu profeta, em Estados islâmicos você tem de submeter-se a suas diretrizes. E - o que pior - aos preceitos de seus intérpretes, imãs, mulás, aiatolás. A Igreja católica, apesar de manter reflexos teocráticos herdados do Medievo, pelo menos separou-se há séculos do Estado e não mais ameaça com torturas ou fogueiras quando não consegue gerir a vida de todo cidadão. Aliás, até a idéia de inferno anda pouco cotada nos dias que passam.

Para quem vive aqui e daqui nunca saiu, Islã é apenas uma palavra que designa uma religião como tantas outras. O Brasil é um grande caldeirão que absorve todas as raças, religiões e diferenças. Mas se você viveu um dia em países europeus, onde os árabes se encerram em colônias e usam a religião como carapaça protetora, lá terá tropeçado com o ramadã, o muezim, as cinco chamadas às preces, as restrições ao álcool, a ablação do clitóris e infibulação da vagina. Se você teve um dia a chance de visitar países muçulmanos, aquelas cidades onde as mulheres são fantasmas tristes que se esgueiram, lívidas e veladas, pelas ruelas das casbás, você terá visto que Islã não é apenas uma palavra que designa uma religião como tantas outras.

Muitos fossos separam Ocidente e Islã: democracia, voto, liberdade de expressão, direitos do indivíduo. Mas o fosso maior é a mulher. Maior e insuperável. Nenhum diálogo é possível com povos que insistem em proibir o prazer à mulher, mutilando-a sexualmente. Impossível conviver com bárbaros que não permitem que uma mulher saia sozinha às ruas. Tampouco se pode conversar com uma cultura que proíbe a mulher de trabalhar e mesmo de educar-se.

Segundo Fouad Ajami, diretor de estudos do Oriente Médio da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, cerca de 260 milhões de indivíduos que vivem, do Marrocos ao Irã, exportam atualmente menos produtos manufaturados do que a Finlândia, que tem apenas cinco milhões de habitantes. Desenvolvimento tecnológico à parte, virtualmente metade da mão de obra de um país é excluída de sua construção. Mas a responsabilidade de suas misérias é debitada ao Ocidente, onde a mulher trabalha ombro a ombro com o homem na confecção do bolo nacional.

Uma voz ergueu-se na Europa, com hombridade, para lembrar algumas verdades que os mais delicados preferem não ouvir, a voz de Oriana Fallaci: "Que sentido tem respeitar quem não nos respeita?" – pergunta-se Fallaci, florentina de cepa. - "Que sentido tem defender sua cultura ou sua presunta cultura, quando eles desprezam a nossa?" Os últimos livros da florentina, que vendem como pão quente na Europa, jamais foram publicados no Brasil. Nossos editores renderam-se ao politicamente correto. Muçulmano não pode ser denunciado. Esta ameaça de Kadhafi à Europa, proferida hoje, ainda não a vi nos jornais do Brasil.

Multidões de árabes estão invadindo a Europa, da Itália à Suécia, da Espanha à Áustria, com suas crenças, mesquitas e idiossincrasias. Onde chegam, já vão exigindo a sexta-feira livre para descanso, pausas diárias no trabalho para as preces, o direito de obrigarem suas mulheres a portar véus - inclusive em fotos de carteiras de identidade -, assistência social para suas quatro mulheres e quinze ou vinte filhos. O ditador líbio vai mais longe. Quer um resgate da Europa. Quer cinco bilhões de euros.

Ou transformamos a Europa neste horror em que vivemos – é o que se deduz de sua ameaça. Não deixa de ter consciência da barbárie que prega. Tanto que ameaça o continente com a miséria da geografia em que vive.

segunda-feira, agosto 30, 2010
 
ITÁLIA VENDE ALMA
A TERRORISTA LÍBIO



Muamar Kadhafi, responsável pela explosão do avião da Pan Am que caiu sobre Lockerbie e matou 270 pessoas em 1988, pagou em 2008 um total de 1,5 bilhão de dólares de indenização às vítimas americanas do atentado. Ao que tudo indica, a indenização milionária o absolveu da acusação de terrorismo. Nesta segunda-feira, o ditador líbio efetuou uma visita oficial a Roma, na qual pediu que o Islã se torne a “religião de toda Europa”.

Recebido por Silvio Berlusconi, o sultão líbio contratou 500 jovens aeromoças - segundo o jornal espanhol El País -, de entre 20 e 30 anos, para ouvir suas perorações. As moças foram selecionadas pela agência Hostessweb para a ocasião e receberam cerca de 80 euros para aplaudir o tirano. Uma ocidental precisa ser muito prostituta para homenagear um tirano árabe por parcas merrecas.

“A Europa deve se converter ao Islã”, disse o coronel, afirmando que as mulheres são mais respeitadas na Líbia que no Ocidente. Como se em país islâmico uma mulher tivesse direito a escolher marido ou profissão. Como se mulher fosse respeitada em uma sociedade em que o macho tem direito a quatro fêmeas e a mulher é condenada à morte se tem relações antes do casamento. Exibindo um cinismo arrogante, Kadhafi convidou a assistência a esposar homens líbios. E concluiu afirmando que o “Islã é a última religião e que se alguém deve ter uma só fé esta deve ser a fé em Maomé”.

Maomé é o analfabeto aquele que teve onze mulheres, sendo que a última, Aïcha, tinha seis anos quando casou e nove quando foi deflorada. Pedofilia é crime no Ocidente, mais ai do infiel que afirmar que o profeta era pedófilo. Os europeus jamais se converterão ao Islã. O que está acontecendo é que os imigrantes muçulmanos estão tomando conta da Europa, com o apoio das esquerdas, que não conseguiram dominar o continente pela via do marxismo e agora tentam destruí-lo com a ideologia do Islã.

E, pelo jeito, estão conseguindo. Não vejo voz nenhuma na Europa considerar insulto um sultão árabe vir a Roma – bastião do cristianismo – e contratar 500 vagabundas para aplaudir sua louvação da barbárie. O velho continente está se entregando passivamente aos sarracenos.

Mas a Itália vende sua alma bem mais caro do que as 500 meninas compradas por Kadhafi. Segundo a AFP, a Líbia comprou armas italianas que aumentaram seu capital no banco Unicredit. Um tratado de amizade com o governo prevê cinco bilhões de dólares em investimentos como compensação da colonização, entre os quais uma autovia de 1.700 quilômetros no país do tirano. E o grupo Eni prevê o investimento de 25 bilhões de euros na Líbia, descrita por seu patrão como a "pupila de seus olhos".

Hoje à noite, Berlusconi oferece a Kadhafi o iftar, a refeição do fim do ramadã, em presença de 800 convidados, entre os quais os grandes executivos de Eni, Enel, Finmeccanica, Impregilo, após uma parada eqüestre da qual participarão 30 puro-sangues bérberes e seus cavaleiros. Todas as honras ao terrorista líbio.

Assim vai marchando a Europa, como boi rumo ao matadouro.

domingo, agosto 29, 2010
 
VAI MAL A UNIVERSIDADE


Recebi até agora vários mails sobre a crônica de ontem, em que comento o analfabetismo de um repórter de Veja, ao grafar “a enfisema”. Aconteceu o que eu temia. Três missivistas nada viram demais no texto, apesar de o redator repetir “a enfisema” pelo menos nove vezes. Em verdade, título à parte – “Vai mal a Veja” – não fiz comentário algum. Contentei-me em reproduzir a reportagem, ciente de que o leitor identificaria a mancada. Estou superestimando a cultura vernácula das gentes. Três, pelo menos, não a identificaram. Sendo que um deles é professor universitário.

Nada de espantar. Em meus dias de universidade, cansei de ouvir expressões como uma grama, duzentas gramas, com a unidade de medida flexionada assim no feminino. Tanto por alunos como por professores. Quando eu dizia um grama, percebia um certo espanto no interlocutor. Mesmo hoje, você encontra este erro nos grandes jornais, já nem falo dos jornalecos do interior. Mas o que mais me doía no estômago era ouvir de minhas aluninhas – de Letras - a expressão “a esperma”. É coisa que só ouvi em Florianópolis. O esperma para mim nada tem demais. Mas “a esperma” soa para mim como algo emético.

O raciocínio do analfabeto não deixa de ter sua lógica. Substantivos que terminam em a só podem ser femininos. Ora, não é preciso ser etimólogo para se saber que os substantivos do português derivados de palavras gregas terminadas em “ma” vão para o masculino. Tripanossoma, cromossoma, carcinoma, teorema, eczema, enema, eritema, estoma, estroma, genoma, lipoma, mioma, protoplasma, etc. Mas quem se preocupa com etimologia? Quem sabe hoje que palavras banais como sintoma, aroma ou dilema são derivadas do grego?

Piores que os sonetos, só foram as emendas. O professor universitário que nada viu de anormal no texto de Veja, me escreve: “Na real, tive uma boa formação básica lendo todos os autores nacionais que tu detestas (Érico Veríssimo, Machado de Assis, Jorge Amado, só para citar alguns). Foi com esta turma que eu aprendi bastante do português que eu sei hoje”. Pelo jeito, leu com muita desatenção. Ou saberia que se escreve Erico Verissimo, assim sem acentos, e não Érico Veríssimo. De qualquer forma, nenhum desses escritores escreveria "a enfisema".

Já um outro leitor, com formação em Medicina, adverte: “Ah!... Mas talvez em Veja o cultíssimo autor estivesse a exercer sutilissimamente, recorrendo à repetição como ênfase, o recurso extraordinário da eclipse? Ao dizer "a enfisema" não estaria visível, ali no entremeio, apenas para excelentes entendedores o termo "doença"? Como aliás está, afinal, também eclipsado o termo "pulmonar" -- visto que enfisema é sinal suscetível de manifestar-se em praticamente qualquer região da anatomia?”

A este, que conheço de longa data, vou conceder um crédito. Vou supor que esteja fazendo piada. Queria dizer elipse, não? Eclipse é outra coisa. Seja como for, o leitor está sendo muito leniente. Sou mais a hipótese de analfabetismo. Ninguém fala em elipse quando alguém diz "uma grama". O que é muito comum, inclusive nos jornais de boas famílias.

Não, não estou propondo que se volte a estudar grego no secundário, como se fazia há algumas décadas. Mas penso que todo universitário – e particularmente os professores universitários – deveriam ter um dicionário em suas bibliotecas. Sei, bibliotecas são raras, mesmo entre acadêmicos. Mas pelo menos um bom dicionário numa estante qualquer de casa.

Talvez o leitor se espante, mas falamos grego todos os dias. Palavras como táxi ou telefone são o mais puro grego. Ou pélago. Ou nosocômio. Se pronunciamos geologia, geografia, ictiologia, heliocêntrico, cosméticos, paleografia, bíblia, hagiografia, homossexualismo – e milhares de outras palavras – estamos de volta à antiga Grécia.

Não é preciso erudição para conhecer isto. Basta um mínimo de informação, de atenção à língua que falamos. Não vamos exigir isto de Lula e Dilma. (A propósito, a candidata está falando pior que seu criador). Mas não se pode admitir que jornalistas ou universitários falem em “a enfisema” ou “uma grama”.

Veja vai mal e a universidade também.

sábado, agosto 28, 2010
 
VAI MAL A VEJA


Leio na edição de Veja on line, com data de ontem:


Pesquisadores tentam curar a enfisema com células-tronco

Tratamento, além de estimular a formação de células saudáveis no pulmão, proporcionou melhora no coração

Marco Túlio Pires, de Águas de Lindóia

A enfisema está no grupo de doenças responsáveis pela terceira maior causa de mortes no mundo

A enfisema é uma doença que destrói permanentemente a superfície que faz a troca gasosa dentro do pulmão, do oxigênio pelo gás carbônico. Sem ela, o indivíduo vai perdendo gradativamente a capacidade de respirar. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, a enfisema está no grupo de doenças responsáveis pela terceira maior causa de mortes no mundo. Só nos Estados Unidos, 32 bilhões de dólares são gastos todo ano para o tratamento dessas doenças. Agora, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está utilizando células-tronco da medula óssea para recuperar pulmões afetados pelos danos permanentes e pelos vários estágios da doença.

Um dos maiores problemas para se tratar a enfisema pulmonar, segundo a médica Patrícia Rocco, chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar e do Programa de Terapia Celular e Bioengenharia da UFRJ, é o estado em que o paciente chega ao consultório. “Normalmente o indivíduo procura o médico em um estágio avançado da doença, quando ele passa a tossir”. Depois de um certo tempo, a enfisema é responsável pelo agravamento em outros órgãos, como o coração e os músculos das pernas e braços. “Ela passa a ser uma doença que atinge todo o corpo, e não apenas o pulmão”. Isso quer dizer que foi preciso desenvolver um modelo em laboratório que recriasse, em animais, os mesmos sintômas crônicos e leves causados pela enfisema em vários órgãos, incluindo o coração e os músculos.

Depois de 10 anos, a equipe de Patrícia, também formada pelo médico Marcelo Morales, presidente da Federação Latino Americana de Sociedades de Biofísica, conseguiu recriar esses vários estágios da enfisema, leves e graves em ratos, e fizeram um registro de cada uma dessas etapas. “Agora temos uma boa ideia de como a doença evolui e poderemos investir em tratamentos diferenciados para seres humanos”, afirma Morales. Ele explica que foi uma tarefa muito difícil induzir a doença nos animais de forma que todos os sintomas da doença se manifestassem. “Se induzirmos a enfisema no pulmão, mas não no resto do corpo, isso impede que a pesquisa traga reais benefícios para os seres humanos”.

sexta-feira, agosto 27, 2010
 
MAU NÃO PODE SER NEGRO,
NEGRO SÓ PODE SER BOM



Essa agora! Leio no Estadão que, em 2002, uma professora da 2.ª série do ensino fundamental da escola estadual Francisco de Assis, no Ipiranga, em São Paulo, passou uma atividade baseada no texto Uma Família Colorida, escrito por uma ex-aluna do colégio. Na redação, cada personagem era representado por uma cor. O "homem mau" da história, que tentava roubar as crianças da família, era negro.

Por tais razões, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou o governo do Estado a pagar uma indenização de R$ 20,4 mil por danos morais à família de um estudante. Depois da atividade, o garoto, que é negro e na época tinha 7 anos, passou a apresentar problemas de relacionamento e queda na produtividade escolar. O menino, que não teve a identidade divulgada, acabou sendo transferido de colégio. Laudos técnicos apontam que ele desenvolveu um quadro de fobia em relação ao ambiente escolar.

A Procuradoria-Geral do Estado informou que ainda não sabe se vai recorrer da decisão. Durante o julgamento, a secretaria alegou que não houve má-fé ou dolo na ação da professora, mas o juiz entendeu que ainda assim se configurou uma situação de racismo. E se o “homem mau” da história fosse branco? Claro que não configuraria racismo. Racismo só existe contra negro. Contra branco, não há racismo nunca.

Acontece que de alguma cor o “homem mau” há de ser. Podia ser – isto é, teria obrigatoriamente de ser – ou branco ou preto ou amarelo. Verde ou azul é que não seria. As páginas dos jornais estão cheias de homens maus de todas as cores. A decisão do juiz abre portas à censura das notícias policiais, tanto na imprensa escrita como televisiva.

Mais um pouco e não se poderá dizer que os negros africanos vendiam escravos negros para os brancos europeus. Nem que o herói dos movimentos negros, Zumbi de Palmares, tinha escravos. Nem que os bugres costumam enterrar vivas as crianças indesejadas, afinal os meninos negros – ou índios - nas escolas poderiam apresentar problemas de relacionamento e queda na produtividade escolar. Os assassinos de Eliza Samudio e Mércia Nakashima não poderiam ser denunciados. São negros.

Mais dia menos dia, chegaremos à covarde condição da imprensa européia, que não divulga a etnia ou país dos criminosos quando estes são árabes ou africanos.

quinta-feira, agosto 26, 2010
 
VELHA E DECRÉPITA,
MADALENA TARDIA
RECONHECE ERRO



Velha e decrépita, aos 69 anos, a madalena arrependida Fernando Gabeira declarou aos jornais: “No caso da Dilma, existem diferenças na apreciação do que foi a nossa atuação. Todos os ex-guerrilheiros dizem que estavam lutando pela democracia. Mas se você examinar o programa que tínhamos naquele momento, queríamos uma ditadura do proletariado. Esse é um ponto de separação do passado. A luta armada não estava visando a democracia, ao menos não no seu programa".

Tarde piou. Deveria ter percebido isto não agora, mas pelo menos bem antes de duas décadas atrás. Bem antes da queda do Muro e do desmoronamento do comunismo. Melhor ainda se tivesse percebido quando participou do seqüestro do embaixador americano, Charles Elbrick, em 1969. De lá para cá, decorreram quatro décadas, e só agora a vestal se dá conta que queria então uma ditadura.

Longa é a jornada de um imbecil até o entendimento. Quem ousaria afirmar, nos anos 30, que Stalin era um assassino frio e havia matado milhões? Só ousaram afirmar isto alguns raros gatos pingados, como Orwell, Koestler, Kravchenko, Gide, Sábato e mais alguns, que foram condenados imediatamente como agentes do imperialismo. Mesmo quando Kruschev denunciou os crimes do stalinismo, no XX Congresso do PCUS, em 56, o clima era de incredulidade. Conheci velhos comunistas de Porto Alegre que choraram indignados e diziam ser tudo intriga dos serviços de informação ianques. Hoje, só o Niemeyer e o Suassuna são capazes de louvar Stalin. Foram necessárias décadas para desmitificar o tirano. Uma vez desmitificado, as esquerdas apoiaram-se em Lênin. O stalinismo era um desvio da doutrina do santo Vladimir Illitch Ulianov. Hoje se sabe que Lênin era também um assassino e que o terror começou sob sua tirania.

Quem sabe, hoje, quem foi Kravchenko, o homem que, sozinho, pôs em xeque toda a União Soviética, em 1949? Quem leu a biografia de Stalin, de Boris Souvarine? Quem ouviu falar de Panaïti Istrati, escritor romeno de expressão francesa, o primeiro escritor a contestar o regime soviético, já em 1929, em Vers l’autre Flamme, jamais traduzido no Brasil? O Homem Revoltado, obra maior de Camus, de 1951, só sai no Brasil 50 anos depois, quando já era curiosidade histórica. Enquanto isso, continuávamos louvando stalinistas como Sartre, Neruda, Brecht.

O regime soviético foi violentamente contestado em meados dos anos 30, por ocasião das purgas, quando se afastaram do partido homens como Sábato, Gide, Camus, Arthur Koestler, Ignazio Silone, Louis Fischer, Stephen Spender. Gabeira era crescidinho em 69 quando, em nome dos ideais soviéticos, participou do seqüestro de Elbrick. Madalenas, para mim, são inviáveis após 1949, quando ocorreu o processo de Kravchenko. Vou mais longe: diria que são inviáveis após 35, 36, quando o Ocidente tomou conhecimento das purgas stalinistas.

Madalenas em 2010 são decrépitas e obsoletas. “Me considero um político que quer avançar no século 21”, afirmou Gabeira. Teve mais de meio século para chegar ao entendimento. Não chegou. Agora é tarde. Gabeira era jornalista e tinha 28 anos em 1969. Não lhe era permissível ignorar a história de seu século.

Sobre seu envolvimento na "farra" das passagens aéreas da Câmara dos Deputados, disse que reconheceu seu erro. “Eu mesmo denunciei. E depois de denunciar, eu devolvi o dinheiro das passagens, devolvi os créditos de mais de R$ 80 mil e formulei as regras que agora estão em vigor. É um mérito da opinião publica. Reconheci o meu erro. Estou tranqüilo”, disse. À época, ele admitiu ter caído “no patrimonialismo da política brasileira”.

Ou seja, basta reconhecer erro para estar tranqüilo. Punição, nem pensar. Sem falar que esqueceu de mencionar que criticou Ziraldo e Jaguar por postularem uma bolsa-ditadura, quando também pediu uma.

Madalenas não mais convencem.

quarta-feira, agosto 25, 2010
 
CORRESPONDENTE DE VEJA EM
PARIS DESCONHECE O FRANCÊS



A Web mexeu bastante com o jornalismo. Nos tempos pré-internéticos, os correspondentes no estrangeiro podiam plagiar à vontade, ninguém os flagrava. De um jornalista brasileiro, por exemplo, não se pedia cobertura alguma de nenhum fato. Ele simplesmente traduzia o noticiário local.

Os tempos mudaram. Naquela época pré-Internet o plágio corria solto. Se ainda é corrente nestes dias de Google e outros mecanismos de busca, imagine-se o que não seria quando jornais estrangeiros não chegavam no Brasil. Ou chegavam apenas poucos números em algumas capitais. Qualquer “correspondente” podia tranqüilamente traduzir Le Monde, Times, El País, e leitor algum ficava sabendo da cópia. Pelo contrário, o “correspondente” era tido como jornalista ágil.

Hoje é um pouco diferente. Pode-se conferir na rede a fonte dos artigos. Em fevereiro deste ano, denunciei um plágio de Antonio Ribeiro, o “correspondente” de Veja em Paris, de um artigo de Bill Saporito, da Time. Soube que os editores da revista tiveram notícias da denúncia, mas o “correspondente” continuou enviando impunemente suas matérias. Continua plagiando a gosto. Seus artigos não passam de transcrições do noticiário internacional. Ora, se é para traduzir o que está na rede, não é preciso postar ninguém em Paris. Faz-se a cobertura daqui mesmo.

O pior é que o "correspondente" em Paris não conhece francês. Vejamos um de seus últimos artigos:

"Devido ao endurecimento recente de medidas contra a imigração ilegal — em muito para agradar a base do eleitorado sarkozista — e do seu passado negro de deportações de judeus para os campos de concentrações nazistas, a França está na seleta. Mas as expulsões de ciganos não são nenhuma novidade francesa introduzida na Europa".

A França está na seleta. Alguém entendeu? Duvido. Deve ter lido "la France est sur la sellette" e traduziu por seleta. Ora, sellette é um pequeno banco de madeira sobre o qual se sentava o réu. A tradução correta seria: "a França está no banco dos réus".

Vai mal a Veja. E cada vez pior. Não bastasse o recórter tucanopapista hidrófobo e virtuose do cut & paste, tem em Paris um “correspondente” que desconhece o francês.

terça-feira, agosto 24, 2010
 
QUANTO À MORTE,
BEM-VINDA SEJA!


A questão muçulmana na Europa me preocupa muito mais que o avanço do petismo no Brasil. A candidata terrorista não-penitente, ao que tudo indica, levará suas fichas no primeiro turno. Será o sepultamento político de Serra. Mas o tucano fez por merecer. O PSDB entrou com dez representações contra a presença de Lula na propaganda da Dilma e Serra põe Lula em sua campanha. Pode? Com oposição assim, o governo não precisa de base aliada. Triste é constatar que teremos saudades do Lula. Jamais imaginei que chegaríamos a tal ponto.

Mas isto pouco me preocupa. Desde a eleição do Supremo Apedeuta, deixei de apostar em meu país. Com sua reeleição, perdi toda e qualquer esperança no dias futuros. Que os brasileiros sigam os rumos que elegeram. Não são os meus. Faz vinte anos que não voto e, pelo que intuo, não votarei em ninguém mais pelo resto de meus dias. Não há como optar pelo melhor candidato no Brasil. Optamos sempre pelo menos pior. A este, não darei meu voto.

Quanto à Europa, me preocupo. É nosso berço espiritual, ao contrário do que possam pretender certos movimentos politicamente corretos. Nossa cultura, nossas instituições, não são originárias da África negra ou árabe, mas do velho continente. Tudo que de valor temos vem da França, Espanha, Portugal, Inglaterra, Itália, Alemanha, e não de Ruanda, Uganda ou Nigéria. Muito menos do Kwait, Iêmen ou Arábia Saudita. Somos tributários do Ocidente, com todas suas virtudes e males. Oriente, para nós, é anecúmeno.

Tenho recebido não poucos mails sobre meus artigos comentando a rendição da Europa ao Islã. Em geral, de brasileiras que vivem ou viveram na Europa e amam mais a Europa que os europeus. Estes, já se renderam. Nós, que não temos compromissos com o politicamente correto, ainda não. Me escreve uma leitora:

“Janer, ouvi dizer de uma cidade no norte da Itália, se não me engano na região da Lombardia, onde a maioria já seria muçulmana: açougues especiais, lojas femininas de burkas e etc, feriados, o dia a dia, estaria tudo dominado - estou agora em duvida se o prefeito também é muçulmano. Charles Martel deve estar se revirando no tumulo. Até hoje o Islã tem um nome específico para a derrota deles, à época, mas agora estão conseguindo a revanche. Eles não vão desistir de conquistar- finalmente!- a Europa. Sem qualquer resistência”.

Charles Martel, para quem não sabe, foi quem venceu a batalha de Poitiers, em 732, que salvou a Europa do expansionismo muçulmano, que já havia conquistado a Península Ibérica. Desde de então não houve mais invasões muçulmanas nos territórios francos, e a vitória de Martel é considerada decisiva para a história mundial na medida em que preservou a Europa ocidental da islamização.

Hoje, a Europa está sendo islamizada sem o recurso às armas, mas graças à quinta coluna dos defensores da imigração e dos tais de direitos humanos. Os antigos marxistas não conseguiram destruir a Europa e seus valores com o comunismo, agora pretendem destruí-la com o Islã. O europeu médio abomina os árabes. São as minorias ativistas de esquerda - que estão muito bem postadas na Igreja, imprensa, governo, partidos e instituições - que fazem a defesa histérica dos cabeças-de-toalha.

Em Malmö, na Suécia, a polícia já perdeu o controle da cidade para os muçulmanos. Há anos, os suecos estão fugindo de lá. Penso que, mais um meio século, no máximo um, a Europa estará majoritariamente islamizada. É triste. Fico contente em saber que não estarei aqui para ver isso.

Continua a leitora: “Lembrei-me aqui do Roger Garaudy, muito lido nos idos de 60/70, marxista ferrenho, depois teria virado cristão (?) e depois, segundo li, acabou muçulmano (!). Estranho, não? Foi bem na época em que a URSS começou a investir no Oriente Médio, financiando o posteriormente miliardário Arafat, e tudo que veio junto e está aí até hoje. Teria o Garaudy colocado aí sua pedrinha, neste muro de enganos? Sempre achei estranha aquela trajetória, eu o conheci pessoalmente e ele era um sujeito esquivo, olhar oblíquo, parecia uma pessoa murada”.

Também li o Garaudy nos anos 60. Acho que foi em sua fase cristã, As Perspectivas do Homem. É mais um desses pensadores confusos, em eterna busca de fé. No catolicismo romano estão as raízes do comunismo. As travessias de fronteira são mais comuns do que imaginamos. Não por acaso, o comunismo se instaura no poder na Rússia, um dos bastiões do catolicismo no século XIX. Não por acaso, os partidos comunistas mais fortes da Europa vicejaram na Itália e França católicas. Em Porto Alegre, conheci de perto um desses intelectuais que fizeram este percurso. Chamava-se Jeferson Barros. Começou católico, virou marxista e acabou seus dias observando o ramadã e virando o traseiro para a lua na hora das preces.

Concluí a leitora: “Enfim, não estarei aí para assistir ao desmoronamento de nossa civilização”. Eu também não. É o único consolo que encontro na morte. Não quero ver em mãos de bárbaros aquela geografia que tanto adoro.

segunda-feira, agosto 23, 2010
 
QUANDO GRANDE POESIA
VIRA NEGÓCIO RENTÁVEL



Há dois poetas que leio e releio de tempos em tempos. Quem me acompanha sabe quem são: Fernando Pessoa e José Hernández. Levei-os comigo na bagagem quando fui respirar outros ares. Quando me sentia muito só naquelas madrugadas brancas e silentes, me refugiava em suas páginas. Pessoa me fazia mergulhar em mim mesmo e Hernández me trazia de volta a meus pagos e à minha infância. Curto outros poetas, é verdade, em geral platinos: Echeverria, Elias Regules, Estanilao del Campo, Serafin J. Garcia, Atahualpa Yupanqui. Mas estes eu os freqüento mais espaçadamente.

Com o luso, encontrei-me em 1969, quando a José Aguilar lançou a 3ª edição de sua Obra Poética, em papel-bíblia, de 786 páginas. O volume contém toda a produção poética de Pessoa até então conhecida, inclusive seus poemas em inglês e francês, mais suas traduções de poetas ingleses ao português, em particular as soberbas traduções de The Raven e Ulalume. (A meu ver, soam melhores que as versões originais de Poe).

Quando passo por Lisboa, sempre dou um pulo ao Martinho da Arcada, ao café Nicola e à Brasileira do Chiado, os bebedouros mais usuais do poeta. Havia um outro, o Palladium, na Avenida da Liberdade, mas este já não existe. Quando ando por lá, sempre ergo uma bagaceira em homenagem àquele que morreu de cirrose aos 47 anos. A Brasileira ostenta hoje uma estátua de Pessoa sentado, homenagem que o obscuro poeta, que só publicou um livrinho em vida, talvez jamais imaginasse. Ano passado, quando fui erguer meu bagacinho, uma meia dúzia de meninas lindas sufocavam o poeta, sentadas em seu colo. Por esta ele certamente tampouco imaginava.

Pessoa morreu pobre, bêbado e desconhecido. Quando digo bêbado, não vai nisto nada de pejorativo. Penso que seus poemas não existiriam sem aquela particular prosopopéia que só o álcool propicia. Cirrose foi o preço a pagar por seu gênio. Agradeçamos a seu fígado por seus poemas. Considero, inclusive, que Pessoa deve ser degustado com bom vinho.

Hoje, o poeta anônimo do Chiado é universalmente conhecido e sua memória rende bolsas, cátedras e prebendas a centenas de acadêmicos. Pesquisar Pessoa virou moda universitária. Em Paris, na Sorbonne Nouvelle, vi uma tese de Doctorat d’État – quatro volumes de 500 páginas cada um – que deve ter rendido bons anos a uma brasileira às margens do Sena. Quanto à pesquisa, nem os participantes da banca devem tê-la lido na íntegra.

Pessoa nada tem a ser estudado. Seus poemas existem para serem lidos, sentidos, absorvidos. Sua comunicação com o leitor é direta, dispensa intermediários. Como aliás todo grande poeta. Quem está faturando alto com a fortuna literária do poeta é Museu da Língua Portuguesa, de São Paulo, que exibe a partir de amanhã e até 30 de janeiro próximo a mostra “Fernando Pessoa, Plural Como o Universo".

Professores e até mesmo um cenógrafo propõem “uma exposição que busca mostrar toda a multiplicidade da obra de Pessoa, oferecendo ao visitante uma viagem sensorial pelo universo do poeta, permitindo que ele leia, veja, sinta e ouça a materialidade das palavras. São basicamente três módulos que, depois de percorridos, possibilitarão conhecer um artista que não apenas modificou as artes, mas a sociedade como um todo”.

“O resultado é deslumbrante, pois estimula todos os sentidos. Logo na entrada, por exemplo, o visitante se depara com seis cabines, cada uma identificada com os heterônimos de Pessoa, além de uma que carrega o próprio nome do poeta.

“Ao entrar em uma delas, basta movimentar o braço no ar que um sensor vai exibir um poema característico daquele heterônimo. (...) Também na entrada, o visitante perceberá que o azul predomina na coloração das paredes. "Isso porque a identidade visual é o mar que faz lembrar do azul da água e do céu", explica o cenógrafo Hélio Eichbauer. "É uma referência à época dos descobrimentos e das grandes conquistas de Portugal, inspirada no livro Mensagem”. É o que leio no Estadão de hoje.

Em determinado momento, “o visitante adentra um universo em que tanto pode permanecer em um espaço no qual vozes de atores declamam poemas até conhecer um banco de areia onde, com um sinal feito pela mão, um poema é projetado sobre aqueles grãos, como se escrito na praia. Depois, basta outro aceno com os dedos e os versos são apagados pela água do mar, que surge também projetada, produzindo um agradável efeito”.

Pintaram Pessoa de azul. O poeta maior português foi transformado em brinquedinho para adolescentes. Em vez de curtir sua poesia, você ergue um braço e surge um poema projetado na areia. Que tem isso a ver com Pessoa? Desde quando efeitos cenográficos podem traduzir poesia? Você vai lá, estala os dedos e lê um poema. Mas o poema fica lá. Você guarda na memória no máximo um verso ou dois. É como ver quadros em um museu. Os quadros permanecem nas paredes e você volta para casa apenas com uma vaga lembrança.

Não é melhor ter na biblioteca as poesias completas do poeta? Quando quero ler ou voltar a ler Pessoa, puxo o volume de minhas estantes e busco o poema que quero. Ou não busco e vou lendo ao azar. Pessoa permanece permanentemente comigo, ao sabor de meus desejos de lê-lo. Tais exposições só servem a quem tem preguiça de ler e aos amigos do Rei, que certamente faturam alto com tais instalações.

A grande poesia, que sempre foi gratuita, virou negócio e dos mais rentáveis.

domingo, agosto 22, 2010
 
VIGARISTAS PRECURSORES


Leitor me pergunta que tenho contra Paulo Coelho. Contra o homem, nada. Muito menos contra o escritor. Se ganha milhões com seus livrinhos que mesclam misticismo com auto-ajuda, que deles faça bom proveito. Mas não serei eu quem os lerá. Até já tentei. Quando foi lançado O Diário de um Mago, dei uma olhadela no livro, tudo o que diz respeito à Espanha me interessa. Não consegui ler nem cinco páginas. Não diz nada sobre Santiago. Com um verbete do Guide Michelin estaria melhor servido. Também tentei lê-lo na meia página que assinava no Globo. Nunca conseguir ir além da metade da meia página.

Coelho persegue um filão que muito dinheiro trouxe aos escritores que o exploraram, entre eles Carlos Castañeda e Lobsang Rampa. Castañeda, de origem brasileira, por muito tempo passou por escritor peruano. Em A Erva do Diabo, narra suas experiências com um índio do deserto de Sonora no México, Don Juan. O livro, lançado em 1968, foi adotado por hippies e movimentos da contracultura e se tornou best-seller do dia para a noite. Na época, vendeu como pão quente. Hoje, as novas gerações já nem sabem quem foi Castañeda.

Cinco anos depois, a revista norte-americana Time publicou uma matéria de capa, cujo objetivo era retratar o autor como mentiroso. A reportagem alegava que Castañeda era peruano, nascido na andina cidade de Cajamarca, cuja origem remontaria ao império inca. Mais tarde, o próprio Castaneda declarou que teria nascido acidentalmente no Brasil, em 1935, no extinto município de Juqueri, hoje Mairiporã, aqui ao lado de São Paulo. Foi o precursor tupiniquim de Paulo Coelho.

Antes de Castañeda, um outro vigarista havia percorrido a mesma senda. Foi Lobsang Rampa que, em A Terceira Visão (1956), pretendia ter nascido no Tibete, onde teve experiências místicas e teria desenvolvido dons paranormais através de sua iniciação religiosa, aos 7 anos de idade, até sua partida de Lhasa, em 1927. Na capital tibetana, teria recebido treinamento para se tornar sacerdote-cirurgião, sob as bençãos do 13º Dalai Lama, o antecessor de Tenzin Gyatso, o 14º Oceano de Sabedoria. Ainda jovem, teria sofrido uma operação para a abertura do seu "terceiro olho", que lhe deu poderes de clarividência.

A farsa não durou muito. Logo descobriu-se que Rampa era Cyril Henry Hoskins, um pesquisador das ciências ocultas nascido em Devon, na Inglaterra e que jamais estivera no Tibete. Mas aí Rampa já estava traduzido em dezenas de idiomas e vendera milhões de exemplares. Em outro livro, Minha Visita a Vênus (1957), narrou sua abdução a um outro planeta. Parece que na época alguém ainda acreditava ser a vida possível em Vênus. Mesmo assim, o livro foi editado pela primeira vez editado no Brasil no ano passado.

Paulo Coelho nada tem de original, está apenas requentando misticismo e auto-ajuda que muito já renderam a quem se aventurou pelo filão. Nada contra. Cada um ganha sua vida como melhor lhe convier. Por outro lado, explorar a credulidade pública geralmente não é visto como crime. Ou não existiriam as religiões.

Eu até via uma escassa virtude em Coelho: ele vendia seu peixe sem investir no mercado cativo do livro paradidático. Afinal, com os cheques milionários que recebe, pode muito bem dispensar esta clientela. Agora, talvez por decisão pessoal, talvez por decisão editorial, resolveu enfiar a mão no bolso dos jovens. O “mago” está se revelando vigarista. Como aliás todo escritor que se impõe nos currículos escolares, graças a suas amizades com os donos da cultura. Porque ninguém participa deste mercado por méritos literários. E eles são legião.

Mas, como me dizia um outro leitor, talvez seja difícil adotá-lo como padrão. Nossa juventude não está preparada para tamanha profundidade.

sábado, agosto 21, 2010
 
COELHO OBRIGATÓRIO


Essa agora! Leio na Folha de São Paulo que, a partir da próxima semana, 8.500 ônibus do Rio de Janeiro trarão estampadas em cartazes, colocados no vidro que separa o motorista dos viajantes, poesias clássicas da literatura brasileira. Não bastassem as escolas e universidades empurrarem goela abaixo a famosa literatura nacional, agora até os passageiros de coletivos terão de suportá-la. Segundo o jornal, "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias; "Círculo Vicioso", de Machado de Assis; "Ouvir Estrelas", de Olavo Bilac; "Pombas", de Raimundo Correia; "Suave Caminho", de Mário Pederneiras, e "Piedade", de Cruz e Sousa, são algumas das poesias selecionadas no programa.

O projeto Circulando Cultura, lançado ontem, é uma iniciativa da ABL (Academia Brasileira de Letras) e do Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus da cidade. São 6,5 milhões de viagens por dia na região metropolitana. A previsão é que o projeto seja estendido para todo o Estado.

Quanto a oferecer condições suficientes para que o usuário leia confortavelmente o que bem lhe aprouver, nem pensar. Ler um poema espremido pela multidão e pendurado em ganchos deve ser um indizível momento estético. Vivi em países onde usar metrô ou ônibus são excelentes ocasiões para ler. Tanto na França como na Suécia, os vagões de metrô parecem salas de leitura. Em outros países por onde andei, observei o mesmo hábito. Vi inclusive jovens lendo partituras e vibrando com a música.

Certa vez, voltando de uma dessas viagens, fui visitar uma amiga em São Paulo. Ela morava a uma hora de ônibus do centro. Muni-me de dois ou três jornais para suportar a viagem. Santa ingenuidade. Entrei num ônibus lotado, usei uma mão para pendurar-me num gancho enquanto a outra segurava meus inúteis jornais. Ocasionalmente, faço viagens noturnas de ônibus para o Sul. Uma excelente oportunidade de leitura, direis. Nada disso. A iluminação não é suficiente para ler. Osman Lins, um dos raros bons escritores nacionais, chegou a fazer uma campanha para melhorar a iluminação nos ônibus. Para poder ler e não ficar olhando o vazio. Foi tido como louco.

Mas o problema nem é este e sim essa mania de empurrar literatura nacional. "Os passageiros podem ter melhores momentos na viagem ao ter acesso a grandes obras", afirmou o presidente da Rio Ônibus, Lellis Marcos Teixeira. Só existirão grandes obras no Brasil? Por que não poemas de Pessoa ou Poe, de Dante ou Carrol, de Bocage ou Aretino?

Há alguns anos, alguém me perguntou quais autores recomendo na literatura brasileira. Não me fiz de rogado: Platão, Cervantes, Dostoievski, Swift, Nietzsche, Orwell, Pessoa e por aí afora. Ora, direis, estes não são autores nacionais. A meu ver, são. Estão traduzidos, fazem parte do imaginário nacional, logo são tão brasileiros quanto Machado ou Rosa. Mesmo que não fossem, pertencem ao acervo universal e não temos o direito de ignorá-los. Por que não considerar Cervantes ou Balzac como escritores brasileiros? Tratam do ser humano e seus personagens invadem nosso dia-a-dia. Dom Quixote é mais conhecido no Brasil do que Brás Cubas, gerou inclusive um adjetivo, quixotesco, aliás presente em outras línguas de cultura. Balzac também. O português é a única língua que define a mulher de trinta anos como balzaquiana. Deu até samba: "Balzac acertou na pinta, mulher só depois dos trinta".

O projeto da ABL é simples: hoje os Machados e Bilacs, que fazem parte do cânone nacional. Amanhã os Nejares e Carpinejares da vida, Chico Buarque e Caetano Veloso, quem sabe Chitãozinho e Xororó, afinal música popular já passou a fazer parte de vestibulares. Não estamos longe disto. “Outra idéia do projeto é um concurso de poesias populares. Assim, os passageiros poderiam ver suas próprias criações circulando pela cidade”. Além dos chatos oficiais, os passageiros terão de aturar os novos chatos.

Quem sabe Paulo Coelho? Na mesma Folha, na coluna de Mônica Bergamo, leio que Paulo Coelho terá seus livros de maior sucesso lançados pela editora Benvirá junto com material didático, para que sejam adotados por professores em sala de aula. A idéia é que sejam desenvolvidos temas com os alunos: perseverança com O Alquimista, o valor da vida com Veronika Decide Morrer e as escolhas com O Demônio e a Srta. Prym.

Quando se fala em vinho ou uísque, a preferência recai sobre vinho ou uísque importados. O mesmo vale para carros ou aparelhos eletrônicos. Mas quando se trata da bendita literatura, ela tem de ser nacional. Ainda sentiremos saudades dos tempos em que os chatos obrigatórios eram Machado, Rosa e Clarice.

sexta-feira, agosto 20, 2010
 
AZALÉIAS DE AGOSTO *


Era agosto. Elas se abriam em meu jardim com essa obscenidade com que sempre se abrem as flores, cumprindo sua missão natural de flores. Quanto mais floresciam, mais fenecias. Todos as manhãs eu atravessava aquele festival orgíaco de vermelho, rosa, branco e roxo, rumo ao amarelo ictérico que começava a envelopar tua pele, essa pele que por tantas décadas acarinhei. "Onde estiver, vou sentir tua falta" - me disseste, com voz que jamais senti tão grave. Querendo afagar-me, suspeitando que pela última vez, te enganavas. Não estarás em parte alguma. Partiste para o grande nada, onde nada existe e ninguém sente falta de ninguém.

Quem vai sentir tua falta, todos os dias até o último deles, é este que fica e que em algum lugar sempre estará. Pelo menos até o dia em que não mais estiver. Quem parte descansa. Sofre quem fica. O que até me consola um pouco. Quem está sofrendo, pelo menos não és tu.

De novo é agosto e elas retomaram seu ritual exibicionista. Paranóicas, escondem-se nas primaveras e agora torturam meus invernos. Não apenas os meus, mas os de tantos outros cujos seres amados escolheram agosto para partir. Certa noite de setembro, eu conversava com jovens já contaminados pela resfeber, enfermidade nórdica que significa febre de viagens. Sedentos de vida, perguntaram a este ser tantas vezes acometido pela doença: qual é a mulher mais linda do mundo? Em que geografias pode ser encontrada?

Caí em prantos. A mulher mais linda do mundo, eu a conheci. E a tive. E agora não mais a tinha. Não a encontrara em distantes longitudes nem em países exóticos. Encontrei-a a meu lado, neste prosaico país, e nunca mais a abandonei. Quis a vida - ou talvez tenha quisto eu - que tivesse centenas de mulheres, algumas muitas queridas, outras nem tanto mas também desejadas, mais uma multidão de rostos mais ou menos anônimos, corpos sempre lembrados. Mentira da vida, mentira minha. Em verdade, tive só uma. Tu, que partiste no auge das azaléias.

"Eu não tenho medo da morte" - me disseste ainda, um pouco antes da passagem rumo ao nada. Mesmo desbotada pelo palor da vida que foge, estavas linda como nunca estiveste. Em tuas quase seis décadas, conservavas ainda aquele eterno rostinho de criança, que a passagem dos anos jamais conseguiu te roubar.

Sedada, já no torpor da morte, chamaste tuas últimas energias, te ergueste no leito. Levantando o dedinho, didática qual professora falando a seus pupilos, sussurraste com o que te restava de voz: "E se fizéssemos assim: eu assino um documento: eu, TKM, em pleno uso de minhas faculdades mentais, declaro que quero ter meus restos cremados no cemitério da Vila Alpina". Reuni minhas forças e consegui balbuciar: não te preocupa, Baixinha adorada, isto há muito está combinado, verme algum sentirá o gosto de tuas carnes. Tuas cinzas, vou jogá-las de alguma ponte em Paris, uma daquelas pontes que tanto amaste, para que saias navegando mares afora.

Passada a mensagem, te reclinaste em paz. Mas descumpri o trato. Não as joguei em Paris. Ficarias muito longe de mim, navegarias talvez por mares gelados e hostis, encalharias em geleiras e te perderias em fiordes, longe de meu calor. Com carinho, te plantei entre os rododendros e todas as manhãs passo entre ti e murmuro: adorada. É bom te cumprimentar. Mas como dói.

A vida nos foi pródiga, e isso é talvez o que mais machuque. Nestes últimos meses, tenho sentido uma secreta inveja de homens que casam com megeras horrendas. Quando elas partem, começa a felicidade. Se morrer feliz é o almejo de todo homem, esta graça não mais está reservada a quem um dia foi feliz. É duro conjugar certos verbos no passado. Dizia Pessoa:

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...


Bobagens de poeta, que tanto influenciaram meus dias de jovem. Verdade que sem ti correrá tudo sem ti. Mas isto vale para as azaléias - seres insensíveis que sequer perceberam a ausência de quem as adorava tanto - e para o resto da humanidade. Para quem perdeu o ser mais lindo da vida, é mero jogo de palavras.

As azaléias em breve irão perdendo seu sorriso orgíaco, suas cores fenecerão e agosto que vem estarão de novo florescendo, despudoradas. Tuas cores feneceram agosto passado e pelo resto de meus agostos não mais te verei florir.

* in memoriam 20 de agosto de 2003

 
DATA PARA COMPRAR
LIVRO? NÃO ENTENDO



Vivo cercado de livros, diria até mesmo que ler é atividade que mais tempo tem me tomado nestes últimos anos. Ler, em minha idade, é muito bom. Não preciso ler mais por obrigação, leio apenas o que me dá prazer. Meus piores dias em matéria de leitura foram quando lecionei Letras. Tinha de ler por necessidade curricular. Tanto literatura brasileira como teoria literária. Li de Clarice Lispector e Guimarães Rosa a Gramsci e Lacan. Hoje, estes livros restam inúteis em minha biblioteca, nas prateleiras mais altas. Livro é como funcionário público: quanto mais alto está, para menos serve. Longe da universidade, hoje só leio o que gosto. Tenho investido, nos últimos anos, em duas áreas que me agradam: história das religiões e história da alimentação. Recomendação nesta última área: Uma História Comestível da Humanidade, de Tom Standage. No livro, encontrei resposta a uma pergunta que há muito me intrigava. Como se alimentam os exércitos quando em guerra?

Já faz vinte anos que vivo em São Paulo e só uma vez fui à Bienal do Livro. Deve ter sido no início dos 90. Perdi meu tempo. Fica longe de onde moro, tem multidões percorrendo os estandes quais formigas tontas, sem falar nos rebanhos de crianças que são levados mais ou menos manu militari e só servem para atulhar os corredores. Ou talvez para inflar o número de visitantes. Isso sem falar nas luminárias, que fazem do percurso uma sauna. Desconforto total. Nada que se compare a uma visita tranqüila a livrarias imensas como a Cultura ou a da Fnac. Até grandes demais para meu gosto, mas satisfazem razoavelmente minha fome de leitura.

Situo a Bienal do Livro na faixa dos eventos e não suporto eventos. Nem multidões. As pessoas vão lá em função da publicidade, dos apelos ao consumo. Eu, que consumo livros o ano inteiro, não vejo porque procurá-los em local ou data especiais. Além do mais, quando procuro um título, dificilmente o encontro. Ainda há pouco, quis comprar A Origem do Cristianismo, de Karl Kautsky, recentemente lançado pela Civilização Brasileira. Revirei as livrarias de São Paulo. Acabei por encontrá-lo, mas não foi fácil. Em tempo: apesar de o autor ser marxista e lançar mãos de conceitos obsoletos como proletariado, a obra constitui uma reflexão inteligente sobre a peste que assolou o Ocidente.

Em Kautsky, descubro um plágio insólito dos evangelistas: “Quando o Evangelho de São Mateus apresenta Jesus dizendo “as raposas têm tocas, as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem um lugar onde repousar sua cabeça” (VIII, 20), está expressando pela sua boca um pensamento que Tibério Graco expusera, 130 anos antes do nascimento de Cristo, para todo o proletariado de Roma: “Os animais selvagens da Itália têm suas covas e cavernas onde descansar, mas os homens que lutam e morrem pela grandeza da Itália só possuem a luz e o ar, pois isso não lhes pode ser tirado. Sem lar e sem lugar onde abrigar-se, vagam de um lugar a outro com suas mulheres e filhos”.

Gosto de livrarias pequenas e, se possível, especializadas. No centro da cidade, resiste ainda a Livraria Francesa, onde sempre encontro os ensaios que necessito. Também me agrada muito uma aqui perto de casa, a Metido a Sebo Livraria, capitaneada pelo Marciano. Quando chego lá, sei que não vou encontrar os Paulos Coelhos da vida. O que não acontece em uma Saraiva, no shopping Higienópolis, na rua onde moro. Nela, me sinto no deserto. Em suas estantes, por mais que as revire, não consigo encontrar um título sequer que me interesse. Só dá best-seller. Foi lá que um dia procurei Jesus e Javé, do Harold Bloom, e o funcionário entendeu Jesus e Djavan.

Realiza-se, nestes dias, a 21ª Bienal do Livro em São Paulo. Que se realize. Nada tenho a fazer por lá. Para mim, que compro livros o ano todo, não é fácil entender a fixação de datas para comprar livros. Leio que o padre Marcelo Rossi provocou tumultos com sua sessão de autógrafos. A fila atravessava o Pavilhão do Anhembi. Ora, que tem a ver este senhor com literatura?

quinta-feira, agosto 19, 2010
 
ISLAMISMO E ESQUERDAS (III)


Senhoras e senhores, não se enganem: a esquerda está facilitando a islamização.

Esquerdistas e liberais estão aplaudindo cada novo banco islâmico, cada nova hipoteca islâmica, cada nova escola islâmica, cada novo tribunal sharia. Os esquerdistas consideram o Islã igual à nossa própria cultura. Direito islâmico ou democracia? Islã ou liberdade? Nada disso importa para eles. Mas para nós isso importa, e muito. Toda a elite da esquerda é culpada pela prática do relativismo cultural. Universidades, igrejas, sindicatos, a mídia, os políticos. Todos estão traindo nossas liberdades duramente conquistadas.

Por quê, eu me pergunto, por que os esquerdistas e liberais pararam de lutar por nossas liberdades? Certa vez os militantes de esquerda estavam a lutar nas barricadas pelos direitos das mulheres. Onde estão eles hoje? Onde estão eles em 2010? Estão olhando para o outro lado. Estão embriagados pelo relativismo cultural e são dependentes do voto muçulmano. Os esquerdistas são dependentes da imigração em massa.

Graças aos céus Jacqui Smith não faz mais parte deste governo. Foi uma vitória para a liberdade de expressão que um juiz britânico descartou a prévia decisão de Smith recusando a minha entrada no Reino Unido no ano passado. Espero que os juízes no meu país de origem sejam igualmente sábios e me absolvam de todas as acusações, mais tarde em 2010.

Infelizmente, até agora eles não têm feito um bom trabalho. Eles não querem ouvir a verdade sobre o Islã e nem estão interessados em ouvir a opinião de especialistas de alto nível no campo da liberdade de expressão. No mês passado, em uma sessão preliminar, o Tribunal de Justiça recusou quinze das dezoito testemunhas que eu havia convocado.

Somente três testemunhas poderão ser ouvidas. Felizmente, minha querida amiga, a heróica psiquiatra norte-americana Dra. Wafa Sultan, é uma delas. Entretanto, o seu depoimento será ouvido a portas fechadas. Aparentemente, a verdade sobre o Islã não pode ser proferida em público, tal verdade deve permanecer em segredo.

Senhoras e senhores, eu estou sendo processado por minhas crenças políticas. Sabemos que existe perseguição política em países do Oriente Médio, como no Irã e na Arábia Saudita, mas nunca na Europa, nunca nos Países Baixos.

Estou sendo processado por comparar o Alcorão ao Minha Luta. Ridículo. Eu gostaria de saber se a Grã-Bretanha vai colocar as palavras de Winston Churchill em julgamento … Senhoras e senhores, este julgamento político contra a minha pessoa tem que parar.

Todavia, o problema não é apenas relacionado à minha pessoa, ao Geert Wilders. É muito maior. A liberdade de expressão está sob ataque. Deixe-me dar aqui alguns outros exemplos. Como vocês talvez saibam, uma das minhas heroínas, a autora italiana Oriana Fallaci, teve de viver sua vida com receio de ser extraditada para a Suíça, por causa de sua obra anti-islâmica A Raiva e o Orgulho. O cartunista holandês Nekschot foi detido em sua casa, em Amsterdã, por 10 homens da polícia por causa de seus desenhos anti-islâmicos. Aqui na Grã-Bretanha, a autora norte-americana Rachel Ehrenfeld foi processada por um empresário saudita, acusando-a de difamação. Na Holanda, Ayaan Hirsi Ali e, na Austrália, dois pastores cristãos foram processados. Eu poderia continuar ad nauseam. Senhoras e senhores, em todo o Ocidente os amantes da liberdade estão enfrentando essa “jihad” dos tribunais. Uma verdadeira ‘guerra judicial’ islâmica. E, senhoras e senhores, não muito tempo atrás, o cartunista dinamarquês Westergaard quase foi assassinado por suas caricaturas.

Senhoras e senhores, devemos defender o direito à liberdade de expressão com veemência. Com todas as nossas forças. A liberdade de expressão é a mais importante das nossas muitas liberdades. A liberdade de expressão é a pedra angular da nossa sociedade moderna. É a respiração da nossa democracia, sem liberdade de expressão nosso modo de vida, a nossa liberdade, vai embora.

Eu acredito que é nossa obrigação a de preservar a herança dos bravos soldados que invadiram as praias da Normandia, que libertaram a Europa da tirania. Esses heróis não podem ter morrido por nada. É nossa a obrigação de defender a liberdade de expressão. Como George Orwell disse: “Se a liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir”.

Senhoras e senhores, eu acredito em uma outra política. É tempo de mudança. Temos de nos apressar. Não podemos esperar mais. O tempo está acabando. Para citar um dos meus favoritos presidentes norte-americanos, Ronald Reagan disse certa vez: “Para preservar o amanhã, nós devemos agir hoje”. Por isso, proponho as seguintes medidas, vou mencionar apenas algumas, a fim de preservar a nossa liberdade:

Em primeiro lugar, teremos de defender a liberdade de expressão. É a mais importante das nossas liberdades. Na Europa e, certamente, nos Países Baixos, precisamos de algo como a Primeira Emenda da constituição dos Estados Unidos.

Em segundo lugar, teremos que acabar com o conceito de relativismo cultural. Para os multiculturalistas e socialistas islâmicos, eu proclamo com orgulho: nossa cultura ocidental é muito superior à cultura islâmica. Não tenha medo de afirmar isso. Ninguém é racista por dizer que nossa cultura é melhor.

Em terceiro lugar, teremos de acabar com a imigração maciça vinda dos países islâmicos. Simplesmente porque mais islã significa menos liberdade.

Em quarto lugar, vamos ter de expulsar os imigrantes criminosos e, após a devida desnaturalização, teremos que expulsar os criminosos com dupla nacionalidade. Há muitos deles em meu país.

Em quinto lugar, vamos ter que proibir a construção de novas mesquitas. Há islã o suficiente na Europa. Uma vez que os cristãos na Turquia, no Egito, no Iraque, no Irã, no Paquistão e na Indonésia estão sendo maltratados, devemos agir e parar completamente com a construção de mesquitas no Ocidente.

E por último, mas não menos importante, temos que nos livrar de todos os assim chamados “líderes”. Como eu disse antes: precisamos de menos Chamberlains e mais Churchills. Vamos eleger líderes reais.

Senhoras e senhores, para a geração anterior, a de meus pais, o nome ‘Londres’ é sinônimo de esperança e liberdade. Quando o meu país foi ocupado pelos nacional-socialistas, a BBC oferecia um vislumbre diário de esperança em meio à escuridão da tirania nazi. Milhões de holandeses escutavam a BBC escondidos. A expressão “Isto é Londres” representava um mundo melhor.

O que será transmitido daqui a quarenta anos? Ainda será “Isto é Londres”? Ou será “Isto é Londonistão”? Será que vai nos trazer esperança? Ou os valores de Meca e Medina? A Grã-Bretanha oferecerá submissão ou perseverança? Liberdade ou escravidão? A escolha é sua. E, nos Países Baixos, a escolha é nossa.

Senhoras e senhores, nós nunca iremos nos desculpar por sermos livres. Nós nunca deveremos desistir. De fato, como um de seus ex-líderes disse: Nós nunca vamos nos render.

A liberdade deve prevalecer. E a liberdade prevalecerá.

Muito obrigado.

Geert Wilders, 5 de março de 2010

quarta-feira, agosto 18, 2010
 
ISLAMISMO E ESQUERDAS (II)


Não admira que Winston Churchill tenha chamado o livro de Hitler, Minha Luta, “o novo Alcorão da fé e da guerra, intumescido, loquaz, disforme e grávido de sua mensagem”. Como vocês sabem, Churchill fez essa comparação entre o Alcorão e Minha Luta em seu livro A Segunda Guerra Mundial, uma obra-prima, pela qual recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. A comparação de Churchill entre o Alcorão e Minha Luta é absolutamente correta. A base do Alcorão é o apelo à jihad. Jihad significa muitas coisas e é o termo arábico para “luta”, como no livro de Hitler. Jihad e luta significam exatamente a mesma coisa.

Islã significa submissão, não há qualquer equívoco quanto à sua meta. Fato. A questão é saber se nós, na Europa, e vocês, na Grã-Bretanha, com o nosso passado glorioso, iremos nos submeter ou defender nosso patrimônio.

Vemos que o Islã está, literalmente, decolando no Ocidente. A Europa está sendo islamizada rapidamente. Muitas cidades européias possuem enormes concentrações de muçulmanos. Paris, Amsterdã, Bruxelas e Berlim são apenas alguns exemplos. Em algumas partes dessas cidades, regulamentos islâmicos já estão sendo aplicados. Os direitos das mulheres estão sendo destruídos: burca, lenços de cabeça, poligamia, mutilação genital feminina, assassinatos por honra. Mulheres precisam atender classes separadas de natação, não podem dar sequer um aperto de mão. Em muitas cidades européias já há um apartheid. Judeus, em um número cada vez maior, estão deixando a Europa.

Como vocês todos sabem muito melhor do que eu, a imigração em massa e a islamização têm crescido rapidamente no seu país. Há uma enorme pressão sobre a sociedade britânica. Olhe o que está acontecendo, por exemplo, em Birmingham, Leeds, Bradford e aqui mesmo em Londres. Políticos britânicos esqueceram Winston Churchill e decidiram tomar o caminho de menor resistência. Eles simplesmente desistiram, abrindo o caminho para o Islã.

No ano passado, o meu partido pediu ao governo holandês que fizesse uma análise do custo-benefício da imigração em massa, mas o governo se recusou a nos dar uma resposta. Por quê? Porque eles têm medo da verdade. Os sinais não são encorajadores. Uma revista holandesa semanal - Elsevier - calculou os custos da imigração e descobriu um número superior a 200 bilhões de Euros. Só no ano passado, foi calculado um montante de 13 bilhões de Euros. Mais cálculos foram feitos na Europa: segundo o banco nacional da Dinamarca, cada imigrante proveniente de um país islâmico está custando ao Estado mais de 300 mil Euros. Você vê o mesmo acontecendo na Noruega e na França. A conclusão é a seguinte: a Europa está ficando está mais empobrecida a cada dia que passa. Mais pobres graças à imigração em massa. Mais pobres graças à demografia. E os esquerdistas estão entusiasmados.

Não sei se é verdade, mas li em vários jornais britânicos que os trabalhistas (Labour) abriram as portas da imigração em massa, uma política deliberada de alteração da estrutura social do Reino Unido. Andrew Neather, um ex-conselheiro do governo, responsável pela redação dos discursos de Tony Blair e Jack Straw, disse que o objetivo da estratégia dos trabalhistas em matéria de imigração era, aqui vai a citação, “esfregar no nariz da Direita a diversidade cultural e tornar seus argumentos desatualizados”. Se for verdade, trata-se de uma atitude sintomática da esquerda.

 
ISLAMISMO E ESQUERDAS (I)


Costumo afirmar que os marxistas, cujo ódio à Europa está manifesto na primeira frase do Manifesto, não conseguiram destruir o velho continente e seus valores com o comunismo. Tentam agora destruí-la empunhando o Islã como arma. Transcrevo aqui o discurso do político holandês Geert Wilders, na Câmara dos Lordes, no Reino Unido, em 05 de março deste anos. A tradução é de Luigi, braileiro que vive na Suécia, e estás em http://againstgod.com, e faz parte do Projeto Rosetta Stone, promovido pelo blog Gates of Vienna.

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Senhoras e senhores, não muito longe daqui há uma estátua do mais famoso primeiro-ministro que o seu país já teve - e eu gostaria de citá-lo aqui: “O Islã é uma fé militante e agressiva. Não existe força retrógrada maior no mundo. Já se espalhou por toda a África Central, treinando guerreiros destemidos em cada etapa (…). A civilização Européia moderna pode cair, como caiu a civilização Romana.” Quem é o autor dessas palavras? Ninguém menos que Winston Churchill, que assim descreve o Islã em seu livro The River War, de 1899.

Churchill estava certo.

Senhoras e senhores, eu e o meu partido não temos um problema com os muçulmanos per se. Há muitos muçulmanos moderados. A maioria dos muçulmanos são cidadãos cumpridores da lei, que desejam viver uma vida pacífica como você e eu. Eu sei disso. É por isso que eu costumo fazer uma clara distinção entre as pessoas - os muçulmanos - e a ideologia; entre o Islã e os muçulmanos. Há muitos muçulmanos moderados, mas não existe um Islã moderado.

O Islã se esforça para dominar o mundo. O Alcorão exige que os muçulmanos exercitem a jihad. O Alcorão exige que os muçulmanos estabeleçam a lei sharia. O Alcorão exige que os muçulmanos imponham o Islã no mundo inteiro.

Como o ex-primeiro ministro turco Erbakan disse: “Toda a Europa se tornará islâmica. Nós vamos conquistar Roma”. Fim da citação.

O ditador líbio Gaddafi disse: “Há dezenas de milhões de muçulmanos no continente europeu e hoje este número está a aumentar. Uma indicação clara de que o continente europeu vai se converter ao islamismo. A Europa será, em breve, um continente muçulmano”. Fim da citação. De fato, pelo menos uma vez em sua vida, Gaddafi estava dizendo a verdade. Basta checar os números da imigração em massa e da demografia. Esse é o destino!

O Islã não é apenas uma religião. É, acima de tudo, uma ideologia totalitária. O Islã quer dominar todos os aspectos da vida, do berço ao túmulo. A lei sharia é a lei que controla cada detalhe da vida em uma sociedade islâmica. Do direito civil ao direito penal. Essa lei determina como se deve comer, vestir e até mesmo como usar o banheiro. A opressão das mulheres é algo bom, o consumo de álcool é mau.

Eu acredito que o Islã não é compatível com o nosso modo de vida ocidental. O Islã é uma ameaça aos valores ocidentais. A igualdade entre homens e mulheres, a igualdade entre homossexuais e heterossexuais, a separação entre Igreja e Estado, a liberdade de expressão, todos esses conceitos estão sob pressão devido à islamização. Senhoras e senhores: o Islã e a liberdade, o Islã e a democracia, não são compatíveis, são valores opostos.

terça-feira, agosto 17, 2010
 
VONTADE DE AURORAS


Longo é o caminho de um ianque até o entendimento. Leio no New York Times que novos estudos sobre consumo e felicidade mostram que as pessoas ficam mais felizes quando gastam seu dinheiro em experiências em vez de objetos materiais, quando saboreiam o que pretendem adquirir muito antes de fazê-lo, e quando param de tentar competir com seus vizinhos.

"É melhor sair de férias do que comprar um sofá novo, essa é basicamente a idéia", diz Elizabeth Dunn, professora do Departamento de Psicologia da Universidade da Colúmbia Britânica, especializada em estudos sobre consumo e felicidade. "Há uma enorme literatura sobre renda e felicidade. É incrível como há pouco sobre como você gasta o seu dinheiro".

Estudos sobre consumo, até que entendo. Quanto a estudos sobre felicidade, fico com um pé atrás. Felicidade é algo muito subjetivo e há tanto quem fique feliz quando seu time ganha um campeonato como quem fique feliz com as vitórias de um filho, com a leitura de um bom livro ou com a audição de uma grande ópera. Tampouco me parece serem necessárias pesquisas acadêmicas para entender que é melhor sair de férias do que comprar um sofá. Um sofá é um mero sofá e férias são descanso, viagem, fuga da rotina, novas descobertas.

Não consigo entender o apego exacerbado de certas pessoas a bens materiais. Nunca tive carro, coisa que nunca me fez falta. Certo, nunca precisei de um para trabalhar. Curiosamente, convivo quase que exclusivamente com pessoas que não têm carro. Ou, se têm, pouco o usam. Observei, no decorrer da vida, que pessoas chegadas à literatura normalmente dispensam esses objetos.

Houve época em que pensei em dirigir. Foi nos dias de Florianópolis. Morava na Lagoa, longe da universidade. Até tentei, mas achei muito complicado. Além disso, gostava de tomar meus tragos em fim de tarde. Teria de optar entre dirigir ou beber. Preferi a última opção. Abandonei a Lagoa e sua placidez e fui morar na cidade. Só para não ter de dirigir.

Meu apartamento seria decepcionante para um ladrão. Tenho uma boa biblioteca, é verdade, mas ladrão não se interessa por livros. Não tenho jóias nem quadros de valor. Minhas paredes são ornadas com momentos e pessoas de minha vida. Quanto a roupas, alguns jeans, algumas camisas e duas ou três jaquetas. É o que me basta.

Descobri que com dois pares de calça, algumas camisas, sapatos e tênis, se pode muito bem varar os anos. Terno e gravata, usei-os pela última vez no dia 04 de março de 1981. Foi quando defendi minha tese. Ou seja, há quase trinta anos. De lá para cá, sempre evitei qualquer circunstância que me exija vestes a rigor.

O que me causa problemas em óperas na Europa, onde o pessoal vai de black tie. Você pode ir como quiser, mas sempre é um pouco constrangedor estar em mangas de camisa em meio aos pingüins. Passei maus momentos na Staatsoper de Viena. Fui assistir ao Die Entführung aus dem Serail, do Mozart. Estava de parca. Na chapelaria, tomaram meu casaco. Vestido apenas com uma blusa, me senti nu. Por tais razões, adorei as salas de Nova York, onde você vai de jeans e tênis e não se sente um estranho no ninho.

Minhas posses não são passíveis de roubo. Ninguém conseguirá roubar minhas leituras, muito menos minhas viagens. Nos dias de Estocolmo, tive uma boa amiga que era guia turística. Seus pais não gostavam da profissão. “Mas no dia em que os russos invadirem a Suécia – dizia –, eles podem tirar propriedades de todo mundo. Mas de minhas viagens jamais conseguirão me desapropriar”. No fundo, um medo que eu, latino-americano, desconhecia: o medo dos soviéticos.

Conheço gente muito rica no mundo, que vive em poucos metros quadrados. Sem carro nem muitas posses. São ricos em experiência. Vivem em espaços exíguos e se dedicam a bater pernas pelo mundo. Um deles vive em 27 m2. Um dia está na França, outro no Egito, ou nas Canárias, ou na Tailândia ou Camboja. Ou em Atacama ou Uyuni. Certo dia, em Paris, conversando com um destes viajores, perguntei se conhecia a Cordilheira dos Andes. “Ah sim, estive no Aconcágua”. Aconcágua como? Isso é para alpinistas. Ou andinistas, como se diz por aqui. “Sim, eu sou alpinista”. Havia escalado o Himalaia, o Kilimanjaro e o Aconcágua. Fiquei olhando para aquele vulto franzino e me senti um pobre diabo.

O que tenho, invisto nos prazeres do espírito, e viajar é um dos mais inefáveis. Sou feliz? Se felicidade é um nirvana, no qual as pessoas se contentam com o que têm, não, não sou feliz. Me faltam muitas coisas, entre elas uma aurora boreal. Mas auroras boreais são moças difíceis, temos de enfrentar os invernos do norte e ficar à espera delas. Talvez um dia chegue lá.

Enquanto isso, não sou exatamente feliz.

segunda-feira, agosto 16, 2010
 
AINDA A NOMOFOBIA


Pois, Calil,

sou meio neoludita em matéria de eletrônicos. Celular tem um monte de conveniências, mas não me habituei. Não me agrada a idéia de ser interrompido quando estou conversando com amigos. Entendo que, para pessoas que se locomovem em função do trabalho, o celular seja uma mão na roda. Não é meu caso. Já vi, em bares, três ou quatro pessoas reunidas em uma mesa, cada uma telefonando para alguém distante da mesa. Me pareceu ridículo. Se vou a um bar, é para conversar com quem está comigo.

Por outro lado, um e-Reader até que topo. Me parece um aparelho interessante para profissionais que viajam ou trocam de país. Um professor ou jornalista, por exemplo, pode levar uma biblioteca considerável no bolso. Os livros contemporâneos, no entanto, ainda não passaram para o formato digital. De qualquer forma, não consigo ler um livro em uma tela de iPod. Até que conseguiria, se fosse a única opção. Enquanto existir página maior, não troco.

Mas... se posso ter todos os livros do mundo em meu PC, notebook ou netbook, pra que e-Reader? Um amigo me contava que, quando viaja, leva cinco mil ou mais livros consigo. Não é má idéia. Mas para que cinco mil? Quando viajo, claro que leio alguns livros. Mas os que mais me atraem são os cardápios. Curtos e objetivos. Sem advérbios nem adjetivos.

Ainda há pouco, li uma observação de George Packer, no The New Yorker:

“Não há como ficar online, navegando, enviando e-mails, postando mensagens, twitando e lendo twits e, em breve, ocupando-se da próxima novidade digital, sem pagar um preço elevado, sem roubar nosso tempo, nossa atenção, sem afetar nossa capacidade de apreender o que lemos e nossa experiência do mundo que imediatamente nos cerca.”

Não concordo. Estou online boa parte do dia, navego, troco e-mails, posto mensagens e twits, mas isso em nada afeta meus relacionamentos nem a experiência do mundo que me cerca, muito menos a capacidade de apreensão do que leio. Assinei inclusive um 3G, mas o uso mais para viagens. Isso de levar notebooks para bares me parece um certo exibicionismo, ou talvez dependência de quem não consegue desgrudar-se do computador. Aos bares, vou para conversar, beber e mesmo ler. Este último vício adquiri em Paris, onde os cafés mais parecem salas de leitura.

Verdade que me sinto mal se passo um dia sem Internet. Sinto-me ilhado. É que gosto de ler imprensa internacional e troco muita correspondência. Mas só me sinto mal em geografias onde há Internet. Se viajo pelo deserto ou por mares onde não há conexão, Internet não me faz falta. Há uns três ou quatro anos, naveguei por dez dias pelo Antártico. Sem Internet, sem rádio nem televisão nem jornais. Se o resto do planetinha desmoronasse naqueles dias, eu nem tomaria conhecimento. Foi muito bom.

Entendo que pessoas sejam dependentes de drogas. São substâncias químicas que provocam dependência. Mas computador não é substância química. Tem log on e log off. Findas minhas navegações, aciono este último e vou encontrar seres humanos.

 
MENSAGEM DO CALIL


Saudações, Janer!

Como vai? Li teu artigo sobre a tal ‘nomofobia’ e me diverti com os sintomas enfrentados por quem fica longe do celular. Não fico ansioso, tenso ou em pânico porque deixei o celular em casa, mas sinto-me um tanto ‘incompleto’. Porém, o celular pouco me preocupa, afinal amigos podem ligar na empresa, mandar e-mail ou me chamar no Messenger ou Skype. Se alguém disser que não conseguiu falar comigo é porque não quis.

Enfim, sem celular, até passo. Mas não sem internet. Especialmente no que diz respeito aos tal dispositivos mobiles. Meu celular é antigo e limitado, pois -- veja só -- serve apenas para fazer e receber ligações. Mas há dois anos ganhei do meu sogro um aparelhinho que tornou-se um amigo inseparável: um iPod Touch.

Na época, eu via o iPod apenas como um dispositivo para ouvir músicas. Mas ao mexer na versão Touch, descobri que era muito mais do que aquilo. Basicamente, o iPod Touch é idêntico ao iPhone, mas sem a função de telefone. Ao começar a brincar com ele, vi que o que tinha em mãos era quase um notebook de bolso. Podia acessar meus e-mails, navegar pela web (onde há Wi-Fi disponível), consultar o tempo e fuso horário no mundo, ouvir música, assistir vídeos, escrever rápidas anotações e por aí vai. Mas há um ano mais ou menos, instalei um aplicativo gratuito que tornou o iPod ainda mais interessante: um leitor de e-books chamado Stanza. Assim, consegui entupir o aparelhinho de PDFs, DOCs e e-books que dificilmente eu leria na tela do computador.

A tela do iPod é minúscula para leitura, de fato, mas há a opção de se aumentar a fonte do texto, o que facilita muito. Com isso, já li mais de 20 livros num espaço de tempo curto. Sem falar na praticidade. Consigo ler em qualquer lugar e em qualquer ocasião. É particularmente útil quando estou passeando com a futura esposa em shoppings e ela decide ver bijuterias ou sapatos. Deixo-a ficar o tempo que quiser nas lojas, enquanto eu me aprumo em algum café e retomo minhas leituras. Nunca fiquei tão feliz em levá-la a shoppings ou salões de beleza...

Ultimamente minha atenção tem se voltado para o iPad, a versão maior do iPod. O preço ainda está proibitivo, mas considero uma aquisição para o ano que vem. Enfim, é um brinquedinho que acho que você gostaria, caso resolva dar chance a algo do gênero. Não substitui o papel, mas facilita o acesso a vários livros de uma só vez.

Grande abraço,

Emílio Calil

domingo, agosto 15, 2010
 
FOLHA SILENCIA SOBRE
NEGOCIATA DOS SARNEY



Quando a polícia descobriu no escritório da empresa Lunus, em São Luís, no Maranhão, um cofre com R$ 1,34 milhão separados em pacotes com notas de R$ 50, corria uma piadinha na Internet. Roseana Sarney acorda seu marido no meio da noite:

- Murad, vamos fazer uma sacanagem?
- Vamos, Roseana. Onde é que eu assino?

O Estado de São Paulo e os portais de Veja e Terra denunciaram, neste domingo, mais uma falcatrua da famiglia Sarney. O jornal exibe documentos dos arquivos do Banco Santos indicando que a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e seu marido, Jorge Murad, simularam um empréstimo de R$ 4,5 milhões para resgatar US$ 1,5 milhão que possuíam no exterior. Vamos à notícia:

Os papéis obtidos pelo Estado – incluindo um relatório confidencial do banco – dão detalhes da operação, montada legalmente no Brasil, com um prazo de seis anos. Os relatórios mostram, no entanto, que o empréstimo foi pago por meio de um banco suíço cinco dias depois da liberação dos recursos no Brasil.

O dinheiro foi, segundo os documentos, investido na compra de participações acionárias em dois shoppings, um em São Luís e outro no Rio de Janeiro. O Banco Santos teria servido apenas como ponte para Roseana e Murad usarem os dólares depositados lá fora. É o que o mercado financeiro batiza de operação "back to back".

O acordo ocorreu em julho de 2004 entre a governadora, seu marido e Edemar Cid Ferreira, até então dono do Banco Santos, que quebrou quatro meses depois e passa por intervenção judicial até hoje. Afastado do banco, Edemar é íntimo da família Sarney. Foi padrinho de casamento de Roseana e Murad. Os documentos, obtidos pela reportagem com ex-diretores do Banco Santos, reforçam os indícios que a família Sarney sempre negou: que tem contas não declaradas no exterior.


Vânio Aguiar, o administrador judicial do Banco Santos, confirmou a veracidade dos documentos. Veja já havia feito esta denúncia em julho do ano passado:

Documentos arquivados no falido Banco Santos reforçam indícios do que Veja revelou com reportagem em julho de 2009: a família Sarney possui realmente contas no exterior. Há dois anos, VEJA teve acesso a dados do Banco Central, recolhidos por auditores e pela Polícia Federal, que mostravam que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB), tinha dinheiro em contas abertas fora do Brasil. Toda a movimentação era controlada por Vera Lúcia Rodrigues, secretária de Edemar Cid Ferreira, banqueiro e controlador do Banco Santos, além de amigo íntimo de Sarney.

Aliados do PT, os Sarney já começam a contaminar a campanha de Dilma Roussef. Que logo tratou de tirar o seu da reta. A candidata ex-terrorista à presidência da República, afirmou neste domingo, que não pode se basear em notícias de jornal para eventualmente comentar acusações contra a governadora do Maranhão e candidata à reeleição, Roseana Sarney.

Até aí, nada de mais. De famiglia tão operosa, muito mais ainda se pode esperar. Não é de espantar que novas trapaças venham à tona. O que é de espantar é ver a Folha de São Paulo mantendo uma coluna de Sarney em página nobre. Não por acaso, o jornal não disse um pio sobre a denúncia do Estadão. No fundo, está dando sustentação ao capo de uma família mafiosa.

Mais dia, menos dia, a Folha terá de pautar o novo escândalo. Será uma tarefa espinhosa: como denunciar como corrupto um de seus colunistas? Enquanto isso, o jornal vai perdendo a credibilidade que um dia amealhou.

sábado, agosto 14, 2010
 
PAVÕES SÃO LEGIÃO


De Crato, Ceará, recebo:

Caro Cristaldo,

Lendo teu último artigo, sobre os "melhores" escritores do Sul, lembrei-me de empresas (geralmente da área de eventos) que chegam para nós, advogados, e nos afirmam que fomos escolhidos, "numa votação", os "melhores" advogados da região...

Mas só se pagarmos, claro. Como nunca pago por tal "escolha", fico de fora dos prêmios e deixo de ostentar em meu escritório o "diploma". Mas vários advogados caem, felizes, nesse conto-do-vigário...

Sds.,

Daniel Freixieiro Sampaio


Meu caro Daniel:

explorar vaidades é uma das maneiras mais práticas de ganhar dinheiro sem trabalhar e sem infringir a lei. Acariciar egos jamais constituiu crime. Vanitas vanitatis! vanitas vanitatis et omnia est vanitas! – já diz o Koelet. Há gente que paga caro para ser considerado escritor. No Rio Grande do Sul, até que está barato, 45 reais. Vício da era do papel, quando ter um livro publicado dava status. Os tempos mudaram e os “escritores” ainda não se deram conta.

Houve época em que ser escritor dependia do beneplácito de um editor. Havia dois tipos de editores: aquele que bancava seu livro e o comercializava, e um outro que cobrava para editá-lo e distribuir seu livro. O primeiro exercia seu poder de censura e inclusive dava palpites na redação do livro. O segundo era liberal: pagou? Publique o que quiser. Escritores ilustres já recorreram a este segundo editor. Jorge Luís Borges foi um deles. Seu primeiro livro de poemas teve edição paga pelo autor.

Estes dois editores, por incrível que pareça, ainda coexistem. Só não entenderam isto os neoluditas que não descobriram os ebooks. Hoje, qualquer um pode ser escritor. Ou editor, como quiser. Basta digitar seu livro e jogá-lo na rede. Fica à disposição de quem quiser lê-lo e à distância de um ou dois cliques do leitor. Você pode cobrar por sua leitura ou não. A condição de escritor dessacralizou-se e os obsoletos ainda não entenderam este fato novo. Precisam do livro-papel para sentirem que são escritores. E por isso se dispõem a pagar caro.

Verdade que a crítica, talvez em função do vil metal, continua atrelada ao livro-papel. Até hoje não vi resenha alguma sobre um ebook. É como se o livro eletrônico não existisse.

Advogados, em princípio, são pavões. Sou da época em que todo rábula adorava exibir um anel no dedo. Quando me formei em Direito, recebi de um tio um destes anéis. Só me serviu para botá-lo no prego, nos dias de mais premência. Advogados adoram ser chamados de doutor. Certa vez, quando tive de enfrentar um julgamento, os títulos voavam sobre minha cabeça, era doutor pra cá, doutor pra lá, quando não Meritíssimo. (Juiz, pelo que observei, considera desacato ser chamado de Dr. Exige o Meritíssimo). Eu, o único que tinha doutorado naquela audiência, era apenas o “indigitado réu”.

Em suma, os pavões são legião. E extremamente sensíveis a qualquer carícia. Vigaristas é o que não falta para afagá-los.

sexta-feira, agosto 13, 2010
 
PAVONÁRIO NACIONAL
TEM SEDE NO PLANALTO



Fui revisitar a Revista Virtual de Escritores do Sul, para ver a quantas andava aquele projeto de pavonário ao sul intitulado DICIONÁRIO BIOGRÁFICO DE ESCRITORES DO SUL DO BRASIL (1900-2000), que pelo jeito vai arrolar escritores de até dez anos de idade e, para minha surpresa, vi que fui excluído da literatura gaúcha. Isso que, em edição anterior da mesma e honestíssima revista, lá constava:

Janer Cristaldo Ferreira Moreira

(Santana do Livramento, 2 de julho de 1947), bacharel em direito, graduado em filosofia, escritor, ensaista, contista, mais conhecido como tradutor, e articulista de jornais onlines brasileiro.


(O "onlines" me lembra o Lula falando em "enes" problemas. Nosso dicionarista vai mal).

Não entendi. Vai ver foi porque me recusei a pagar 45 pilas pelo pavonário no qual eu estaria empoleirado para exibir minhas plumas aos pósteros. Fui cassado por 45 dinheiros. Apesar das dezenas de livros que publiquei e traduzi, não pertenço à grei dos escritores de escol dos pampas. Estou chorando sofridas lágrimas de arrependimento. Não fosse tão mesquinho e pagasse míseras 45 merrecas, continuaria no panteão dos imortais. Perdi uma chance única de ser bafejado pela glória, aquela que fica, eleva, honra e consola. Paciência! Lendo os links da íntegra revista, leio esta manchete:

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL EMPOSSA ESCRITORES GAÚCHOS

A Academia de Letras do Brasil, com sede em Brasília, Distrito Federal, estará no dia 10 de agosto empossando 12 escritores do Rio Grande do Sul em seus quadros acadêmicos. A cerimônia de posse acontecerá no salão principal do Memorial RS, na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, a partir das 19 horas, e será aberto ao público.

Estarão presentes ao ato solene o presidente da ALB, Dr. Mário Carabajal e diversos membros desta nova academia de letras que foi fundada em 2001 e se espande
(sic! O redator de Escritores do Sul - ou o imortal da ALB? - pelo jeito andou fazendo gazeta nas aulas de ortografia) pelo país reunindo novos escritores e poetas.

Os escritores gaúchos que foram indicados para este ano e tomarão posse dia 10 de agosto são Benedito Saldanha, Vladimir Cunha dos Santos, Neida Rocha, Marinês Bonacina, Virgínia Fulder, José Moreira da Silva, Nelsi Urnau, Dalva Leal Martins, Tristão Alencar Oleiro, João Marinômio Carneiro Lages, Antônio Celente e Leinicy Dorneles.


Como li automaticamente Academia Brasileira de Letras, fiquei surpreso com a nomeação de 12 escritores gaúchos, assim de supetão. Voltei ao título: era Academia de Letras do Brasil, instituição fundada há nove anos e que já reúne uma considerável plêiade de ilustres desconhecidos, de sul a norte do país. Bem mais que os quarenta gatos pingados da ABL. A ALB, por sua vez, está se revelando uma linha de montagem de imortais. Desde terça-feira passada, temos, de uma só tacada, mais uma dúzia de acadêmicos gaúchos. Dos quais, duvido que algum leitor consiga citar um título, sem buscar no Google. Pessoas honestas, sem dúvida alguma, que se deixaram fitar pela mosca azul.

Curioso observar que o escritor indicado Vladimir Cunha dos Santos já é presidente executivo da ALB/RS, o que quer que isso queira dizer. Temos uma situação no mínimo curiosa: Vladimir Cunha dos Santos, presidente da Academia de Letras do Brasil/Rio Grande do Sul, indica Vladimir Cunha dos Santos para a Academia de Letras do Brasil/Rio Grande do Sul. Antes de ser diplomado pela academia, já a preside. E ele, presidente, indica a si mesmo como escritor.

Há uma indústria de captação de vaidades em franca expansão no país. Li a relação dos demais “escritores” gaúchos já empossados. Não há um único nome conhecido, do qual se conheça um só título. Nenhum dos escritores consagrados do Estado consta do ror de imortais. A egrégia instituição tem representações em 21 das 27 unidades federativas do país. O pavonário, que antes ficava ao sul, agora é nacional. Com sede no Distrito Federal.

Haja caudas emplumadas em Pindorama.

 
RECÓRTER CHUPIM RIDES AGAIN

Janer

Na edição atual da revista Piauí, número 47, tem uma matéria sobre a internet e as eleições. Chama-se "Pancadaria na rede", enfim, a matéria é sobre como os nossos ilustres candidatos estão usando a internet nas suas respectivas campanhas.

O que me chamou atenção é que na matéria, é citado o Reinaldo Azevedo como a pessoa que criou o termo "apedeuta" para se referir ao nosso presidente, o Lula. Mas, eu tenho visto no teu blog que vc ja usa o termo a um bom tempo. Veja ai, podem estar querendo dar a autoria para outra pessoa. Abraço,

Glaucius Djalma Pereira Junior


Grato, meu caro Glaucius. Mal falei do burro, logo apontou as orelhas. Piauí se engana. A associação de apedeuta a Lula é minha e data de 2002, muito antes de eu ter começado este blog. Em 2004, cunhei a expressão Supremo Apedeuta, por alusão a Supremo Magistrado. Criei-a para que fosse divulgada, e nisto fui bem sucedido. Mas não para que alguém dela se pretendesse autor. O recórter tucano papista além de assumi-la andou criando trocadilhos bobos, como Apedeutakov e Apedeutakoba (Koba era um dos codinomes do Stalin). Como se Lula um dia tivesse sido comunista ou stalinista. Em sua histeria em xingar o PT, o virtuose do cut & paste lhe atribui defeitos que em verdade não tem. Lula é simplesmente oportunista. Nossa sorte é que só foi eleito bem após a queda do Muro e desmoronamento da URSS. Fosse antes, certamente teria aderido à União Soviética. Há mais de quatro anos, em 17 de abril de 2006, escrevi:

O sumo analfabeto, com o apoio da Igreja Católica e da universidade, acabou sendo eleito. No ano mesmo de sua eleição, em crônica intitulada "Eu sou o que sou", publicada no Baguete Diário, jornal eletrônico de Porto Alegre (29/03/2002), pareceu-me oportuno qualificá-lo como apedeuta: "Até hoje as esquerdas são pródigas em contar piadas sobre a falta de cultura de Costa e Silva. Mas Costa e Silva fez Escola Militar, cujo acesso não é para qualquer apedeuta".

Em 19 de agosto do mesmo ano, no mesmo jornal, na crônica intitulada "O neoaparatchik", voltei ao tema: "Existe uma raça de apedeutas que se sentem muito eruditos quando usam proparoxítonas ou quadrissílabos. No debate organizado pela Folha de São Paulo, na segunda feira-passada, ele se superou. Lá pelas tantas, arrotou erudição: 'Entretanto, há coisas a serem feitas concomitantemente'. Embriagado pelo próprio verbo, feliz pelo heptassílabo, perguntou ao interlocutor: 'Gostou do concomitantemente?'"

Em 17 de março de 2003, no artigo "Armadilha para negros", publicado no MSM, escrevi: "O atual presidente da República está longe de ser o primeiro apedeuta a assumir o poder neste país. Câmara e Senado estão repletos de analfabetos jurídicos, que nada entendem da confecção de leis nem sabem sequer distinguir lei maior de lei menor". Na tradução do artigo para o inglês, publicada na revista Brazzil, de Los Angeles, o tradutor teve um feliz achado: First Ignoramus.

Em "Fala, ó metamorfose ambulante", publicado também no MSM, em 20 de setembro de 2004, lá está: "Durante solenidade em Brasília, o Supremo Apedeuta disse que 'o ser humano não tem que ter medo de ser uma eterna metamorfose ambulante', fazendo referência a um dos sublimes autores que embasam sua erudição". Na Brazzil, a expressão foi traduzida como Supreme Ignoramus. Se alguém se der ao trabalho de pesquisar nos arquivos do MSM, verá que, de 2003 para cá, escrevi pelo menos 21 crônicas, onde uso as expressões apedeuta ou Supremo Apedeuta.

Em suma, para meu prazer, a expressão foi fazendo fortuna na mídia eletrônica. Tanto o Supremo Apedeuta como o Supreme Ignoramus. Nada lisonjeia tanto um jornalista como ver seus achados correndo mundo. Outro dia, lendo ao azar a revista Primeira Leitura, vi que um jornalista tucano chapa-branca a empregava várias vezes. Maravilha, pensei, minha trouvaille já é de conhecimento dos partidos de oposição. Ocorre que, conversando com outros jornalistas, fiquei sabendo que o autor do artigo está reivindicando a autoria da expressão.

Alto lá, senhor Reinaldo Azevedo. Supremo Apedeuta é cria minha, e isto qualquer pesquisa rápida no Google pode comprovar. Use e abuse da expressão, quantas vezes quiser, divulgue-a aos quatro ventos, isto só me faz feliz. Mas não pretenda tê-la criado. Isto é muito feio para um jornalista. Ou, para usarmos uma palavra da moda, é antiético. E não fica bem para o porta-voz de um partido que pretende dar um banho de ética no partido que se dizia dono da ética tomar atitudes assim antiéticas.

O Supremo Apedeuta é meu.

 
KALOCAINA - XXX E ÚLTIMO

Karin Boye

Tradução do sueco de Janer Cristaldo



Como eu nada mais podia supor senão que a Força Aérea tivesse treinamento noturno, gritei tão alto quanto pude, para sobrepor-me ao ruído:
– Estou doente, estou indo para o metrô. Larguem-me.
Ou eles não ouviram ou tinham outras ordens, pois não me soltaram. Depois de me examinarem e desarmarem – eu portava o uniforme policial-militar em razão da festa –, fui fortemente amarrado e transportado numa espécie de triciclo, que alguns homens montaram rapidamente com algumas peças leves, que pareciam ser especialmente concebidas para o transporte de prisioneiros. Fui ainda algemado com as mãos para trás, de forma não muito incômoda, mas sem possibilidade alguma de mover-me, quando um dos soldados gritou algo para seu companheiro da frente e partiu rapidamente.
Supus que involuntariamente eu havia sido feito prisioneiro nos exercícios simulados da Força Aérea e percebi que só restava resignar-me. De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde eu chegaria onde queria.

Por onde rodávamos, o farol do veículo iluminava rapidamente um pequeno trecho do caminho à frente. Há pouco não se via nem se ouvir ser humano algum. Agora formigava de gente por todas as ruas, todas as praças e terraços, todos intensamente ocupados com um trabalho definido. Eu não podia deixar de admirar a organização deste gigantesco treinamento noturno. E quanto mais longe avançávamos, mais o trabalho progredia. Vi barreiras de arame farpado serem montadas (conseguiriam retirá-las até amanhã cedo, quando o povo se dirigisse ao trabalho?), vi longas mangueiras estendidas, recipientes os mais diversos sendo carregados para todos os lados, guardas vigiando as estações de metrô e os prédios residenciais. De quando em quando via um triciclo carregando alguém prisioneiro como eu, e perguntei-me aonde nos levariam.

Os triciclos pareciam reunir-se numa praça em frente à qual fora montada uma grande tenda, num terraço. Os prisioneiros levados para lá – uns vinte antes de mim – tinham as mãos livres mas os pés amarrados e foram conduzidos à tenda. Mal entrei, deparei-me com um prisioneiro que oferecia resistência e reclamava o tempo todo que ele, sendo vigia distrital, não poderia estar exposto a tais manobras. Quem cuidaria de suas obrigações em sua ausência? Como poderia justificá-la no dia seguinte a seu chefe? O ruído dos motores era nitidamente mais fraco dentro da tenda – ela era provida de um poderoso sistema antiacústico – de modo que se podia ouvir perfeitamente o que ele dizia, e pensei comigo mesmo que os soldados que o cercavam podiam ao menos dar-lhe uma resposta; quando subitamente ouvi dois outros soldados trocarem algumas palavras em um idioma totalmente estranho, do qual nada entendi. Não éramos absolutamente vítimas de um exercício noturno. Éramos prisioneiros do inimigo.

Até hoje não sei como tudo se desenrolou. Pode-se imaginar que o inimigo, lenta e metodicamente, tenha substituído um a um os tripulantes da Força Aérea por espiões até ter sob seu comando todos os aviões. Pode-se ainda imaginar um rastilho de revolta e traição, motivado por razões desconhecidas. As possibilidades eram muitas, todas fantásticas, e a única coisa certa era que não ocorrera luta aérea alguma, e tampouco vi lutas em terra. O ataque fora muito bem planejado.

Os prisioneiros esperavam em filas num compartimento externo da tenda e eram conduzidos um a um ao interior. Lá estavam um militar de alto posto com alguns tradutores e secretários em torno a si. Interrogaram-me bruscamente em meu próprio idioma sobre meu nome, profissão e grau na vida militar e civil. Um dos presentes curvou-se e disse algo tão baixo que nada entendi, mas tive um sobressalto ao ver seu rosto. Não era um de meus alunos? Eu não estava totalmente certo. O chefe olhou-me com ar de interesse.

– Então o senhor é um cientista químico? E fez uma importante descoberta? Quer comprar sua vida com ela? Quer entregar-nos sua descoberta?

Por muito tempo depois me perguntei por que havia respondido sim. Medo não era. Tive medo quase toda minha vida, fui covarde – que contém meu livro senão o relato de minha covardia! –, mas naquele momento eu nada temia. Em mim só havia lugar para uma decepção sem limites por não poder jamais chegar até aqueles que esperavam. Tampouco me passava pela cabeça que minha vida valeria a pena ser salva em tais circunstâncias. Prisioneiro ou cadáver, parecia-me ser exatamente a mesma coisa. Em ambos os casos meu caminho até os outros estava interrompido. Quando percebi mais tarde que não fora minha descoberta que me salvara, que minha vida seria poupada de qualquer forma, que um grande número de prisioneiros era um valioso ganho para o Estado vizinho pois a natalidade lá, tão reduzida quanto aqui, sofria as mesmas perdas com a Grande Guerra, não senti arrependimento algum, nada se modificou em minha posição. Entreguei minha descoberta simplesmente porque desejava que ela continuasse a existir. Embora a Cidade Química n° 4 virasse ruínas, embora todo o Estado Mundial se transformasse em um deserto de cinza e pedras, eu queria pelo menos imaginar que em algum lugar, em outras terras e entre outros povos, uma nova Linda falaria, como a primeira, espontaneamente, que alguém tentaria forçá-la, e que um outro grupo de delatores aterrorizados ouviria um novo Rissen. Isto era naturalmente superstição, pois nada se repete, mas eu nada tinha a fazer. Esta era minha única e frágil possibilidade de continuar o que me fora impedido.
Como fui depois transportado para uma cidade estrangeira, para trabalhar sob vigilância em uma prisão-laboratório, já contei.

Contei também que os primeiros anos de minha prisão transcorreram cheios de angústia e dúvidas. Informações reais sobre o destino da Cidade Química jamais consegui obter, mas aos poucos imaginei o plano seguido pelo inimigo. Consistiria em inundar de gases as ruas e impedir a renovação de ar das partes subterrâneas da cidade, até que os habitantes em desespero subissem até as poucas saídas livres, um a um ou em pequenos grupos se entregassem ao poderio inimigo. Até que ponto foram suficientes os reservatórios de oxigênio subterrâneo, e se a coragem dos habitantes foi tal que preferiram a morte à rendição, não sei. Era de supor-se ainda que o cerco todo fracassara, e que esforços haviam chegado de outras regiões do Estado Mundial. Como já disse, jamais chegarei a saber algo. Mas de qualquer forma existia uma possibilidade de que Linda estivesse viva. Talvez até mesmo Rissen, caso não tivessem tido tempo de executá-lo. Sei que isto é uma fantasia inverossímil, e se quisesse interrogar minha razão, passaria o resto da minha vida em dúvidas. Se não o faço é porque meu instinto de conservação me força a buscar conforto na ilusão. O próprio Rissen dissera antes de ser condenado: “Sei que o que sou leva a algum lugar”. Não estou muito certo do que ele queria dizer. Mas me acontece muitas vezes, quando sento em minha maca com os olhos fechados, ver as estrelas cintilarem e ouvir o vento sussurrar como aquela noite, e eu não posso, não consigo extirpar de meu ser a ilusão de que eu ainda, apesar de tudo, estou prestes a criar um mundo novo.





POSFÁCIO DO CENSOR


Em vista do conteúdo imoral do presente escrito decidiu o Departamento de Censura juntar o mesmo aos manuscritos subversivos do Arquivo Secreto do Estado Universal. Que ele simplesmente não tenha sido destruído dependeu do fato de que justamente este conteúdo imoral poderá ser utilizado por pesquisadores esclarecidos para o estudo da mentalidade dos seres que habitam o país contíguo ao nosso. O prisioneiro que concebeu o manuscrito e que continua trabalhando como químico sob vigilância – agora com mais rígido controle de como utiliza os papéis e canetas do Estado – é, em sua estranha e progressiva deslealdade, em sua covardia e superstição, um bom exemplo da decadência característica do país inferior que nos é vizinho, que não pode ser explicada senão através de um ainda não pesquisado envenenamento interior hereditário e incurável do qual nossa nação está felizmente livre e, se o referido envenenamento propagar-se além das fronteiras, deve ser necessariamente descoberto através do meio que o dito prisioneiro contribuiu a instituir. Recomendo portanto aos que têm em mãos o empréstimo deste manuscrito o mais alto cuidado, e aos que lerem uma crítica minuciosa como também a mais sólida esperança num futuro melhor e mais feliz do Estado Universal.


HUNG PAIPHO
Censor



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